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quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Pablo Ortellado: O vale-cultura e a tutela dos pobres


 Agora que o projeto de lei que institui o vale-cultura voltou a tramitar no Congresso Nacional, ressurge com força o debate sobre a conveniência dessa política que, ao invés de subvencionar a produção cultural, como tradicionalmente se faz, subvenciona o consumo. 


Por Pablo Ortellado*


O problema, argumenta-se, é que ao oferecer benefícios fiscais para o consumo, o vale-cultura vai despejar uma quantidade muito grande de recursos públicos na indústria cultural, subsidiando quem não precisa ser subsidiado.

O projeto de lei do vale-cultura estabelece que trabalhadores que ganham até cinco salários mínimos possam receber um vale (semelhante ao vale-alimentação), no valor de 50 reais para a compra de produtos e serviços culturais. O trabalhador que participar do programa vai ter descontado na folha 10% do valor do vale (5 reais) enquanto a empresa poderá descontar os restantes 90% do imposto de renda devido. Assim, trabalhador, empresa e governo vão repartir os custos.

O vale-cultura busca minimizar o gravíssimo problema do baixo consumo cultural no país. Segundo a Pesquisa de Orçamento Familiar do IBGE, o gasto médio mensal do brasileiro com cultura em 2003 foi inferior a 35 reais. Esse pequeno gasto, na verdade, foi muito inferior na população com menor escolaridade e muito superior na população com curso superior. Assim, por exemplo, uma família que tinha um membro com curso superior gastou em média 160 reais mensais, ao passo que uma família sem membro com curso superior gastou menos de 20 reais.

É esse cenário desolador que indica o alto impacto que um vale-cultura mensal de 50 reais deve ter na dinâmica de consumo cultural do país. Mas ele também levanta o fundado temor de que esses recursos sejam na maior parte direcionados para práticas de consumo estabelecidas – isto é, para a cultura produzida pela indústria cultural.

O argumento contra o vale-cultura é que os trabalhadores vão utilizá-lo para a compra de produtos comerciais e que, portanto, todo ano, o Estado vai injetar 7 bilhões de reais na indústria, ao invés de favorecer as práticas artísticas de excelência que não conseguem se viabilizar sem apoio público.

O argumento esconde um equívoco e também uma visão paternalista sobre a cultura dos mais pobres. O equívoco consiste em opor o vale-cultura, uma política de subsídio ao consumo, às políticas de fomento que subsidiam a produção cultural. Essas políticas não são opostas, mas complementares. O Estado precisa apoiar a arte não comercial, por meio de subsídios, assim como deve apoiar aqueles cuja renda praticamente não permite a fruição cultural.

Mais grave é a suposição de que, ao contrário da cultura letrada e ilustrada, a cultura consumida pelos trabalhadores é pouco sofisticada e, portanto, inautêntica e manipulada pela indústria. Enquanto a MPB, por exemplo, seria sofisticada e “cultural” e por isso passível de ser subsidiada, o funk, o sertanejo e o pagode seriam produtos comerciais, forjados por uma indústria que engana o povo vendendo para ele o que autenticamente não vem dele.

Trinta anos de pesquisa dos estudos culturais têm demonstrado sistematicamente que esse tipo de preconceito de classe não encontra qualquer apoio empírico e que o funk ou o sertanejo, por exemplo, expressam tão autenticamente o modo de vida das classes trabalhadoras como a arte consagrada expressa o modo de vida das classes ilustradas.

Enquanto as classes média e alta podem livremente determinar o seu consumo cultural, resta hoje aos trabalhadores escolher entre não consumir ou consumir o que o Estado decidiu que é legítimo consumir. O vale-cultura é inovador justamente por dar fim a essa situação. Ele concede autonomia aos trabalhadores para mais ativamente determinarem o modo como participam da vida cultural. O resultado será maior consumo de produtos comerciais, mas, se o vale-cultura for bem implementado, deve ampliar também o consumo de bens culturais marginalizados e que não estão na indústria, como o funk ou a literatura periférica.

O vale-cultura não resolve, no entanto, dois outros problemas. O primeiro é a incapacidade do Estado de apoiar de maneira suficiente a cultura não-comercial. O outro é a centralidade das grandes empresas e dos seus interesses comerciais na mediação do consumo. Mas esses são problemas diferentes dos do subconsumo dos trabalhadores e advêm da organização econômica da cultura como um todo. Para eles, precisamos de outras políticas.

*Pablo Ortellado é colunista e ativista cultural.

