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quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Filme O Saci foi gestado por militantes do PC do Brasil

O Saci foi uma empreitada para homenagear o grande personagem do folclore brasileiro. Tem uma mensagem de defesa da paz e da cultura nacional. Foi feitos por homens e mulheres defensores do Apelo de Estocolmo durante a guerra da Coréia.




O ator Paulo Matozinho como O Saci / Fotos: divulgação Fundação Maurício Grabois
Quando Monteiro Lobato morreu, em 1948, era membro do Partido Comunista do Brasil. Havia sido, inclusive, pré-candidato a deputado; mas se retirou do pleito por motivo de saúde (em carta, justifica de forma disciplinada).

Em 1950 comunistas e simpatizantes planejaram roteiro e filmagem da história do Saci que encerrou no início de 51. O momento político tinha como pauta a luta pela paz e contra as guerras – particularmente a que ocorria na Coréia. A bomba atômica era uma ameaça constante e contra ela se disseminava o Apelo de Estocolmo, que no Brasil obteve mais de 4 milhões de assinaturas.



(Legenda da foto: Nelson Pereira dos Santos, Alex Viany, Cláudio Santoro e Ruy Santos)

A luta pela paz tinha muitas facetas e os cineastas usaram de suas armas. Neste filme Dona Benta passa para seus netos (e a boneca Emília) o seguinte ensinamento: “Todos deviam viver como vivemos aqui. Sem prejudicar os outros, sem pensar em guerras. Cuidando apenas de estudar e trabalhar para construir um mundo de paz e alegria para todos.”

Dos comunistas e simpatizantes que participaram da empreitada segue a lista:

Assistentes de direção: Nelson Pereira dos Santos e Alex Viany

Trilha sonora: Cláudio Santoro

Fotografia: Ruy Santos

Direção: Rodolfo Nanni



Curiosidades

É o primeiro filme infantil brasileiro.

Foi o primeiro trabalho realizado por esta equipe técnica que serviu de base para uma obra seminal do cinema brasileiro "Agulha no palheiro", de 1953.

O filme teve sucesso comercial e cumpriu papel de popularizar a obra de Monteiro Lobato entre crianças e adultos - muitas vezes analfabetos.

Ganhou o Prêmio Saci de 1954 (concedido pelo jornal O Estado de São Paulo) e o Prêmio Governador do Estado de São Paulo no mesmo ano.

Foi filmado de forma quase amadora no estúdios da Cinematográfica Maristela em São Paulo.

Foi importante contraponto aos tipos de filmes realizados pela Vera Cruz e Atlântida; um ensaio para colocar de forma definitiva a subjetividade popular brasileira nas telas de cinema.

Personagens, atores e atriz negros cumprem papel central na trama: o Saci (personagem principal), Dona Anastácia, Tio Barnabé e a "sacizada".

Sua estréia nacional foi durante o 4º Centenário da cidade de São Paulo em 1954 e internacional durante o Festival de Cinema de Veneza, no mesmo ano.


(Legenda da foto: As atrizes Aristéia Paula Souza e Olga Maria, Narizinho e a Boneca Emília, respectivamente)

Ficha Técnica (com Cinemateca Brasileira)

Categorias

Longa-metragem / Sonoro / Ficção

Material original

35mm, BP, 65min, 1.800m, 24q, Western Electric

Data e local de produção

Ano: 1953

País: BR

Cidade: São Paulo

Estado: SP

Certificados

Censura Federal de 02.10.53, 15 cópias.

Data e local de lançamento

Data: 1953.09.10

Local: São Paulo

Sala(s): Marrocos; Oásis; Roxy; Sabará; Brás; Carlos Gomes; Vogue; Star; Santo Antonio; Ipiranga-Palácio; São Geraldo; Carrão; Vitória; Tucuruvi; Jaraguá

Sinopse

Pedrinho, Narizinho e a boneca de pano Emília vivem no sítio do Pica-Pau Amarelo, com sua avó Dona Benta e Tia Anastácia. Pedrinho costuma ir à casa de Tio Barnabé para ouvir histórias do Saci, um negrinho endiabrado de uma perna só, que vive na floresta. Ao sair em busca do Saci, Pedrinho consegue apriosioná-lo numa garrafa, enquanto Narizinho, que passeia pela floresta, é transformada numa pedra por uma feiticeira. Pedrinho liberta o Saci da garrafa. Este o convida a assistir um ritual de sacis à meia-noite na floresta. Uma ave avisa-lhes o que aconteceu com Narizinho. Porém, o Saci conhece um método para desfazer o feitiço. Depois de terem conseguido, o Saci se despede de Pedrinho e de Narizinho, prometendo voltar um dia para visitá-los. (Baseado em Press-release)




Fonte: Fundação Maurício Grabois


Dia D celebra 111 anos de Carlos Drummond de Andrade

Carlos Drummond de Andrade completaria 111 anos nesta quinta (31). Para celebrar seu aniversário de nascimento, o poeta, contista e cronista mineiro ganha, desde 2011, uma homenagem anual. O Dia D tem o objetivo de promover e difundir a obra de Drummond pelo “mundo, mundo, vasto mundo”, como diz seu Poema de Sete Faces.


O 31 de outubro pretende se consagrar como parte do calendário cultural brasileiro. A inspiração veio dos irlandeses, que festejam todo dia 16 de junho o Bloomsday em homenagem ao seu mais importante escritor, o romancista James Joyce.

Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte e Brasília recebem eventos do Dia D. No Rio de Janeiro, nesta quinta (31). Às 20 horas, a professora Luiza de Maria, autora de Drummond - Um Olhar Amoroso, fala sobre os procedimentos recorrentes na obra do poeta mineiro. Ambas na Casa da Leitura (Rua Pereira da Silva, 86 – Laranjeiras).

O principal evento da capital carioca, Vida e Verso de Carlos Drummond de Andrade: uma Leitura, será também às 20 horas na sede do Instituto Moreira Salles (Rua Marquês de São Vicente, 476, Gávea). Sob curadoria e roteiro de Eucanaã Ferraz, os poetas Alberto Martins, Antonio Cícero, Afonso Henriques Neto e Joca Reiners fazem uma leitura panorâmica da biografia e da literatura de Drummond, com poemas, crônicas, cartas e críticas literárias. Este mesmo evento será realizado também no dia anterior, às 19 horas, na Estação das Letras com outros autores.



Em São Paulo, Vida e Verso de Carlos Drummond de Andrade: Uma Leitura acontece no dia 31, às 19h30, no espaço da Revista Cult (Rua Inácio Pereira da Rocha, 400, Vila Madalena), com a presença de Fabrício Corsaletti, Matha Nowiill, Noemi Jaffe e Leandro Sarmatz.

Brasília (SHCN CL Quadra 406 Bloco C loja 48 – Térreo - Asa Norte) recebe nesta quinta à tarde o evento Vida e Verso de Carlos Drummond de Andrade: Uma Leitura, seguido da exibição do filme O Amor Natural, em que a diretora holandesa Heddy Honigman explora a relação dos cariocas com os poemas eróticos de Drummond. Às 19 horas, Elizabeth Hazin lê o texto de Viagem em Família, peça que montou exclusivamente com trechos de obras do poeta.

Confira a programação completa dos horários e endereços das atividades do Dia D.


Fonte: Rede Brasil Atual

quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Emir Sader: A primeira vida de Hugo Chávez

As mais de 700 páginas do livro de Ignácio Ramonet são lidas com muito interesse, pela trajetória de Hugo Chávez e pela sua imensa sensibilidade política.


Por Emir Sader*, em seu blog


Quando Ignacio Ramonet anunciou que havia começado a fazer um livro de entrevistas, as comparações não poderiam deixar de ser feitas com o excelente livro de entrevistas com o Fidel. Este resume toda a trajetória do líder cubano, pouco antes que ele se retirasse da vida política ativa, que ao mesmo tempo era uma viagem por todos os grandes acontecimentos vividos por Fidel.

