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sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

Prefeitura de São Paulo lança Empresa de Cinema e Audiovisual

O setor audiovisual da capital paulista, incluindo cinema, TV, games e conteúdos audiovisuais para web, ganhou uma parceria de peso no desenvolvimento de suas atividades. Nesta quarta-feira (28), foi lançada a SPCine - Empresa de Cinema e Audiovisual de São Paulo.


Gustavo Serrate
O ministro Juca Ferreira esteve no lançamento da SPCine e destacou as ações culturais que pretende desenvolver no Ministério da Cultura O ministro Juca Ferreira esteve no lançamento da SPCine e destacou as ações culturais que pretende desenvolver no Ministério da Cultura
O ministro da Cultura, Juca Ferreira, esteve no lançamento da SPCine que foi concebida e planejada durante sua gestão como secretário de Cultura da cidade de São Paulo. Para o ministro, "é uma empresa porosa e aberta para os produtores culturais. O que fizemos na SPCine e na Secretaria de Cultura de São Paulo como um todo foi fruto de diálogo amplo".

A empresa atua como um escritório de desenvolvimento, financiamento e implementação de programas e políticas para o setor audiovisual. Nasce com o objetivo de reconhecer e estimular o potencial econômico e criativo do audiovisual paulista e seu impacto em âmbito cultural e social.

A SPCine é uma iniciativa da Prefeitura de São Paulo, por meio da Secretaria Municipal de Cultura, em parceria com o Governo do Estado de São Paulo e o Ministério da Cultura (MinC), por meio da Ancine (Agência Nacional do Cinema). A gestão e os investimentos compartilhados entre as três esferas de governo é um de seus diferenciais.

Estiveram no lançamento, ao lado do ministro Juca Ferreira, o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad; o presidente da Ancine, Manoel Rangel; o secretário nomeado de Cultura do município, Nabil Bonduki, o secretário interino de Cultura do município, Guilherme Varella; e Alfredo Manevy que foi apresentado, nesta noite, como diretor-presidente da SPCine.

Atuação


Entre seus eixos de atuação estão inovação, criatividade e acesso; desenvolvimento econômico; e integração e internacionalização.

Durante a cerimônia foram apresentadas, também, as áreas de atuação da empresa: a SP Film Comission será o escritório que viabilizará as filmagens na cidade de São Paulo; o Circuito SP vai buscar levar a experiência do cinema a todas as regiões da capital paulista; a Leia - Laboratório de Inovação e Experimentação Audiovisual buscará criar um ambiente propício a co-criação e ao desenvolvimento de novas ferramentas, produtos, soluções e modelos de negócio para o setor audiovisual; e a SP Bits será o conjunto de programas e ações para o mercado de games e cultura digital, vai estimular a produção nacional de jogos eletrônicos, incentivando o debate e implementando linhas de financiamento específica para impulsionar o desenvolvimento criativo e econômico da área.


Fonte: Ministério da Cultura

Forte de Copacabana abre programação dos 450 anos do Rio

O Forte de Copacabana abre o calendário de homenagens ao aniversário de 450 anos do Rio de Janeiro, comemorado em março, com programação especial. Em concerto gratuito no próximo sábado (31) a partir das 18 horas, a Orquestra Violões do Forte de Copacabana receberá a Orquestra Popular Tuhu, do projeto Villa-Lobos e as Crianças, para uma participação especial.


A Orquestra Violões do Forte de Copacabana é uma iniciativa do Instituto Rudá e do comando do Forte A Orquestra Violões do Forte de Copacabana é uma iniciativa do Instituto Rudá e do comando do Forte
Diretora executiva do Orquestra de Violões do Forte, Márcia Melchior informou que abrir a programação em homenagem aos 450 anos do Rio “é puro êxtase”. Do repertório, constam Bossa Nova e o melhor da música popular brasileira (MPB) de raiz. “É um repertório exclusivamente popular brasileiro. O público desfrutará de grandes obras de nossos melhores compositores, além de arranjos inéditos do jovem maestro Luiz Potter.”

A Orquestra Violões do Forte de Copacabana é uma iniciativa do Instituto Rudá e do comando do Forte. O projeto promove a inclusão social e cultural de crianças e jovens de comunidades do estado. Participam da orquestra 30 jovens. A coordenação musical é do músico Antonio Carlos, da dupla Antonio Carlos e Jocafi. Os arranjos são feitos por Flavio Goulart de Andrade e a regência, por Luiz Henrique Potter.

Já o Villa-Lobos e as Crianças oferece oportunidades profissionais para jovens talentos de classes sociais menos favorecidas. A base são os ensinamentos pedagógicos do maestro e compositor Heitor Villa-Lobos. Neste conceito, foi criada a Orquestra Popular Tuhu – apelido de Villa-Lobos quando criança. O projeto é coordenado por Maria Clara Barbosa, cavaquinista formada pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UniRio), com direção musical de Turíbio Santos.

A Orquestra Popular Tuhu é apoiada pelo Instituto Brasileiro de Museus (Ibram), pela Escola de Artes Visuais (EAV) do Parque Lage, pelo Instituto Superior de Educação do Rio de Janeiro (Iserj) e pela Academia Brasileira de Música. A iniciativa tem patrocínio da Petrobras e da Federação das Empresas de Transportes de Passageiros do Estado do Rio de Janeiro (Fetranspor).

O Forte de Copacabana fica na Praça Coronel Eugênio Franco, Posto 6, Zona Sul da capital Fluminense. Informações podem ser obtidas pelo telefone 21- 25211032.

Rio promove 450 tours gratuitos

A Prefeitura do Rio de Janeiro, por meio da Secretaria de Turismo e da Riotur, irá oferecer, 450 passeios guiados por alguns dos locais mais belos da cidade até o dia 1° de março no projeto Rio Walking Tour em comemoração dos 450 anos. São seis roteiros, sendo três naturais (com capacidade de atender até 20 pessoas por vez) e três históricos-culturais (para até 30 pessoas).

Os roteiros naturais exploram o Parque Nacional da Tijuca, o Morro da Urca e as Cachoeiras do Horto, enquanto os de perfil histórico-cultural levam cariocas e turistas a conhecerem a Zona Portuária e Pequena África , (passado e futuro do Porto Maravilha), Rio 450 anos (no Centro, entre o Saara e a Cinelândia, com destaque para arquitetura) e Rio Cultural (no Centro, entre a Candelária e a Praça XV, com destaque para igrejas, centros culturais e construções históricas).

Os passeios acontecem de terça a domingo até o dia 1° de março. Os roteiros detalhados e as inscrições (que podem ser feitas até às 20h do dia anterior ao passeio desejado) estão disponíveis na Internet.

Esta é a segunda edição do projeto “Rio Walking Tour”, lançado durante a Copa do Mundo no Brasil e que levou 689 pessoas de 35 países diferentes a participar dos tours gratuitos, oferecidos em três bairros da cidade, nos dias em que não ocorreram jogos da seleção brasileira ou partidas no Maracanã.

Também estão previstas na programação da trezena visitas a instalações do Departamento Geral de Ações Sócio-Educativas (Degase), ao complexo penitenciário de Bangu, ao Quartel-General da Polícia Militar, ao Maracanã, ao Cristo Redentor e a diversos hospitais, asilos, cemitérios e igrejas da cidade.

Programação completa aqui.

Fonte: Correio do Brasil

Mostra ‘Mestres do Samba’

Visitantes poderão conferir 17 capas de artistas renomados que marcaram época e popularizaram o ritmo brasileiro

Samba: Visitantes poderão conferir 17 capas de artistas renomados que marcaram época e popularizaram o ritmo brasileiro
Resende

O Carnaval está chegando e até a arte já está no clima da festa. Em Resende, no mês da folia, o projeto Arte na Capa terá o samba como tema, com a exposição “Mestres do Samba”. A exposição, que todo mês retrata o trabalho artístico das capas dos antigos discos de vinil, é uma realização da Fundação Casa da Cultura Macedo Miranda, por meio do Museu da Imagem e do Som (MIS). Se você é fã no vinil e adora um bom samba, anote na agenda! A exposição ficará aberta à visitação entre os dias 2 e 27 de fevereiro, de segunda a sexta-feira, das 8h às 17h. E a entrada será gratuita.
Segundo o diretor do MIS, Guilherme Rodrigues, os visitantes que comparecerem à exposição poderão conferir 17 capas de artistas renomados que marcaram época e popularizaram esse ritmo brasileiro. O material da exposição faz parte do acervo do MIS e conta com discos de artistas do passado como Cartola, Roberto Silva, Paulo Freire, Moreira da Silva, Os difusores do Samba, Os Originais do Samba, Os Crioulos da Paulicéia, as Eternas Cantoras do Rádio; e de hoje, como Beth Carvalho, Arlindo Cruz e Paulinho da Viola, entre outros.
E o melhor! Durante a visita, o público poderá, inclusive, ouvir as faixas musicais dos discos.
- O Carnaval é uma das festas mais importantes do país e o samba tem uma contribuição enorme para a sua popularização. Por isso, resolvemos com esta exposição prestar uma homenagem a esses artistas que com seu trabalho contribuíram para o fortalecimento do nosso samba – destaca Guilherme Rodrigues.


Serviço


A exposição ‘Mestres do Samba’ ficará aberta à visitação entre os dias 2 e 27 de fevereiro, no Museu da Imagem e do Som, em Resende, de segunda a sexta-feira, das 8h às 17h. A entrada é gratuita.

quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

Por que as crianças francesas não têm Déficit de Atenção?