Fonte: Cultura e Mercado


O SACI E A LUTA ANTI-COLONIAL - Por Elaine Tavares




Até os anos 60 a vida da gente era completamente imbricada com a natureza. As grandes cidades ficavam muito distantes e as crianças vivenciavam toda a beleza de conhecer e compartilhar as figuras míticas, moradoras das florestas e dos cantos escuros do lugar. Desde pequenos, os meninos e meninas aprendiam que no meio da noite vagava um negrinho, pastoreando uma boiada, e que se alguma coisa se perdesse dentro de casa era só acender uma vela, e o negrinho ajudava a encontrar. O negrinho do pastoreio era visto nas noites de chuva, quando os relâmpagos riscavam o céu, imponente, no seu baio, cavalgando no rumo das estrelas.
Nas tarde de inverno, quando os redemoinhos varriam as ruas, a gurizada saia como foguete, com suas garrafas de bocas abertas, buscando aprisionar os sacis pererês. Porque afinal, desde sempre aprendiam que o negrinho de uma perna só costumava estar sempre no meio do redemoinho e só aí, quando estava distraído, girando no vento, é que se podia pegá-lo. De resto era sempre um tal de fazer estripulias, batendo janelas, quebrando as louças, levantando as saias das moças. O Saci é guri frajola, serelepe, cheio de alegria e de liberdade.
E se vinha a noite fechada, as crianças entravam em casa, porque sabiam que lá fora, na mata, haveria de andar o boitatá, a cobra de fogo que come os olhos dos bichos, ou ainda o lobisomem, buscando sangue fresco, e o curupira, arrastando os pés virados, procurando pela mula-sem-cabeça. Esse era um universo conhecido e reproduzido nas escolas, na família, nas rodas de conversa ao pé do fogo.
Mas, com a consolidação do modo capitalista de produção no Brasil, que começou a apertar os laços no final dos anos 50, outra dominação foi tomando conta da vida das gentes: a dominação cultural. Já não bastava mais importar o jeito de produzir, a maneira de fazer as coisas, mas era necessário também copiar a cultura daqueles que os poderosos julgavam ser dignos de confiança. Foi assim que se introduziu a moda, com a calça jeans, a minissaia, ou a música, com a introdução da guitarra elétrica e o rock, abafando de vez a marchinha, o xaxado, o baião e a vaneira. No cinema, dava-se adeus aos musicais inocentes e aos filmes do caipira Mazzaropi, recheados da vida nacional. Era chegada a hora de Hollywood e seus enlatados repletos de ideologia, colonizando as mentes. Os faroestes estadunidenses endeusavam os cowboys e demonizavam os índios. Os filmes de ação apresentavam os soldados estadunidenses como heróis, salvando o mundo dos horrores das guerras, dos comunistas, e os dramas consolidavam a certeza de que bom mesmo era viver em apartamentos com carpete, fumar Malboro e encontrar o homem dos sonhos, que seria branco, alto e de olhos claros.
A partir daí foram-se ocupando os territórios mentais. As cidades cresceram, se modernizaram, e as gentes se faziam cada vez mais parecidas com aqueles que, de certa forma, já dominavam no terreno da economia e da política. Bom mesmo era cantar em inglês e não foram poucos os jovens cantores brasileiros que iniciaram suas carreiras cantando na língua estrangeira. Um bom exemplo foi Morris Albert, que fez sucesso no mundo todo com a música “Feelings”. Cantar em português era coisa de brega. Nas festinhas a juventude enrolava um inglês que sequer se entendia. Papagaios.
O conceito de colonização diz que essa situação se faz real quando se conquista um território e se estabelecem novos moradores de acordo com o desejo dos que dominam. Pois foi exatamente isso que aconteceu com a gente. Nas cabeças das crianças, desde a mais tenra idade, foram sendo plantados novos conceitos, totalmente alienígenas. E esse tipo de controle chegou também no campo dos mitos. De repente, já ninguém mais falava em Saci, Curupira, Boitatá, Mula-sem-cabeça. Pela via do cinema cresceu a figura do vampiro e das festas estadunidenses. Uma delas é o Dia das Bruxas.
Até uns 20 anos atrás o tal do “Raloim” era celebrado apenas nas escolas de inglês, o que até tinha certo sentido, uma vez que quando se aprende uma língua há que se aprender algo da cultura do povo. Mas, depois, de mansinho, a festa foi se imiscuindo na vida cotidiana dos jardins de infância das escolas públicas e particulares, espaço de terra virgem, onde a colonização mental tem uma força tremenda. Sem que as famílias percebessem, os elementos mais enraizados da cultura estadunidense começaram a fazer morada na vida da criançada brasileira. Abóboras, a lenda do Jack, enfim, todos os elementos da belíssima lenda de origem celta que foi trazida aos Estados Unidos pelos colonos ingleses. Coloniza-se a cultura e movimenta-se a máquina do capital.
Ao contrário do significado cultural e místico que o Halloween tem nos Estados Unidos, aqui, ao ser transferido de forma artificial, o tal “dia das bruxas” nada mais é do que uma data a mais para vender coisas. Desafortunadamente, essa colonização mental não acontece unicamente no Brasil, ela toma conta também de quase todos os países latino-americanos, onde se pode ver a indefectível abóbora nos 31 de outubro de cada ano.
No Brasil, um grupo de ativistas da cultura do interior de São Paulo começou desde há anos um importante trabalho de conscientização sobre a história da cultura nacional. Grupos como a Sociedade dos Observadores do Saci, a Sosaci, tem dado contribuição importante nesse processo, produzindo vídeos e outros materiais educativos visando recuperar os antigos mitos e lendas da cultura indígena e negra. Levando esse debate por todo o país, os militantes da Sosaci querem que seja instituído o dia 31 de outubro como o Dia do Saci, fazendo com que nosso moleque, de raiz indígena e negra, vença de uma vez por todas a dominação cultural do “raloim”, como bem atesta o manifesto do grupo. “Nós, brasileiros, temos nossos próprios mitos, que não ficam nada a dever a esses importados, comerciais, que são usados para anestesiar a auto-estima do nosso povo. Respeitamos os mitos dos outros, mas não queremos que eles sejam usados pela indústria cultural como predadores dos nossos. Cada vez mais, muitos brasileiros começam a compreender isso. Uma prova foi o evento “O Grito do Saci”, realizado nos dias 5, 6 e 7 de setembro, em São Luiz do Paraitinga, Estado de São Paulo, que atraiu muita gente e foi uma catarse geral, uma lavação de alma. Outra prova é a onda de adesões que a Sosaci (Sociedade dos Observadores de Saci) vem recebendo de vários pontos do país. O Saci, a Iara, o Boitatá, o Curupira, o Mapinguari e muitos outros brasileiros legítimos estão aí para serem festejados, sem espírito comercial, como nossos legítimos representantes no mundo do imaginário popular e infantil”. E assim é.
A discussão que foi criada em torno da celebração do Dia do Saci em nada tem a ver com a xenofobia ou o desrespeito a outros povos. Momentos como o Dia dos Mortos no México, o Inti Raimi na América Andina e o Halloween nos Estados Unidos representam a essência cultural de cada um dos povos que os reverenciam. Pois a celebração dos mitos autóctones seria justamente a retomada do nosso território cultural que há tanto tempo vem sendo invadido e colonizado. Respeitar e dialogar com as demais culturas é rico e saudável, mas o preço disso não pode ser a destruição das nossas memórias ancestrais.
O campo da cultura é sempre um espaço muito mal cuidado pelos movimentos sociais e sindicatos de luta. Faz-se muita política, discute-se o capitalismo, mas muito pouco se discute o pilar de todas as mudanças que é o imaginário popular, a cultura. Desde aí se pode avançar com muito mais eficácia no processo de transformação da sociedade. Se desde bem pequenas as crianças tomarem contato com a beleza que vive no seu próprio espaço de vivência, muito mais fácil será trabalhar conceitos como soberania, liberdade, pensamento crítico, transformação.
A proposta que toma corpo sobre a instituição do Dia Nacional do Saci não é pueril, muito menos folclórica. É uma resposta inteligente e criativa a um longo processo de colonização mental que impera no nosso país desde a invasão européia. Destruíram muitas culturas originárias, impuseram determinadas crenças e hoje, buscam homogeneizar a cultura. Mas, por todos os cantos do Brasil se levantam os amantes do saci, do Curupira, do Boitatá, de Iara, Mãe d´água, Boto cor-de-rosa. Todos juntos prometem vencer o culto à abóbora, fazendo uma grande festa com carne seca, mandioca e viola. Porque nossa cultura autóctone tem beleza demais para se render aos interesses do capital.
Mas, para isso, é preciso que cada brasileiro faça sua parte. Pais e mães precisam retomar as velhas histórias, escolas devem ensinar os antigos mitos e toda a gente deve celebrar esse dia 31 de outubro como o dia do Saci e de todos os seus amigos. Para participar do abaixo assinado, entre na página da Sosaci e dê o clic:http://www.sosaci.org/abaixo-assinado.htm .
Enquanto isso preste muita atenção quando passar por um bambuzal. Ao ouvir os barulhinhos de “cloc, cloc, cloc”, atente-se. São os sacis nascendo. E estão vindo aos milhares, pulando em uma perna só, fazendo bagunça na proposta de destruição cultural que o império tenta nos impor. O Saci vive e está bem aí, do seu lado. Acredite!


Publicado originalmente na revista Novo Olhar.



terça-feira, 30 de outubro de 2012

Líder do PCdoB defende aprovação dos royalties para educação


Após a votação da matéria de redistribuição dos royalties do petróleo, marcada para esta semana, a Câmara dos Deputados pretende votar, até o final ao ano, uma matéria polêmica por semana. A líder do PCdoB na Câmara, deputada Luciana Santos (PE) anunciou que a proposta é votar, até o dia 23 de dezembro, matérias como o marco civil da internet, fator previdenciário e Vale Cultura.


No calendário de referência definido pelos líderes partidários, distribuídas pelas oito semanas, está previsto também a reforma política, que sempre volta a pauta de discussão após as eleições. 

A exemplo da votação da redistribuição dos royalties do petróleo, a líder do PCdoB acredita que é possível fazer o debate das matérias no plenário e construir consenso. “Essa Casa precisa se posicionar e não podemos esticar o assunto diante do clamor nacional”, disse a líder, destacando que o texto apresentado pelo relator da matéria, deputado Carlos Zarattini (PT-SP), leva em conta o equilíbrio entre os estados confrontantes e os demais entes da federação.

Ela destacou a importância da discussão sobre a destinação dos recursos do pré-sal para a educação. A deputada lembrou que o Plano nacional de educação (PNE), aprovado na Câmara, precisa de recursos garantidos para a educação.

Para a líder, o rateio dos royalties do petróleo é um dos assuntos mais estratégicos que a Casa vai se posicionar, insistindo na defesa da aplicação dos recursos para o financiamento da educação. “Temos que tratar a riqueza do pré-sal como questão de União, da Nação e assim como entendemos que os investimentos da Petrobras são de todo o povo brasileiro, mas levando em conta o equilíbrio dos impactos que envolvem os estados produtores, temos que votar a matéria”, diz Luciana Santos.

Outros matérias e polêmicas

Pelo calendário de votação, na semana seguinte, a previsão é de que será votado o Marco Civil da Internet. A matéria dispõe sobre os crimes cometidos na área de informática, suas penalidades e estabelece princípios, garantias, direitos e deveres para o uso da Internet no Brasil.

Na terceira semana, faz parte da pauta como projeto polêmico a proposta de alteração do Código Brasileiro de Aeronáutica. O projeto divide as posições entre os parlamentares porque pretende ampliar a possibilidade de participação do capital estrangeiro nas empresas de transporte aéreo.

O fim do Fator Previdenciário – um dos temas mais polêmicos na casa – foi pautado para quarta semana; e, na semana seguinte, os parlamentares pretendem votar outro assunto que se arrasta há anos na Casa sem que se alcance consenso para votação - a reforma política. 

Nessa semana, como nas outras, existe mais de uma proposta para ser votada. E, nesse período, junto com a reforma política, outra matéria também provoca debates e discussões acirradas – a proposta que estabelece que a migração partidária que ocorrer durante a legislatura, não importará na transferência dos recursos do fundo partidário e do horário de propaganda eleitoral no rádio e na televisão.

O destaque nas votações das últimas semanas é do Vale Cultura e o orçamento da União, que precisa ser votado para que a Câmara possa entrar em recesso no dia 23 de dezembro.

De Brasília
Márcia Xavier

'Livro Livre' distribui 50 mil exemplares no metrô


Para estimular o hábito da leitura, a Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) adere pelo sétimo ano consecutivo ao projeto "Livro Livre". 


metro
Projeto quer incentivar a leitura.
A partir desta segunda-feira (29), os usuários que estiverem transitando pelas estações Brás, Luz, Palmeiras-Barra Funda, Osasco e Pinheiros, receberão livros doados por 30 apoiadores do projeto, entre editoras e bibliotecas, gratuitamente. 

Cada pessoa pode levar até três livros e eles não precisam ser devolvidos ao projeto. A ideia é que, após a leitura, a pessoa repasse a publicação para que outra pessoa possa conhecer seu conteúdo. "Este livro não é um presente. Ele não é seu, nem de ninguém. Leia-o e passe adiante. Deixe-o onde possa ser encontrado pelo próximo leitor", diz um bilhetinho colocado nos livros. 