O primeiro sentimento em relação ao livro com Hugo Chávez era de que “era demasiado cedo”, ele não teria vivido ainda um período suficientemente longo de tempo, além de que se suporia que viveria um período longo, incluindo acontecimentos de grande transcendência.

A doença e a morte do lide venezuelano fizeram com que a preocupação de que seria “demasiado cedo”, terminasse tendo outro sentido. O livro foi feito “demasiadamente tarde”, pela curta trajetória que terminou tendo Hugo Chávez, a ponto de que um alentado volume de 700 paginas tenha permitido apenas o relato da sua “primeira vida”- como diz o titulo do livro -, que vai apenas até a primeira vitória eleitoral de Hugo Chávez.

Apesar dessa limitação, se lê o livro com grande interesse e com o indisfarçável sentimento de tristeza, pela perda prematura de um líder de tal envergadura. As entrevistas permitem um retrato humano de Hugo Chávez, desde sua primeira infância, de menino pobre do interior de um país do continente, que vendia doces preparados pela sua avó pelas ruas da sua cidade. 

Um menino predestinado – o que às vezes ele aceita, outras nega– pela época que lhe correspondeu viver – ele diz que “a história o absorveu”, com um caráter rebelde desde cedo, indignado pelas injustiças e pelos atos de prepotência que pôde presenciar. Lider na escola, nos jogos de beisebol, nos grupos de rua, precocemente grande leitor de literatura clássica, assim como de revistas e de almanaques, que lhe ensinavam as primeiras coisas sobre o mundo.

Um menino que pôde conviver com familiares envolvidos em epopeias históricas, em um tempo de grandes instabilidades e turbulências na Venezuela. Por esse meio – além das historias da avó, do cinema e das ruas -, ele foi se formando como ser humano, empapado pela historia da Venezuela e da América Latina. Ia se gestando ali um grande líder, das entranhas mesmas do povo venezuelano. “Eu me fui aproximando, por distintas vias, a esse rio que é a história“.

A carreira militar foi quase um caminho natural para aquele jovem rebelde, identificado com os grandes heróis nacionais venezuelanos, antes de tudo com Bolivar. Um jovem de origem popular, descendente de índios, negros e espanhóis, diante de uma das elites as corruptas do continente.

A segunda parte do livro já faz parte da história contemporânea da Venezuela: a segunda eleição de Carlos Andres Peres, o pacote neoliberal e a reação popular chamada de “caracazo”, a primeira tentativa de sublevação militar dirigia por Hugo Chávez, o fracasso militar e a vitória politica, a prisão, a anistia, a viagem pela América Latina, o primeiro encontro com Fidel. A dura campanha para convencer a seus companheiros que valia a pena optar naquele momento pela via institucional, apresentando seu nome como candidato a presidente, a campanha e a vitória. Se vale de frases como “Os únicos que pensam que a perfeição é possível na política, são os fanáticos.”

Aí começava outra vida, a do grande estadista, dirigente latino-americano, que não chegou a ser abordada pelo livro. Suas mais de 700 páginas são lidas com muito interesse, pela trajetória de Hugo Chavez e pela sua imensa sensibilidade política. Mas também com grande tristeza, porque aumenta o sentimento de perda que sua morte deixou a todos – venezuelanos, latino-americanos, povos do mundo.

*Emir Sader é sociólogo e cientista político

Existe Saci em SP: festa ressalta cultura popular brasileira

Acontece no dia 3 de novembro a Festa do Saci e seus amigos, no Parque Municipal Juliana de Carvalho Torres, na Cohab Raposo Tavares, quilômetro 9 da Rodovia Raposo Tavares, em São Paulo (SP). A iniciativa é de diversos movimentos populares e culturais que acontece desde 2010. Em contraponto ao Halloween, o Dia das Bruxas, algumas cidades do país se comemora o Dia do Saci em 31 de outubro.





O evento tem como objetivo promover a cultura popular brasileira de maneira reflexiva, criativa e muito divertida. Diversas comunidades estão envolvidas como escolas públicas e movimentos culturais de diferentes linguagens. "Se envolva nessa também! Porque no fundo, no fundo, somos todos Sacis!", diz o texto que convoca para a atividade no Facebook.

Além da festa, haverá ainda a entrega do 3º Prêmio Saci e outras atividades como:

• Comidas típicas da cultura popular brasileira – milho, mandioca, Cará, Inhame, sucos e chás diversos etc...

• Brincadeiras populares – jogo de taco, brincadeiras com cordas, elástico, futebol de golzinho, amarelinha etc...

• Pinturas diversas, inclusive dos rostos das crianças. Alguns lugares indicados pela comunidade poderão ser grafitados.

• Exposição sobre o Saci Pererê "Eu acredito em Saci".

• Sessão de vídeos sobre o Saci – filme "Somos todos Sacis" de Rudá de Andrade.

• Contação de "Estórias", com Alessandra Leite.

• Atividades do movimento Hip Hop.

• Campanhas dos órgãos públicos da saúde, da educação e do serviço social.

• Distribuição de mudas de árvores nativas.

• Recitais de poesia.

• Atividades de danças populares.

• Solenidade de entrega do III Prêmio Sacy.

• Esquetes teatrais.

• Instalações de obras sobre o Sacy Urbano de Tiago Vaz.

• Muitas palhaçadas com os amigos do Sacy: Boto, Caipora, Curupira, Iara, Mãe D'água, Boitatá e até o ET de Varginha e o Chupa Cabra, eu, você, todos nós.

O prêmio será composto de uma árvore nativa da Mata Atlântica, doada pela Agroflorestal de Paraty Mirim, e um Certificado, devidamente enquadrado (como no ano passado).

Serão entregues 13 prêmios, inclusive este ano teremos homenagens póstumas, com a entrega do Prêmio para Toniquinho Batuqueiro e Plínio Marcos.

Entre os movimentos sociais que organizam estão: Associação de Educadores da USP (AEUSP), O autor na Praça, movimento TroKaoslixo e movimento Itinerarte. O evento conta com o apoio de Projetos Integrados de Desenvolvimento Sustentável do distrito Raposo Tavares, Ateliê Pingos do Querosene, Agrofloresta de Paraty Mirim, Mutirão da Quebrada, Biblioteca Alceu Amoroso Lima, Secretaria do Verde (PMSP), Supervisão de Cultura do Butantã, Historiarte, Sociedade dos Observadores do Saci - Sosaci.

Contamos também com muitos apoiadores, dentre eles: Bárbara Assis, Edson Lima, Adriana de Cássia, Junyor Santos, Felipe Valentim, Janete Lima, Dilsa, Nelson Brolese, Rafael Cohab, Erton Moraes, Cachoiera do Mutirão da Quebrada, Elis, Pedro, Gil da zona Norte, Rosa, Sobrinhos da leste, Leo Lênin, Wil da Norte, Analis, Welington Galinho, Olívia, Verônica, Marcinho, Alessandra Leite, Diolinda e Laura e tantos outros.

Projeto de lei


O ministro do Esporte, o deputado Aldo Rebelo (PCdoB), apresentou um projeto de lei que institui o Dia Nacional do Saci. O projeto propunha o resgate de lendas da cultura popular brasileira em contraponto à data comemorativa do Dia das Bruxas nos Estados Unidos e em outros países anglo-saxões, em 31 de outubro. Aldo apresentou o projeto a pedido da Sociedade dos Observadores de Saci (Sosaci), um grupo criado em São Luiz do Paraitinga (SP). No entanto, o projeto foi arquivado em 31 de janeiro de 2007, quando houve a mudança de mandato e, de acordo com o regimento, a maior parte dos projetos segue para a gaveta. Em algumas cidades brasileiras, a data é oficialmente dedicada ao menino perneta como Vitória (capital do Espírito Santo), Poços de Caldas e Uberaba (em Minas Gerais), Fortaleza e Independência (no Ceará) e municípios paulistas como São Luiz do Paraitinga, São José do Rio Preto, Guaratinguetá e Embu das Artes. Também é lei no Estado de São Paulo desde 2004. 