Como é que a epidemia do Déficit de Atenção, que tornou-se firmemente estabelecida em vários países do mundo, foi quase completamente desconsiderada com relação a crianças na França?

por Marilyn Wedge, em Psichology Today Tradução: Equilibrando
Nos Estados Unidos, pelo menos 9% das crianças em idade escolar foram diagnosticadas com TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade), e estão sendo tratadas com medicamentos. Na França, a percentagem de crianças diagnosticadas e medicadas para o TDAH é inferior a 0,5%. Como é que a epidemia de TDAH, que tornou-se firmemente estabelecida nos Estados Unidos, foi quase completamente desconsiderada com relação a crianças na França?
déficit atenção crianças
Déficit de Atenção em crianças francesas é inferior a 0,5% (Foto: Ilustração)
TDAH é um transtorno biológico-neurológico? Surpreendentemente, a resposta a esta pergunta depende do fato de você morar na França ou nos Estados Unidos. Nos Estados Unidos, os psiquiatras pediátricos consideram o TDAH como um distúrbio biológico, com causas biológicas. O tratamento de escolha também é biológico – medicamentos estimulantes psíquicos, tais como Ritalina e Adderall.
Os psiquiatras infantis franceses, por outro lado, vêem o TDAH como uma condição médica que tem causas psico-sociais e situacionais. Em vez de tratar os problemas de concentração e de comportamento com drogas, os médicos franceses preferem avaliar o problema subjacente que está causando o sofrimento da criança; não o cérebro da criança, mas o contexto social da criança. Eles, então, optam por tratar o problema do contexto social subjacente com psicoterapia ou aconselhamento familiar. Esta é uma maneira muito diferente de ver as coisas, comparada à tendência americana de atribuir todos os sintomas de uma disfunção biológica a um desequilíbrio químico no cérebro da criança.
Os psiquiatras infantis franceses não usam o mesmo sistema de classificação de problemas emocionais infantis utilizado pelos psiquiatras americanos. Eles não usam o Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders ou DSM. De acordo com o sociólogo Manuel Vallee, a Federação Francesa de Psiquiatria desenvolveu um sistema de classificação alternativa, como uma resistência à influência do DSM-3. Esta alternativa foi a CFTMEA (Classification Française des Troubles Mentaux de L’Enfant et de L’Adolescent), lançado pela primeira vez em 1983, e atualizado em 1988 e 2000. O foco do CFTMEA está em identificar e tratar as causas psicossociais subjacentes aos sintomas das crianças, e não em encontrar os melhores bandaids farmacológicos para mascarar os sintomas.
Na medida em que os médicos franceses são bem sucedidos em encontrar e reparar o que estava errado no contexto social da criança, menos crianças se enquadram no diagnóstico de TDAH. Além disso, a definição de TDAH não é tão ampla quanto no sistema americano, que na minha opinião, tende a “patologizar” muito do que seria um comportamento normal da infância. O DSM não considera causas subjacentes. Dessa forma, leva os médicos a diagnosticarem como TDAH um número muito maior de crianças sintomáticas, e também os incentiva a tratar as crianças com produtos farmacêuticos.
A abordagem psico-social holística francesa também permite considerar causas nutricionais para sintomas do TDAH, especificamente o fato de o comportamento de algumas crianças se agravar após a ingestão de alimentos com corantes, certos conservantes, e / ou alérgenos. Os médicos que trabalham com crianças com problemas, para não mencionar os pais de muitas crianças com TDAH, estão bem conscientes de que as intervenções dietéticas às vezes podem ajudar. Nos Estados Unidos, o foco estrito no tratamento farmacológico do TDAH, no entanto, incentiva os médicos a ignorarem a influência dos fatores dietéticos sobre o comportamento das crianças.
E depois, claro, há muitas diferentes filosofias de educação infantil nos Estados Unidos e na França. Estas filosofias divergentes poderiam explicar por que as crianças francesas são geralmente mais bem comportadas do que as americanas. Pamela Druckerman destaca os estilos parentais divergentes em seu recente livro, Bringing up Bébé. Acredito que suas idéias são relevantes para a discussão, por que o número de crianças francesas diagnosticadas com TDAH, em nada parecem com os números que estamos vendo nos Estados Unidos.
A partir do momento que seus filhos nascem, os pais franceses oferecem um firme cadre – que significa “matriz” ou “estrutura”. Não é permitido, por exemplo, que as crianças tomem um lanche quando quiserem. As refeições são em quatro momentos específicos do dia. Crianças francesas aprendem a esperar pacientemente pelas refeições, em vez de comer salgadinhos, sempre que lhes apetecer. Os bebês franceses também se adequam aos limites estabelecidos pelos pais. Pais franceses deixam seus bebês chorando se não dormirem durante a noite, com a idade de quatro meses.
Os pais franceses, destaca Druckerman, amam seus filhos tanto quanto os pais americanos. Eles os levam às aulas de piano, à prática esportiva, e os incentivam a tirar o máximo de seus talentos. Mas os pais franceses têm uma filosofia diferente de disciplina. Limites aplicados de forma coerente, na visão francesa, fazem as crianças se sentirem seguras e protegidas. Limites claros, eles acreditam, fazem a criança se sentir mais feliz e mais segura, algo que é congruente com a minha própria experiência, como terapeuta e como mãe. Finalmente, os pais franceses acreditam que ouvir a palavra “não” resgata as crianças da “tirania de seus próprios desejos”. E a palmada, quando usada criteriosamente, não é considerada abuso na França.
Como terapeuta que trabalha com as crianças, faz todo o sentido para mim que as crianças francesas não precisem de medicamentos para controlar o seu comportamento, porque aprendem o auto-controle no início de suas vidas. As crianças crescem em famílias em que as regras são bem compreendidas, e a hierarquia familiar é clara e firme. Em famílias francesas, como descreve Druckerman, os pais estão firmemente no comando de seus filhos, enquanto que no estilo de família americana, a situação é muitas vezes o inverso.

Exposição ‘Imaginário Religioso’ pode ser conferida até sábado em Barra Mansa

Divulgação
Mostra conta com aproximadamente 30 peças, dividas em fotografias, vídeos e objetos

Variedade artística: Mostra conta com aproximadamente 30 peças, dividas em fotografias, vídeos e objetos
A Fundação de Cultura de Barra Mansa e o Sistema Firjan estão apresentando a exposição "Imaginário Religioso", dos fotógrafos Gabriel Borges e Sérgio Fortuna. A mostra conta com 24 fotografias, no formato 30x40 e seis impressas em PVC. Além das fotos, os visitantes podem assistir vídeos do Clube dos Motociclistas, que mostram suas viagens à Aparecida do Norte. Os trabalhos ficam até sábado, dia 31, no Centro de Cultura Fazenda da Posse, em Barra Mansa.
De acordo com o superintendente da Fundação de Cultura, Cláudio Chiesse, as imagens relatam as manifestações religiosas no município.
- Na exposição podemos identificar a diversidade cultural e religiosa remanescentes em Barra Mansa - diz o superintendente, acrescentando ainda que a mostra conta com alguns objetos da procissão de barcos pelo Rio Paraíba do Sul, em alusão ao Dia de Nossa Senhora Aparecida, comemorado no dia 12 de outubro. "As imagens encantam, por ser o momento exato de captação da fé", afirma Cláudio Chiesse.
- A mostra nos dá uma autocrítica sobre o nosso trabalho, além de nos proporcionar um crescimento inestimável como profissionais - diz o fotógrafo Sérgio Fortuna. Segundo Gabriel Borges, um dos artistas, suas obras retratam a religiosidade tradicional de Barra Mansa. "As minhas fotografias são basicamente da Paixão de Cristo, que acontece em Rialto, consagrada como uma das festas mais conhecidas do município. Nosso intuito foi a divulgação da cultura municipal", enfatiza o fotógrafo.

Serviço

A mostra ‘Imaginário Religioso' pode ser conferida até sábado, dia 31 de janeiro, com entrada gratuita. As visitas acontecem das 11h às 17h. As escolas interessadas podem agendar atividades e visitas orientadas ao Centro Cultural. O agendamento pode ser feito pelo telefone (24) 3322-3855 ou pelo email (fazendadaposse@uol.com.br). O Centro de Cultura Fazenda da Posse fica na Rua Dario Aragão, n° 2, Centro.

terça-feira, 27 de janeiro de 2015

Encontro discute formas de acelerar implantação do Cultura Viva

Representantes de 18 pontos de Cultura de 11 municípios fluminenses estão reunidos até este sábado (24) no distrito de Lumiar, em Nova Friburgo, região serrana do estado, para debater o trabalho que vem sendo feito e acelerar o processo de implantação da Política Nacional de Cultura Viva. O encontro faz parte da agenda do Fórum Estadual dos Pontos de Cultura, que se reúne mensalmente, de forma itinerante, nas diversas regiões fluminenses.

Reprodução
Encontro discute formas de acelerar implantação do Cultura Viva Encontro discute formas de acelerar implantação do Cultura Viva
Entidades sem fins lucrativos, que desenvolvem ações culturais continuadas em suas respectivas comunidades, os pontos de Cultura são os principais instrumentos de aplicação dessa política nacional, instituída em julho do ano passado pela Lei 13.018, que tem o objetivo de ampliar o acesso da população brasileira à cultura, mediante o fortalecimento das ações de grupos já atuantes na comunidade.

O encontro em Lumiar ocorre nos dois pontos de Cultura da comunidade, a Sociedade Musical Euterpe Lumiarense (Smel) e o Tesouros da Terra. Nesta sexta-feira, os participantes debateram, entre outros temas, a conjuntura nacional e estadual de políticas públicas do setor e a metodologia dos pontões – espaços ou redes regionais e temáticas que articulam os pontos de Cultura.

“A Euterpe é uma instituição centenária, que data de 1891, e mantém ao longo de todo esse tempo, uma banda de música com instrumentos de sopro. Por meio do Programa Pontos de Cultura, conseguimos revitalizar a banda, adquirindo novos instrumentos, e atualmente fazemos apresentações regulares na praça principal de Lumiar”, diz Sandra de Castro, coordenadora de projetos do Ponto de Cultura que abrigou os debates de hoje. No encerramento dos trabalhos do primeiro dia do encontro, os participantes assistiram a uma apresentação da banda.

Neste sábado, o Tesouros da Terra será sede do encontro. A pauta inclui uma conversa, às 11h, com a secretária de Cidadania e Diversidade Cultural do Ministério da Cultura, Ivana Bentes. “O Tesouros da Terra se dedica à identificação, valorização e registro do patrimônio imaterial da medicina popular, ervas e danças da região”, explica Maria Luiza Borba, coordenadora do espaço.

O estado do Rio de Janeiro tem atualmente 490 pontos e pontões de Cultura, espalhados por 67 municípios. A meta do Plano Nacional de Cultura é chegar a 1.248 pontos e pontões até 2020.

Fonte: Agência Brasil

Urariano Mota: Crítica ao Plano Nacional de Cultura

Clicando no link do Ministério da Cultura, pode se ver que o Plano Nacional de Cultura (PNC) é um conjunto de princípios, objetivos, diretrizes, estratégias e metas que devem orientar o poder público na formulação de políticas culturais.


Por Urariano Mota*, especial para o Vermelho


   
Previsto no artigo 215 da Constituição Federal, o Plano foi criado pela Lei n° 12.343, de 2 de dezembro de 2010. Seu objetivo é orientar o desenvolvimento de programas, projetos e ações culturais que garantam a valorização, o reconhecimento, a promoção e a preservação da diversidade cultural existente no Brasil”.

Mas, de modo mais preciso, em as metas do PNC podemos ver o que parecia ser apenas um mau anúncio. O plano que temos para a cultura no Brasil é iletrado, desde a sua origem e concepção. Quero dizer, de modo mais claro: em Temas, a literatura nem aparece. “Mas não está proibida”, poderia nos conformar um raro conformista. O problema é que no conjunto das “tags” do Plano Nacional de Cultura o luxo da literatura é lembrado apenas uma vez em “Livro, leitura e literatura”. O diabo é que ao se abrir essa tag, a literatura não é mencionada em nenhum dos resumos de qualquer Meta. A não ser, claro, que a expressão maior da língua de um povo esteja disfarçada em metas do gênero:

“Aumento em 150% de cursos técnicos, habilitados pelo Ministério da Educação (MEC), no campo da arte e cultura com proporcional aumento de vagas...”

ou em

“Aumento em 100% no total de pessoas qualificadas anualmente em cursos, oficinas, fóruns e seminários com conteúdo de gestão cultural, linguagens artísticas, patrimônio cultural e demais áreas da cultura”.