A distribuição vai até quarta-feira (31), das 10h às 15h. Serão, ao todo, 50 mil exemplares distribuídos. Além dos livros, haverá uma série de atividades lúdicas e culturais para os usuários. Nesta segunda-feira, o projeto estará nas estações Luz e Pinheiros. Confira a programação:

29 de outubro
- Estação da Luz
13h30: Encontro com o autor Thiago Sogayar Bechara
14h30: Apresentação de dança: Marquinhos e Camila
10h às 15h: Palestra de incentivo à leitura - Evoluir Sustentável
- Estação Pinheiros
10h: Apresentação de dança: Marquinhos e Camila
11h30: Encontro com o autor Andrea Vicentini
13h30: Apresentação musical - Grupo Transasom
14h30: Encontro com a autora Beatriz Monteiro da Cunha
10h às 15h: Tabuleiro de Jogos: "É tempo de reciclar" - Evoluir Cultural
30 de outubro
- Estação Barra Funda 
10h: Palestra de incentivo à leitura - Evoluir Cultural
13h30: Música na CPTM: Coral e Banda da Guarda Civil Metropolitana
10h às 15h: Baú das artes: "um armário de sonhos" - Evoluir Sustentável
Tabuleiro de Jogos: "É tempo de reciclar" - Evoluir Cultural
Intervenção teatral
31 de outubro
- Estação Brás
10h: Palestra de incentivo à leitura - Evoluir Sustentável
14h: Encontro com o expositor: Júlio de Sousa
10h às 15h: Exposição fotográfica "Everest 5.0 - Livros inspiram sonhos" - Júlio de Sousa
Mediação de leitura: Fundação Tide Setubal
Tabuleiro de Jogos: "É tempo de reciclar" - Evoluir Cultural
Apresentação artística: CEI São João Batista
- Estação Osasco
10h às 15h: Intervenção Poética do Grupo de Estudos Literários "Pé de Poesia" - DIA D, Dia de Drummond
2º Encontro Entre Linhas com autores de Osasco

Animação sem segredos


O desenho é uma paixão na vida do pernambucano Igor Vitor Souza Feitosa, de 16 anos, que desde os sete, reproduz com o lápis tudo o que enxerga pela frente. Na escola, sua habilidade é reconhecida por mestres e colegas. “Quando tem algum desenho para mostrar para a turma e a professora não sabe fazer, eu faço o desenho no quadro”, conta com orgulho. 


Neste ano, o adolescente descobriu um motivo a mais para investir em seu talento. Seu município, Pesqueira (PE), sediou em agosto uma oficina do Cine Anima – projeto itinerante que ensina os segredos do cinema de animação a desenhistas e artesãos do interior do Norte e Nordeste. 

Junto com um amigo, Feitosa participou da oficina, onde aprendeu novas técnicas de desenho e recebeu dicas para começar a produzir seus filmes de animação. Empolgado, ele planeja montar seu próprio estúdio em casa. “Peguei todas as informações sobre materiais; tenho anotada a medida da mesa de luz, do lápis que se usa e dos programas porque eu pretendo continuar fazendo animação”, diz. 

Itinerante

O Cine Anima é uma das ações do Ponto de Cultura Cinema de Animação, de Gravatá (PE), dedicado à produção, divulgação e ensino desse tipo de filme. 

A ideia do Cine Anima e de suas oficinas itinerantes, porém, é mais antiga do que o próprio Ponto de Cultura, reconhecido em 2005 pelo Ministério da Cultura (Minc). Tudo começou na década de 1980, por iniciativa de Lula Gonzaga, coordenador do Ponto e um dos precursores do cinema de animação no Brasil. Depois de voltar de uma especialização em cinema de animação na Croácia, ele decidiu dividir seu conhecimento com jovens que não poderiam pagar por um curso de animação em escolas ou faculdades. Resolveu, em 1985, pegar a estrada e ministrar as oficinas que passam de cidade em cidade e que, até hoje, já receberam cerca de 1,2 mil pessoas. 

Em geral, as atividades circulam por comunidades indígenas, quilombolas, casas paroquiais, assentamentos e pontos de cultura, por meio de editais ou de convites feitos por instituições públicas. 

É o próprio Gonzaga, até hoje, quem dá as oficinas, sempre acompanhado por outro integrante do Ponto de Cultura. Em todos os lugares onde o projeto passa, conta Gonzaga, há sempre um grande número de interessados. Com a carência de locais para estudar animação e os altos preços dos cursos, as oficinas se tornam alternativa de aprendizado. “A receptividade é boa em qualquer lugar onde a gente chega porque é uma oportunidade muito rara para aqueles alunos”, diz. 

O sucesso do projeto tem sido tão grande que, além do Nordeste, o Cine Anima já visitou quase todos os estados e participou de festivais em Portugal. 

Simplicidade

Para cumprir sua tarefa, o Cine Anima carrega um estúdio completo de animação, com todos osequipamentos e materiais necessários para produzir esse tipo de filme. São 20 mesas de luz, aparelhos de ilusão de ótica para criação dos movimentos, mesa pedagógica com exposição de todos os objetos utilizados durante a produção, cartazes de filmes e diversos vídeos de animação. 

A simplicidade é a principal marca do projeto. Portanto, tudo é o mais modesto e artesanal possível. Um dos aparelhos de ilusão de ótica, por exemplo, é uma réplica do primeiro tipo utilizado para animação e foi feito pela própria equipe do Ponto de Cultura. “Esse é um aspecto fundamental da oficina. Queremos mostrar que o aluno pode conseguir os equipamentos necessários e fazer animação de onde estiver”, explica Gonzaga. Uma mesa de luz, um aparelho de scanner para digitalizar as imagens e um computador com editores de imagem, vídeo e áudio, que podem ser baixados da internet, segundo os oficineiros, são suficientes para produzir as animações. 

A chance de fazer suas próprias animações entusiasma os alunos. Jean Tácio Tôrres de Lira, 14 anos, participou da oficina que passou por Pesqueira (PE) em agosto. “Meu hobby é desenhar, por isso fiquei animado para fazer a oficina”, explica o estudante, que conta ter aprendido muito nas aulas. No entanto, ele confessa: fazer animação é mais trabalhoso do que pensava. “O mais difícil é ter que fazer vários desenhos repetidos com algumas diferenças mínimas”, diz o jovem, que também faz planos para montar seu estúdio caseiro. 

Crítica

Além de ensinar novas técnicas de desenho e de como dar movimento às imagens, Gonzaga e sua equipe exibem filmes de animação, que mostram trabalhos produzidos em outras oficinas e no próprio Ponto de Cultura. Além disso, também há espaço para exibir filmes nacionais de animação, principalmente aqueles feitos no Nordeste, que concentra forte produção. Segundo o coordenador do Ponto, só nessa região há cerca de 50 filmes produzidos até hoje. 

O objetivo, segundo ele, é incitar um debate a respeito do mercado do cinema no Brasil, especialmente sobre a questão da distribuição. “Em geral o cinema brasileiro só está nos shopping centers. A gente só vê filme brasileiro na TV Brasil e no Canal Brasil, que é canal pago. Na TV aberta só passa quando é filme da Globo”, critica. 

Mais grave, para ele, é o caso da animação, que tem o público infantil como alvo. “A pessoa que só assiste a desenho animado estadunidense naturalmente vai ser uma pessoa muito mais fácil de se aliar ao sistema de dominação do filme estrangeiro quando crescer”, diz o cineasta, que vai além: “Deveria haver situações muito definidas de exibição dos filmes de animação na televisão para reverter esse processo que temos hoje, de filmes animados norte-americanos e japoneses, em que a formação da pessoa fica inteiramente deformada”, completa. 

Cinema na Praça

Além do Cine Anima, o Ponto de Cultura Cinema de Animação realiza cursos anuais de animação e produção de filmes em Gravatá. Atualmente, o Ponto trabalha em um longa metragem, Paranambuco, sobre o início da história de Pernambuco. 

O Ponto também promove mostras de filmes nacionais, como o Cine Clube, em sua própria sede, e o Cinema na Praça, que já exibiu películas em espaços públicos para mais de 96 mil pessoas, com média de 400 espectadores por sessão. 

Parceiro do Ponto de Cultura, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) já recebeu, até hoje, várias exibições do Cinema na Praça em assentamentos do sertão pernambucano. “É bonito porque colocam um telão no meio do assentamento”, relembra a integrante do Coletivo de Comunicação e Cultura do MST de Pernambuco Ana Emília Borba. Segundo ela, o projeto representou a primeira ida ao cinema de muitos assentados. “Existe a dificuldade de se ter acesso ao cinema e isso é ainda mais forte na zona rural”, completa. 