A origem do Saci

O Saci-Pererê surgiu na região do Sul do Brasil e partes da Argentina, Paraguai e Uruguai, no território dos índios Guaranis, segundo a Sosaci. Não se sabe ao certo a data de seu nascimento, mas sabe-se que ele era um curumim, uma criança indígena, travesso, conhecedor e defensor da floresta. Além disso, ele tinha as duas pernas, diferente do que foi disseminado por décadas pelo país.

Os primeiros registros sobre o Saci são do século 17 e de lá pra cá sofreu várias modificações, muitas feitas pelos escravos negros brasileiros. O Saci que era indígena passou, então, a ser negro, perdeu uma perna e ganhou o costume de fumar um cachimbo. E ganhou popularidade desta forma como personagem de Monteiro Lobato no Sítio do Picapau Amarelo.

De acordo com a lenda contada pelos escravos, o saci era um menino escravo que cortou uma das pernas por preferir ser um perneta livre do que escravo com duas pernas. Outros dizem que na verdade a perna do Saci é central, o que refuta a tese anterior.

O saci faz muitas travessuras e teria entre 70 cm e 77 cm e abrange características de todo povo brasileiro, considerado uma mistura de outros povos. Sua origem indígena o torna conhecedor e defensor da natureza, sua cor da pele, negra, representa o povo brasileiro, e a carapuça vermelha representaria a influencia do povo europeu.

De acordo com os especialistas em saci, existe também a explicação de que o gorro era usado na Roma Antiga como símbolo do escravo liberto. Na frança, época da Bastilha o acessório também era usado como símbolo de liberdade”.

Informações:
4ª Festa do Saci e seus amigos
Dia: 3 de novembro de 2013 a partir das 10:00h
Local: Parque Municipal Juliana de Carvalho Torres - Cohab Raposo Tavares, Km 19 da Rodovia Raposo Tavares., São Paulo

Da redação do Vermelho com agências

terça-feira, 29 de outubro de 2013

Ministério da Cultura conclui pesquisa que pode mudar modelo de educação

Jornal do Brasil

Uma pesquisa-ação inédita realizada pelo Ministério da Cultura (MinC) e pela organização social Casa da Arte deEducar apontou que professores brasileiros têm muita dificuldade no diálogo com demais instituições educativas - como museus e bibliotecas - e muitas vezes entendem cultura como sinônimo de "cultura letrada", aquela explicitada somente nos livros.  

O levantamento também revelou que escolas e demais equipamentos culturais precisam de apoio técnico e financeiro para se tornarem um sistema de educação ampliado como discute e planeja o Ministério.  
O MinC realizou encontros em todas as regiões brasileiras no ano passado, chamados de pesquisa-ação, que fazem parte do projeto nacional Um Plano Articulado para Cultura e Educação, que prevê a elaboração de uma nova política pública que faça da escola um grande espaço de produção e circulação da cultura brasileira, com acesso aos bens culturais e respeito à diversidade.
"As escutas revelaram que são muitas as iniciativas de parcerias entre escolas e equipamentos culturais no país, no entanto, estas iniciativas são instáveis e necessitam de investimentos técnicos e financeiros para se efetivarem como parceiros reais para as escolas. É preciso investir em canais constantes entre educação e cultura", destaca Sueli de Lima, pesquisadora da Faculdade de Educação da USP e coordenadora da pesquisa.
Os encontros reuniram, além de professores, representantes de museus, bibliotecas, pontos de cultura, educadores, estudantes, artistas e lideranças comunitárias para debater as dificuldades e apresentar propostas de articulação entre Cultura e Educação. No total foram ouvidos 1.664 atores, em 165 municípios e 26 estados.
"Plano Articulado para Cultura e Educação" é uma das iniciativas previstas no Acordo de Cooperação Técnica assinado entre o MinC e o MEC, em dezembro de 2011. Este acordo apresenta um orçamento total estimado em R$ 80 milhões para a realização de diversas ações entre as duas pastas. 
Algumas conclusões
- A pesquisa-ação apontou que os professores têm demonstrado muita dificuldade no diálogo com saberes não instituídos, os chamados saberes do cotidiano, e muitas vezes entendem cultura como sinônimo de cultura letrada e que se aprende na escola.
- A pesquisa revela a necessidade de investimento para a conquista de práticas pedagógicas e de gestão democrática nas escolas. Sem condições de diálogo e participação não será possível a conquista da intersetorialidade entre as politicas de cultura e educação.
- O levantamento apontou a necessidade de investir em uma maior aproximação dos cursos de pedagogia e das licenciaturas com os estudos culturais, com a sociologia e a antropologia visando fortalecer a dimensão cultural das práticas educativas. Entre os pesquisados a mediação cultural é prática ainda distante das licenciaturas e podem auxiliar muito o trabalho de sala de aula.
- A pesquisa aponta que os equipamentos culturais  também precisam conquistar e efetivar a dimensão educativa de suas práticas. Bibliotecas com espaços exclusivamente de consultas ou museus voltados somente para contemplação já não possuem mais lugar na sociedade de hoje.  Vale destacar que os professores reclamam por identificação e mapeamento das iniciativas e equipamentos culturais no Brasil, assim como maior diálogo entre as práticas culturais e as universidades.

O carnaval como resistência cultural


Claudionor Cruz, Claudio Ribeiro e Cartola: parceiros no samba
Resistir e sambar, é só para quem pode. Esse é o título de um livro do compositor, carnavalesco, advogado e homem de rádio Cláudio Ribeiro. Embora não seja conhecido nacionalmente, ele tem diversos trunfos no mundo da música e do carnaval: foi parceiro musical de Cartola e Claudionor Cruz, foi o primeiro paranaense aceito como compositor pela Escola de Samba da Mangueira, a convite de Lecy Brandão, em 1977 (junto com um outro parceiro seu, Homero Reboli), fez músicas para todas as escolas de samba de Curitiba, além de ter fundado várias. Também foi o presidente da primeira associação de escolas de samba da cidade, em meados dos anos 70. Conhecido por sua militância política à esquerda, ele justifica: “Quando a repressão da ditadura estava feroz, não podíamos deixar morrer nossa vocação para a organização e nos voltávamos para questões aparentemente apolíticas.”
Agora, na condição de carnavalesco e compositor apaixonado, ele se coloca diante de um desafio, mencionado já na introdução do livro ainda inacabado. O de “transformar apoteóticos desfiles de carnaval numa aula de história, crítica social e conhecimento.”

A PRESENÇA NEGRA EM CURITIBA

Com lançamento previsto para o final do ano, o livro traz como sub-título Fatos da manifestação coletiva de um povo expressando sua cultura e faz uma abordagem do carnaval curitibano entre 1900 e 2000.
“Mas Curitiba não tem tradição de Carnaval”, logo dirão os céticos e os mal informados de uma maneira geral. E é justamente contra essa concepção de uma cidade “embranquiçada”, tipicamente européia e, portanto, sem espaço para manifestações populares com raízes africanas ou indígenas, que o autor coloca um dos focos do seu trabalho. Cláudio observa que os historiadores paranaenses e a crônica oficial curitibana, incluindo aí os livros de Romário Martins, sempre trataram de vender a imagem de uma Curitiba branca, onde a escravidão teria tido características diferentes do restante do país: “A verdade é que muitos dos que escreveram sobre o nosso passado, o fizeram para perpetuar a superioridade da raça branca, fazendo com que fosse desaparecida de nossa documentação qualquer vestígio da presença da cultura negra”. Em uníssono com quem refuta a “docilidade e passividade” dos escravos africanos, ele observa que no Paraná o negro tampouco se resignou: “Os jornais da época estão repletos de anúncios de escravos fugidos.”