É preciso proclamar o quanto o rei está nu, e quase ninguém viu, ou reclamou ou deu importância. A nudez do rei: não existe uma só linha no Plano Nacional de Cultura – uma só, de esmola, pelo amor de Deus – não há uma só que se dedique à literatura brasileira.

A pesquisa há de notar a palavra “literatura”, o substantivo, na Meta 22 – “Aumento em 30% no número de municípios brasileiros com grupos em atividade nas áreas de teatro, dança, circo, música, artes visuais, literatura...”.

E de passagem em “1.5.4 Estabelecer programas específicos para setores culturais, principalmente para artes visuais, música, artes cênicas, literatura, audiovisual, patrimônio, museus e diversidade cultural...”

Para a palavra “escritores”, o plural, não há uma só ocorrência. Mas para “escritor” , o singular e raro, há muitas, sob a forma de “escritórios”. O que faz sentido.

Em algumas oportunidades, a literatura é chamada de “indústria cultural”, em outras, na maioria das vezes, aparece na frase “entre outras”, até o máximo do poder de síntese, quando a literatura surge na palavra “etc.”

Mas não pode haver má vontade, porque a arte literária aparece por um conteúdo implícito, quando se fala em “livros”. Sabemos todos, mas nunca é demais insistir, diante da diluição, má vontade ou ignorância que cerca a literatura: existem livros para tudo e para todas e todos, e nem todos são de literatura. Mas tentemos sair do cerne da confusão: façamos de conta que entre livros didáticos, técnicos, ou de boas maneiras, ou de receitas de cozinha e de como conseguir fortuna, amantes, fama e riqueza, façamos de conta que entre 100 best-sellers dos 50 tons venha 1 só livro de um poeta ou romancista cinzento. Então concedamos, olhemos a literatura como “livros”.

Vejamos. Na meta 20, fala-se em

“Aumentar para quatro a média de livros que os brasileiros leem por ano, fora da escola”

e daí se expressa um desejo:

“Para alcançar esta meta será necessário um esforço do poder público para esti¬mular o hábito da leitura no país. As ações deverão ser feitas por vários ministérios, em parceria com estados, cidades e organizações da sociedade civil”.

Onde se atinge a fronteira do ridículo, quando o desejo cai na seguinte tautologia:

“Em 2007, cada brasileiro com mais de cinco anos lia em média 1,3 livros por ano, por iniciativa própria, fora da escola.

Na pesquisa ‘Retratos da Leitura’ a metodologia para calcular a média de livros lidos foi alterada. Antes a média de leitura era medida ‘por ano’ e agora passou a ser medida ‘nos últimos três meses’. Segundo esta nova metodologia, a média de livros lidos fora da escola nos últimos 3 meses anteriores à pesquisa, realizada em 2008, foi de 1,05. Dessa forma, será necessário reformular o indicador da meta”. (Negrito tautológico meu)

Então ocorre uma luz de como a meta pode ser alcançada. Em outra meta (mé-ta) 32:

“100% dos municípios brasileiros com ao menos uma biblioteca pública em funcionamento - Ter pelo menos uma biblioteca pública ativa em cada cidade brasileira”

O diabo é que a Meta 32 vê as bibliotecas como “locais (que) contribuem para formar leitores e promover o hábito de leitura, e (que) são fundamentais para o acesso à informação e para a transmissão de conhecimentos”.

Menos, bem menos. Ou melhor, isso é um equívoco. Delega-se às bibliotecas uma finalidade impossível: a de formar leitores. Para quem as conhece, as bibliotecas apenas se mostram como um lugar passivo para o usufruto. O protagonismo, o ente fecundador vem da escola e da discussão que se estabeleça até fora da sala de aula com educadores públicos, mestres, escritores, e programas no rádio e televisão. Caso contrário, teremos bibliotecas como locais esplêndidos, com acervos fabulosos, mas lacrados, fechados, com um hímen sagrado que não tem força humana que o rompa.

Se a experiência de escritor serve para alguma coisa, eu lhes digo: não há uma genética para a leitura. E melhor ainda, para a literatura. Leitores não nascem. Leitores se formam antes da entrada em bibliotecas. Nas igrejas, rodas de amigos, encontros políticos, bares e cinemas. De um ponto de vista institucional, deveríamos ter a formação de leitores nas escolas, a partir do ensino fundamental até o médio. Leituras deveriam ser feitas por todos os mestres, de todas as especialidades. Leitura não é coisa de aula de português, não é exclusividade de professores de literatura. É da aula de química, de matemática, de história, de inglês, de espanhol, de educação física, da reunião de pais e mestres.

Enquanto não se articulam o Ministério da Cultura e o Ministério da Educação, o Plano Nacional de Cultura deveria ser fecundado por escritores e assimilar e aprender a experiência do Sesc em todo o Brasil, que mantém programas de encontros e palestras de literatura. Seria bom, para que o Plano fosse menos iletrado. Seria mais que bom, seria ótimo, se o Plano Nacional de Cultura superasse a confusão identidade que faz entre livros e arte literária. Isso, claro, quando não resume a literatura à genial síntese do etc.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Luana Tolentino: Boneca da Estrela fere dignidade das crianças negras


Neguinha do espanador
Eu
Luana Tolentino: “Choque, repulsa, raiva, meu sangue ferveu. Foi o que eu senti quando vi a foto da boneca, com a participação do MuBe e da Estrela. “
por Conceição Lemes
Muitos dos leitores assíduos do Viomundo  já conhecem um pouco Luana Tolentino, sua história, leram seus textos aqui.
Para quem está chegando aqui agora Luana teve uma infância e adolescência difíceis, como toda criança e adolescente pobre e negra. Foi faxineira, babá. Num desses empregos, a filha da patroa deu-lhe pão mofado para comer, enquanto a menininha mimada comia pão fresco e quentinho que Luana acabara de trazer da padaria..
Na raça, Luana deu a volta por cima. Hoje, aos 31 anos, é historiadora formada pela UN-BH e professora de História para o ensino fundamental numa escola pública de Belo Horizonte. É também ativista do movimento negro e de mulheres.
Pois a meia hora recebi de Luana um e-mail indignadíssimo com a boneca “Neguinha do Espanador”, que integra a exposição Mail Art Cupcake Surpresa, uma parceria do  MuBe — Museu Brasileiro de Escultura — e Brinquedos Estrela.
O site do MuBe explica:
O Museu Brasileiro de Esculturas pediu para a Estrela, fabricante da Boneca Cupcake, fazer uma versão toda branca desta boneca. Elas foram mandadas, pelo correio, para vários artistas ou aspirantes ao redor do mundo, para que pudessem customizar a boneca da forma que quisessem (costurar, pintar, criar looks e cenários etc). O resultado é a concepção de uma série de obras com características particulares, dentre as quais vários toyarts, numa mistura de arte, moda e design, que o público vai poder conferir numa mostra de 80 bonecas.
Neste momento, a exposição Mail Art Cupcake Surpresa está no Shopping Market Place, em São Paulo, onde ficará até 8 de fevereiro.
“Na manhã de hoje, ao acessar o Faceboook, me deparei com a imagem da boneca ‘Neguinha do espanador’, compartilhada na página  Thaty Meneses“, conta. “Choque, repulsa, raiva, meu sangue ferveu. Foi o que eu senti quando vi a foto, participação do MuBe e da Estrela. ”
A  Thaty Meneses já tinha escrito no Face dela:
a legenda da boneca negra diz tudo: Ela tem um espanador na mão. É assim que as crianças negras se vêem em todo lugar. Em pleno 2015, é assim que somos representados. – “Tem pouquíssimas bonecas negras e a maioria delas está estereotipada sim. apenas uma delas está representada como algo não folclórico ou subserviente . Se não é a Estrela a responsável pela criação das caracterizações, ela é responsável pela curadoria da exposição e deveria saber que é inadmissível essa “neguinha do espanador” . Porque ninguém teve o input criativo de caracterizar uma das bonecas brancas como a loirinha do espanador?
“Gostaria que antes de acusarem nós, negros, de sentirmos vergonha da nossa cor, de vermos racismo em tudo, as pessoas tentassem por um instante se colocar no nosso lugar. Gostaria também que imaginassem o sentimento de uma criança negra ao olhar para essa boneca”, atenta Luana.
“‘Neguinha do Espanador’ fere a dignidade das crianças negras, contribui para a negação do pertencimento racial  e a baixa auto-estima delas”, denuncia Luana.
– Por que não a boneca lourinha com o espanador? 
“Porque  a ideologia racista incutiu na maioria da população brasileira a ideia de que homens e mulheres negras estão fadados a ocupações de menor prestígio-socioeconômico, como domésticas, faxineiras, cozinheiras, porteiros”, detona Luana.
“Nós, negras e negros, não aceitamos que nossas crianças sejam representadas como seres inferiores, destituídos de beleza e associados somente à profissões de menor prestígio social”, vai mais fundo Luana. “É sabido que no Brasil o emprego doméstico é ocupado majoritariamente por mulheres negras, na maioria das vezes, em situação degradante, com baixos salários, carga horária extensa e sem o recebimento de direitos trabalhistas.”
Na avaliação de Luana Tolentino, a boneca “Neguinha do Espanador” é ato de racismo explícito.
Por isso, já enviou à Ouvidoria da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial — a Seppir, da Presidência da República, esta denúncia:
Venho por meio desta denunciar a fabricante de Brinquedos Estrela.
Em exposição realizada no Shopping Market Place, na cidade de São Paulo, foi exposta a boneca “Neguinha do Espanador”, criada por Rita Caruso.
O brinquedo representa as crianças negras de maneira inferiorizada e ainda associa o povo negro às profissões de menor prestígio.
É sabido que o emprego doméstico é ocupado majoritariamente por mulheres negras, e na maioria das vezes em situação degradante, com extensa carga horária e sem direitos trabalhistas.
Acredito que a boneca fere a dignidade das crianças. Contribuiu para a negação do pertencimento racial  e para a baixa auto-estima. Acredito ainda que as crianças podem ser alvo de xingamentos e discriminação em função da boneca.
Encaminho uma foto para endossar a minha denúncia.
Certa de que providências serão tomadas, agradeço.
Luana solicita aos leitores que façam o mesmo. Basta enviar uma mensagem para ouvidoria@seppir.gov.br, com a imagem da boneca, o nome completo, identidade, CPF e o endereço do denunciante.
Leia também:

sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

A palheta de Velázquez - por Mazé Leite


Detalhe da obra As Meninas,
onde Velázquez se retratou
Aqueles que pintam, hoje em dia sabem a quantidade enorme de cores colocadas à disposição de qualquer palheta de qualquer um, seja estudante, seja profissional. Para cada pigmento vermelho, uma infinidade de variações que chegam às minúcias de cores chamadas de “tons de pele”; para cada amarelo, variações que vão do clássico amarelo de Nápoles, passando pelos cadmios e pelos cromos, sendo que marcas como a Winsor & Newton tem seus próprios amarelos. Mas o que pode ser uma grande facilidade para os pintores de hoje, pode se transformar nos piores pesadelos - ou nas piores obras - se o encanto consumista por tanta variedade se sobrepuser ao sempre bom e necessário costume do estudo pessoal. Todo artista necessita conhecer seus materiais de trabalho, e o conhecimento técnico deles tem grande responsabilidade no êxito de sua arte.