Segundo dados da Agência Nacional do Cinema (Ancine), dos 5.565 municípios brasileiros, apenas 392 – o equivalente a 7% - possuem salas de cinema em funcionamento. Deste total, cerca de 47% estão localizados nos estados de São Paulo e Rio de Janeiro. 

www.cineanimaitinerante.blogspot.com.br
www.pontocinemadeanimacao.blogspot.com.br

Fonte: Brasil de Fato

domingo, 28 de outubro de 2012

Especialista em Nelson Rodrigues, Antunes Filho estreia sua oitava peça do autor



Dedicação. Energético aos 82 anos, com 64 dedicados ao teatro, Antunes Filho leva ao palco “Toda nudez será castigada” e faz sua profissão de fé no trabalho do ator, que, segundo ele, “tem a missão ética e social de melhorar a realidade” Foto: Marcos Alves
Dedicação. Energético aos 82 anos, com 64 dedicados ao teatro, Antunes Filho leva ao palco “Toda nudez será castigada” e faz sua profissão de fé no trabalho do ator, que, segundo ele, “tem a missão ética e social de melhorar a realidade”MARCOS ALVES


SÃO PAULO — Apesar de ser considerado um dos maiores especialistas do país na obra de Nelson Rodrigues, o diretor de teatro Antunes Filho não queria montar nada do jornalista e dramaturgo pernambucano no ano de seu centenário. Estava convencido de que a efeméride já tinha atraído todas as homenagens possíveis àquele que melhor traduziu, nos palcos e nos livros, a alma carioca. Achava que tudo já tinha sido dito e festejado. Mas quem disse que os fãs controlam até onde vai a paixão por seus ídolos? Convidado pela direção do Sesc a apresentar uma leitura de Nelson na abertura do Festival Ibero-Americano de Artes Cênicas de Santos, no mês passado, Antunes escolheu encenar um trecho de “Toda nudez será castigada”. Tinha só um mês para preparar o trabalho, e “Toda nudez...”, considerada por ele “uma peça mais simples, mais próxima, com elenco menos numeroso”, lhe parecia a obra adequada.
Era para ficar ali a homenagem. Mas ontem, Antunes estreou no teatro do Sesc Consolação, Centro de São Paulo, “Toda nudez será castigada” — sua oitava montagem rodrigueana — resignado com o fato de que Nelson é mais forte que ele. E ao escolher a história do viúvo Herculano e sua torturada paixão pela prostituta Geni como a peça a ser montada nos 100 anos do dramaturgo, acaba por celebrar outra efeméride importante: os 30 anos de criação do Centro de Pesquisa Teatral (CPT), um dos mais importantes núcleos de produção, pesquisa teatral e formação de profissionais de teatro no Brasil hoje.
Na grande sala de ensaios do CPT, no sétimo andar do prédio do Sesc Consolação, Antunes não elabora a data. Tem horror ao pensamento intelectual que cava explicações teóricas rebuscadas para a cultura, o que ele chama de “quixotismo artístico”. Energético aos 82 anos, 64 de carreira, sua preocupação é com o público e com a formação do ator, ferramenta através da qual busca modificar a realidade à sua volta.
— Há 30 anos o CPT procura o ator, o ator, o ator. Para isso, precisamos aprender a apurar a técnica. Em vez de discutir o que é ator dramático, cômico ou épico, de tentar achar uma forma inédita de fazer teatro, numa masturbação intelectual, buscamos apurar a expressão do ator. Porque ele é o professor que tem que convencer a plateia. O ator tem a missão ética e social de cuidar do outro, de melhorar a realidade, de dar sentido à vida — diz ele.
Um método para o ator
No palco de “Toda nudez será castigada”, pode-se dizer que o Nelson Rodrigues encenado é Antunes Filho puro. Uma mesa longa, cinco cadeiras e uma lua é todo o cenário para a trama. Mas o despojamento da produção é compensado pela atuação vigorosa dos atores, ocupando todos os espaços possíveis do palco num ritmo narrativo vertiginoso. Não é por outra razão que Antunes é visto com terror por alguns atores. Sua preparação, que geralmente inclui oito horas diárias de ensaio por períodos que podem ultrapassar um ano (“Toda nudez...” foi uma rara exceção), são elaboradas com preciosismo. Trabalha-se exaustivamente o corpo, a emissão vocal, as respirações, o movimento. E nas horas vagas, sessões de clássicos do cinema (o CPT tem cinco mil filmes), além de discussões sobre filosofia e política, num processo que o jornalista e pesquisador de teatro Sebastião Milaré — autor de dois livros sobre Antunes: “Hierofania: o teatro segundo Antunes Filho” e “Poeta da cena” — chama de “preparação do ator e sua consciência de mundo”.
— Sem menosprezar o espírito da arte e do teatro contemporâneos, Antunes criou um método para o ator. Tudo voltado para a realidade do teatro e do público brasileiros — diz Milaré.
— Ele trabalha como um maestro, aquela percepção de conjunto e dos atores individualmente — conta a atriz Ondina Clais Castilho, a Geni de “Toda nudez...”. — Ele ouve longe. Nos ensaios, dizia que se eu quisesse que determinada palavra soasse como dita por um carioca, teria que mudar a respiração. É esse o nível de detalhamento.
— Antunes tem a consciência de que só muda uma estética teatral se mudar também o ator — diz o ator Luis Melo, que participou das montagens “A hora e a vez de Augusto Matraga” (1986) e “Paraíso Zona Norte” (1989), entre outras. — Pouco importa se o ator tem um ano ou 15 de experiência. No momento em que pisa no palco, o período de formação está encerrado.
Antunes usa e abusa de conhecimento enciclopédico. Em seus raciocínios, permeia argumentações com ideias de Jung a Stanislavski, de Ziembinski (com quem trabalhou) a Bertolt Brecht.
— Centenas de atores passaram pelas mãos de Antunes na busca do amparo técnico e encontraram algo que ultrapassa a técnica, compreendendo-a como meio de transformação não só do ator, mas fundamentalmente do indivíduo — diz o ator Lee Taylor, protagonista de “Policarpo Quaresma” (2010).
José Alves Antunes Filho nasceu em 1929 no Bexiga, em São Paulo, e estreou como ator (chamava-se José Alves) no papel de Ernesto em “Adeus mocidade...”, com direção de Osmar Rodrigues Cruz, seu colega no serviço público na prefeitura.
— Eu estava tão à vontade numa cena lendo jornal que esqueci a hora da fala e entrei em pânico — conta.
Era o fim da década de 1940, e o teatro brasileiro vivia um momento fértil com a criação do Teatro Brasileiro de Comédia e as montagens do Teatro do Estudante. Em 1950, Antunes fundou um grupo de teatro e dirigiu a peça “A janela”, de Reynaldo Jardim, que marcou o fim do ator José Alves e o nascimento do diretor Antunes Filho. Encenou espetáculos marcantes e fez até teleteatro para TV nos anos 1970 até aquele que o projetou internacionalmente: “Macunaíma”, de Mario de Andrade, em 1978, que viajou por 20 países.
Cada vez mais, Antunes mergulhou no aperfeiçoamento de um método de preparação de atores, que ele diz construir até hoje. Paralelamente, dedicava-se a pesquisas sobre a realidade das peças que encenava, de lavradores e retirantes a famílias suburbanas cariocas. A tudo associava dimensões metafísicas, abordagens holísticas, vieses psicológicos. Ele já dominava a linguagem de Nelson Rodrigues, cuja obra é considerada “mítica, capaz de gerar novas estéticas”. Tanto que o então recém-fundado Grupo de Teatro Macunaíma levou para o exterior “Nelson 2 Rodrigues”, com os textos de “Álbum de família” e “Toda nudez será castigada”, com enorme sucesso.
Em 1982, o Sesc São Paulo criou o CPT e convidou Antunes Filho a tocá-lo, tendo como núcleo principal seu grupo Macunaíma. Ali também funciona o CPTzinho, um curso de teatro que tem filas de dois mil inscritos todos os anos. Trata-se de uma das mais prolíficas parcerias do teatro nacional, que ele não poupa de críticas.
— Não há investimento em educação, e o crescimento econômico não se traduz num bom teatro, apesar do aumento das produções. Vivemos um consumismo hedonista que dificulta a maturidade intelectual. O teatro tem a obrigação de mudar isso.


Show de Mario Lago chega a Valença


 
O show em homenagem ao multiartista Mário Lago, “Nas Águas do Lago - Causos e Canções de Mário Lago”, será realizado dia 27, às 21 horas, no Centro de Eventos Paulo Gomes. Ingressos Gratuítos. 
Músicas, poemas e histórias de Mário Lago compõem o show. O repertório inclui sambas, valsas e marchinhas, mesclando sucessos como Nada além, Amélia e Aurora a músicas menos conhecidas do público de hoje. 
Mariozinho Lago, Luiza Dionizio, Marquinhos China, Agrião e o Grupo Tempero Carioca - formado por Serginho Procópio (cavaquinho e voz), Marcelo Pizzotti (pandeiro e voz), Evandro Lima (violão e arranjos), Marquinho Basílio (surdo) e Pelé (percussão) estão em turnê há mais de dois meses. 
Já passaram por 21 cidades e a meta é chegar a 40 espetáculos até novembro com o fim de levar a obra de Mario Lago a onde o povo está e manter viva a memória do artista e comemorar o seu centenário de seu nascimento. 
“É um show alegre, que relembra a obra do multiartista que foi papai. Ao longo de seus 90 anos de vida, ele construiu uma extensa e admirada carreira como ator, compositor, radialista, escritor, poeta, autor de teatro, cinema, rádio e TV, frasista, militante sindical e ativista político, que nós procuramos mostrar no show”,revela Mariozinho.  
Projeto “Mário Lago, Homem do Século XX”– Os shows fazem parte do projeto Mário Lago, Homem do Século XX, iniciado em novembro de 2011, em comemoração ao centenário de nascimento do artista e que se estenderá até novembro deste ano. O projeto inclui uma série de atividades, como o lançamento de dois CD (Folias do Lago e Canções inéditas e Poemas musicados); a construção de um site (www.mariolago.com.br); a organização de uma exposição no Arquivo Nacional; a produção de um documentário abordando os principais personagens e momentos da vida e da obra de Mário Lago, e o relançamento de três livros autobiográficos (1º de abril, estórias para a História; Na rolança do tempo e Bagaço de beira-estrada). 
O espetáculo estreou no dia 9 de julho no Teatro Rival Petrobras, no Rio de Janeiro e já foi apresentado nos Festivais de Inverno, em Teresópolis e Nova Friburgo. Também, Campo Grande, Marechal Hermes, Maricá, Rio das Ostras, Mangaratiba, Duque de Caxias, Icaraí/ Niterói, Bom Jardim, Miguel Pereira, Paty de Alferes, Tanguá, Casimiro de Abreu, Cardoso Moreira, Três Rios, Queimados, Saquarema, Barra do Piraí e Engenheiro Paulo de Frontin . 
Próximos shows – Já estão agendadas mais apresentações em Iguaba Grande (09/11- sexta) e no Rio de Janeiro (20/11 – terça). 
O Show “Nas Águas do Lago” é patrocinado pelo Governo do Estado do Rio de Janeiro, Secretaria de Cultura do Estado, Correios, Petrobras, Ministério da Cultura, Lei Rouanet e Governo Federal e com apoio das Prefeituras locais.