A HISTÓRIA DO CARNAVAL DE RUA

Uma outra face dessa coragem e inconformismo, demonstrada no livro, estava nas Irmandades Religiosas. Também criadas pelos negros do Paraná, essas associações de auxílio mútuo promoviam diversas atividades para levantar fundos destinados à compra da alforria. Entre elas, as Congadas. Essas, que eram uma expressão das tradições e religiosidade africanas, com suas danças, cantos e coroação do rei Congo, vinham vestidas e travestidas dos costumes da fidalguia portuguesa e das exigências do catolicismo, através das procissões a São Benedito e Nossa Senhora do Rosário. As primeiras Congadas de que se tem registro em Curitiba ocorreram em meados do século XIX. São consideradas as manifestações coletivas iniciais de carnaval de rua, tendo dado origem aos ranchos. Ao mesmo tempo, os brancos de classe média alta e da aristocracia paranaense faziam seu carnaval em sociedades calcadas nos tradicionais clubes ingleses.
E não demorou para que os batuques, ranchos e outras manifestações populares de raízes negras fossem proibidas por leis e decretos municipais. Em compensação, surgiram das classes abastadas os “animadores” para um carnaval de rua que se tratava de tornar “culto”, com farta distribuição de máximas e pensamentos impressos. Ou como coloca Cláudio: “As classes dominantes consideravam como atributos seus, tanto a capacidade de “animar”, que também quer dizer “dar vida”, como os da beleza e da sabedoria, implícitos no termo ‘culto'.”
Utilizando as contradições de classe como ferramenta de análise, Cláudio Ribeiro, sem deixar de mostrar o contexto brasileiro, vai traçando a história do carnaval curitibano: a disputa dos blocos; a importância das Associações dos Barriqueiros formadas por artesãos e operários voltados à confecção de barricas para embalar erva-mate; a criação da primeira escola de samba — a Colorado, organizada pelos ferroviários nos anos 40; um caso de discriminação explícita: a sofrida pelo travesti Gilda, figura conhecida que vivia nas ruas, proibido de desfilar em um dos carnavais por determinação de um pretenso dono da avenida.
Estes serão alguns dos fatos e personagens que aparecerão nessa narrativa de um século dos festejos momescos na capital paranaense. Pois, como observou um cronista curitibano em 1900: “O Curitibano é triste. Muito triste. Mas sabe receber sempre com calor o deus Momo.”
Apesar de contar com pouquíssimos registros sonoros, principalmente, dos períodos mais distantes, o pesquisador pretende enriquecer o documento com um CD. Quanto à documentação escrita, conta com periódicos, relatórios de repartição pública, atas de associações, sindicatos, escolas de samba e blocos carnavalescos. E também com sua própria memória, que é a de alguém que participa ativamente do movimento cultural da cidade há cerca de 40 anos. Em todo o caso, Cláudio Ribeiro avisa: “Não é minha intenção aprofundar ou esgotar o tema. Apenas dar alguns subsídios e o pontapé inicial para que outros continuem o trabalho sobre esta arte popular em que o povo produz o show e assina a direção.”

Respeite o sino do samba

Criado pelo percussionista, pesquisador, gestor e militante cultural de Guarulhos, SP, Carlos J. Fernandes Neto, o Movimento Cultural Samba do Sino engloba pesquisas do samba, rodas, bloco de carnaval, sarau, e uma série de atividades junto à comunidade local. Interagindo com sambistas do estado de São Paulo, o Samba do Sino amplia sua área de atuação através do Samba Acadêmico, programa de rádio nos mesmos moldes.

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— Venho da linguagem cultural do teatro, isso desde a década de setenta. A preocupação com o samba surgiu quando fiz, para o meu trabalho de conclusão na universidade, a tese: A defesa da identidade cultural do povo brasileiro. E não dá para se buscar essa identidade se não falar do samba — afirma Carlos. 
— Se considerarmos que a história do samba começou com os batuqueiros, diremos que ele tem mais de 400 anos. Teve seu primeiro momento com os africanos nascidos livres e trazidos escravos para o Brasil, tocando seus instrumentos de percussão. Onde houve um escravo, houve o samba, assim, ele é originário de todo o território nacional — continua.
Influenciado por essa primeira pesquisa, Carlos fundou o movimento Samba do Sino.
— Começamos revivendo a história do bairro onde estamos, através de fotos antigas, personagens, depoimentos, e aliado a isso uma pesquisa do samba, contando sua história, curiosidades, personagens — conta.
— Através dessa pesquisa estamos fazendo um mapeamento do samba, e cada dia surge um sambista que não conhecíamos, e um ‘novo samba velho’ que queremos trazer para a nossa realidade e tocar. Vassourinha, por exemplo, foi um sambista paulista que morreu com 17 anos, e com 14 já fazia rádio — continua.
Carlos diz que com o Samba do Sino sentiu necessidade de fazer um bloco carnavalesco, porque o que se vê hoje é um carnaval isolado.
— A pessoa só samba na avenida se tiver dinheiro para comprar a fantasia ou os ingressos. Da mesma forma, nos blocos carnavalescos tem os cordões de isolamento e a compra dos abadás, coisas assim. Neste ano saímos pela primeira vez com o bloco pelas ruas do bairro com uma banda tocando marchinha — conta.

Viola caipira: tradição, causos e muita razão

O violeiro Chico Lobo, 42 anos, explica essa parte riquíssima da cultura brasileira: a viola caipira, tradicional pelos interiores do Brasil, e já muito conhecida nas cidades grandes, desde 1920. Mas em nos nossos dias, infelizmente, tem sido confundida com a música sertaneja e suas tão faladas duplas, que aparecem como sertaneja sem o ser. Escondida por um tempo, hoje reaparece com toda força, conquistando os jovens, através de artistas que não se deixaram levar por modismo e lutam para defender a cultura brasileira.