Ariano Suassuna retratado por mim,
num exercício com a Palheta de Apeles
(Branco, Amarelo Ocre, Vermelho, Preto),
óleo sobre tela, 40x60cm, 2014
 
Tenho feito alguns estudos com palheta reduzida, ou seja, pintando com poucas cores. Fiz 3 pinturas usando a chamada "Palheta de Apeles", o pintor grego da antiguidade que usava somente Amarelo Ocre, Vermelho, Branco e Preto. Comprovei que muito se pode conseguir com pouco, pois o que importa é o aprendizado da manipulação das cores, o domínio técnico das misturas. Mas como continuo intrigada com esse assunto, resolvi pesquisar como pintava um dos meus artistas preferidos: Diego Velázquez, o pintor espanhol.

Na minha busca por informações, fui ao site do Museu do Prado. Lá encontrei textos produzidos por Carmen Garrido Pérez, uma das funcionárias do museu. Ela é a chefe do Gabinete de Documentação Técnica, doutora em História da Arte pela Universidade Autônoma de Madrid e especialista em documentação físico-química para investigações técnicas sobre pinturas históricas. Escreveu vários livros e textos sobre o assunto. Um desses livros é o “Velázquez: técnica y evolución”, que se encontra esgotado. Mas encontrei também artigos publicados por ela, inclusive em PDF, que me trouxeram informações muito úteis, as quais compartilho aqui.

Uma das frases que Carmen repete em seus artigos, resume muito sobre o pintor espanhol. Diz ela: “Velázquez é um artista que pensa muito e pinta pouco, que descarta de sua arte o supérfluo para ficar sempre com o que é essencial”. E demonstra como ao longo de toda a sua vida o pintor sevilhano não usou mais dos que 16 cores em suas palhetas.

O bufão Dom Sebastião de Morra, 1645
Esta informação foi dada após muitos anos de estudos realizados sob o patrocínio do Museu do Prado, em seus laboratórios, a partir de experiências com Raios X e fotografias com luz infravermelha, além de outros instrumentos de medição científicos. O Gabinete de Documentação Técnica do Museu vem acumulando um grande arquivo, diz Carmen, de mostras de telas antigas e mais modernas e têm sido feito estudos muito aprofundados em obras de Zurbarán, Murillo e Velázquez.

Os dados recolhidos até agora, por esses estudos, abarcam cerca de 30 anos da carreira de Diego Velázquez, ainda faltando mais estudos sobre as etapas em que ele viveu em Sevilha e em sua segunda viagem à Itália. Mas, diz Carmen, as cores usadas por ele variaram pouco de um quadro a outro, incluindo o período em que residiu em Roma, de 1629 a 1631. Ela aponta ainda que há uma similaridade nos materiais artísticos usados por espanhois e holandeses, aproximando muito a prática técnica de Rembrandt com a de Velázquez.

As cores de Velázquez

Nos estudos de Carmen Garrido, baseados em micro-amostras de telas analisadas mediante dispersão de Raios X, ela identificou todas as cores que Velázquez teria usado ao longo de sua vida:

1 - Branco de Chumbo
2 - Amarelos - à base de Terras de Óxido de Ferro, Chumbo, Estanho, Antimônio e que hoje correpondem a: a) AMARELO DE CADMIO LIMÃO - b) AMARELO DE NÁPOLES (só usou uma vez) - c) AMARELO OCRE
3 - Vermelhos - foram detectados 3 nas análises, 01 de base de metal e 02 de terra: a) VERMELLION (base de Cinábrio, metal pesado de Sulfureto de Mercúrio) - hoje: VERMELHO DE CADMIO - b) TERRA DE SEVILHA - hoje: VERMELHO INGLÊS (Óxido de Ferro) - c) TERRA DE SENA QUEIMADA - base: Óxido de Ferro Laranja
4 - Marrons: a) TERRA DE SOMBRA NATURAL - b) TERRA DE SOMBRA QUEIMADA (bases: Óxido de Ferro e Manganês)
5 - Azuis - raramente Velázquez usou o Ultramarino, pois o preço do Lapislázuli era muito caro, pedra vinda do Afeganistão: a) AZUL DA PRÚSSIA (ou Azurita, base: Cianureto de Ferro) - b) AZUL DE COBALTO (Óxido de Cobalto ou de Alumínio) - c) AZUL ULTRAMAR
6 - Pretos - vários pretos extraídos da combustão de ossos e outros materiais. Hoje usamos o Preto de Marfim (Ivory Black)

Mais tarde ele também passou a usar um Terra Verde.
As meninas, 1656

No quadro mais conhecido deste pintor espanhol, se pode ver uma de suas prováveis palhetas, formada por 9 cores: Branco de Chumbo, Laranja (Vermellion de Cinabrio), Vermelho (Terra vermelha de Sevilha), Amarelo Ocre, Carmin, Sombra Queimada, Sombra Natural, Azul da Prússia, Preto de Fumo.

Entre seus pigmentos, Velázquez não introduziu substâncias químicas novas, e não aparece nenhum pigmento que ele já não tivesse usado, continua Carmen: “Sin embargo, en su manipulación de los pigmentos, se mostró un pintor ingenioso en un momento en que las novedades eran incontables a través de Europa”. E diz mais: “nos parece que uno de los aspectos más fascinantes de las prácticas de Velázquez fue su desviación de la teoría autorizada de su tiempo”.

Carmen Garrido diz que, salvo algumas exceções, Velázquez utilizou os mesmos pigmentos ao longo de toda a sua carreira, mudando apenas a maneira de misturá-los e de aplicá-los. Ele era “capaz de crear con sólo cinco o seis pigmentos una obra maestra”.


Menipo, 1639
As investigações técnicas sobre a obra de Velázquez no Museu do Prado têm revelado muito sobre a maneira de trabalhar de um dos maiores gênios da pintura mundial. A partir desses estudos, se tem visto que Velázquez escolheu cuidadosamente cada um dos materiais que usou para pintar, tanto por sua qualidade como por sua aplicação em cada momento. Assim, na medida em que sua técnica vai evoluindo, seus suportes e preparações de pigmentos também vão se modificando. “Los pigmentos, más o menos los mismos durante toda su carrera, irán variando en sus moliendas, en sus mezclas y en la manera de ser aplicados, ya que la evolución de su trazo así lo determina”, aponta Carmen.

Na época de Velázquez já era habitual para os pintores o uso das telas. Dependendo da etapa em que estava, ele escolhia como tecido o Linho ou Cânhamo com densidades diferentes. Ele sabia que estas texturas diversas alteravam a visão final da obra. De acordo com os efeitos óticos que ele desejasse, selecionava os suportes (telas), os pigmentos, a técnica e os recursos oportunos para conseguir materializar suas ideias.

Carmen Garrido, com sua experiência de décadas de trabalho em museus, diz que a maioria dos quadros que hoje vemos nesses espaços culturais já foram reentelados. Mas entre as obras de Velázquez do Museu do Prado existem oito com seus suportes originais, tal como o pintor os fez, o que possibilita uma grande quantidade de detalhes sobre seus métodos de trabalho, incluindo as pinceladas de provas, as costuras de pedaços de tecido adicionados, e as imprimações. “Además, estas pinturas conservan su capa pictórica en un estado próximo al de su ejecución, como puede verse en ‘La coronación de la Virgen’ o en el ‘Mercurio y Argos’”.

Uma vez colocado o tecido no chassi de madeira, era feita a preparação do tecido (muitas com cola de origem animal, para proteger o tecido da química dos pigmentos) e a imprimação. O objetivo da imprimação é o de servir de “fundo ótico” para o quadro e aos efeitos coloridos da pintura. Segundo Francisco Pacheco (pintor, escritor e sogro de Velázquez), na primeira etapa de sua carreira ele utilizava “Terra de Sevilha”, um Terra de tom ocre médio, como imprimação.

Já em Madrid, para onde se mudou em 1623, nosso pintor abandona os materiais sevilhanos e começa a trabalhar com um tecido com diferentes tipos de densidades e um trançado mais fino. Sobre ele, aplicava uma dupla camada de base, a primeira na cor branca e depois uma imprimação feita com Terra Vermelha, chamada “tierra de Esquivias” pelos pintores da escola madrilenha. Mas ele também adotou a forma italiana das preparações de tela brancas mais ou menos manchadas com cinzas ou em ocre, o que dava uma combinação perfeita para conseguir os efeitos de superfície, de luminosidade dos fundos e de suas cores.

Ainda segundo Carmen Garrido Pérez, durante a primeira viagem à Itália, Velázquez pintou dois grandes quadros: “A túnica de José” e “A Forja de Vulcano”. O primero, que se encontra no Real Monasterio del Escorial, é uma obra de experimentação com relação às telas (tela napolitana pavimentosa), os fundos (Terra napolitana) e a introdução de alguns pigmentos, como o Amarelo de Nápoles, que Velázquez não usou nunca mais. 


A Forja de Vulcano (1630), cuja imprimação
Velázquez fez só com Branco de Chumbo
Mas foi em “A Forja de Vulcano” que o pintor encontrou o caminho por onde seguirá desenvolvendo sua pintura nos anos posteriores. Sua preparação, continua descrevendo Carmen, foi aplicada com uma espátula e o Branco de Chumbo substituiu as imprimações anteriores feitas com os Terras. O Branco de Chumbo é muito opaco e denso, criando com isso um efeito ótico muito luminoso, observa ela. Velázquez dava muita importância a esses fundos bem preparados, o que se pode ver através desses exames radiográficos que mostram a evolução do pintor, tanto com os materiais como com a forma de aplicá-los, o que lhe dá uma identidade pessoal.

Carmen também observou, a partir de seus estudos técnicos, que salvo uma ou outra exceção, Velázquez nunca volta atrás em sua evolução. Quando adota um novo tipo de tela, algum material ou uma forma concreta de aplicá-los, “deixa de utilizar o anterior”. Por sobre as imprimações, ele fazia um esboço com poucas linhas para situar a composição, que também apareceu após os exames com reflectografia infravermelha. Além disso, ele "pinta siempre a la “prima”, aunque en su mente ha desarrollado con anterioridad la idea de lo que quiere llevar al lienzo. Si algún detalle no le satisface, lo corrige superponiendo el cambio en su trabajo directo sobre el cuadro”.