SERVIÇO 
VALENÇA 
SHOW“NAS ÁGUAS DO LAGO- CAUSOS E CANÇÕES DE MÁRIO LAGO” 
DATA: 27/10 (sábado) – Valença 
LOCAL: Centro de Eventos Paulo Gomes. 
HORÁRIO: 21H 
CONTATO: Daniele – 24 88085166 
CLASSIFICAÇÃO: não recomendável para menores de 16anos. 
INGRESSOS: Gratuitos.

sábado, 27 de outubro de 2012

Graciliano Ramos, um escritor comunista


Graciliano Ramos
A retirada de Fabiano (Vidas Secas), no traço de João Pinheiro

Os 120 anos de Graciliano Ramos recebem o presente de O Velho Graça, a biografia de um dos nossos clássicos, que em boa hora a editora Boitempo acaba de reeditar. Se os adjetivos não estivessem tão gastos, diria que esse é um lançamento oportuno e necessário. Mas em atenção a Graciliano, procurarei evitar o excesso de qualificações. E vamos ao trabalho


Por Urariano Mota, especial para o Vermelho


Da velha edição que tenho comigo, de 1992, é que retiro os trechos e reflexões que reúno agora. A primeira delas é que deveria haver no momento uma suspensão das notícias que são um alarido de baixa animalidade, que fazem passar as horas em um vazio sem fim, como as fotos da nudez da última celebridade ou o arremedo de justiça dos astros do STF, porque neste ano, mais precisamente no sábado 27 de outubro, é aniversário de Graciliano Ramos. Diria Camões “cesse tudo o que a musa antiga canta”, mas em relação ao noticiário, que musa? Melhor, esse “que musa?” soaria aos ouvidos dos repórteres como um “que música?”. E para evitar a musa que se confunde com música, vamos ao primeiro trecho que destaco da biografia O Velho Graça, escrita por Dênis de Moraes: 

“Na safra, aparecerão A bagaceira, de José Américo de Almeida; Menino de engenho, de José Lins do Rego;O país do carnaval Cacau, de Jorge Amado; Os corumbas, de Armando Fontes; Casa-grande e senzala, de Gilberto Freyre.

Em artigo no Diário de Pernambuco, de 10 de março de 1935, sob o título O romance do Nordeste, (Graciliano Ramos) escreveu:

‘Era indispensável que os nossos romances não fossem escritos no Rio, por pessoas bem-intencionadas, sem dúvida, mas que nos desconheciam inteiramente. Hoje desapareceram os processo de pura criação literária. Em todos os livros do Nordeste, nota-se que os autores tiveram o cuidado de tornar a narrativa, não absolutamente verdadeira, mas verossímil. Ninguém se afasta do ambiente, ninguém confia demasiado na imaginação. (...) Esses escritores são políticos, são revolucionários, mas não deram a ideias nomes de pessoas: os seus personagens mexem-se, pensam como nós, sentem como nós, preparam as suas safras de açúcar, bebem cachaça, matam gente e vão para a cadeia, passam fome nos quartos sujos duma hospedaria.’”

Notem o quanto é impressionante como escritores tão distintos, José Lins, Graciliano Ramos, Jorge Amado, sem comunicação entre si, em estados e cidades diferentes, escrevam romances como se estivessem em um só movimento literário. Isso, que para os professores de cursinhos vestibulares, e até em certas cátedras universitárias, ganha feições de prato feito, é mais que coincidência. Esses homens inquietos não escreviam o que escreveram por método ou influência de escola estética. O que os unifica é o espírito do tempo, que no caso eram as ideias de esquerda, a influência socialista, o movimento comunista no Brasil, que refletia o eco de 1917, até mesmo em Palmeira dos Índios, onde vivia Graciliano. E neste ponto, de passagem, cabe uma brevíssima ponderação, que deixo para estudiosos mais capazes: pensa-se que a influência do partido comunista se deu em suas estritas fileiras, ou, de outro modo, nos tenentes e movimentos de massa e de operários. Nada mais inexato. A partir de 1930 a força das ideias socialistas se alastrou no Brasil entre comunistas organizados, comunistas de simpatia (mas simpatia é quase amor, diz um bloco do carnaval do Rio), socialistas, e, de modo geral, em artistas que refletiam o povo brasileiro como se manifestassem uma nova independência. De certo modo, de certo modo, não, de todos os modos, o pensamento que avançou entre nós, da ciência à literatura, recebeu a fecundação do diálogo com o mundo de esquerda. De passagem ainda, mas em outro lugar, deveria ser observada a influência desses escritores nordestinos sobre a literatura dos africanos que se libertaram de Portugal. 

No momento, chamo a atenção para o que me parece um engano, que por força do hábito se tornou um gênero de texto. Penso em Vidas Secas, livro sobre o qual a pesquisa de Dênis de Moraes informa: 

“Cem dias depois de ter sido posto em liberdade, Graciliano iniciaria um novo projeto literário. Escrevera um conto baseado no sacrifício de um cachorro, que presenciara, quando criança, no Sertão pernambucano... As opiniões favoráveis o incentivariam a prosseguir a história, esboçando o perfil dos donos de Baleia. 

O processo de composição do romance – o único que escreveu na terceira pessoa – seria, por razões de ordem financeira, dos mais originais da literatura brasileira. A conta da pensão e as despesas duplicadas com a vinda da família para o Rio o obrigariam a escrever os capítulos como se fossem contos. Era um artifício para ganhar dinheiro, publicando-os isoladamente em jornais e revistas, à medida que os produzia. Às vezes, republicaria o mesmo conto, com título alterado, em outros periódicos. Dos 13 capítulos, oito sairiam nas páginas de O Cruzeiro, O Jornal, Diário de Notícias, Folha de Minas Lanterna Verde, além deLa Prensa, de Buenos Aires...

Um romance desmontável, cujas peças podem ser destacadas para a leitura e seriadas de mais de uma maneira. Como telas de uma exposição que têm vida própria, independente dos demais”.

Mas Vidas Secas não é um romance! E as razões para isso vêm não só de ordem financeira, quero crer. Um romance exige – ainda que a sua realização seja rebelde a linhas de fronteira – algo mais que a repetição de personagens em diferentes relatos. Se assim fosse, A Comédia Humana, de Balzac, seria um só livro. No romance há uma organicidade de pessoas, digo, personagens, que crescem e se diluem em um destino em bloco. E de tal modo que as suas partes autônomas, ainda que seccionadas e vendidas como contos, ganham pleno sentido no conjunto. O todo é a iluminação do particular. O magnífico relato da cachorra Baleia, unido a páginas magistrais pelos personagens que o talento de Graciliano acrescentou, jamais teria unidade absoluta se pertencesse a um romance. Na verdade, Vidas Secas é uma vitória do gênio do escritor sobre as condições difíceis de tempo e lugar em que escreveu o livro, e o seu valor não cai nem um bilionésimo, quando se nota nele um exemplar conjunto de contos em vez de um romance. E aqui, sobre a genialidade do artista, em mais de uma página de sua biografia recebemos lições: 

“A qualidade essencial de quem escreve é a clareza, é dizer uma coisa que todos entendam da forma que você quis. Para escritor que é de ofício autodidata, isso custa anos, porque não está na gramática, nem em livro algum”.

Muito Bom!!!! é o comentário mais ponderado que me ocorre. Para o escritor que é de ofício autodidata, isso custa anos, porque não está na gramática, nem em livro algum, fala o mestre provado. Me acompanhem por favor: em que oficinas de literatura podem se formar escritores essenciais? Em que oficina de escritor se forma a vida? Em que oficinas, a seu modo laboratórios de bebês de proveta, se conseguirá a clareza que só a malhação fora das academias de todo tipo e gênero dá? Em que local se aprenderá a observação que o instinto e a mente e a experiência concebem? 