Para falar da carreira de Chico Lobo é necessário viajar pela cidade de São João Del Rei, MG, onde nasceu, e pela origem da viola caipira brasileira, derivada da viola portuguesa, trazida pelos jesuítas para o Brasil. Muito utilizada para encantar os índios, a viola servia também para que o português pudesse expressar toda a sua nostalgia de colonizador e, mais tarde, para que o caboclo (filho de índio com 'branco') cantasse os novos sentimentos dessa terra virando país e nação, depois, acompanhando um estilo determinado de narração falada, os causos, na essência absolutamente verídicos.
Chico cresceu acompanhando o pai pelas serestas em São João Del Rei.
— A influência da viola vem desde a época em que meu pai, que era seresteiro, recebia as folias de reis em nossa casa. Folias de Reis, para quem não conhece, é um grupo de pessoas que de dezembro a janeiro, sai de casa em casa cantando o nascimento do menino Deus, e o instrumento principal da folia é a viola caipira — explica Chico.
— A Folia de Reis tem força pelos interiores de todo o Brasil. É uma manifestação de origem ibérica, que chegou aqui e foi inserida na vida do caipira [trabalhador pobre e médio, preso às relações de produção rústicas, dominantes no campo brasileiro], ajustando à sua realidade, transformando-se, e fazendo parte da nossa cultura. Eu tenho recordação de quando tinha sete anos de idade e a folia entrava em minha casa, com os mestres trazendo suas violas, algumas muito antigas. Isso me impressionou muito. Aos doze anos, meu pai me deu a minha primeira viola, ensinou o meu primeiro passo na viola e a partir daí eu comecei a tocar — continua.
Em 1982, Chico mudou-se de São João Del Rei para Belo Horizonte, onde permanece, para fazer faculdade de educação física, vindo a se formar, mas abandonando a carreira porque a de músico pesou mais. Na capital mineira, enquanto ainda cursava a faculdade, ele ingressou no grupo de música e dança, de projeção folclórica, Aruanda, que lhe serviu de escola e abriu as portas para conhecer muitos mestres violeiros, que lhe ensinaram sobre o universo da viola.
Chico lembra:
— Com o Aruanda eu pude viajar bastante e por cada lugar que eu passava procurava saber se ali tinha um mestre violeiro, os verdadeiros mestres dos grotões, que ficam em seus ranchos ou suas cidadezinhas. São artistas anônimos da nossa cultura. Com eles eu aprendi toques de viola e muito dessa cultura, ajudando a formar a minha personalidade e o artista que sou hoje.
O violeiro Chico é compositor, letrista e também cantor de suas músicas. Considera-se um compositor compulsivo, que nunca pára de compor onde quer que esteja, sempre de uma forma muito intuitiva. Por esse motivo, dificilmente compõe em parceria.
— Eu posso estar em qualquer lugar, que de repente vem a música, letra, toque de viola, tudo de uma só vez. Não racionalizo: agora eu vou compor falando de boiada, por exemplo. Vem naturalmente. Acho que é dom mesmo.
— Lógico, isso também vem de uma carga de vivência que tenho. De conviver com meus mestres, os violeiros dos grotões, como: seu Nelson Jacob, da cidade de Jequitibá, MG, que foi um grande folião, e grande mestre; das folias da minha terra, São João Del Rei; de meu pai que é um grande mestre para mim. Tudo isso se constitui numa carga que fica no inconsciente e processa quando componho. Às vezes, também recolho alguns contos da cultura popular, adapto e levo ao público.
Mineiro de nascimento e jeito, Chico canta o Brasil em sua viola, mas especialmente Minas Gerais:
— A música de viola segue uma rota de tropeiro, que passa por várias regiões: no sul temos os fandangos nas cordas da viola; no sudeste a viola comanda as folias de reis, catiras, danças de São Gonçalo, a música de beira de rio, com um olhar especial para São Paulo onde tem um grande campo; no nordeste ela aparece nos repentes nordestinos; no norte está em muitos dos bois cantados. Assim, percebe-se que a viola está no Brasil como um todo. Mas é claro que trabalho mais com Minas, que é a minha terra, a minha matéria prima, a minha aldeia, onde sempre vivi.
Chico se diz um apaixonado pela cultura popular brasileira. Para ele, Minas Gerais é riquíssimo em cultura da viola.
— Em Minas e em todo o país, os artistas de viola formam a chamada teia da cultura brasileira. Onde tem público aberto para essa cultura, estamos presente — fala com alegria.
Em 1996 Chico Lobo lançou o seu primeiro CD No braço dessa viola, e foi finalista do antigo Prêmio Sharp, como revelação da música regional brasileira. Em 97 voou rumo à Itália onde realizou 10 shows, levando a cultura da viola caipira brasileira para o exterior. Com esse intuito também foi para o Canadá.
— A nossa música caipira é extremamente bem aceita nesses países — afirma Chico.
A partir daí foram vários discos, entre eles, um CD em parceria com o ator Jackson Antunes, chamado Nosso coração caipira.
— O Jackson declama clássicos caipiras, como Chico Mineiro, Cabocla Tereza, e muitos outros, e eu solo a viola. A nossa intenção foi chamar a atenção das pessoas para a riqueza das letras da autêntica música caipira — explica.
Em 2005, Chico lançou o CD ao vivo Viola Popular Brasileira, um apanhado de toda a sua carreira, juntamente com um DVD, com o mesmo título, o primeiro DVD de viola caipira do Brasil.

MÚSICA CAIPIRA VERDADEIRA

— A nossa viola caipira é um pouco menor que o violão e tem uma forma um pouco mais definida, daí dizer que se parece com o corpo de uma mulher. Tem dez cordas, que são cinco conjuntos de duplas. O seu timbre é agudo e muito melódico. O jeito de se tocar é diferente do violão: nós ponteamos a viola, usando o dedão e o indicador. Ela tem várias afinações, mas o violeiro usa muito a afinação 'solta', que são as cordas soltas batidas. Enquanto é necessário usar os dedos para fazer uma posição no violão, as cordas soltas da viola já fazem uma posição — explica.
— Elas descendem das violas de arame de Portugal, que vieram nas caravelas com os jesuítas. Até aquele momento nós só tínhamos por aqui a flauta de bambu, chocalho, e outros instrumentos parecidos, produzidos e usados pelos índios. Os jesuítas perceberam que o som da viola seduzia os índios e, por isso, a princípio ela foi utilizada na catequização — continua Chico.
— Mais tarde, quando foi surgindo o caboclo este começou a reinventar essa viola de arame de Portugal, construindo a sua própria viola, com madeira da região e tripa de animal, geralmente de macacos. Assim, foi evoluindo até se tornar a nossa viola de hoje, e se transformar em porta voz de uma cultura interiorana — acrescenta.
Segundo Chico, nesse momento começou a surgir o que chama de duas linhas importantes na cultura da viola: a viola caipira das modas de viola que cantavam as aventuras do caboclo ou a nostalgia do português, de um lugar ao outro naquele sertão que estava sendo povoado; e uma cultura devocional, que são, entre outras, a folia de reis, os pagamentos de promessas, as danças de São Gonçalo e as danças em volta da cruz.
— Essa cultura, que vive com toda força até hoje, viajava de um canto a outro do país, no lombo do burro, com os tropeiros. Mas com o tempo começou a se fixar, no nascimento dos primeiros arranchamentos, das fazendas, no momento áureo das fazendas cafeeiras. A viola começou a fixar uma cultura caipira que ela cantava, porque caipira, segundo os historiadores, é um termo que vem de duas palavras indígenas: o caa e o pie, que significa cortar mato, que era o que mais fazia o caboclo para abrir a estrada, a sua roça de mandioca ou a clareira para construir a sua casa — explica Chico.
— Dando um enorme pulo no tempo, por volta de 1920, essa viola começou a chegar na cidade grande, através do rádio e dos primeiros discos com alguns personagens como: Cornélio Pires, Capitão Furtado, que trouxeram essa música interiorana. A partir daí começou o apogeu da música caipira, nas décadas seguintes, com duplas como Pena Branca e Xavantinho, até um tempo mais recente, como Tonico e Tinoco e muitos outros — continua.