O espelho de Vênus, 1650
A pesquisadora espanhola também observa que os pintores do século XVII fabricavam suas cores misturando pigmentos de origem orgânica, como as lacas, ou os de origem inorgânico, como os minerais, com aglutinantes proteicos e substancias oleaginosas. As moagens e as misturas eram feitas nos ateliês,  procurando sempre a máxima estabilidade dos materiais. Velázquez sempre empregou pigmentos de boa qualidade e óleos preparados e depurados. Em vista desse cuidado, suas pinturas, apesar do tempo passado, não amarelaram e nem escureceram em excesso, conservando sua transparência e colorido. Em suas misturas, a proporção de aglutinantes como colas ou ovos, e dos óleos, eram determinadas pelas transparências que ele queria alcançar. 

A pintura de Velázquez é resultado “de un largo proceso intelectual”, afirma a pesquisadora. “Cada vez, con menos materia hacía más. Pensaba mucho y pintaba poco, veía el mundo con ojos nuevos y sólo una técnica original como la suya puede transmitirnos su original visión de las cosas, por esto es un gran innovador del arte de la pintura”. 

Como disse Rafael Mengs, no século XVIII, “Velázquez não pintava com os pincéis, pintava com a intençao”. Era um pensador, sobretudo.


Cores prováveis usadas por Velázquez, em sua denominação atualizada (o Branco de
Chumbo foi substituído pelo de Titanio, por causa da alta toxicidade do pigmento,
assim como hoje em dia é mais usado o Preto de Marfim. Os Cadmios são pigmentos
mais modernos, mas equivalentes aos usados no passado)

Documentário sobre Sebastião Salgado concorre ao Oscar

O documentário O Sal da Terra sobre o fotógrafo Sebastião Salgado, do alemão Wim Wenders, está entre os indicados na categoria Melhor Documentário ao Oscar de 2015. A obra conta com codireção do filho Juliano Ribeiro Salgado e relata a vida do fotógrafo brasileiro autor de Trabalhadores,Terra, Serra Pelada, África, Outras Américas, Êxodos e Gênesis.


Bruna Prado
Sebastião Salgado Sebastião Salgado
O Sal da Terra concorre com CitizenFour, que relata os recentes escândalos de espionagem dos Estados Unidos; A fotografia Oculta de Vivian Maie, que conta a história de uma fotógrafa; Last Days in Vietnam relata os últimos dias da Guerra do Vietnã e o Virunga, sobre o “Parque Nacional do Congo”, onde vivem os últimos gorilas da montanha.

Segundo a crítica, o documentário de Wim Wenders é um “retrato raro e muito pessoal do fotógrafo brasileiro”. Depois de dirigir Paris, Texas, Asas do desejo, Buena Vista Social Club e Pina, Wenders conseguiu “capturar o espírito de Salgado e sua obra”.

Juliano Salgado é responsável pelas imagens tomadas durante viagens a trabalho em companhia do pai, antes mesmo que ele pensasse em integrar um projeto como este. Já Wenders busca uma ligação imediata com o trabalho do fotógrafo ao focar em cenas em preto e branco, retratando Sebastião em ambientes de trabalho.

O filme traz um misto de depoimentos, cenas em preto e branco, coloridas, imagens de arquivo e um incontável número de fotografias. Trata-se de um retrato inédito sobre a vida e obra de Sebastião Salgado, onde ele mesmo explica alguns de seus trabalhos mais marcantes e conta experiências.


Do Portal Vermelho,
Mariana Serafini

quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

Oficinas orientarão interessados em participar de especialização em acessibilidade cultural

Serviço

 
Recife- PE
Data: 28 de janeiro
Horário: 14h
Local: Sede do IPHAN: Av. Oliveira Lima, nº 824 - Bairro Boa Vista 
Porto Alegre - RS
Data: 3 de fevereiro
Horário: 14h30
Local: Rua André Puente, nº 441, Bairro Independência
Belo Horizonte - MG
Data: 9 de fevereiro
Horário: 14h
Local: Funarte MG - Rua Januária, 68, Bairro Floresta
 
O Ministério da Cultura (MinC) promoverá uma rodada de oficinas para orientar os interessados em concorrer a uma vaga para o curso de especialização em acessibilidade cultural, que será promovido a partir de abril pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
 
Direcionado a gestores públicos de cultura, Pontos e Pontões de Cultura, organizações da sociedade civil e professores de universidades públicas, o curso tem como proposta sensibilizar e instrumentalizar gestores públicos na implantação de políticas de acessibilidade cultural, além de ampliar o debate sobre gestão cultural acessível e legislações conquistadas no campo dos direitos humanos e da deficiência.
 
As três primeiras oficinas serão realizadas em Recife (PE), no dia 28 de janeiro, em Porto Alegre (RS), no dia 3 de fevereiro, e em Belo Horizonte (MG), no dia 9 de fevereiro. Não há necessidade de inscrição prévia e a participação é gratuita. Outras cidades também receberão oficinas sobre o edital.
 
As inscrições para o curso de especialização podem ser feitas até 28 de fevereiro, exclusivamente por via postal. Carta registrada deve ser enviada pelos Correios para a Caixa Postal 70104, Rua Prudente de Moraes, 147, Rio de Janeiro (RJ), CEP: 22420-970. Os documentos necessários para a participação estão listados no edital de seleção.
Serão oferecidas 63 vagas, sendo 27 para servidores públicos concursados de instituições culturais públicas; cinco para Pontos e Pontões de Cultura (que receberão apoio para a capacitação por meio de passagens); cinco para representantes de instituições da sociedade civil que atuem no campo da deficiência e da cultura; cinco para docentes de cursos de Terapia Ocupacional ou áreas afins de universidades públicas; cinco vagas para funcionários concursados do MinC; cinco vagas para produtores culturais concursados da UFRJ; três vagas para bolsistas de residência cultural; e duas vagas para a equipe de secretaria acadêmica do curso de especialização em acessibilidade cultural.
 
O curso terá carga horária de 360 horas, divididas em nove blocos de 40 horas semanais. Cada bloco será realizado durante uma semana por mês, de modo a possibilitar a participação de candidatos de fora do Rio de Janeiro. Serão 12 disciplinas teóricas e práticas: política e diversidade cultural; aspectos gerais das deficiências; tecnologia assistiva I e II; exposição acessível I e II; seminário de projeto I e II; sensibilização em Libras; audiodescrição I e II; e Braile e outros recursos.
 
Assessoria de Comunicação
Ministério da Cultura

terça-feira, 20 de janeiro de 2015

Livro sobre Guerrilha do Araguaia mescla reportagem e memória

 Episódio ignorado à época, devido à censura durante a ditadura militar, a Guerrilha do Araguaia vem se tornando objeto de bibliografia cada vez mais extensa. Araguaia – Histórias de Amor e de Guerra, do jornalista Carlos Amorim, é o sexto livro sobre a luta armada no interior do país, sem contar as obras de circulação regional e as biografias de participantes.


Por Oscar Pilagallo* 


O autor também demonstra competência no trato das fontes, ao descartar, por inconfiáveis, livros produzido por militares e civis identificados com o ideário do golpe de 1964.  O autor também demonstra competência no trato das fontes, ao descartar, por inconfiáveis, livros produzido por militares e civis identificados com o ideário do golpe de 1964. 
Organizada pelo Partido Comunista do Brasil, a ousada e ingênua guerrilha pretendia derrubar a ditadura e instalar o socialismo de viés maoísta. Essa história foi contada pela primeira vez nos livros de Palmério Dória e Fernando Portela, publicados no final dos anos 1970, depois de a guerrilha ter sido exterminada por uma expedição do Exército.

Nos últimos anos, outras três obras esclareceram detalhes de uma história ainda não de todo conhecida. Em 2005, Taís Morais e Eumano Silva divulgaram documentos secretos do Exército, tarefa completada no ano seguinte por Hugo Studart. Em 2012, Leonencio Nossa expôs o arquivo pessoal do major Curió, o homem que personificou a política de extermínio dos guerrilheiros.

Beneficiando-se desses trabalhos, Amorim privilegia a visão do conjunto, algo que os outros autores sacrificaram para poder abrir mais espaço para a investigação.

A guerrilha é apresentada no contexto político, ideológico e cultural da época. A boa iniciativa, porém, fica ameaçada quando, com frequência, um amplo painel do mundo dos anos 1960 e 70 disputa o foco narrativo com a guerra na selva.

O Araguaia de Amorim é um livro híbrido. Tem reportagem, memória, autobiografia, análise, digressões, até sugestão de trilha sonora, tudo embalado em uma prosa em primeira pessoa vazada num estilo esparramado.

Cinema

Com clara vocação cinematográfica – os intertítulos são antecedidos pela expressão “corta” –, a obra reconstitui cenas não presenciadas por Amorim, que se vale, como recurso ficcional, de uma “câmera imaginária do autor”. Com trajetória profissional fincada na TV, o jornalista chega a embutir no texto indicações típicas de roteiro (“zoom-in na cara de um homem mais velho, a lente fechando devagar”).

Embora não se destaque por interpretações novas, Amorim argumenta, contra a visão predominante, que a guerrilha, iniciada em 1966, teria acabado em 1976, com o massacre da liderança do PCdoB em São Paulo, e não em 1973, quando o movimento no campo foi derrotado.

Ele também crava um número maior de mortos entre os guerrilheiros. Pela sua conta, teriam sido 94, e não 86, segundo documentos militares, ou 75, de acordo com o próprio PCdoB.

O autor também demonstra competência no trato das fontes, ao descartar, por inconfiáveis, livros com forte viés ideológico e sites como o Terrorismo Nunca Mais, produzido e mantido por militares, ex-militares e civis identificados com o ideário do golpe de 1964.

*É jornalista e autor de História da Imprensa Paulista e A História do Brasil no Século 20

Fonte: Observatório da Imprensa

Escola de Cinema e Televisão de Cuba abre novas vagas para brasileiros

Estão abertas, até 7 de março, as inscrições para oito cursos de especialização da Escola Internacional de Cinema e Televisão de San Antonio de los Baños (EICTV), em Cuba. Famosa por ter tido entre seus professores intelectuais como o escritor colombiano Gabriel García Márquez e o cineasta norte-americano Francis Ford Coppola, a escola foi responsável pela formação de vários diretores brasileiros, entre eles Eliane Caffé, Vicente Ferraz e André Klotzel.


Arquivo pessoal
Wolney Oliveira e Gabriel Garcia Márquez durante o curso de cinema em Cuba em 1988 Wolney Oliveira e Gabriel Garcia Márquez durante o curso de cinema em Cuba em 1988
Serão selecionados de quatro a seis candidatos brasileiros, que farão parte de um grupo de 40 estudantes de todo o mundo. O curso tem duração de três anos, com início previsto para setembro de 2015 e término em julho de 2018.

Ao todo, serão oferecidas oito especializações: Direção, Produção, Roteiro, Fotografia, Som, Documentário, Edição e TV e Novas Mídias. Cada candidato poderá optar por apenas uma delas.

As provas serão nos dias 13 e 14 de março em cinco cidades brasileiras: Belém (PA), Belo Horizonte (MG), Brasília (DF), Florianópolis (SC) e Recife (PE).

O Ministério da Cultura, por meio da Secretaria do Audiovisual, é responsável por aplicar as provas no Brasil, além de subsidiar uma parte do custo das mensalidades dos alunos brasileiros.

Aula com Coppola

Como Macondo, cidade fictícia do romance Cem Anos de Solidão, a EICTV também foi obra do escritor colombiano Gabriel Garcia Márquez, porém em parceria com outros intelectuais latino-americanos.

O documentarista cearense Wolney Oliveira, diretor de Um, Dois, O Invasor Marciano e Sírio em quadro, entre outros filmes, participou, em 1986, ano da inauguração da escola, da primeira turma a contar com a presença de brasileiros.

"Assim que o Brasil retomou relações com Cuba, a comissão da EICTV escolheu seis alunos brasileiros, do Ceará e do Piauí, na época os locais mais carentesdo Nordeste brasileiro. Eu tive muita sorte de estar entre os escolhidos", relata Wolney.

O documentarista teve aulas com os cineastas Francis Ford Coppola e George Lucas e também com o escritor nigeriano Wole Soyinka, vencedor do Prêmio Nobel de Literatura. "Coppola nos deu aula de roteiro. Depois, ele cozinhou nhoque para os alunos e ofereceu o vinho que ele produzia na Califórnia", lembra o diretor.

Wolney também se recorda do dia em que pegou carona com o próprio Garcia Márquez, de Havana a San Antonio de los Baños, a 26 quilômetros da capital cubana: "Ele me viu e me chamou. No caminho, perguntei por que ele não vendia os direitos de Cem Anos de Solidão para o cinema. Ele respondeu que tinha medo de o filme ser melhor do que o livro".

O cineasta brasiliense André Leão cursou a EICTV de 2006 a 2009. Depois, recebeu convite da direção da escola para administrar o setor de documentários, ficando mais dois anos por lá. "Quando fui para Cuba, estava na pós-graduação aqui no Brasil. Mas o que aprendi na EICTV corresponde a quase 90% do que eu sei hoje", avalia.

Para André, o que faz a diferença na EICTV em relação a outras escolas de cinema é que a de Cuba só convida profissionais que estão na ativa para fazer parte do corpo docente. "Eu tive aulas com o diretor Walter Carvalho, com o pesquisador Arlindo Machado e com o ator, diretor e produtor inglês Ralph Fiennes, por exemplo", conta André.


Fonte: MinC

BNDES repassa R$ 4,75 milhões para restauração de igreja em Tiradentes



O BNDES anunciou nesta segunda-feira (19) que destinará R$ 4,75 milhões à Paróquia de Santo Antônio na cidade mineira de Tiradentes. Os recursos não reembolsáveis – sem a necessidade de pagamento pela igreja – serão utilizados para a restauração arquitetônica e artística, além da recuperação da estrutura do Santuário da Santíssima Trindade e das Capelas dos Cinco Passos da Paixão de Cristo, tombados desde 1938, pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).


Foto: Erik Pzado
Igreja Matriz de Santo Antônio, Tiradentes, Minas Gerais. Igreja Matriz de Santo Antônio, Tiradentes, Minas Gerais.
Reconhecida como santuário na década de 1960, a Igreja da Santíssima Trindade foi inaugurada em 1776 como capela, na parte alta da cidade e, ao longo dos anos, foi incorporando vários elementos à estrutura original, informou a assessoria de imprensa do BNDES. A reforma estrutural da edificação, que abriga o único exemplar de uma imagem de Deus com trajes papais, tem prazo de 24 meses a execução da obra.

As Capelas dos Cinco Passos foram construídas por volta de 1745 e também sofreram degradação física, avaliaram técnicos do banco. O padre Ademir Longatti acredita que a licitação para a escolha da firma que executará o trabalho de restaurão dos bens deverá ocorrer em fevereiro próximo. “Nós estamos pesquisando em Belo Horizonte, para poder começar”.

Em razão da importância de seu conjunto arquitetônico, Tiradentes é uma das principais beneficiárias do apoios de preservação do patrimônio histórico, pelo BNDES. Desde 2009, o banco apoia ações de restauração do patrimônio histórico-cultural da cidade, para onde já destinou R$ 23 milhões.

Fonte: Agência Brasil

sábado, 17 de janeiro de 2015

Projeto de lei quer criar Conselho Municipal do Patrimônio Cultural

FOTO: ARQUIVO
Fotografada por ARQUIVO
Projeto de lei está tramitando e vai ser votado na volta do recesso

BARRA MANSA
Está tramitando na Câmara Municipal o projeto de lei, de autoria do presidente da Casa, Marcelo Borges (PT), que dispõe sobre a Preservação do Patrimônio Cultural do município e cria o Conselho e o Fundo Municipal de Preservação do Patrimônio Cultural.
O Patrimônio Cultural da cidade, segundo o projeto de lei, é integrado pelos bens materiais e imateriais, tombados individualmente ou em conjunto, que constituem a identidade e a memória coletiva barramansense. São bens materiais as edificações, ruas, bairros, traçados urbanos, praças, paisagens ou sítios que tenham valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, ecológico ou científico. E são considerados bens imateriais os saberes e manifestações culturais que por sua importância consolidam a identidade cultural e mereçam reconhecimento e proteção do município.
De acordo com o projeto, o município efetuará a identificação de seus bens materiais e imateriais que constituem partes estruturadoras da identidade e da memória coletiva e os inscreverá numa ‘Listagem de Bens de Interesse de Preservação do Município’, visando à salvaguarda e valorização de seu Patrimônio Cultural, assim como o tombamento dos bens. Ainda de acordo com o projeto, caberá a prefeitura e aos cidadãos a tarefa de pesquisa, proteção, valorização, divulgação, além da função fiscalizadora no sentido de verificar a obediência aos preceitos desta Lei.
O projeto de lei em tramitação cria o Conselho Municipal do Patrimônio Cultural (Compac), de caráter consultivo e deliberativo, integrante da Fundação Municipal de Cultura. Será competência do Compac, de acordo com a proposta, sugerir diretrizes da política municipal de defesa, proteção, valorização e divulgação do Patrimônio Cultural; coordenar, integrar e executar as atividades relacionadas à defesa do Patrimônio; gerir permanente visando o aperfeiçoamento de mecanismos institucionais e de obtenção de recursos com apoio da iniciativa privada; analisar e proferir parecer sobre os Pedidos de Inscrição na Listagem de Bens e Interesse de Preservação e Pedidos de Tombamento e elaborar seu regimento interno.
O Conselho será composto pelo diretor da Fundação de Cultura, que exercerá a Presidência do Conselho e a quem caberá voto de qualidade; pelo presidente da Academia Barramansense de História; um representante das secretarias de Obras e do Meio Ambiente; um representante da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB); um representante a ser indicado pelas Instituições Privadas de Ensino Superior; representante a ser indicado por ONG’s, órgãos ou grupos de defesa do Patrimônio Cultural e representante da Câmara Municipal.
FUNDO DE PRESERVAÇÃO
O projeto de lei institui ainda o Fundo Municipal de Preservação do Patrimônio Cultural de Barra Mansa (FMPPCBM), vinculado à Secretaria de Governo, com a finalidade de prestar apoio financeiro a projetos de preservação e manutenção do patrimônio cultural da cidade.
Pela proposta serão levados a crédito do FMPPCBM os recursos oriundos de contribuições, transferências, subvenções, auxílios ou doações dos setores públicos ou privados; resultado de convênios, contratos e acordos celebrados com instituições públicas ou privadas, nacionais ou estrangeiras, na área cultural; outros recursos, créditos e rendas adicionais ou extraordinárias que, por sua natureza, lhe possam ser destinados; e provenientes das multas aplicadas em decorrência desta Lei. As disponibilidades do Fundo serão aplicadas em projetos que visem a preservação e manutenção do patrimônio cultural da cidade.
JUSTIFICATIVAS
Para o autor, o objetivo do projeto de lei é instituir diretrizes gerais para a preservação do patrimônio histórico, ambiental e cultural da cidade, com fundamento nos princípios estabelecidos pela Constituição Federal e Lei Orgânica do Município. “A legislação existente que disciplina a preservação do patrimônio histórico e cultural de Barra Mansa não trata de todos os aspectos que envolvem este tema. Pretendemos com a proposição ampliar a abrangência da regulamentação de tão importante tema, considerando o avançar no detalhamento e especificação do conceito de tombamento e suas consequências para a sociedade”, afirmou o presidente da Câmara Municipal, acrescentando que a preservação da memória e da história de um povo está relacionada à preservação do seu patrimônio cultural. “Mesmo conservando as características fundamentais da propriedade privada, cada vez mais se torna impossível deixar de reconhecer que a propriedade mesmo de natureza privada tem uma função social e o tombamento de bens impregnados de referenciais históricos e culturais de um povo é uma das formas de reconhecimento dessa função social”, pontuou.

Encontro de Jornada de Folia de Reis acontece em Barra Mansa



Encontro de Jornada de Folia de Reis acontece em Barra Mansa

Evento conta com apresentação de quatorze grupos

O Dia
Rio - Neste próximo domingo (11), a partir das 15h, a Associação de Moradores Alvorada e Água Comprida, com o apoio da prefeitura de Barra Mansa,  realiza o 'Encontro de Jornada de Folia de Reis e São Sebastião'. O evento será realizado na Praça Marcello Drable, localizada no bairro Água Comprida. A previsão da organização é que o encontro termine por volta de meia noite.
Segundo o superintendente da Fundação de Cultura de Barra Mansa, Cláudio Chiesse, a expectativa é que aproximadamente 400 pessoas participem da festa. “Buscamos preservar e incentivar as ações culturais tradicionais remanescentes no município” enfatizou o superintendente, que ainda acrescentou que o evento contará com apresentações de música e dança em homenagem aos Santos Reis e a São Sebastião, com canto de hinos de louvor e apresentação dos tradicionais palhaços.
“Queremos desmistificar as histórias sobre a Folia de Reis, preservando a tradição, que passa de geração em geração”, declarou o secretário de Desenvolvimento Rural de Barra Mansa e principal apoiador da jornada municipal, Carlos Roberto de Carvalho, o Beleza. Ainda de acordo com o secretário, a jornada é uma representação da fé. “As famílias não precisam ter medo de abrir suas casas, para receber a bandeira sagrada, e assim, mostrar às crianças que tal apresentação faz parte da cultura brasileira”, finalizou ele.
O encontro vai se repetir no próximo sábado, dia 17, no Corredor Cultural e no domingo, dia 18, na quadra do Colégio Estadual Boa Vista, no bairro Boa Vista II.

sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

A festa do Bonfim é herança de outras festas

Em contraponto à visão de Odorico Tavares, publicamos um artigo de Nelson Cadena sobre as festas populares da Bahia. O autor lança este mês, em Salvador, o livro Festas Populares da Bahia – Fé e Folia.


Divulgação
Nelson Cadena lança este mês, em Salvador, o livro <i>Festas Populares da Bahia - Fé e Folia</i> Nelson Cadena lança este mês, em Salvador, o livro Festas Populares da Bahia - Fé e Folia
Leia na íntegra a Festa do Bonfim é herança de outras festas de Nelson Cadena:

Ninguém sabe ao certo quando começou a Festa do Bonfim e essa coisa de fixar como data cronológica do evento o ano de 1745, referência da devoção instituída por Teodósio Roiz de Farias quando trouxe a imagem do santo de Lisboa, é meio que uma forçada de barra. Até por que a imagem então foi conduzida até a igreja da Penha onde ficou por quase uma década, até sua definitiva condução para a Igreja do Senhor do Bonfim, logo que concluídas as obras do templo.

Em todo caso a Festa do Bonfim, no sentido de festa com ampla participação popular, é herdeira de outras festas realizadas muito antes da entronização da dita imagem, em Itapagipe: as festas de Nossa Senhora da Guia e em especial as de São Gonçalo, o santo casamenteiro e da fecundação, cujo culto causava arrepios no clero baiano.

Foi a lavagem da Igreja da Penha e mais tarde da Igreja do Bonfim pelos devotos de São Gonçalo, o povo de santo da Bahia com suas danças e batuques considerados “lascivos” pelo bispo, que inspirou já no final do século XIX a lavagem das escadarias e a procissão da quinta feira. Dom Romualdo então escandalizado com as danças de mulheres “seminuas” dentro da igreja no ritual da lavagem proibiu o culto em 1839 e o arcebispo Luis Antônio dos Santos em 1890 fechou a igreja e acionou a polícia para impedir a lavagem do adro, já era a Festa do Bonfim.

No ano seguinte o povo de santo da Bahia não se intimidou e lavou as escadarias e assumiu o Senhor do Bonfim efetivamente como Oxalá, sincretizando a devoção que a igreja católica fazia questão de reprimir, ou pelo menos delimitar os seus rituais. A igreja manteve o novenário e tentou interferir na procissão que passou a ter os seus rituais estabelecidos pelo candomblé. E o culto a São Gonçalo de Amarante que inspirou tudo isso foi transferido para o Rio Vermelho e já no século XX desapareceu por completo.

“Uma das festas populares mais belas de todo o Brasil”

Descrita com arte pelo pernambucano Odorico Tavares, que adotou a Bahia e foi por ela adotado como filho, mostra neste texto do início dos anos 1960 que a Festa do Bonfim, realizada nesta semana em Salvador, é herança dos colonialistas e clericais portugueses. Com o tempo, a fé católica se misturou ao profano e a homenagem ao Senhor do Bonfim se converteu em uma das festas populares mais belas de todo o Brasil.


Carybé
Ilustração de Carybé para o livro de Odorico Tavares Ilustração de Carybé para o livro de Odorico Tavares
Leia um capítulo do livro Bahia – imagens da terra e do povo, de Odorico Tavares:

O Ciclo do Bonfim

Do Elevador Lacerda, avista-se, lá longe, sobre a Colina Sagrada, a Basílica do Senhor do Bonfim, toda iluminada. Durante sua festa, a Bahia inteira se locomove para render graças ao Grande Líder. E nos vem à lembrança o nome do capitão-de-mar-e-guerra da marinha lusitana, Teodósio Rodrigues de Faria, que, em 1754, instituiu, nesta cidade, a devoção do Senhor Born Jesus do Bonfim, venerado em Setúbal. O capitão português fez mais: ao lado de suas atividades de classificador de fumo exportado para a metrópole ou para a África, cuidou com um carinho extremado da devoção do seu Santo; trouxe a imagem de Setúbal, instituiu a Irmandade e, nove anos depois, inaugurava, com festas, a capela, erigida no alto da colina, que outrora se chamava do Montesserrate. Desde então as graças alcançadas pelos devotos, os milagres realizados pelo Senhor Crucificado, foram carreando legiões que se vinham prostrar a seus pés. Teodósio Rodrigues tinha trazido uma força insuspeitada: a fé encontraria no alto da colina um reduto que todo o país receberia como expressão major de religiosidade de seu povo.

A estas horas, muitos estarão pisando a lousa mortuária do capito-de-mar-e-guerra Teodósio Rodrigues de Faria, no interior da igreja, sem saber que ele foi o portador da imagem divina, instituidor do seu culto, zelador de sua Glória até que a morte o acolheu. E desde o ato de Pio VII, em 1804, que "por pedido dos diretores da Irmandade e Igreja do Senhor Jesus do Bonfim concedeu Breve Apostólico para que a festa do mesmo Senhor fosse celebrada na segunda dominga depois da Epifania, dia em que se festeja o SS. Nome de Jesus", que as multidões, nesta data, acorrem de todas as partes para festejar o santo amado do povo baiano e de todo o povo brasileiro.

Quem tiver a felicidade de chegar à Bahia no mês de janeiro tome nota de todas as particularidades relativas à festa do Bonfim: há como que um programa traçado pelas autoridades eclesiásticas e programa traçado pelo povo. Se nem sempre se conciliam, em última análise, se confundem, no mesmo carinho com que ambos traduzem a força da fé, o amor pelo santo. O povo, além da liturgia, do esplendor da Igreja, dos atos religiosos, traz a espontaneidade de sua fé primitiva, o Ímpeto avassalante de todas as maneiras de expressar sua alegria de viver: sua maneira de render graças ao Senhor, tão solicitado nas horas da desgraça. Portanto, conheçam-se as solenidades religiosas, a novena, as missas de uma grande pompa, sobretudo a do último domingo, mas fique-se a par também, dos festejos profanos. Todo o colorido da imaginação, do espirito criador popular, está na colina do Bonfim para mostrar que séculos não fizeram diminuir o entusiasmo do povo.

Este esplendor de luz, que divisamos tão longe, lá no alto da Colina, é o sinal de que se iniciou a reza e nove dias de festas serão decorridos para que tudo se acabe no carnaval da Ribeira.
Da sexta-feira inicial ate a próxima quinta-feira, tudo terá o caráter comum das chamadas festas de igreja do Norte. A novena, o movimento noturno das barracas de prendas, dos restaurantes improvisados, dos sambas pela noite adentro, aqui e ali rodas de capoeira, até que chega a quinta-feira da Lavagem. Então, o visitante terá de assistir a uma das festas populares mais belas de todo o Brasil.

Logo cedo, em frente à igreja da Conceição da Praia, no bairro comercial, a uns seis quilômetros do Bonfim, inicia-se a concentração dos que vão integrar o cortejo dos lavadores da igreja. E quando começa a se movimentar, ruas a fora, indiferente ao calor, ao sol, à luz forte da manhã, como que as ruas se orgulham do seu préstito tão cheio de colorido, de graça, força poética que emana do povo.
Abrindo o cortejo vão as baianas, solenes, graves, nos seus vestidos ricos, vestidos que são a inveja de outras mulheres, encantadas com seus bordados e suas rendas, bordados os mais caprichosos, rendas as mais delicadas. Que riqueza nos seus barangandãs, antigos de muitos anos, saídos das mãos de artífices, feitos para salientar a beleza das mães-de-santo, das negras baianas, mulheres mais elegantes do mundo, das quais se disse uma vez que as rainhas europeias desmaiariam de inveja ante a dignidade de seu porte. E que gravidade nas suas expressões, não gravidade de tristeza, mas de satisfação sentida em ir reverenciar o Senhor do Bonfim! As bilhas e as jarras se equilibram milagrosamente nas suas cabeças, fartas de flores, da riqueza de um colorido, de uns excelentes desenhos que fazem gosto à vista. Lá vão elas - abrindo o cortejo, recebendo as palmas do povo.

Vêm os carrinhos enfeitados de papel de seda recortado pela tesoura que mãos hábeis sabem lidar para adornar, com tanta graça, com as cores populares, o azul, o vermelho, o verde, o amarelo. Os burrinhos seguem sonolentos, puxando os carros, conduzindo os meninos. E nestas carroças, o préstito atinge uma graça surpreendente. Vemos até um menino, dentro de uma vasta gaiola, belo pássaro branco que será libertado à porta da igreja. E os baleiros que não foram vender os seus "queimados", porque era o dia de festejar o seu santo. Vão os baleiros, com seus ramos de pitangueiras, alegres, cantando suas canções, as canções que aprendem com seus pais, as canções da Bahia, o samba e as tristes canções dos terreiros. Nunca os baleiros foram mais alegres. O seu grito característico não chamará os outros meninos no dia da lavagem do Bonfim porque hoje, eles estão muito mais satisfeitos do que as outras crianças que compram suas "balas". Gloria, pois, aos baleiros.

E passam os caminhões, todos enfeitados de branco, com as afilhadas do Bonfim, adolescentes também de branco, que é a cor do Santo. As suas bilhas tem os enfeites os mais caprichosos e carregam nas cores dos seus jarros, já que os vestidos das afilhadas do Bonfim só de branco poderão ser. E atrás vêm os vassoureiros, caminhões carregando a água que lavará o templo do Deus dos pobres e dos ricos. Ate as filarmônicas dão mais alegria ao cortejo, sabem que tocarão durante todo o dia e ninguém se cansará, porque ninguém se cansa quando vai glorificar o Senhor do Bonfim. O chefe da banda sereno e satisfeito, certo de que não haverá arruaças, porque o povo não furará o bombo da banda, como nos tempos do Coronel Gonçalo que ia beber vinho e cantar seus sambas no Bonfim, ao lado de Manuel Querino. Vejam como é lindo o cortejo pelas ruas da cidade baixa! Vejam que entusiasmo, que canções, que vivas ao Deus de todos, que cores, que harmonia, que fusão humana! E lindo o cortejo através das ruas desta Bahia generosa, mostrando ao Brasil inteiro a beleza do seu povo, a alma do seu povo, cioso dos seus encantos e dos seus costumes.

E os que não seguem o cortejo vão de ônibus, de automóvel, de caminhão, de camioneta, de carroça. Chegarão mais cedo, aguardarão o préstito à porta da igreja, admirarão o espetáculo da subida pela colina. E enquanto não chegam os aguadeiros, o pátio já transborda da mais pura alegria que se manifesta nas aclarações ao Grande Senhor, manifesta-se nas violas e nos violões que estão hoje nos seus grandes dias, como seus outros companheiros mais humildes, que são o pandeiro, o tamborim, o reco-reco e a grave cuíca, como sempre falando grosso. Todos esperam o cortejo e enquanto não vem, que se cante e os mais impacientes que caiam nas boas comidas e nas repousantes bebidas.

Lá para as 11 horas, o visitante verá surgir ao pé da ladeira, os lavadores. Que entusiasmo em aplaudir aos que vão prosseguir numa das mais admiráveis festas populares. E ao delírio da chegada, tanto quanto possível a palavra ordem possa ter sentido, começa a chegada à frente da igreja: primeiro as autoridades, depois as solenes "baianas", com seus belos potes enfeitados das mais ricas flores e com água perfumada dos mais suaves perfumes; logo, em seguida, as afilhadas do Bonfim entram com suas moringas e seus vestidos brancos e os baleiros com suas vassourinhas, os aguadeiros, com as grandes jarras, o povo todo chega à Casa do Senhor porque sabe que ali é como se fosse a sua própria casa boa e fraterna. E as vozes ressoam fortes e entusiásticos dando vivas entusiásticos ao Senhor do Bonfim.