Em Graciliano Ramos, se o compreendemos bem, há uma teoria da arte, há uma teoria da literatura, há uma lição de sabedoria que deveria ser luz para todo escritor digno do nome. Todos, novos e velhos, escritores livres ou escravos ladinos. Como neste passo, do diário de Paulo Mercadante, citado em O Velho Graça

“Graciliano falou de sua experiência. Escrever é um lento aprendizado, que se estende pela vida, é alguma coia que exige concentração e paciência. Muita paciência mesmo. Não se trata apenas de saber a sintaxe, de dominar um grande vocabulário, mas de ser fiel à ideia e domá-la em termos de uma precisão formal. Por isso, a experiência é essencial, só escapando dessa condição o poeta. Talvez com relação ao escritor haja uma conjugação, Graciliano concluiu, da pessoa como individualidade, do ponto de vista de uma psicologia determinada com o meio onde cresceu e viveu”. 

Entendam. O entusiasmo ponderado acima não significa que da sua escrita venha uma norma, uma lei que diga a um homem que deseje “apenas” (!) expressar o seu pensamento: - olha, fora deste caminho nenhuma salvação é possível. Não é isso. Na literatura só existe um regra: não existe regra. Só existe uma maneira, de todas as maneiras. O reconhecimento da sua grandeza não implica a busca do caminho único da escrita escorreita, limpa e enxuta do mestre. Pois como ficaria a gordura de José Lins? Em que plano assomaria o bolero em forma de letras de Gabriel García Márquez? Ou os torneios vocabulares de Proust? E os delírios de matar de Gogol? Não. Trata-se apenas de retirar da experiência curtida, no sentido de pele enrugada de muitos sóis, de Graciliano aquilo que serve a gordos e magros, altos baixos, desbocados ou contidos. A saber: escrever é um lento aprendizado, que se estende pela vida, é alguma coia que exige concentração e paciência. Muita paciência mesmo. 

E aqui, sem sair do capítulo da excelência da sua escrita, e como nem tudo são flores, entramos em um terreno mais pedregoso. Entramos no embate político do mestre, dentro do partido e fora dele, no mesmo tempo, até como uma prova de que a vida partidária não é uma estufa. A sociedade e a história passam pelos partidos comunistas, onde quer que estejam. Refiro-me ao cume da obra de Graciliano Ramos, oMemórias do Cárcere. Para mim, a literatura política no Brasil tem um pico, cujo nome é Memórias do Cárcere. Até hoje, nada li melhor como retratos de homens comunistas no coletivo de um presídio. É curioso como até nas universidades não veem as Memórias como o melhor livro de Graciliano. Dizem: “não é ficção”, e com isso desprezam para a lata de lixo uma prosa madura, grande, de denúncia, porque “não é ficção”. Mas ela é tão boa ou melhor que a sua melhor ficção. Da primeira edição que tenho, da Livraria José Olympio em 1953, com fac-símiles do manuscrito e retrato do autor no desenho de Portinari, digitei com paciência há seis anos, para publicação no espanhol La Insignia, a página imortal que narra a deportação de Olga Prestes. Está aqui http://www.lainsignia.org/2006/septiembre/cul_014.htm 

Pois bem, essa obra não se fez sem conflitos os mais sérios, mais particularmente com Diógenes de Arruda Câmara, o homem que seguia com rigor, digamos, excessivo a disciplina partidária. Diz o livro: 

“Arruda pedira para folhear os originais de Memórias do Cárcere, aborrecendo-se, logo na primeira lauda, com a afirmação de que, no Estado Novo, ‘nunca tivemos censura prévia em arte’... No decorrer da reunião, cobrariam (Arruda, Astrojildo e Floriano Gonçalves) novamente a Graciliano o seu distanciamento do realismo socialista e a falta de vigor revolucionário de seus livros. Um dos presentes, em tom inflamado, diria que ele persistia num realismo crítico ultrapassado e citaria Jorge Amado como escritor empenhado em dar conteúdo participante a suas obras. Ao ouvir o nome de Jorge, Graciliano romperia o silêncio: 

- Admiro Jorge Amado, nada tenho contra ele, mas o que sei fazer é o que está nos meus livros”. 

Conta o livro que em outra oportunidade, anos antes desse dia, Diógenes, em uma reunião com escritores, entre os quais estavam Astrojildo Pereira, Dalcídio Jurandir, Osvaldo Peralva, e o próprio Graciliano, teria feito, segundo o biógrafo Dênis de Moraes, “uma apologia à literatura revolucionária, exigindo que os presentes se enquadrassem nos ditames zdanovistas. A certa altura, citaria como exemplo os poemas de Castro Alves, que a seu ver encaravam os problemas sociais numa perspectiva revolucionária. E o que era mais importante: com versos rimados” . 

E mais, em outro ponto da biografia:

“Em conversas posteriores com Heráclio Salles, ele enfatizaria a aversão ao romance panfletário.

- Nenhum livro do realismo socialista lhe agradou? – perguntaria o jornalista.

- Até o último que li, nenhum. Eu acho aquele negócio de tal ordem que não aceitei ler mais nada.

- Qual a principal objeção que o senhor faz?

- Esse troço não é literatura. A gente vai lendo aos trancos e barrancos as coisas que vêm da União Soviética, muito bem. De repente, o narrador diz: ‘O camarada Stálin...’ Ora porra! Isto no meio de um romance?! Tomei horror.

- Não seria possível purificar o estilo do realismo socialista?

- Não tem sentido. A literatura é revolucionária em essência, e não pelo estilo do panfleto.

Não é de se admirar, portanto, que não tolerasse as fórmulas emanadas de Moscou. Ao tomar conhecimento do informe de Zdanov sobre literatura e arte, esculhambaria:

- Informe? Eu gosto muito da palavra, porque informe é mesmo uma coisa informe.”

A relação de Graciliano Ramos com o PCB, nos últimos anos, é conflituosa, aqui e ali em aberta crise. Mas se destaca nessa relação, por isso mesmo, uma expressão de grandeza do escritor, que não deixou a sua escolha pelo comunismo, mesmo em luta contra a estreiteza da direção na época. Nessa biografia emerge um comunista à velha maneira, à maneira que julgamos clássica, modelar, diferente de comportamentos de algumas militâncias que tudo se permitem, desde que para isso alcancem o poder. Olhem só como agia, e no que agia ele era, o comunista Graciliano Ramos: 

“Recusava assinar artigos (no Correio da Manhã, onde trabalhava como revisor), alegando para os mais íntimos que não concordava com a linha editorial dos jornais burgueses. O máximo que admitia era colaborar com o suplemento literário. Relutava em aceitar aproximação maior com os proprietários doCorreio da Manhã, embora mantivesse uma relação cordial com Paulo Bittencourt (o patrão). A ortodoxia política o levaria ao exagero de não comparecer ao jantar pelo aniversário de Bittencourt. A José Condé, que passava a lista de adesões, afirmaria: 

- Não me sento à mesa com patrão. Todo patrão é filho da puta! O Paulo é o que menos conheço, mas é patrão. 

No dia seguinte, Bittencourt se queixaria: 

- Mas, Graciliano, como é que você me faz uma coisa dessas?

- Paulo, eu o repeito, mas você é patrão ...

- Mas eu sou um patrão diferente. 

- Não, Paulo. Todo patrão para mim é ..,

- ... filho da puta. Já sei que você xingou minha mãe. 

O comunista e o burguês acabariam rindo juntos. 

Paulo Bittencourt gostava de provocar Graciliano por suas ideias socialistas. Quando o Correio da Manhãrecebeu novas máquinas, Paulo o alfinetaria: 

- Imagine se vocês fizessem uma revolução e vencessem. Todo esse parque gráfico seria destruído. 

Graciliano o cortaria: 

- Só um burro ou um louco poderia pensar isto. Se fizéssemos a revolução e vencêssemos, só ia acontecer uma coisa. Em vez de você andar por aí, viajando pela Europa, gastando dinheiro com mulheres, teria que ficar sentadinho no seu canto trabalhando como todos nós”. 

Esse livro, O Velho Graça, tem uma característica até hoje pouco destacada. Em vez da pura leitura de uma biografia, desperta no leitor uma simpatia profunda pelo biografado. Nele Graciliano Ramos cresce como escritor em uma rara empatia, como um irmão mais que amigo, ou como um amigo mais que irmão. Enfim, como um camarada, fraterno, admirável. 


Ziraldo recebe homenagem pelos seus 80 anos neste sábado


Este fim de semana vai ser quase um Carnaval em Caratinga. A cidade mineira onde Ziraldo nasceu há 80 anos vai literalmente parar para celebrar o escritor e cartunista, autor do livro "O Menino Maluquinho". Neste sábado (27), às 17h, o monumento em homenagem ao Menino Maluquinho será oficialmente reinaugurado, após passar por restauração no começo do ano.




Depois Ziraldo vai receber uma homenagem em uma das escolas da Rede Doctum. As comemorações continuam pela noite, com a abertura de um Salão de Humor na Casa de Cultura de Caratinga.

Amanhã, domingo (28), a partir das 8h30, cerca de 5.000 crianças e adolescentes "maluquinhos" irão participar de um desfile pelas ruas da cidade, muitos com uma panela na cabeça. Haverá também um carro alegórico e um palanque para o escritor fazer um discurso.