FALSA MÚSICA CAIPIRA

Chico Lobo conta que durante o tempo áureo da música caipira começaram a surgir as influências estrangeiras corrompendo alguns artistas que se propunham a cantar aquilo que passava a ser outra música, mas que continuavam a chamar caipira ou sertaneja, que é o termo mais usado atualmente. Vieram as influências paraguaias, mexicanas, e outras, até chegar a influência ianque, quando a viola foi trocada pela guitarra, que desemboca então no apogeu da dupla sertaneja desnacionalizada como: Zezé di Camargo e Luciano; Chitãozinho e Xoxoró, e muitos outros denominados por alguns críticos brasileiros de sertanojo ou breganojo.
— Para mim toda música tem o seu valor. Só não acho justo que se autodenominem de música sertaneja, música do coração do Brasil ou de música de raiz brasileira, quando isso não é verdade. Essa música chamada sertaneja, na verdade, não guarda raiz caipira, mas somente um pop romântico, com uma influência muito forte da cultura country. Sinceramente, essas duplas sertanejas não percebem o mal que elas fazem para a cultura brasileira — fala o violeiro.
— Costumo dizer que se pegarmos um disco dessas duplas que se autodenominam 'sertanejo', sem ser, encontramos dez histórias de amor que não deram certo, que a mulher traiu ou que o marido traiu, que separou — (Risos). E isso é muito diferente quando pegamos um disco da autêntica música caipira, que também canta o amor individual, a forte afeição pessoal, porém de uma forma mais rica e pura, próxima da maneira de ser do interior brasileiro, sem essa sexualidade exacerbada de hoje — comenta.
Para Chico, 'música sertaneja', das tais duplas milionárias, é algo comercial, que faz parte de uma violenta indústria do disco, promovidas para serem principalmente lucrativas. Sendo assim, qualquer disco, ao ser lançado, já vai tocar, à exaustão, em todas as grandes rádios do país que estão inseridas na estratégia das gravadoras.
Mas observa que o homem sertanejo, em muitos casos, que já ouviu a verdadeira música sertaneja/caipira, entende que esse produto comercial não é a sua música, mesmo sem entender a engrenagem que está por trás dessa estratégia.
— Isso é muito bacana, porque mostra o quanto as pessoas têm senso crítico, e esse é um dos motivos que faz com que a verdadeira música caipira resista à massificação — comenta Chico.
— Evidentemente que um produto de consumo, quando é bem lançado no mercado, pega porque é 'martelado' várias vezes na cabeça das pessoas. Mas nos dê um espaço mínimo que seja, e a nossa música é imediatamente assimilada pelas pessoas, porque acredito que a verdadeira música cultural brasileira, é quase uma ponte direta para o inconsciente de qualquer pessoa, se identifica, justamente por corresponder a um povo. A música caipira, e a música cultural em geral, têm essa função de identificador de um povo. — explica Chico.
— No caso da viola caipira, mesmo que a pessoa já viva em um grande centro urbano, tem um tio, avó... alguém na família com origem interiorana. Senão, de alguma forma irá se identificar. Por isso, quando fazemos um show em qualquer lugar do país, mesmo em grandes capitais, como o Rio de Janeiro, a nossa música é abraçada com um carinho enorme. Imagina, então, se tivéssemos o espaço que esses 'sertanejos' têm nos meios de comunicação — acrescenta com alegria.
Por causa da dominação estrangeira (também) na música sertaneja, alienando-a, é que Chico e outros músicos de viola caipira, preferem não chamá-la de sertaneja, mas caipira.
— Nós agora, infelizmente, temos que nos denominar caipiras, música regional, música raiz, porque do termo sertanejo, que lembra sertão, eles se apropriaram e já foi tão usado pelo monopólio dos meios de comunicação que não dá para usarmos mais — esclarece o músico.
— Assim como a autêntica música caipira sofre com o sertanejo, o samba de Paulinho da Viola, Dona Ivone Lara, Clementina de Jesus, e de tantos outros, sofre com os pagodes. E isso acontece também com outros ritmos. Mas devido a resistência de muitos artistas, estamos tomando o espaço que nos cabe — afirma com entusiasmo o violeiro.
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PERSISTÊNCIA BRASILEIRA

Segundo Chico, em meio à invasão e transformação da verdadeira música sertaneja em ritmo ianque, muitos artistas resistem.
— São artistas como Almir Satter e Rolando Boldrin. Há alguns anos o Almir levou a viola caipira para novelas das grandes redes de televisão. Com isso, muitos redescobriram ou tiveram a oportunidade de conhecer a viola. O Rolando manteve por muito tempo o Som Brasil, na própria TV Globo, um programa onde só se apresentavam autênticos artistas brasileiros, e que fez um sucesso gigantesco — dispara Chico.
O próprio Chico também levou a viola para a televisão:
— No ano passado gravei toques de viola para a novela América, da Globo, que apesar de ter sido uma história totalmente country, apresentou vinhetas que eu compus a pedido do Marcos Viana, que foi o compositor da trilha.
— A viola chega hoje em programas da Globo como o Globo Rural. Ela está retornando, passo a passo, mas eu prefiro que seja desse jeito, porque se explode como modismo, depois não se sustenta. E é impressionante ver os jovens enquanto assistem aos nossos shows, porque se identificam com a sua cultura mesmo e ficam maravilhados. São novos soldados que vamos ganhando — constata com alegria.
— Estamos vivendo um momento muito forte de recuperação da autêntica música popular brasileira, a que identifica um povo e sua aldeia, vamos dizer, a música cultural, através de um processo de resistência à desnacionalização que nos é imposta. Não estamos aceitando essa massificação da cultura que vem acontecendo em nosso país — diz severo.
— Olhando pelo lado dos povos terem acesso às suas culturas, é muito sadio ouvir os mais diversos ritmos, mas o doentio é aquilo que se presta para que uma cultura e uma ideologia se sobreponham às outras, alienando-as. É por esse processo de resistência à massificação da cultura que a viola vem recuperando o seu terreno, através dos espaços paralelos, cada vez maiores, que tem encontrado para estar trabalhando. — continua o violeiro.
Chico diz que já existem algumas rádios tocando as músicas de viola; uma revista especializada, em Belo Horizonte; vários artistas gravando de forma independente ou em selos e gravadoras especializadas em música cultural brasileira, como a Kuarup, por onde gravou seus últimos quatro CDs e o DVD; e também programas de TV, como o Viola Brasil, que ele apresenta já há três anos.
— O programa mergulha na tradição da viola caipira. Já foram mais de sessenta exibições apresentando violeiros, sem repetir —, acrescentando que seu programa vai ao ar pela TV Horizonte, MG, e em rede nacional pela STV, a cabo, em horários diversos, de acordo com a programação local.
Com esse espaço paralelo dá para sobreviver dignamente do seu trabalho de violeiro.
— Sobrevivo dos meus shows e venda dos meus discos, sendo que tenho três filhos. Essas gravadoras trabalham muito com venda pela internet, e algumas, como é o caso da Kuarup, têm distribuição em algumas lojas, de qualidade melhor, no Brasil inteiro. Verdadeiramente, a música de viola não foi apagada pela música eletrônica, pelo pop eletrônico — expõe Chico.

RIQUEZA E MUITOS CAUSOS

Chico Lobo recorda que a música caipira autêntica tem uma riqueza imensa em suas letras, que normalmente falam de amizade e compadrecidade, refletindo a imensa moral do homem que vive por suas próprias mãos, da mesma forma nos casos, em grande parte verídicos, narrativas de profunda poesia.
— São histórias que aconteceram com as criações, lá nas fazendas, no interior ou então são uns causos muito doidos — (risos) — em sua maioria ligados ao sobrenatural. Isso porque a viola é recheada de crenças e crendices da nossa tradição, da nossa cultura, como as fitas coloridas que carrega na viola — conta.
Explica Chico muito bem humorado:
— Além das fitas, todo violeiro que se preza usa o chocalho da cascavel dentro da viola, que serve como um amuleto para a sua proteção pessoal, contra qualquer sentimento negativo, de inveja, de ciúme etc., e também serve para alterar o som da viola. Segundo os caipiras, ele 'deferenceia' o som da viola — acrescenta.
E Chico ainda avisa aos mais medrosos:
— Se um dia você encontrar um violeiro que tenha uma fita preta pendurada na viola, corre dele porque é sinal de que fez pacto com o capeta, para se transformar em um grande violeiro —(risos). Eu mesmo já vi violeiro com a tal fita preta pendurada em sua viola — fala Chico.
E brinca:
— Os antigos contam que quem não tem dom jamais tocará viola, a não ser que faça uma simpatia ou entregue a alma ao capeta. O meu mestre Nelson Jacob, por exemplo, pegou uma cobra coral e passou nos dedos das mãos, sem deixar a cobra picar e a soltou. Não pode matar para não perder a magia. Imagina que durante dois meses a cobra o perseguiu tentando lhe picar para ter a magia de volta. Só depois que aprendeu uma reza com um outro violeiro mais velho, foi que conseguiu espantar a cobra.
E prossegue gozador:
— E tem um outro jeito também que pode ser mais fácil: a pessoa precisa encontrar na localidade, onde está enterrado o violeiro mais afamado, aquele que foi o melhor violeiro da região. Então ele vai até a cova do violeiro em uma sexta-feira, 13, santa, e de lua cheia, tem que coincidir tudo isso. Lá chegando, ele deve esticar as mãos, a partir da meia-noite e ficar rezando quanto for oração que ele conheça. Também contam que vem um espírito e entra na pessoa. Começa a entortar e quebrar os dedos. Se a pessoa agüentar assim até o galo cantar, no primeiro raio de sol da aurora, sairá dali um grande violeiro. Senão, é estudar muito! (risos), conhecer os violeiros dos grotões e toda a cultura da viola — aconselha.
Chico diz que isso não é exatamente lenda, mas a filosofia que faz parte do cotidiano do brasileiro caipira, das comunidades interioranas.
— Eu não canto uma música de museu. Essa cultura é antiga, mas atual. Se alguém sentar para conversar com um caipira, perceberá que ele sempre conta muitos causos, principalmente os de sobrenatural. Esses não faltam de jeito nenhum — explica Chico.
— Mas a folia de reis, a catira, a dança de São Gonçalo, a festa do mutirão, são festas em que as famílias se reúnem para fazer a colheita e auxiliar uma única família na mesma condição, em um sentimento do interior que chamamos compadricidade, um sentimento que traz em si valores sociais, de amizade, de união, que anda tão esquecido nos nossos dias, principalmente nas grandes cidades — conta.
— Depois de fazerem essa colheita, as famílias vão festejar, agradecendo o sucesso ao santo de devoção, com muita música de viola e muita dança. Isso está muito vivo no Brasil, atualmente, e vários artistas, nos quais eu me incluo, bebem dessa fonte, o seu manancial, a sua veia de inspiração para compor. Depois, processam e levam para os palcos, para os shows, para os discos — continua Chico.