Que calor na cerimônia! Joga-se o primeiro jato, o segundo e a água inunda o adro da Igreja; todos fazem questão de passar sua vassoura no chão da Casa de Deus. E enquanto se lava, os hinos religiosos misturam-se com graves canções, onde não raro se ouvem palavras africanas já ouvidas nos candomblés, por exemplo.

José Eduardo Freire de Carvalho Filho a quem devemos excelente monografia sobre a "Devoção do Senhor Born Jesus do Bonfim e sua história", e a quem estamos recorrendo na parte histórica desta crônica, salienta que desde os tempos primitivos se costumava, na quinta-feira anterior ao domingo de sua festa proceder à lavagem da capela, por pessoas que moravam próximas e depois pelos romeiros que afluíam de toda parte e ficavam, em barracas, dias inteiros assistindo à festa, já que as dificuldades de transporte eram imensas. E acrescenta Freire de Carvalho que "até certo tempo, não obstante a concorrência, esta prática conservou-se numa espécie de devoção e conveniente decência, mas depois foi se transformando numa verdadeira bacanal, sendo mister acabar-se com essa solenidade, a bem da religião e da moral". E acrescenta que, em 1890, acabou-se com a lavagem "onde não raro viam-se no interior da Capela mulheres lamentavelmente descompostas pelo arregaçado das saias e decote das camisas. Homens e mulheres derramavam água e, com as vassouras esfregavam o lajedo, em uma vozeria pelos cânticos de benditos e outras rezas desencontradas e diversas, ao mesmo tempo que eram erguidos estrepitosos vivas ao Senhor do Bonfim e a Nossa Senhora da Guia. Difícil era conter essa gente que assim o fazia, por entender creio eu que desse modo não desrespeitava a Deus e bem servia ao Senhor" (*).

Depois da quinta-feira da lavagem, a festa do Bonfim ganha afluência excepcional. À colina, acorrem multidões. E o movimento das barracas de prendas, jogos dos mais sutis e dos mais camuflados, rodas de sambas e os capoeiristas mostrando que não morreu a arte de Samuel de Deus. As residências das redondezas estão abertas para conhecidos e desconhecidos e já assistimos, há anos, em casa do saudoso medico Deraldo Miranda, almoçarem mais de cem pessoas na quinta-feira da lavagem e, no sábado, o jantar teve o mesmo comparecimento, sem que se perguntasse o nome do conviva ou quem o havia convidado. A hospitalidade baiana assumindo seu velho e antigo esplendor.

No pátio, muitos compram as medidas, os registros, as imagens, "cujo uso foi introduzidopelo Tesoureiro Manuel Antônio da Silva Serva e assim tem continuado há mais de cem anos ininterruptos". São pequenas imagens, são estampas do Senhor do Bonfim, que romeiros e viajantes levam como lembranças, são as medidas, pedaços de fitas de todas as cores, com o tamanho exato do braço da imagem sagrada. Estas medidas todo mundo usa na Bahia: qualquer viajante as encontrará dependuradas nos automóveis ao lado do chofer, no escritório comercial, na residência do pobre e do rico. São adquiridas não somente aos vendedores que ficam à porta da Igreja, como também no interior, para a caixa da Devoção.

E vão, os romeiros à sala dos milagres, onde a força da fé ali se manifesta pela gratidão dos curados ao Senhor. Moldagens de cera, representando cabeças, pernas, braços, tórax, com as mais complicadas formas, com as mais estranhas marcas, em que se identifica a doença que o Senhor do Bonfim curou. São pinturas populares de uma riqueza, de um poder pictórico admirável, onde há o afogado salvo na hora extrema; ou o barco que chega ao seu porto na hora da tempestade; a criança que caiu do segundo andar e não se molestou; a família que através da floresta é surpreendida pela onça feroz que se curvou humilhada à primeira invocação do Senhor do Bonfim. São radiografias onde se patenteia a cura da tuberculose, quadros de formatura de estudantes gratos pela conclusão dos seus cursos. Políticos que se elegeram. Soldados da FEB que regressaram; marinheiros que se salvaram, outros que deixam o seu retrato, como preito de gratidão. Milhares e milhares ali afluem. E, na sacristia, podem-se ver estranhos balangandãs: ex-votos dos ricos que oferecem, pernas, braços, tórax, em ouro e prata.

No sábado, à noite, a festa atinge o auge e já de madrugada, todos estão esperando a chegada dos ternos, que se vêm exibir ante a majestade do Senhor do Bonfim. Ali entoam suas canções, ante as aclamações populares, porque todos têm suas preferências e com a gravidade com que chegaram, vão saindo. É a visita solene, a visita de todos os anos, dos ternos, que no dia de Reis, se exibem na Lapinha, relembrando o nascimento do Senhor, numa revivescência dos autos de Natal. Se o leitor vai assistir à festa do Bonfim não se esqueça de ficar no sábado, à noite, à espera dos ternos. É um espetáculo o seu desfile, rendendo graças ao Senhor. Ostentando seus estandartes, suas baianas de encantadoras vestes, suas orquestras, seus cânticos. É a nota do sábado do Bonfim o desfile dos ternos.

No domingo - "a segunda dominga depois da Epifania" - dia da festa de Devoção do Bom Jesus do Bonfim, portanto, oficialmente a data final da novena, terá lugar, com o esplendor da liturgia católica, a missa solene, às 9 horas da manhã. Comparecem o governador, secretários, prefeito, todo o mundo oficial, enquanto católicos de todas as classes enchem as dependências da Igreja, acomodam-se pelo adro, ficam pelo pátio a fora. A pompa é dada pelas autoridades eclesiásticas que contam com o apoio das autoridades civis e militares. "Glória ao Senhor do Bonfim" e os coros ressoam pela basílica, entoando os hinos de louvores. Quase ao meio-dia termina a missa solene. E lá fora, prosseguem os festejos populares, até a madrugada do dia seguinte.

Mas ninguém se iluda. Se o calendário religioso marca o fim dos festejos do Bonfim no domingo de sua festa, há o grande remate na segunda-feira. É a festa da Ribeira, o carnaval da Ribeira, arrabalde próximo ao Bonfim, na ponta final da península de Itapagipe. Neste dia, sim, que se encerra verdadeiramente o ciclo do Bonfim, neste dia é que o povo gasta as suas ultimas reservas, para que as festas do Santo acabem debaixo do maior entusiasmo. As autoridades eclesiásticas nada têm com a festa da Ribeira, pois de fato são de caráter inteiramente pagão, é carnaval na sua legitima expressão. E adverte Freire de Carvalho: "É uma festa, se como tal pode-se chamar, toda de rua, nada religiosa, nem promovida pela mesa Administrativa da Devoção do Senhor do Bonfim". É um apêndice e, segundo o cronista da Devoção, surgiu do movimento das pessoas que deixavam a festa na madrugada do domingo para a segunda-feira e se dirigiam às suas casas pelas ruas de Itapagipe, "eram famílias que saiam de dia a passeio do Bonfim à Penha ou vice-versa; eram ranchos de romeiros ou festeiros, que se retiravam a pé, cantando e tocando violões, flautas, castanholas, etc."

O certo porém é que poucas festas, hoje, na Bahia, arrastam tamanha multidão como a da Ribeira. Todos os meios possíveis são empregados para o transporte da população que para ali se abala: saveiros, lanchas, automóveis, ônibus, caminhões, bondes, tudo se emprega para ali chegar. Desde cedo que a Cidade Baixa mostra um movimento desusado. Os elevadores públicos estão congestionados, os coletivos superlotados. Basta dizer que o comércio na sua totalidade não abre; os gazeteiros não procuram os jornais, ninguém vai trabalhar. Todos à festa da Ribeira.

Em que consiste a festa? Podemos dizer: que praticamente em nada ou melhor consiste na multidão se expandindo na sua alegria. No largo da Ribeira, a brisa do mar refrescando o calor de Janeiro, o povo em blocos, em grupos, em rodas de samba. Música e danças dominam todos. As residências de Itapagipe são, em grande número nesta manhã, nesta tarde, nesta noite, salas de baile, onde se dança, come e bebe, sem ter necessidade de se perguntar o nome do dono da casa. Estão todas abertas. E grupos passam carregando seus tamborins, suas cuícas, seus violões, outros carregam os pendões de cana, que dominam o ambiente. É um verdadeiro prelúdio ao carnaval que se aproxima: ali aparecem os primeiros sambas, as primeiras marchas dos folguedos carnavalescos. Ali como que se esgotam todas as reservas que o povo trouxe de energias para as festas do Bonfim. Como que se despede de sua festa máxima.

Através dos anos, algo pode ter mudado nos festejos do Senhor do Bonfim. Já hoje os grandes archotes ou as estopas embebidas em azeite de peixe não iluminam a fachada da igreja nos dias de festas e sim os mais belos arranjos em lâmpadas elétricas; já hoje a população não chega a cavalo, a pé ou nas "gondolas" da segunda metade do século passado: vai em ônibus, lotações, automóveis. Já hoje não aparecem à porta da igreja os "cucumbis" grupos de pretos africanos, vestidos com saiotes, coletes e calças curtas, tudo de cores vivas e variadas; capacete ou gorro encarnado, braços enfeitados de penas ou miçangas multicores; pescoço adornado com colares de búzios pequenos e miçangas; cintura e tornozelos enfeitados com penas e o rosto sarapintado com traços de várias cores" e que "marchavam dançando e cantando na sua língua ao som de um instrumento africano, canazás e berimbaus de arco, corda e cabaça, contendo pequenos seixos, chererés ou chocalhos, tabaques, etc.". Nem mais as cheganças "grupos de crioulos, negros nacionais, vestidos a maruja, compostos de um almirante, um piloto, um padre e crescido numero de marinheiros que simulavam a tripulação de urna pequena nau de guerra". De outras maneiras mostra o povo sua fé, sua força criadora. Mas hoje, como em todas as épocas, a começar do ano em que Teodósio Rodrigues de Faria, capitão-de-mar-e-guerra da marinha lusitana, instituiu no Brasil a devoção do Senhor do Bonfim, o povo vem à colina sagrada expressar, por todas as formas, seu reconhecimento, dando assim oportunidade em ser conhecido no esplendor de sua poesia, de sua beleza, do seu colorido. O Senhor do Bonfim tem aos seus pés um grande povo.

- "Gloria, pois, ao Senhor do Bonfim", repetimos nós, olhando o letreiro luminoso no alto de sua Igreja.

(*) A lavagem, hoje, por determinação eclesiástica, processa-se no adro e não no interior da igreja.

A obra foi extraída do livro de Odorico Tavares Bahia – imagens da terra e do povo, da editora Civilização Brasileira S.A, publicado em 1961. As ilustrações são Carybé.