"A Minha cidade é muito animada, tudo é motivo para festa", conta Ziraldo, que também nunca foi de recusar uma comemoração.

"Minha vida não mudou nada com a idade. Ainda faço tudo o que gosto. A minha prancheta é a mesma há 50 anos. O pincel tem pelo menos uns 40", conta.

O intenso fim de semana poderia deixar até mesmo um jovem exausto, mas na segunda Ziraldo já quer trabalhar logo cedo. Tem vários projetos em andamento, entre eles o livro "Os Meninos de Saturno", próximo projeto da série "Os Meninos do Espaço".

"Aposentadoria é o pior inimigo do homem, você tem que se ocupar, viver intensamente".

Fonte: Folha de São Paulo

Milton, Darcy e Graciliano: paixão pelo Brasil


O povo brasileiro
  

O final deste mês reluz com o aniversário de três ícones da cultura brasileira: os 70 anos de Milton Nascimento, os 90 de Darcy Ribeiro e os 120 de Graciliano Ramos. O que há de comum entre um músico, um cientista social e um romancista?


Por José Carlos Ruy 


Onde encontrar a semelhança entre dois ilustres aniversariantes desta sexta-feira, 26 de outubro? O antropólogo Darcy Ribeiro completaria 90 anos de idade no mesmo dia em que o músico Milton Nascimento faz 70, e na véspera em que outro totem da cultura nacional, Graciliano Ramos, emplacaria 120 anos de idade (em 27 de outubro). 


Graciliano, por Portinari

A lembrança do velho Graça, o escritor comunista gigante que escreveu Vidas Secas, São Bernardo, Angústia, Memória do Cárcere etc. está registrada no magnífico texto com que Urariano Mota comparece a esta edição. Mas acho que Graciliano - segundo a lenda avesso à poesia e à música -, compreenderia o desafio de entender como um antropólogo e um músico andam juntos, na mesma rota que ele, como escritor, percorreu - a paixão pelo Brasil e pelos brasileiros, o esforço para compreender suas contradições, desafios e esperanças.

Fazer deste lugar um bom país
Este registro está, na música de Milton Nascimento, em canções como Nos Bailes da Vida, ou Notícias do Brasil (ambas do álbum Caçador de Mim, de 1981), onde ele canta a busca do “caminho / que vai dar no sol”, pela “estrada de terra na boleia de caminhão” onde, com “a roupa encharcada e a alma / repleta de chão / todo artista tem de ir aonde o povo está” (Nos Bailes da Vida). 

Milton Nascimento

Ou lembra a notícia trazida pelo “vento que soprava lá no litoral”, vinda do Maranhão, de Fortaleza, Recife, Natal, ouvida em Belém, Manaus, João Pessoa, Teresina e Aracaju e que “lá do norte foi descendo pro Brasil Central”, chegando “em Minas” e batendo “bem lá no sul!”, mesmo sem ter dado “no rádio, no jornal ou na televisão”. Notícia que era uma afirmação, um protesto e um programa: “Aqui vive um povo que merece mais respeito! / Sabe, belo é o povo como é belo todo amor”, cujo “destino é um dia se juntar”. “tudo quanto é belo será sempre de espantar”, diz a canção. “Aqui vive um povo que cultiva a qualidade, / ser mais sábio que quem o quer governar!” O tom de denúncia prossegue numa afirmação nacional mais ampla do que a limitada percepção das elites conseguem alcançar. “A novidade é que o Brasil não é só litoral! / É muito mais, é muito mais que qualquer zona sul.”, com uma promessa: “Tem gente boa espalhada por esse Brasil, / que vai fazer desse lugar um bom país!” 

Milton Nascimento, e o parceiro Fernando Brandt, expunham um programa, premonitório para aquele já longínquo 1981 quando a crise da ditadura militar se aprofundava e o povo passava a tomar a história nas mãos no início da rota que levaria pelo menos mais duas décadas para ganhar poder político e começar a mexer com as estruturas do país. Era um programa claro, que toca os brasileiros e constrange a elite colonizada: “Ficar de frente para o mar, de costas pro Brasil, / não vai fazer desse lugar um bom país!”

70 anos de idade e mais de 50 de carreira (aos 13 anos já cantava em festas e bailes, e sua primeira gravação, a canção, Barulho de trem, é de 1962) fizeram de Milton Nascimento uma das estrelas mais brilhantes do céu cultural do Brasil, que ganhou reconhecimento nacional desde a explosão de Travessia(também com Fernando Brant) no Festival Internacional da Canção de 1967. 

Logo depois, em Belo Horizonte (onde fora estudar economa) ligou-se aos irmãos Marilton, Lô e Márcio Borges, grupo ao qual juntaram-se depois Tavinho Moura, Flavio Venturini, Beto Guedes, Fernando Brant, Toninho Horta. Seus encontros ocorriam na esquina das Ruas Divinópolis com Paraisópolis, em Belo Horizonte, onde se ouviu pela primeira vez clássicos como São Vicente, Cravo e Canela, Para Lennon e McCartney, ou Nada será como antes. “Clube” esse imortalizado em 1972 com o lançamento do álbum Clube da Esquina, que fincava, ao lado da bossa nova, da canção de protesto e do tropicalismo, uma criativa e inovador abandeira engajada na música brasileira.

Engajamento não só diretamente político, como mostrou Coração de Estudante (1983, com Wagner Tiso), que foi um hino informal da campanha pelas Diretas Já, em 1984: “Quero falar de uma coisa / Adivinha onde ela anda / Deve estar dentro do peito / Ou caminha pelo ar / Pode estar aqui do lado / Bem mais perto que pensamos”. 

Foi também um engajamento social, presente em Maria Maria (1978, com Fernando Brant) uma candente afirmação da luta pela igualdade da mulher e da luta antirracista: “Maria, Maria / É / um dom, uma certa magia / Uma força que nos alerta / Uma mulher que merece Viver e amar / Como outra qualquer / Do planeta”. Cuja luta é “a dose mais forte e lenta / De uma gente que rí / Quando deve chorar / E não vive, apenas aguenta”.

O escritor argelino Frantz Fanon, um clássico da denuncia do racismo, escreveu certa vez que o racismo sinalizado pela cor da pele não permitia ao negro fugir dele, ou disfarçar sua condição, forçando-o à luta pela afirmação da igualdade e pelo fim da iníqua opressão que ele significa. “Maria Maria” deu uma expressão poética a esta constatação: é preciso ter força, raça, gana para enfrentá-lo. É “preciso ter manha / É preciso ter graça / É preciso ter sonho sempre / Quem traz na pele essa marca / Possui a estranha mania / De ter fé na vida”.

Política, ciência, razões éticas e patriotismo
A música de Milton Nascimento é um registro artístico de questões que, nos escritos de Darcy Ribeiro, tiveram uma expressão científica. Eles representam uma visão renovada da história brasileira, ligada a um esforço militante para entender nosso país. 


Darcy Ribeiro

Como os melhores estudiosos de sua geração, Darcy Ribeiro parte também do desafio de compreender o subdesenvolvimento e, unindo teoria e prática, produzir obras teóricas para a intervenção política. 

No prefácio a Os brasileiros ele indaga, "essencialmente, por que uma nação tão populosa - a maior de todas as latinas e a segunda do Ocidente - e das mais ricas em recursos naturais, permanece subdesenvolvida e só é capaz de promover uma prosperidade de minorias, não generalizável ao grosso da população". 

Ao mesmo tempo, reconhece a "impotência do reformismo e a fragilidade das instituições políticas chamadas a defender os interesses nacionais e populares, em face do poderio dos interesses patronais e da alienação do patriciado político e militar que sempre governaram o Brasil". "O que me interessa", escreve, "é contribuir para que se instrumente o brasileiro comum com um discurso mais realista e mais convincente sobre o Brasil, a fim de mostrá-lo e capacitá-lo a atuar de forma mais urgente e mais eficaz na transformação da nossa sociedade", opção que reafirmou em um de seus últimos livros, O povo brasileiro, de 1995: "Faço política e faço ciência movido por razões éticas e por um fundo patriotismo". Este "é um livro que quer ser participante, que aspira influir sobre as pessoas, que aspira ajudar o Brasil a encontrar-se a si mesmo". Não há ainda, denuncia, uma compreensão clara "da história vivida, como necessária nas circunstâncias em que ocorreu, e um projeto alternativo de ordenação social, lucidamente formulado, que seja apoiado e adotado como seu pelas grandes maiorias" (ver trecho da introdução em http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_noticia=197396&id_secao=11).

Esta compreensão clara, Darcy Ribeiro a procurou em outras obras, como Os índios e a civilização (1970), um relato humanamente comovente e crú da extrema violência do massacre e extermínio das populações autoctónes. Ou em trabalhos como Os brasileiros (1ª edição: 1972, com o título Teoria do Brasil), ou As Américas e a civilização (1970), onde as habilidades de historiador e antropólogo se juntam para produzir uma descrição geral da evolução social não só do Brasil mas também dos demais países latino-americanos.