GERAÇÕES E MUITO TRABALHO

A prova da recuperação do território da viola caipira é a sua redescoberta pela juventude
— Além de gostar de ouvir, hoje temos uma juventude imensa querendo tocar viola. Jovens de 16, 20, 25 anos, querendo conhecer o universo da viola. Creio que por dois motivos: porque não existe, para mim e muitas pessoas, outro instrumento que tenha um som tão maravilhoso quanto o da viola. O segundo motivo é a carga que ela traz de cultura brasileira no seu bojo, na sua história, na sua forma — define Chico.
— O jovem acaba querendo recuperar esse Brasil que ele não conhece, esse Brasil que ficou esquecido. Eu fiz parte de uma geração que foi nova, claro, e hoje já existe uma novíssima geração da viola, e a minha já está se transformando naquela que os jovens se espelham. Enquanto eu me espelhei nos meus mestres, alguns jovens já se espelham no meu trabalho, e se espelhando em mim conhecem também o trabalho dos nossos mestres antigos, que trago comigo — diz.
— Esses jovens geralmente não têm, de imediato, acesso aos violeiros antigos e a manifestações culturais, como as folias, as catiras, fandangos, batuques de viola, danças de São Gonçalo, toda essa cultura maravilhosa. Mas tendo acesso ao nosso trabalho, começa a se interessar por essa cultura, e mergulham nela— continua e emenda com firmeza..
— Para ser um bom violeiro não basta tocar viola. Ele precisa também conhecer, respeitar, valorizar, conviver, e ser porta voz dessa cultura popular tradicional da viola, rica e maravilhosa.
E Chico é sem dúvida, um excelente porta voz da cultura da viola. Além dos discos e do programa na TV, tem feito uma média de sete a oito shows mensais. Em janeiro e fevereiro, que normalmente só se fala em carnaval e samba, tivemos quatro, cinco shows.. No domingo de carnaval (2005), a pedido da Belotur, que é o órgão de turismo de Belo Horizonte, fizemos algo inusitado no Brasil: o 'Carnaviola', que é um carnaval com músicas de viola, batuques, calangos, arrasta-pés, mostrando esse lado festivo da nossa viola caipira— conta com muito entusiasmo.
Ele também participa de um projeto, do Sesc Minas Gerais, chamado Causos e Violas das Gerais, que viaja pelo interior do estado com shows de viola e com causos de todos os tipos. Com o projeto, já viajou por mais de dezoito cidades do interior de Minas Gerais.
— Costumo dizer para osjovens violeiros que estamos sempre incentivando, e melhor do que reclamar passivamente é trabalhar muito e trabalhos de qualidade, bem gravados e com uma parte gráfica bonita, porque a nossa música caipira de viola é muito nobre e temos que tratá-la com muita dignidade — finaliza o violeiro.

Tocando viola caipira na orquestra

A moda de viola é uma das mais importantes manifestações artísticas do povo brasileiro. Quase sempre ligada à cultura camponesa, esta manifestação segue ameaçada pela invasão de ritmos estrangeiros e a migração para as cidades. Mas eis que surgem, em grandes cidades, orquestras de viola caipira, instrumento trazido pelos portugueses, mas adaptado ao jeito todo especial que o brasileiro tem de tocar e cantar sua cultura.

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A Orquestra de Viola Caipira de Atibaia começou como uma orquestra escola
A Orquestra Paulistana de Viola Caipira, primeira a aparecer, foi fundada há onze anos pelo maestro Rui Torneze, seu titular, surgindo primeiramente como um suporte às aulas de viola caipira ministradas por ele na Universidade Livre de Música Tom Jobim, em São Paulo.

— Era um grupo de pessoas que se juntava para fazer um ensaio, que servia de prática de conjunto exigido na universidade. Posteriormente, esses encontros começaram a ficar muito bons e a surgir convites para tocarmos em aniversários e festas em geral, começando ganhar corpo a idéia de uma orquestra. Trabalhamos essa idéia e hoje somos o grupo mais requisitado pelas cidades do interior do estado. Também já auxiliamos na formação de outras dezenove orquestras de viola, sendo três fora do estado — conta Torneze.

Homens, mulheres, adolescentes e crianças acabaram formando uma verdadeira família de muitos talentos para a arte caipira. Afinadíssima, a Orquestra Paulistana recebe frequentes convites para se apresentar, executando suas toadas, cururus, guarânias, catiras, cateretês e outros ritmos da viola, para valorizar a música caipira, e também MPB, samba, choro, música erudita, para mostrar a beleza e a versatilidade do instrumento.

— O nosso objetivo, desde os tempos dos primeiros encontros, é valorizar a autêntica música caipira e também o seu principal instrumento, a viola. Por isso alternamos nas apresentações músicas cantadas e instrumentais, sendo as cantadas sempre caipiras tradicionais e as instrumentais desde música barroca até Tom Jobim, passando pelo choro, para apresentar melhor a viola para o público — explica Torneze.

— A orquestra é dividida em seis grupos, com primeiras, segundas, terceiras, quartas e quintas violas, e um sexto grupo formado por cinco ‘cantadores’, responsáveis por fazer as cantorias. Temos quarenta e cinco músicos no momento, sendo doze profissionais, que só vivem da música, e trinta e três músicos honorários, que têm outras profissões para sobreviver — continua.

Segundo Torneze uma das regras para ingressar na Paulistana é estar estudando viola caipira na Faculdade Livre de Música Tom Jobim ou no Instituto São Gonçalo, sede da orquestra, para que todos estejam com um repertório afinado e o mesmo esquema didático.
— Não temos limite em termos de participação na orquestra, porque muitas vezes assumimos compromissos em dias de semana e nem todo músico honorário consegue participar. E todos são remunerados, ganhando seus cachês sempre que se apresentam, porque isso é necessário, sendo que o nosso principal objetivo é trabalhar em prol da nossa cultura para que não morra, não seja engolida pela mídia — diz Torneze.

— Tecnicamente fazemos uma distinção bem grande entre música caipira e sertaneja: o que temos aqui para oferecer é a música caipira, a sertaneja é essa comercial que está na mídia. Na verdade, ela teve sua origem na música caipira, mas a partir de 1967 muitas coisas foram acrescidas, entrando instrumentos eletrônicos como guitarras, sintetizadores. Na época, baseou-se na jovem guarda e no rock, que estavam em alta. A temática também mudou e mais tarde veio a influência do country music e virou modismo — continua.