Darcy Ribeiro, mais radical que muitos de seus companheiros de geração, foi um democrata solidamente apoiado no marxismo e apaixonado pelo povo de sua terra. 

Uma de suas obsessões, pode-se dizer, foi a busca de um programa de desenvolvimento nacional autônomo e autossustentado, ligado às necessidades dos brasileiros, aos quais, aliás, esbanja simpatia, como deixa claro em O povo brasileiro, livro em que, fugindo dos maneirismos antropológicos tradicionais e do academicismo, tem no centro de sua análise a ação contraditória, sofrida, muitas vezes cruel, de europeus dominantes que reduziram ao trabalho forçado as populações autóctones ou africanos sequestrados em sua terra. Para ele, é a análise da luta do povo brasileiro que revela a natureza íntima do processo histórico em nosso país, com seus dois traços marcantes, o classista e o racial. Assim, se a estrutura de classes "desgarra e separa os brasileiros em componentes opostos", ao mesmo tempo ela unifica e articula, do lado de baixo, "como brasileiros, as imensas massas predominantemente escuras", como escreveu em O Povo Brasileiro

A confiança no povo, em sua capacidade de enfrentar e superar os graves desafios que a história lhe coloca, dá o tom otimista da obra de Darcy Ribeiro, e marca O povo brasileiro, ao lado da denúncia reiterada do descaso das elites pelo povo e pela nação. Como outros autores, ele pensa que a reordenação social do país poderia ser feita "sem convulsão social, por via de um reformismo democrático". Mas, conhecendo o caráter da elite brasileira, e ao contrário daqueles que temem a revolução, ele pensa também que essa mudança pacífica "é muitíssimo improvável neste país em que uns poucos milhares de grandes proprietários podem açambarcar a maior parte de seu território, compelindo milhões de trabalhadores a se urbanizarem para viver a vida famélica das favelas, por força da manutenção de umas velhas leis" (O Povo Brasileiro).

“Todo artista tem de ir aonde o povo está”, cantou Milton Nascimento; todo cientista precisa fazer o mesmo caminho, ensinou Darcy Ribeiro. Graciliano teria gostado: é a mesma estrada que ele percorreu nas obras clássicas que legou.

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Gafieira e dança de salão


Rosa Minine   

http://anovademocracia.com.br/98/10-a-CaioMonatte3.jpgMarginalizada no passado e depois de anos difíceis, quando quase acabou, a gafieira volta a ocupar um lugar de destaque nas noites do Rio, com cariocas de todas as idades descobrindo a dança de salão.

Disposto a ensinar o samba de gafieira e outras ritmos, o dançarino Caio Monatte divide o trabalho de professor em sua escola com as apresentações de sua companhia, formada por jovens, em festivais de dança pelo estado.
– A gafieira teve uma certa rejeição ao longo da sua história, principalmente porque, no seu princípio, era frequentada pelos considerados malandros, boêmios, e as mulheres da vida. Eram os operários, empregadas domésticas, pessoas de baixa renda. O samba já havia sido criado nos morros e favelas da cidade, por esse povo pobre, e acabou vindo para as gafieiras, surgindo assim o samba de gafieira – diz Caio.
– A escola Caio Monatte está situada aqui no tradicional bairro do Estácio, onde nasceu o samba. Por esse motivo damos bastante ênfase ao samba de gafieira, em ensinar essa dança tão brasileira. Mas é importante dizer que o trivial da dança de salão é o bolero, o soltinho e o samba, e tudo isso ensinamos aqui também. E tem mais coisas nesse universo, como forró, salsa, tango, e outros, igualmente importantes – afirma.
Caio fala que o samba de gafieira é algo muito específico, criado e dançado somente nas gafieiras.

A praça da arte


Rosa Minine   
http://anovademocracia.com.br/98/11-b-TeatroBoaPracaLeoCarnevale.jpg
Tendo como base o teatro de rua e o circo, o coletivo Boa Praça circula pelo Rio de Janeiro. Durante um ano ocupa uma praça da cidade, onde apresenta seus espetáculos e recebe convidados, cantadores, cordelistas, músicos, etc, além de realizar oficinas, palestras, bate-papos e debates nas adjacências. Atualmente ocupando uma arena no Morro Azul, comunidade da zona sul do Rio, o grupo se orgulha de unir a cidade com um espaço feito para as artes cênicas.
– O Boa Praça é uma instituição cultural teatral que surgiu há seis anos, quando um grupo de artistas se reuniu e criou um movimento de arte de rua no Rio de Janeiro. O projeto foi adiante com a ocupação de espaços públicos, trabalho em praças, jardins, espaços abertos – fala André Garcia Alvez, um dos fundadores.
– Atualmente somos três à frente do projeto: o artista Léo Carnavalle, a Cia 2 Banquinhos e a Cia Será o Benidito?! Realizamos uma gestão compartilhada, o que faz com que consigamos ampliar o diálogo com a sociedade, porque são três frentes, que em seu repertório, sua história, seu trabalho, se uniram em prol de um projeto maior – continua André, que faz parte do Será o Benidito?!.
Atualmente o Boa Praça desenvolve, na praça ocupada, uma programação de abril a novembro.
– Sempre no último domingo do mês temos as apresentações dos convidados, artistas, parceiros envolvidos com a arte de rua. E na sua adjacência desenvolvemos as oficinas, palestras, conversas, debates, ajudando a revitalizar o local e aquecê-lo artisticamente – expõe.
– No ano passado ocupamos o Méier [Zona Norte do Rio] e trabalhamos os bairros do entorno: Piedade, Lins, Cachambi. Este ano, por conta de falta de patrocínio, editais, não pudemos ocupar Marechal Hermes, como planejamos. Mas, como o nosso pensamento político é que o projeto não pode parar, pegamos nosso fundo de caixa, uma verba mínima que tínhamos, e ocupamos o Morro Azul, no bairro do Flamengo – conta.
– No morro tem uma arena de mais de vinte metros. Pensamos então em revitalizar, integrar esse espaço, que é feito para teatro, dentro do roteiro teatral da cidade. E o nosso grande ganho agora é ver os moradores da comunidade participando, e os moradores do asfalto subindo o morro para assistir aos espetáculos – declara.
André diz que no Boa Praça o importante para o grupo é trabalhar em prol da arte na cidade, com ou sem verba.
– Temos toda a autonomia que a rua nos dá para podermos atuar. Somos donos do nosso trabalho, basta irmos ao encontro do público e realizá-lo. Evidente que além dessa verba mínima que tínhamos guardado, contamos muito com o apoio e a parceria de amigos e artistas que participam do projeto mesmo com cachês irrisórios. Tem artista vindo do Piauí, São Paulo, Minas Gerais etc, se apresentar conosco, pagando a própria passagem – comenta.
– E mesmo em condições mínimas, continuamos realizando, gratuitamente, nossas oficinas diversas: gestão cultural, teatro de rua, perna de pau, palhaço, porque é importante manter esse espaço de desenvolvimento do saber – afirma.

ESPAÇO ABERTO PARA O ARTISTA

O Boa Praça, conta André, tem trabalhado com uma programação de circo e teatro de rua, e oferecido espaço para quem quer apresentar a sua arte. 
– Assim como temos o teatro, a dramaturgia pensada para a rua, nós temos também os espetáculos circenses que vão desde os acrobáticos, com malabares, até os de palhaço. E antes de qualquer apresentação principal temos meia hora, às vezes quarenta minutos, dependendo do dia, para que artistas apresentem seus números – conta.
– Aí aparece boneco, dança, música, performance, palhaço, cantador, cordelista. E o que mais tem nos deixado feliz é que as crianças do Morro Azul estão instigadas a apresentar alguma coisa. Estamos desenvolvendo oficinas com a comunidade para desenvolver essas crianças e inspirar o surgimento de novos artistas – continua.
– Para o próximo ano estamos negociando para entrar em Madureira ou Jacarepaguá e desenvolver nosso trabalho. Além disso estamos desenvolvendo, juntamente com outros artistas da cidade, o projeto Territórios Culturais, que  desenvolverá uma pesquisa de cadastramento, reconhecimento e pertencimento do artista para a arte pública – anuncia.
Além do Boa Praça, estão envolvidos no Territórios Culturais os coletivos Tá Ná Rua, Off-Sina, e Cia Brasileira de Mystérios e Novidades.
– Cada grupo vai trabalhar com uma praça e a sua adjacência, desenvolvendo a arte pública, de rua. O Boa Praça ficará com a Saens Peña, na Tijuca, o Tá Na Rua trabalhá a Lapa e o Centro, o Off-Sina ficou com o Largo do Machado, e o Cia Brasileira de Mystérios e Novidades com a Praça da Harmonia, que é na Gamboa –relata André.
– Nós quatro e outros artistas batalhamos muito pela Lei de Artista de Rua, já aprovada, que nos libera para apresentar nosso trabalho em qualquer espaço público, sem nenhum tipo de autorização prévia. Evidentemente respeitando lei do silêncio depois das 22hs, e outras desse tipo. Acredito que essa foi uma grande conquista que todos os artistas de rua conseguimos – conclui André Garcia Alvez.
O site www.boapraca.art.bra é o contato do coletivo Boa Praça.