Não existe o critério de idade para ingressar no curso de viola e nem na orquestra: atualmente a aluna mais nova tem oito anos de idade e o mais velho oitenta e três. Para Torneze o interesse de crianças e jovens em estudar viola caipira depende muito da orientação em casa e do contato com esse universo através de amigos e pesquisas.

— O perfil da garotada de 16, 17, 18 anos, e são muitos, que estuda viola é bem diferente do explorado pela mídia. São jovens que não estão atrelados a televisão; crianças que têm um suporte em casa, com uma família que provê nessa parte cultural. Todos, apesar de morar aqui em São Paulo, têm uma ligação, até por tradição, ao campo, porque São Paulo é uma grande capital caipira, muitas pessoas por aqui têm seu estilo caipira de ser — afirma Torneze.

— Na verdade nós brasileiros somos todos um pouco caipiras, porque em meios aos nossos ancestrais sempre tem um que tirou seu sustento da terra. E fazemos exatamente esse tipo de música, que atrai a atenção do povo — diz.

— Normalmente nos apresentamos em festas agropecuárias, feiras, festivais, eventos públicos. Também estamos com um convite para irmos neste ano para o USA e Portugal. Os portugueses ficaram ‘malucos’ conosco, devido a um fado que gravamos. A viola veio de lá, se desenvolveu por aqui, e hoje não tem nada a ver com a deles em termos de música, ritmos — continua.

A Orquestra Paulistana tem até o momento dois CDs e um DVD gravados, e Torneze está preparando novos trabalhos, sempre gravando de forma independente.
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A Orquestra Paulistana de Viola Caipira foi precursora e, hoje, já são  dezenove outras orquestras surgidas  do seu exemplo

DANDO FRUTOS

Não ficando atrás, com três anos de estrada, e trabalhando dentro dos mesmos moldes da Paulistana, a Orquestra de Viola Caipira de Atibaia, interior de São Paulo, sendo uma das dezenove que surgiram através da Paulistana, luta com todo vigor para divulgar o ensino desse instrumento, através dos esforços do maestro Agnaldo Villaça. Começando como uma orquestra escola, e chegando a ter noventa alunos, Villaça reuniu os mais destacados e deu início ao trabalho, com apresentações por todo o país.

— Queremos segmentar o ensino desse instrumento que praticamente não tem escola. Eu mesmo e o Torneze somos formados em outros instrumentos, porque na nossa época não tinha nenhuma universidade que oferecesse viola caipira — explica.

— Temos um efetivo de trinta e cinco pessoas, de crianças até senhores e senhoras com mais de sessenta anos de idade, todos com a mesma intenção de vivenciar nossas raízes culturais, e ajudar para que sobreviva. O único critério para participação é a vontade de aprender e tocar. Inclusive, noventa por cento dos que estão na orquestra hoje entraram no nosso curso sem saber nada — fala.

— Se a pessoa não tiver o instrumento ou não puder comprar também não é problema, porque temos alguns aqui para fornecer inicialmente, até que possa adquirir o seu. O que ainda não conseguimos fornecer, mas estamos tentando, é remuneração. Sou o único músico profissional da orquestra, os outros têm outras profissões. São professores, advogados, plantadores de morango, trabalhadores em geral. Por enquanto os cachês que ganhamos são para compra de instrumentos e para um caixa que temos de investimento na orquestra — expõe.

Dos trinta e cinco componentes, cinco fazem voz, mas também tocam, três são violas solo e o restante harmonia. E assim como a Paulistana inclui outros gêneros de qualidade em seu repertório.
— Faço o contra-baixo acústico, um instrumento de quatro cordas que faz a parte grave da sonorização da orquestra, porque como a viola é basicamente de cordas de aço, tem um som por si só brilhante com um timbre agudo, médio agudo, precisando de uma base grave — explica Villaça.

— O foco do nosso repertório, inicialmente, foi a música caipira de raiz. Depois começamos a inserir algumas do nordeste, incluindo Asa branca, e MPB que não são próprios para viola caipira, para mostrar que ela é capaz de se adaptar a qualquer tipo de música, inclusive a erudita, que ainda não estou tocando oficialmente, mas já estou escrevendo arranjos para viola. Elas ficam com uma sonoridade excelente — continua. 

Villaça pensa que qualquer instrumento tem algo especial que atrai e faz com que muitos sonhem em tocá-los, e através deles a pessoa se envolve no universo que ele se encontra.

— À medida que se fica mais encantada com o fato de estar produzindo som, a pessoa vai descobrindo que, além disso, está trabalhando uma música nossa, e isso a encanta mais ainda, porque a música caipira surgiu de forma natural mostrando o lamento do sertanejo, suas lutas, olhar do mundo, seu meio de sobrevivência, a expressão de suas alegrias e tristezas, algo bem simples e profundo: o retrato de um povo. Isso tem valor — fala.

— E o que tem sido comercializado e vendido como música sertaneja, na verdade não é, nunca foi e nunca será, porque o verdadeiro caipira nunca pensou em vender discos quando começou com suas modas. Não imaginou em colocar uma banda para tocar e fazer muito sucesso, e ganhar milhões. Naturalmente tocava e cantava seus sentimentos verdadeiros, era o que sabia fazer e o povo gosta — acrescenta.

— Hoje essa música ‘sertaneja’, não fala do amor da roça, dos causos, do caboclo, da luta pela terra, da lida para a sobrevivência, das dores do caipira, e isso fica muito perceptível para um pesquisador, um músico da área, ou para um caipira autêntico, mas muitas vezes passa despercebido para muita gente e esses acabam consumindo esse produto ruim — continua.

Segundo Villaça o trabalho das orquestras escolas e todas as orquestras caipiras que surgiram a partir da Paulistana se assemelha com o desenvolvido pela Escola Portátil de Choro, no Rio, que também é outro gênero que caracteriza o povo brasileiro, e igualmente sofre a mesma punição por parte do monopólio dos meios de comunicação, de afastamento do povo.

— Esses gêneros genuinamente brasileiros vão sobrevivendo e renascendo à medida que pessoas de todas as idades se propõem a aprender a tocá-los e divulgá-los. E nós achamos que se as pessoas não se juntarem e não fizerem essa propagação, com certeza eles se perderão com o tempo — defende Villaça.

Até o momento a Orquestra de Viola Caipira de Atibaia tem dois DVDs lançados, o último em janeiro deste ano, gravado ao vivo.

— Trabalhando em eventos fixos e esporádicos. Recentemente fizemos o Festival Zequinha de Abreu, em Santa Rita do Passa Quatro, e estaremos em maio na Semana Nacional da Cultura de Campo Belo, MG. Também vamos fazer       apresentações com a orquestra do maestro Ivan Vilela. Recentemente fizemos um concerto único com o maestro Rogério, titular da Orquestra Sinfônica Jovem de Atibaia. Foi uma ‘loucura’ vermos a sinfônica executando o repertório da viola caipira, algo muito interessante — comenta Villaça com alegria.

— Na verdade, temos muito poucas partituras para trabalharmos, mas se analisarmos a origem da música caipira vamos ver que entre esse pessoal que mora ‘no meio do mato’, o caipira mesmo, que começou com a moda de viola, muitos eram analfabetos, imagina então se iriam escrever uma partitura de alguma música que fizeram durante a labuta ou na hora do lazer — observa.

— Eu mesmo tive dois alunos na orquestra, uma senhora de cinquenta anos e um senhor de sessenta, nesta situação, e por isso não conseguimos dar continuidade nos seus estudos de música, tendo que encaminhá-los para uma escola de alfabetização para adultos. Agora estamos aguardando que eles retornem quando conseguirem acompanhar o curso. Pior é saber que são muitos os analfabetos por esse país afora — acrescenta.

A divulgação das orquestras de viola é feita através dos próprios músicos e do público, que quando assiste pergunta como fazer contato. As páginas na internet são: