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sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Universalizar serviços culturais é um desfaio para o Brasil




 Apenas 14% dos brasileiros vão ao cinema pelo menos uma vez por mês; 92% da população nunca frequentou museus; 93% nunca foram a exposições de arte, enquanto 78% nunca assistiram a um espetáculo de dança; 92% dos municípios brasileiros não têm cinema, teatro ou museu. 


Esses dados são do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e deixam claro o tamanho do desafio que o Brasil precisa enfrentar para, de fato, universalizar os serviços culturais, dar acesso e favorecer a produção fora dos grandes eixos econômicos.

A história brasileira sempre foi marcada pelo que podemos chamar de “concentração”. O dinheiro público sempre cai nas mãos das oligarquias e dos grandes conglomerados empresariais, sobretudo da indústria, do setor financeiro e da mídia. No setor cultural, essa concentração salta aos olhos ao analisarmos a Lei de Incentivo, mais conhecida por Lei Rouanet.

Criada em 1991, a lei estabeleceu mecanismos que possibilita empresas e cidadãos aplicarem uma parte do Imposto de Renda em ações culturais. Mas, se por um lado a lei estimulou uma indústria cultural que cresceu de mãos dadas com o meio empresarial, por outro fez com que toda a produção artística que não dialoga com o mercado ficasse excluída, sendo até hoje ameaçada pela falta de mecanismos estatais responsáveis por suprir os desafios da infraestrutura, da pesquisa e do acesso.

Em entrevista exclusiva ao The Brazilian Post, o cientista político e membro do Conselho Nacional de Políticas Culturais, Manoel de Souza Neto, falou sobre as origens da concentração das verbas culturais no Brasil, sobre a relação entre sociedade civil e governo, Lei Rouanet e possíveis soluções para o setor, como os Pontos de Cultura – iniciativa que busca democratizar o acesso à cultura por meio do incentivo da produção comunitária. Confira abaixo:

The Brazilian Post: O que estimulou e/ou ainda estimula a concentração das verbas de cultura no Brasil?

Manoel de Souza Neto: A Lei de Incentivo foi um instrumento criado com objetivo de prover produção e fruição cultural, mas foi rapidamente deturpada devido ao modelo neoliberal de Estado não interventor que se instalou no Brasil na década de 1990. Neste modelo o Estado lava as mãos e entrega ao mercado as decisões. A lei Rouanet é um instrumento de manutenção de poder e ferramenta de exclusão social. O modelo é excludente em si; esta é a própria função paradoxal das leis de incentivo que, ao incentivar a produção cultural, geram uma dicotomia entre cultura e mercado, favorecendo os campos econômicos e sociais privilegiados e agindo em detrimento das comunidades, etnias, artistas e culturas periféricas, justamente os que mais precisam.

As decisões são do mercado, o patrocinador; são sempre eles os maiores beneficiados e, graças ao sistema que só permite patrocínio de empresas com lucro presumido, somente grandes empresas são patrocinadoras; o restante vem do próprio governo. O mercado e o mundo publicitário assumem a forma de agentes intermediários do modelo, que de tão afunilado gerou uma moeda de troca ilegal, um cambio negro. Políticos, agências de publicidade, departamentos de marketing e captadores exigem comissões “extras” para liberarem recursos, tornando os fazedores de arte em pagadores de propina, criminalizando o artista, que acaba refém da “turma” instalada ao centro do poder.

A exclusão ocorre por via estrutural e linguística, regras que eliminam a ampla maioria por não deterem o conhecimento do campo cultural de mercado e de política, orçamentos, publicidade, serviços, por não terem como ocupar espaços privilegiados, por questões burocráticas, enfim, por não deterem redes de relações de poder. Se o ex-ministros da Cultura Gilberto Gil e Juca Ferreira tentaram apoiar um modelo de cultura em três dimensões – cidadã, econômica e simbólica -, a atual ministra Ana de Hollanda só fala em economia criativa e reforço das leis de direito autoral no sentido de dificultar o acesso. Os mesmos que não querem mudar a Lei de Incentivo também não querem mudar as regras da Lei de Direitos Autorais para uso na educação.

Como você avalia os 20 anos da Lei Rouanet e o que precisa ser mudado para que ela democratize o acesso à cultura?
Com o tempo a captação das leis se profissionalizou, democratizou em algum sentido a produção, mas em outro sentido ela descumpre a função de políticas públicas prevista na constituição, porque não garante o acesso, nem promove a diversidade cultural. Se por um lado a distribuição de recursos da Lei Rouanet já supera mais de 10 bilhões de reais desde a década de 1990, chegando na atualidade a mais de um bilhão de reais ao ano, de fato 95% dos patrocínios ainda vem das empresas do governo.

Muitos projetos importantes como preservação de museus, edição de livros, difusão de manifestações e atividades culturais foram apoiados, mas o saldo é negativo dada a concentração das verbas que geram ampliação das desigualdades sociais no território nacional. O problema se agrava com a questão da concentração de beneficiados por metro quadrado, já que os dados revelam que 80% das verbas ficam no eixo Rio-São Paulo. Célio Turino, ex-secretário do Ministério da Cultura nas gestões de Gil e Juca, vai além; repito aqui e faço das palavras dele as minhas: 3% do total dos proponentes de projetos culturais captam 50% dos patrocínios. Outros 20% de proponentes ficam com o restante dos recursos, sendo que quase 80% dos autores de propostas culturais a serem incentivadas nada captam. Uma concentração inacreditável, em que 3% significam menos de 100 pessoas, empresas ou instituições no país. Mesmo com o sucesso do cinema nacional, a produção gerada pela Lei de Incentivo não chega nem a 10% da população; e este dado é otimista, pois inclui um ou outro sucesso de bilheteria.

Quais medidas são exemplos bem sucedidos na tentativa de descentralizar os investimentos nessa área? Os Pontos de Cultura são uma dessas iniciativas?
Os Pontos de Cultura se tornaram um grande instrumento de descentralização de recursos, beneficiando mais de 2.000 pequenos equipamentos culturais direto nas comunidades. A própria gestão do Ministério da Cultura, com participação da sociedade civil, gerou o chamado emponderamento e governança através das esferas de participação, gerando pesos e contra pesos na fiscalização das políticas, através de colegiados e conselhos. Com isso não apenas ocorreu diálogo, mas também, através de conferências, conselhos, colegiados setoriais e encontros de culturas populares, mudanças nas relações entre sociedade civil e o governo, que passou de um ministério de poucos para um representante de toda a cultura brasileira. Mas isso somente até 2010.

No campo do orçamento, na última década, a criação do Fundo Nacional de Cultura, com fundos setoriais, gerou o estimulo para criação de fundos estaduais e municipais com objetivo de diminuir as distorções. O Sistema Nacional de Cultura em construção aproximou políticas públicas de cultura, desafogando as regiões ilhadas por visões arcaicas. Com o enfraquecimento do programa Pontos de Cultura, ocorreu um claro retrocesso, um rompimento de um projeto de governo.

Como a sociedade civil tem se organizado para estreitar o relacionamento com o governo nessa área?
O diálogo ocorreu em larga escala na gestão dos ex-ministros Gilberto Gil e Juca Ferreira, mas foi interrompido com a gestão de Ana de Hollanda. Nem o Conselho Nacional de Cultura (CNPC) consegue manter diálogo com a cúpula principal. Atualmente existe um clima de violência simbólica evidente no ar contra a sociedade civil. Durante da última década o Brasil pôde observar o avanço dos movimentos civis se organizaram fóruns, coletivos e outras organizações em todos os segmentos. A participação em colegiados, câmaras, conselhos, seminários e conferências mobilizou o Brasil ao redor do Ministério da Cultura. Infelizmente tudo isso está em risco porque existem outros tipos de mobilização de grupos de interesses.

Fonte: The Brazilian Post

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Teatro maia com 1.200 anos é encontrado no México


O INAH (Instituto Nacional de Antropologia e História do México) encontrou um teatro maia desativado há mais de mil anos em Ocosingo, no Estado de Chiapas. O anúncio da descoberta foi realizado na última terça-feira (28).


 teatro maia
 O teatro recém-descoberto no Estado de Chiapas, no México, era utilizado pela elite da sociedade maia por volta de 800 d.C / Foto: Divulgação.
Segundo o diretor do projeto de investigação no sítio arqueológico, Luis Alberto Martos López, apenas a elite da sociedade maia tinha acesso ao teatro, que poderia receber até 120 pessoas.

Era um local exclusivo, pois foi encontrado a 42 metros de altura em relação às praças do complexo”, afirmou Martos López.

A hipótese elaborada pelos arqueólogos é a de que uma dinastia assumiu o governo da região por volta de 800 d.C. e buscou a sua legitimidade, entre outras formas, por meio do teatro político.

De acordo com Martos López, “tudo indica que a dinastia não conseguiu se estabelecer por muito tempo e a cidade foi abandonada com violência” cerca de 200 anos depois.

Além de ser menor que os outros teatros maias, a principal diferença desse espaço é que ele se encontra dentro de um palácio. “As peças não eram só artísticas, mas também simbólicas e religiosas. As sociedades maias foram classificadas como ‘estados teatrais’, porque os governantes aproveitavam essas ocasiões para exercer seu poder publicamente.”

O local das escavações começou a ser ocupado por volta de 150 a.C, segundo a equipe de investigação do INAH.

Fonte: Opera Mundi

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Bumba-meu-boi


Grupos maranhenses recebem títulos de Patrimônio Cultural do Brasil, nesta quinta-feira

O Ministério da Cultura fará a entrega de títulos de Patrimônio Cultural Brasileiro aos grupos de Bumba-meu-boi do estado do Maranhão, nesta quinta-feira (30), a partir das 14h, no Teatro Alcione Nazaré, no Centro de São Luís. O evento é esperado desde o ano passado, quando a mais conhecida manifestação da cultura popular maranhense recebeu o título de Patrimônio Cultural do Brasil. A titulação será realizada como parte do II Fórum Bumba-meu-boi do Maranhão – Patrimônio Cultural do Brasil.
A solenidade contará com a presença da ministra da Cultura, Ana de Hollanda, da governadora do Maranhão, Roseana Sarney, do presidente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), Luiz Fernando de Almeida, da superintendente do Iphan-MA, Kátia Santos Bogea e da secretária de Estado da Cultura, Olga Simão.
Na ocasião será assinado o Termo de Cooperação Técnica para a Salvaguarda do Bumba-meu-boi, com a instalação do Comitê Gestor da Salvaguarda e o lançamento do vídeo São Marçal, A Festa dos Bois da Ilhae de uma cartilha com informações sobre o processo de instrução e benefícios do registro e as linhas de atuação para salvaguardar o Bumba-meu-boi. O Termo de Cooperação Técnica é a base legal para a instalação do Comitê Gestor e o desenvolvimento das ações de salvaguarda. O documento será assinado pelos órgãos públicos e entidades da sociedade civil.
Os títulos de Patrimônio Cultural do Brasil serão entregues aos grupos de Bumba-meu-boi, ao final do II Fórum, e homenageadas as pessoas que contribuíram para sua memória e preservação. Depois haverá apresentação de grupos dos vários sotaques – Baixada, Matraca, Orquestra, Zabumba e Costa de mão. Acesse aqui a programação do evento.
Complexo Cultural do Bumba-meu-boi do Maranhão
O Bumba-meu-boi é reconhecido como complexo cultural por se configurar numa grande celebração das expressões lúdicas presentes em muitas dimensões da vida social dos participantes. A manifestação envolve a devoção aos santos juninos São João, São Pedro e São Marçal. Uma celebração múltipla que congrega performances dramáticas, musicais e coreográficas, associadas aos bordados do boi e à confecção de instrumentos musicais artesanais. É apresentado como a morte e a ressurreição de um boi especial. As apresentações cômicas são feitas com grande participação do público e são entremeadas por toadas curtas contando a história sobre um boi precioso e querido pelo seu amo e pelos vaqueiros.
A história  – Pai Francisco, o escravo de confiança do patrão, mata e arranca a língua do boi para satisfazer os desejos de grávida de sua esposa, Mãe Catirina. O crime de Pai Francisco é descoberto e por isso ele é perseguido pelos vaqueiros da fazenda, caboclos guerreiros e os índios. Quando preso, são infligidos terríveis castigos e, para não morrer, Pai Francisco se vê forçado a ressuscitar o animal. É quando o doutor entra em cena para ajudar a trazer à vida o boi precioso, que, ao voltar, urra. Todos, então, cantam e dançam em comemoração.
(Texto: Ascom/MinC)
(Fotos: Edgar Rocha/Acervo Iphan)

Vivaleitura 2012 incentiva projetos de acesso fácil aos livros


A Fundação Biblioteca Nacional (FBN) lançou nesta segunda-feira (27) o edital do Prêmio Vivaleitura 2012, que nesta edição oferece um total de R$ 540 mil a projetos comprometidos com o fomento à mediação da leitura no país. As inscrições são gratuitas e estão abertas até o dia 1º de novembro a instituições públicas, privadas e comunitárias.


Serão premiados 18 projetos, cada um com R$ 30 mil. Criado em 2006 e com abrangência nacional, o Vivaleitura já reuniu mais de 13 mil iniciativas de incentivo à leitura. O prêmio é uma realização da FBN, com a coordenação e execução da Organização dos Estados Ibero-americanos para a Educação, a Ciência e a Cultura (OEI), em conjunto com o Ministério da Educação e parceria de outras instituições.

O Vivaleitura é dividido em três categorias. A primeira é destinada às bibliotecas públicas, privadas e comunitárias sem ligação com instituições de ensino. Trabalhos realizados em colégios públicos e particulares, sob a responsabilidade de docentes, diretores, coordenadores e bibliotecários, concorrem na categoria Escolas Públicas e Privadas.

Já a categoria Sociedade avalia projetos formais ou informais executados por bibliotecas ligadas a universidades, cidadãos vinculados a organizações não governamentais (ONGs) e instituições sociais.

Segundo a FBN, serão selecionados pela comissão organizadora do prêmio 18 projetos finalistas, seis em cada categoria, a serem contemplados cada um com prêmio no valor de R$ 30 mil. A cerimônia de premiação será realizada em dezembro.

As inscrições podem ser feitas via internet, no site, ou via postal, por carta registrada endereçada a Prêmio Vivaleitura/Fundação Biblioteca Nacional – Av. Rio Branco, 219 – Centro – Rio de Janeiro- RJ – CEP 20040-008. Os trabalhos enviados pelo correio deverão estar acompanhados da ficha de inscrição disponível no site, devidamente preenchida.

Fonte: Agência Brasil

domingo, 26 de agosto de 2012

Exposição mostra encanto e criatividade da cultura africana


Com abertura agendada para a próxima segunda-feira (27), a exposição Arte e Cultura Africana apresenta 130 peças, entre artefatos, quadros, móveis e esculturas do acervo de 19 embaixadas do Continente Africano no Brasil. A mostra marca o 24º aniversário da Fundação Cultural Palmares (FCP) e faz parte dos preparativos da Década dos Povos Afrodescendentes, que terá início em dezembro deste ano. Até o dia 6 de setembro, as obras podem ser vistas no Salão Negro do Ministério da Justiça, em Brasília.


Drielly Jardim
Exposição mostra encanto e criatividade da cultura africana
Máscara cedida pela Embaixada de Benin 
Para o presidente da Fundação Cultural Palmares, Eloi Ferreira de Araujo, a mostra consegue reunir o encanto e a criatividade da cultura africana. “A exposição fará com que a distância física imposta pelo Atlântico seja superada, aproximando assim as identidades que valorizam as culturas brasileira e africana”, afirma, “Com certeza, os visitantes vão ficar maravilhados”, garante.

O curador da exposição, Carlos Eduardo Trindade, explica que a exposição levará o público a um passeio panorâmico sobre as bases constitutivas da vida comunitária, do trabalho, do lazer, das relações familiares, da religiosidade e do cotidiano dos vários povos que formam a África. “A heterogeneidade das práticas culturais existentes em solo africano é marcante e, talvez, a principal contribuição ofertada pelos seus habitantes à humanidade”, conta.

A exposição Arte e Cultura Africana foi desenvolvida pelo Centro Nacional de Informação e Referência da Cultura Negra da Fundação Palmares e contará com peças que retratam a cultura de África do Sul, Angola, Argélia, Benin, Burkina Faso, Botsuana, Cabo Verde, Cameroun, Etiópia, Gana, Guiné-Bissau, Guiné Equatorial, Mauritânia, Marrocos, Moçambique, Nigéria, Sudão, Zâmbia e Zimbábue.

A arte africana reproduz os usos e costumes dos povos africanos. Nas pinturas, como nas esculturas, a caracterização da figura humana mostra uma preocupação com os valores morais e religiosos. A escultura, forma de arte muito usada pelos artistas africanos, utiliza-se de ouro, bronze e marfim como matérias primas. As máscaras são as mais conhecidas da plástica africana e constituem uma síntese dos vários elementos simbólicos. São confeccionadas em barro, marfim, metais, mas o material mais utilizado é a madeira.

Serviço:
Exposição Arte e Cultura Africana
Onde: Salão Negro do Ministério da Justiça – Esplanada dos Ministérios, Bloco T, Edifício Sede
Quando: De 27 de agosto a 6 de setembro de 2012 
Visitação: Segunda à sexta-feira, das 9h às 18h – Entrada franca

Rio de Janeiro vai catalogar toda a arte sacra do estado


Com um dos maiores acervos de arte sacra do Brasil, o estado do Rio de Janeiro deve terminar, até o início de 2013, o inventário de mais três regiões: serrana, Médio Paraíba e centro-sul.


O trabalho do Departamento de Bens Móveis e Integrados do Instituto Estadual do Patrimônio Cultural (Inepac) já foi concluído no norte e noroeste do estado e na Baixada Litorânea, resultando na publicação de dois livros. Até o início de 2014 deve ser feito o levantamento da Costa Verde e Baixada Fluminense, para, até o final de 2014, fazer o inventário da arte sacra da cidade do Rio de Janeiro.

O diretor do departamento, Rafael Azevedo, lembra que o trabalho começou em 2008, no interior do estado. “Estamos lidando com um acervo que é alvo de grande especulação e interesse dentro do mercado de arte do Brasil e fora do Brasil. Com isso, nós procuramos remediar essa perda silenciosa que a gente tem tido de acervos que são roubados ou furtados, que saem de maneira ilícita de alguns desses monumentos históricos do Rio”.

Azevedo explica que o trabalho é minucioso e começa com pesquisa em arquivos e documento, para saber onde ir e o que procurar. “Com a referência do que procurar, a equipe vai ao local e identifica o que realmente tem importância histórica, litúrgica, artística, estética, enfim, a equipe vai fazer esse diagnóstico e lança no sistema que nós temos online, para ser analisado pela equipe de escritório. Essa equipe do escritório faz uma revisão e aprofunda as análises estilísticas, iconográficas e ornamentais de cada peça”, diz o coordenador do projeto.

Rafael Azevedo lembra que um dos objetivos do trabalho é dar auxílio técnico e mapear os que locais precisam de ações emergenciais, para direcionar melhor as políticas de proteção em cada região.

O diretor do Inepac, Paulo Vidal, explica que, além da arte sacra, o órgão também está fazendo outros inventários, como o da arquitetura rural fluminense, principalmente nas fazendas do ciclo do café do vale fluminense, e também do patrimônio imaterial. Ele diz que o levantamento é o primeiro passo para proteger os bens culturais.

“O inventário é uma ação sistemática que o Inepac faz, em diversas áreas, e é a primeira etapa para possibilitar a posterior proteção dos bens culturais. São trabalhos que já vêm sendo feitos a longos anos, e que são a etapa de reconhecimento dos bens culturais existentes no nosso estado, e a primeira etapa então para a preparação de uma política de promoção e salvaguarda desses bens”.

O inventário está disponível para consulta no site www.artesacrafluminense.rj.gov.br.

Fonte: Agência Brasil

Nelson Rodrigues, o imortal na pátria de chuteiras


Nelson Rodrigues, que teria feito 100 anos nesta quinta feira (23) foi um craque do idioma, como Pelé e Garrincha foram da bola. Longe do "reacionário" que ficou ligado à sua imagems, ele falou ao coração do povo e uma de suas ferramentas para isso foi a crônica esportiva.


Por Urariano Mota


nelson rodrigues
Nelson Rodrigues
O pernambucano Nelson Rodrigues, desde o nascimento em uma sexta-feira 23 de agosto de 1912, atravessou muitas vidas e rostos. E contradições das mais diversas, entre elas até a sua origem de nascimento e natureza. Por exemplo, já aqui, escrevemos pernambucano, e nisso não vai qualquer despropósito para um escritor tido tantas vezes como carioca. Pois falam sempre de Nelson como um escritor do Rio pelos temas e formação, quando nada por haver chegado aos 4 anos à cidade do Rio de Janeiro. Vale então um brevíssimo intervalo para ouvir as suas palavras, quando respondeu a uma provocação do psicanalista Hélio Pellegrino:

“O que me ficou, a primeira relação que tive com a vida, a descoberta da vida, foi através do gosto de pitanga e de caju, na praia de Olinda. A primeira lembrança que tenho da minha passagem terrena é exatamente o gosto de pitanga e caju. Até hoje, quando eu como estas frutas, há aquele movimento proustiano, aquele retorno profundíssimo. Não só o gosto, mas o próprio cheiro do caju, quando passo nesses botecos onde fazem cajuada, tenho esta sensação e realmente volto à minha infância profunda... É claro, a primeira terra-mãe que tive foi Pernambuco, a segunda foi o Rio de Janeiro. Depois, quando saí da Tijuca para Copacabana, foi realmente uma aventura fabulosa, por causa do mar. O mar significava Olinda, a minha infância profunda. Portanto o mar significava a minha pátria, minha paisagem. Quero dizer que eu não mudei nada quando fiquei junto ao mar”.

 
Mas isso poderia ser mero acidente de percurso biográfico, digamos assim. Ou apenas boutade, fala espirituosa no ardor de uma conversa, puro gosto do paradoxo, como era do seu estilo e feição. Então passemos rápido, rápido como passamos rápido por uma cidade que não é nosso destino. De passagem, olhemos a referência mais ressaltada de Nelson Rodrigues até hoje, o texto dramatúrgico. Ora, o seu teatro exigiria um estudo além da frase exterior no palco, além da paisagem, do óbvio ululante, como diria ele. Penso que o seu teatro vem de um certo e tenebroso Pernambuco. Aqueles delírios patológicos dos personagens, aqueles conflitos fundos que sobem à cena, fazem parte da repressão sexual da casa-grande de Pernambuco. Das sinhazinhas e senhores escravocratas vêm aqueles incestos, paixões impossíveis dentro do lar mais suburbano. Aqueles devaneios à margem da sala de visitas não são bem a escolha de um escritor carioca à procura da originalidade. Vêm antes de uma herança espiritual de senhores de engenho que se espraiou pela gente do Recife. De um ponto de vista factual e do ser, a opressão dos engenhos acompanhou a família pernambucana de Nelson Rodrigues até o Rio de Janeiro. Ou como ele próprio confessou, na entrevista a Hélio Pellegrino, do tema que lhe veio em sua primeira tentativa literária:
 
“Na Escola Prudente de Moraes, houve um concurso de composição na aula. Era, se não me engano, o 4° ano primário, e ganhamos o concurso, eu e outro garoto. O outro garoto escreveu sobre um rajá que passeava montado num elefante e eu escrevi a história de um adultério que terminou com o marido esfaqueando a adúltera. Creio que a professora dividiu o prêmio com o outro garoto como concessão à moral vigente, porque ela ficou meio apavorada, em pânico, com a violência da minha A Vida Como Ela É... Eu era olhado pelas professoras como uma promessa de tarado.

Eu tenho uma experiência, aliás, já citei isso, a minha primeira experiência erótica é anterior à minha memória. Eu não me lembro de nada e este fato só foi referido muito posteriormente. Um dia apareceu lá em casa uma santa senhora, vizinha, mãe de uma menina de uns quatro anos, para dizer que qualquer filho de minha mãe poderia entrar na casa dela, menos eu. O negócio teve um tal toque de inocência e de pureza que eu não me lembro de nada. De vez em quando faço um esforço, começo a escavar na memória e não tenho a menor noção do que eu teria feito para justificar a ira da santa senhora. O meu ambiente familiar era, sob este aspecto erótico, de um grande rigor. Eu disse o meu primeiro palavrão aos doze anos de idade”.

 
Tão breve assim não podemos encarar o gênero de fantasmas e formação de Nelson Rodrigues. Então sejamos mais rápidos ainda em outra cidade, antes do nosso destino, que nos grita desde ontem, “aqui te aguardamos”. Fora do específico destas linhas tem que ser mencionado, pelo menos de passagem nestes seus 100 anos de nascimento, o seu declarado reacionarismo. Dele, Antonio Calado falou em uma entrevista no Pasquim em 1971: “Nelson é o grande clássico das Forças Armadas”. É claro, os militares usaram de Nelson Rodrigues o que lhes convinha – os ditos satíricos contra as passeatas, contra Mao Tsé-Tung, contra Dom Hélder Câmara, e tudo mais que insinuasse socialismo. É claro, ainda, os militares não foram nada simpáticos à subversão do seu teatro, porque “imoral, obsceno, pornográfico”, nem à sua fecunda e criadora paixão pelo futebol brasileiro, do qual iremos nos ocupar mais adiante. De passagem, por fim, anotemos que a vida, a vida mesma como ela é, se encarregou de jogar o escritor contra a sua sátira, quando o subversivo Nelson Rodrigues Filho foi preso e torturado. O filho do escritor que parecia ser simpático à ditadura acabou por ser condenado pelo regime a mais de 70 anos de prisão. 

Em carta publicada no Jornal do Brasil em 1979, Nelson Rodrigues se dirigiu ao ditador da República, João Batista Figueiredo, num tom que misturava lirismo e cáustica ironia, conforme seu estilo. E publicou o seu pedido de anistia: 

“Ora, um presidente não pode passar por um amanuense. Há uma anistia. Tem que ser uma anistia histórica. O que não é possível, presidente, é que seja uma anistia pela metade. Uma anistia que seja quase anistia. O senhor entende, presidente, que a terça parte de uma misericórdia, a décima parte de um perdão não tem sentido. Imagine o preso chegando à boca da cena para anunciar: – ‘Senhoras e senhores, comunico que fui quase anistiado’ ”.
 
Isso posto, mal posto, já se vê, porque fomos breves, chegamos afinal a nosso porto e destino. Neste ponto, copio a frase do grande Ivan Lima, quando começava a narração do futebol nos rádios recifenses: “Abrem-se as cortinas do espetáculo”. E nós víamos pelos olhos da imaginação o estádio de futebol com essas palavras. Agora, também se abrem as cortinas do espetáculo, porque Nelson Rodrigues foi, de longe, o maior e melhor e excelso gênio da literatura de futebol no Brasil. Disse tudo? Não, disse menos. Quero dizer: o sonho de todo escritor, o de ser lido pelas massas, discutido por elas, sem cair um só milímetro da sua dignidade artística, o sonho de escrever para todos, mas sem as quedas demagógicas de baixar o nível para falar aos trabalhadores, que nem servem ao povo nem à literatura, esse possível um dia Nelson Rodrigues conseguiu. Disse tudo? Menos ainda, porque devo dizer: não conheço, na literatura mundial, alguém que tenha sido tão magnífico quanto Nelson Rodrigues na crônica esportiva.

Ao parágrafo acima poderia ser comentado: assim fala quem é muito ignorante, porque não conhece a literatura de todo o mundo e se põe a exagerar em um aniversário de 100 anos. De fato, e aqui me ponho esperto entre os mais eruditos pelo fenômeno da redução, não conheço a literatura de todo o mundo. Mas bem posso me associar a uma cultura científica, que se inscreve na experiência mais humana: ninguém precisa entrar de corpo e pés nus na superfície do Sol para concluir que ali, caramba, o Sol é muito quente. Ou de outra maneira: as luzes que vêm da sombra de um quadro de Rembrandt nos indicam, na sensibilidade curtida, que estamos diante de um cume da visão do corpo humano. Porque existe uma universalidade no conhecimento que não precisa da quantidade estatística. Há uma excelência que absorvemos, e processamos no íntimo e nos leva a um reino de encanto que nos fazem dizer: caramba, aqui há um sol de humanidade. E como é luminoso. Se pensam que me engano, olhem e amaciem na boca feito fruta rara o que Nelson Rodrigues fez sobre um jogo de Pelé, antes de começar a Copa do Mundo de 1958. Antes. Para não dizê-lo um profeta, devo dizer: a sensibilidade, a genial arte de um escritor descobriu e revelou um fenômeno:

“Depois do jogo América x Santos seria um crime não fazer de Pelé o meu personagem da semana. Grande figura que o meu confrade Laurence chama de ‘o Domingos da Guia do ataque’. Examino a ficha de Pelé e tomo um susto: – 17 anos! Há certas idades que são aberrantes, inverossímeis. Uma delas é a de Pelé. Eu, com mais de 40, custo a crer que alguém possa ter 17 anos, jamais. Pois bem: – verdadeiro garoto, o meu personagem anda em campo com uma dessas autoridades irresistíveis e fatais. Dir-se-ia um rei, não sei se Lear, se ‘Imperador Jones’, se etíope. Racialmente perfeito, do seu peito parecem pender mantos invisíveis. Em suma: – ponham-no em qualquer rancho e sua majestade dinástica há de ofuscar toda a corte em derredor.
 
O que nós chamamos de realeza é, acima de tudo, um estado de alma. E Pelé leva sobre os demais jogadores uma vantagem considerável: – a de se sentir rei, da cabeça aos pés. Quando ele apanha a bola, e dribla um adversário é como quem enxota, quem escorraça um plebeu ignaro e piolhento. E o meu personagem tem uma tal sensação de superioridade que não faz cerimônia. Já lhe perguntaram: – “Quem é o maior meia do mundo?” Ele respondeu com a ênfase das certezas eternas: - “Eu.” Insistiram: – “Qual é o maior ponta do mundo?” E Pelé: – “Eu.” Em outro qualquer, esse desplante faria rir ou sorrir. Mas o fabuloso craque põe no que diz uma tal carga de convicção que ninguém reage e todos passam a admitir que ele seja, realmente, o maior de todas as posições. Nas pontas, nas meias e no centro, há de ser o mesmo, isto é, o incomparável Pelé.
 
Vejam o que ele fez, outro dia, no já referido América x Santos. Enfiou, e quase sempre pelo esforço pessoal, quatro gols em Pompéia. Sozinho, liquidou a partida, liquidou o América, monopolizou o placar. Ao meu lado, um americano doente estrebuchava: – “Vá jogar bem assim no diabo que o carregue!” De certa feita, foi, até, desmoralizante. Ainda no primeiro tempo, ele recebe o couro no meio do campo. Outro qualquer teria despachado. Pelé, não. Olha para frente e o caminho até o gol está entupido de adversários. Mas o homem resolve fazer tudo sozinho. Dribla o primeiro e o segundo. Vem-lhe, ao encalço, ferozmente, o terceiro, que, Pelé corta, sensacionalmente. Numa palavra: – sem passar a ninguém e sem ajuda de ninguém ele promoveu a destruição minuciosa e sádica da defesa rubra. Até que chegou um momento em que não havia mais ninguém para brilhar. Não existia uma defesa. Ou por outra: – a defesa estava indefesa. E, então, livre na área inimiga, Pelé achou que era demais driblar Pompéia e encaçapou de maneira genial e inapelável.

Ora, para fazer um gol assim não basta apenas o simples e puro futebol. É preciso algo mais, ou seja, essa plenitude de confiança, de certeza, de otimismo que faz de Pelé o craque imbatível. Quero crer que a sua maior virtude seja, justamente, a imodéstia absoluta. Põe-se por cima de tudo e de todos. E acaba intimidando a própria bola, que vem aos seus pés uma lambida docilidade de cadelinha. Hoje, até uma cambaxirra sabe que Pelé é imprescindível na formação de qualquer escrete. Na Suécia, ele não tremerá de ninguém. Há de olhar os húngaros, os ingleses, os russos de alto a baixo. Não se inferiorizará diante de ninguém. E é dessa atitude viril e, mesmo, insolente de que precisamos. Sim, amigos: – aposto minha cabeça como Pelé vai achar todos os nossos adversários uns pernas-de-pau.
 

Por que perdemos, na Suíça, para a Hungria? Examinem a fotografia de um e outro times entrando em campo. Enquanto os húngaros erguem o rosto, olham duro, empinam o peito, nós baixamos a cabeça e quase babamos de humildade. Esse flagrante, por si só, antecipa e elucida a derrota. Com Pelé no time, e outros como ele, ninguém irá para a Suécia com a alma dos vira-latas. Os outros é que tremerão diante de nós”.

 

Abril de 1958: Pelé estreia, na Copa da Suécia, no jogo Brasil 2 x Rússia 0
 
Isso se deu em crônica de março de 1958. Poderia ser contraposto, retirada a previsão óbvia (como um ovo de Colombo), nada existe de magnífico na crônica que dá pela primeira vez o lugar de Rei para Pelé, antes da consagração mundial. Ela é algo assim como o primeiro nu frontal do cinema quando visto 100 anos depois. Que banal, poderia ser dito. Então avancemos mais fundo e certeiro. Tenho diante de mim o livro O Berro Impresso das Manchetes, que reúne as crônicas completas de Nelson Rodrigues na Manchete Esportiva, de 1955 a 1959. A tendência, de um leitor atento, se a gente não se cuida, é de sair grifando frases, crônicas inteiras. Se a epifania de Pelé antes do reconhecimento universal não causar espanto, olhem, mastiguem lento e com calma o que Nelson escreveu sobre Garrincha:

“Nos acrobatas chineses o que existe é o esforço, é a técnica, é o virtuosismo, ao passo que Garrincha é puro instinto. Possui uma riqueza instintiva que lhe dá absoluto destaque sobre os demais. Até Deus, lá do alto, há de admirar-se e há de concluir: - ‘Esse Garrincha é o maior!’. O ‘seu’ Mané não trata a bola a pontapés como fazem os outros. Não. Ele cultiva a bola, como se fosse uma orquídea rara”.

 

Garrincha e sua "orquídea rara"
 
Cultivar a bola como uma orquídea rara – isso já deixou de ser futebol e penetrou na delicadeza da arte, no mesmo passo em que vemos a fina e macia pétala que se toca com a percepção da vida fugaz. Mas é uma bola. É uma crônica. Nesta altura eu me sinto um escritor absolutamente desnecessário. O que disser parecerá acento circunflexo sobre o céu azul. Pode? Ser leitor dessas crônicas é tão agradável, que nossa única transmissão possível é copiá-la em trechos, porque o tempo urgente não permite a cópia inteira, o que seria um serviço de utilidade pública e educação estética. É irresistível.

Em O craque sem idade: 
“A bola tem um instinto clarividente e infalível que a faz encontrar e acompanhar o verdadeiro craque. Foi o que aconteceu: — a pelota não largou Zizinho, a pelota o farejava e seguia com uma fidelidade de cadelinha ao seu dono. (Sim, amigos: — há na bola uma alma de cachorra.) 
 
No fim de certo tempo, tínhamos a ilusão de que só Zizinho jogava. Deixara de ser um espetáculo de 22 homens, mais o juiz e os bandeirinhas. Zizinho triturava os outros ou, ainda, Zizinho afundava os outros numa sombra irremediável. Eis o fato: — a partida foi um show pessoal e intransferível.”

 
Em Vitória Fla-Flu:
“O arqueiro Calos Alberto, que chegara a encostar a mão na bola, caiu de joelhos e, assim ficou, de joelhos e atônito, por muito tempo. Dir-se-ia que o gol de Índio era um altar, diante do qual ele se prostrava”.
 

Em O desfigurado Fluminense: 
“A batalha definiu-se, contra o Fluminense, no primeiro minuto. Minto: nos primeiros trinta segundos, exatamente. Vejam vocês: - trinta segundos bastaram para liquidar o líder de sete dias. Mas examinemos o lance fatal. Foi assim: - na primeira carga do Bangu, Zizinho, de fora da área, atira. Foi, sem dúvida, um tiro violento. Mas, de longe, muito longe. Que fez Castilho? Apenas isto: - apanha a bola e larga. Devia, em seguida, agarrá-la, de novo. E, no entanto, o arqueiro tricolor parou, ficou só espiando. Conclusão: veio Wilson e empurrou, docemente. Era o primeiro gol do Bangu e, ao mesmo tempo, a derrota do Fluminense”.

 
Em Derrota brasileira:  
“Sábado, enquanto o Fluminense perdia no Pacaembu, eu assistia, no Maracanã pequeno, à luta Carlson x Leão de Portugal. E, então, o locutor do estádio, Jayme Ferreira, começou a anunciar os gols do Honved – primeiro, segundo, terceiro, quarto, cinco, meia dúzia...”

 
E aqui, me permitam por favor um parêntese no céu azul. Nelson Rodrigues fala de jogos a que não assistiu. E o leitor, se nota, não sente a falta da presença física do repórter. Onde já se viu isso na imprensa esportiva do mundo? Ele acha pouco e na crônica da semana seguinte, sob o título genial de A Derrota Triunfalescreve: 

 
“O que mais admira, em nós, jornalistas, é a desenvolta irresponsabilidade com que escrevemos as nossas barbaridades. Por exemplo: a propósito do jogo Flamengo x Honved, um matutino de domingo escreve o seguinte: - ‘depois do segundo tento, o calor tomou conta da rapaziada magiar...’ Leio isso e mergulho numa desesperada meditação. Cabem duas perguntas. Primeira – ‘Só fazia calor para os húngaros e para o Flamengo, não?’ Segunda: - ‘Antes do segundo tento, fazia frio no Maracanã, nevava no Maracanã?’ ... Eu compreendo que a temporada húngara induz qualquer um a ser idiota. Façamos, porém, uma tentativa de inteligência. E, então, chegaremos à visão certa da batalha de sábado. É a seguinte: - não foi o Honved que venceu o Flamengo por 3 x 2. Foi o Flamengo que venceu o Honved por 2 x 3”.
 

Essa crônica esportiva, de gênero que os espanhóis diriam ser esquisito, e aqui recupero pelos sentidos de muito bom e raro, esse texto de Nelson a gente absorve com um prazer e com um sorriso, que posto na face não se desgruda mais, durante as sucessivas crônicas do livro. Como é que ele conseguia escrever tão bem, no meio de uma redação barulhenta, sob os tiros de mais de 40 metralhadoras das máquinas de escrever, e nuvens de cigarros, e gritos, e piadas, e explosões de raiva e confusão? Penso que seria como fazer amor em meio às arquibancadas de um estádio durante um Fla x Flu. Vocês já veem que a gente lê Nelson Rodrigues e fica meio contaminado pelo espírito dele.

 
“Os passes de Didi! São precisos, exatos, irretocáveis como um soneto antigo. Direi mais, se me permitem a comparação: - Didi é a mãe dos pernas-de-pau. Quantos companheiros vivem, e sobrevivem, à sua sombra? Ele não depende de ninguém e quantos dependem dele? Ao lado de Didi, o perna-de-pau já o é muito menos”.

 
Ele – Nelson Rodrigues em seus craques - arranca graça e humor em frases que guardam sempre os mesmos recursos, imagens, mas ainda assim surpreendem. Ele na crônica escrevia à semelhança de Garrincha, que driblava para um só lado, e todos sabiam qual, mas ainda assim eram surpreendidos. Nelson usa sempre o exagero, as expressões mais despudoradas, melodramáticas, truques de circo na hipérbole, com o maior despudor e cinismo, mas ainda assim o leitor era, é driblado, assim como os marcadores de Garrincha. Que encanto! Com a diferença que a gente é driblado, mas não se frustra, porque enche o peito da gente de felicidade.

 
“Olhem Pelé, examinem suas fotografias e caiam das nuvens. É, de fato, um menino, um garoto. Se quisesse entrar num filme da Brigitte Bardot, seria barrado, seria enxotado. Mas reparem: é um gênio indubitável. Digo e repito: gênio. Pelé podia virar-se para Miguel Ângelo, Homero ou Dante e cumprimentá-los, com íntima efusão: ‘Como vai, colega?’”.

 
Na verdade, mesmo sem o seu teatro, Nelson Rodrigues seria imortal, se permitem mais um acento circunflexo no mar de suas crônicas. Dele pode ser dito o mesmo que ele escreveu sobre o romancista José Lins do Rego:

 
“Morto e, no entanto, parece mais vivo do que muitos que andam por aí, que circulam, que batem nas nossas costas e contam piadas. Não resta dúvida que ‘morrer’ significa, em última análise, um pouco de vocação. Já falei nos vivos tão pouco militantes que temos vontade de lhes enviar coroas ou de lhes atirar na cara a última pá de cal. Esses têm, sim, a vocação da morte. 
 
Fomos, todos, enterrá-lo no chão muito doce de São João Batista. Mas é como se não existisse a mínima relação entre o funeral e Zé Lins, entre o caixão e o grande romancista.”

 
No país das chuteiras, ninguém escreveu sobre o futebol com tanta graça e gênio quanto ele. Descobrimos ao fim de cem anos.

Diogo Nogueira: Cuba tem muitas lições a nos dar


Filho do mestre João Nogueira (1941-2000), o carioca Diogo Nogueira, 31 anos, até tentou ser jogador de futebol. O DNA acabou falando mais alto e o talentoso cantor, que tem quatro vitórias consecutivas no concurso de sambas-enredos da Portela, não para de acumular façanhas desde que lançou seu primeiro disco, em 2007. 


 diogo nogueira

Já são 400 mil cópias vendidas - entre CDs e DVDs -, sete canções em novelas, um Grammy Latino de melhor álbum de samba e um programa como apresentador na TV Brasil: Samba na Gamboa. Agora, ele lança um DVD gravado em Cuba e homenageia o pai com o Sambabook João Nogueira, projeto grandioso que reúne Blu-Ray, DVD, dois CDs, livro e um fichário com 60 partituras. Confira entrevista com o esperto flamenguista Diogo Nogueira.

Correio 24 Horas: Como surgiu a ideia de fazer um show em Havana e transformá-lo em DVD? O que te fascina na cultura cubana?
Diogo Nogueira: Recebi um convite para fazer um show na Fihav (Feira Internacional de Havana), em novembro. Fiz questão de levar a minha banda completa e também os músicos que vêm me acompanhando. Pouco depois do convite, tivemos a ideia de registrar a passagem por Cuba e, em apenas dez dias, montamos esse show. Quando voltamos pro Brasil, apresentei a gravação do show e também o DOC.Show pro pessoal da EMI, minha gravadora, que se empolgou com o projeto e nos deu o maior apoio para o lançamento. Cuba é um dos países mais musicais do mundo. Temos muitas semelhanças culturais, mas Cuba tem uma riqueza em sua música que sempre me fascinou.

Correio 24 Horas: EUA, Brasil e Cuba são os países americanos com grande riqueza musical popular. Imagino que você desejasse ter a participação especial de alguns grupos lendários de Havana. Por que a opção pelos Los Van Van e como foi a experiência?

Diogo Nogueira: Los Van Van é um dos grupos mais tradicionais da música cubana e foi maravilhoso contar com eles no projeto. Cantamos El Cuarto de Tula, sucesso gravado pelo Buena Vista Social Club. Na época, pensamos em convidar a grande cantora Omara Portuondo, mas ela estava exatamente no Brasil na mesma ocasião em que fomos para Cuba.

Correio 24 Horas: E, politicamente, você tem uma opinião sobre a realidade cubana?
Diogo Nogueira: Acho que Cuba tem muitas lições para nos dar, em vários aspectos. Nos quatro dias que fiquei em Havana conheci um povo sofrido, lutador, mas feliz, consciente, e que sabe dar valor a tudo que tem. Isso mexeu comigo, ver que é possível ser feliz com pouco, com o básico. Esse é um exemplo no qual deveríamos refletir. Vivemos em um mundo consumista e nada nos satisfaz. Isso é que é ser livre? Acho que eles estão encontrando os caminhos para avanços e transformações em prol de uma vida cada vez melhor.

Correio 24 Horas:
 Você é um artista vitorioso desde sua estreia-solo, em 2007, e mesmo antes já fazia sucesso entre os compositores da Portela. A influência e a grandeza da obra do seu pai, João Nogueira, foram fundamentais para você se tornar um músico? Quando caiu a ficha que isso era o que você queria ser na vida?Diogo Nogueira: Com certeza, meu pai foi fundamental na minha formação. Ele sempre foi uma importante referência para mim, tanto nas artes quanto em tudo na minha vida. Mas nunca havia refletido sobre isso até me tornar cantor e ver que as escolhas que fiz, os caminhos que busquei, tinham total relação com tudo que aprendi com ele. Eu não queria ser cantor. Como era mais novo, queria mesmo era ser jogador de futebol. Mas a vida me tirou dos campos e me colocou nos palcos... E hoje sou muito feliz com o que faço.

Correio 24 Horas: Por falar nisso, você chegou a temer comparações com seu pai - ou sempre tirou isso de letra?
Diogo Nogueira: Não deu muito tempo para temer nada. Foi tudo muito rápido e sempre lidei com muita naturalidade, deixando as coisas acontecerem espontaneamente. Desde quando comecei a cantar, a fazer shows, nunca me preocupei em ser comparado ao João. Quando isso acontecia, até me sentia feliz, pois ser comparado a um cara tão importante para a nossa música é um privilégio. Mas levo a vida com a mesma naturalidade de sempre, buscando fazer o que gosto, o que sei, da minha forma, do meu jeito... E hoje em dia todos sabem diferenciar o João do Diogo, e o Diogo do João.

Correio 24 Horas: Sua formação é de samba tradicional. O que você acha do samba “romântico e pop” que ganhou força a partir dos anos 90 com vários grupos? E do pagode baiano de grupos como É o Tchan!, Harmonia do Samba e Psirico? Tudo é samba, variedade de um mesmo gênero?
Diogo Nogueira: Acho que tudo isso é música popular brasileira. O que diferencia mesmo as coisas é a qualidade. Tem música boa e música ruim. A grande verdade é que tem espaço para todo mundo e precisamos saber respeitar a onda de cada um.

Correio 24 Horas: Você mergulhou no cancioneiro do seu pai para fazer o Sambabook João Nogueira. Fale desse reencontro com parte essencial de sua própria história.
Diogo Nogueira: O Sambabook é um projeto do qual me orgulho muito. A ideia surgiu de uma conversa minha com meu empresário, Afonso Carvalho, para homenagear os 70 anos que o João Nogueira teria feito, se estivesse vivo, em 2011. Reunimos um time de bambas, tanto na banda, quanto no elenco que interpretou as grandes obras do velho João. Tive a oportunidade de relembrar fatos, músicas esquecidas, obras fantásticas que chegam agora para as novas gerações em forma de livro, DVD, CD e fichário com as partituras das principais obras dele. Estou muito orgulhoso de ter participado e produzido esse projeto. João merece. E nós também.

Comunistas em defesa da literatura e da poesia


Jamil Murad
Jamil propõe Programa Permanente de Incentivo à Leitura.

Jamil Murad, Cida Pedrosa e Inácio Arruda apresentam iniciativas de apoio à manifestação artística e cultural


Por Claudio Daniel (*)


Jamil Murad, médico nascido na cidade de José Bonifácio, no interior paulista, descendente de imigrantes árabes, ingressou no PCdoB em 1968, quando era estudante na Faculdade de Medicina da USP, no auge da ditadura militar. Desde 1991, quando ocupou o seu primeiro cargo público, como deputado estadual, Jamil tem apoiado as lutas da população brasileira pela democracia, pelo direito à saúde pública de qualidade, pela valorização da educação, da ciência e da tecnologia. 

Como vereador na Câmara Municipal de São Paulo, Jamil protocolou neste ano um importante projeto de lei: o Programa Permanente de Incentivo à Leitura. Ao justificar seu projeto, o parlamentar comunista, que considera a literatura essencial para a formação da cultura de um país, defendeu que “ela colabora para o desenvolvimento das capacidades de imaginação, percepção, reflexão e criatividade; mantém vivos o idioma pátrio e os processos comunicativos e promove a formação crítica e histórica do cidadão”. Segundo o vereador, “a literatura de um país é patrimônio valioso de todos os cidadãos. Facilitar o acesso à produção literária é fortalecer um direito da comunidade e contribuir para o desenvolvimento da sociedade”. Num país como o Brasil, onde os índices de alfabetização e de leitura ainda são preocupantes, “é vital que os estados e municípios invistam em políticas públicas para a formação de leitores, incluindo todos os segmentos da cadeia produtiva da literatura e do livro – a saber, autores, editoras, livrarias, bibliotecas, escolas e outras instituições de educação e cultura”, enfatiza (o projeto pode ser lido na íntegra na página http://www.jamilmurad.com.br/site/component/content/article/1-noticias/621-projeto-incentivo-leitura.html). 

Em apoio à iniciativa do vereador, poetas e escritores brasileiros como Claudio Daniel, Dora Dimolitsas, Sílvia Nogueira e Lélia Maria Romero se reuniram com o parlamentar em seu gabinete e divulgaram uma petição on line que já soma 125 assinaturas (http://www.peticaopublica.com.br/?pi=PCDOB12). Um dos signatários, Júlio Leocadio Tavares das Chagas, que é diretor de cultura da prefeitura municipal de Diadema, registrou o seguinte comentário: "Estamos desenvolvendo junto com o Sindicato dos Metalúrgicos e o Ministério da Cultura o programa Leitura nas Fábricas, já implantado em mais de 20 fábricas em Diadema, São Bernardo, Ribeirão Pires e Salvador (Bahia). Estamos totalmente de acordo com a proposta apresentada pelo vereador". No Facebook, foi criado um grupo aberto de apoio ao projeto, chamado Movimento Literatura para Todos, com 305 membros, e está sendo organizada uma caravana de escritores para acompanhar a votação do projeto, prevista para acontecer até o final do ano.

Cida Pedrosa: mulher, poeta e comunista

Em Recife, Cida Pedrosa, candidata à vereadora pelo Partido Comunista do Brasil, tem recebido o apoio de poetas e escritores às suas propostas, que estão focadas na defesa da educação, da cultura e nos direitos humanos, especialmente a questão feminina. Em entrevista já publicada no Portal Vermelho, Cida fala da importância de se revolucionar o ensino de artes nas escolas públicas. Diz a escritora comunista: “Eu acho que a escola trata muito mal a questão da cultura, que é vista como entretenimento. A maioria dos professores que dão arte não são pessoas que tiveram formação artística. É dada de forma chata, de forma pouco intelectualizada. No máximo dão um bocado de lápis de cor pros meninos pintarem. Então eu acho que duas coisas inseparáveis são educação e cultura, mas infelizmente nem a nossa escola está preparada pra absorver, e nem o MEC eu acho que esteja pensando nisso, faz um discurso, mas na prática não resolve. Por exemplo, tem uma lei que diz ser obrigatório o ensino de educação musical. Essa lei devia ter sido implementada há dois anos. Eu não acho que esse tema venha sendo tratada de forma correta. E tenho uma coisa mais pra dizer: eu acho que quem deve dar aula de cultura é quem faz cultura. Então se vai dar aula de poesia, quem tem que dar essa aula é o poeta, não pode ser professor que estudou Letras. Quem tem que dar aula de prosa é escritor que escreve prosa. Quem tem que dar aula de artes plásticas é pintor. Quem tem que dar aula é quem aprendeu o ofício, é quem recebeu o dom, seja de Deus ou do Diabo. A gente não pode botar uma pessoa que apenas aprendeu técnica pra dar aula do que ela não sente e nem sabe”. Educação e cultura não são universos distantes, ao contrário, é na escola que a criança tem o seu primeiro contato com as artes, daí a importância de propostas como as defendidas por Jamil Murad e Cida Pedrosa, que poderiam ser implantadas em todo o país. Seria uma revolução cultural, com reflexos a longo prazo na construção de um novo Brasil.

Inácio Arruda e a Bolsa-Artista

Candidato à prefeitura de Fortaleza pelo PCdoB, o senador Inácio Arruda é autor do projeto que criou a Bolsa-Artista, aprovada neste ano pelo Senado Federal (PLS 404/2011). De acordo com a nova lei, artistas amadores ou em processo de formação nas áreas da literatura, música, teatro, dança, cinema, artes visuais e audiovisuais poderão concorrer ao benefício, custeado pelo Ministério da Cultura. A concessão da bolsa levará em consideração “o pluralismo de ideias e a preservação da diversidade cultural”, como ressaltou o senador comunista. Os candidatos à bolsa devem ser maiores de 12 anos, com o ensino médio concluído ou matriculados em escolas da rede pública ou privada. Eles também não poderão ser beneficiários de qualquer outro programa governamental de formação profissional na área da cultura. A Bolsa-Artista será concedida por um ano, em doze parcelas mensais. Vale a pena recordarmos que, nos Jogos Olímpicos de 2012, a primeira medalha de ouro do Brasil foi conquistada por uma judoca que recebeu um benefício semelhante, oferecido pelo Ministério do Esporte: a Bolsa-Atleta. 

Estas iniciativas de apoio à manifestação artística apresentadas pelos parlamentares do Partido Comunista do Brasil remetem a um passado não muito distante, em que escritores como Jorge Amado, Graciliano Ramos e Patrícia Galvão (Pagu), além de artistas plásticos como Candido Portinari militavam em nosso partido, que luta pela democracia, pela independência nacional e pelo socialismo e também pela democratização do acesso à cultura, um direito de todos os cidadãos brasileiros.

(*) Claudio Daniel é poeta, mestre em Literatura Portuguesa pela Universidade de São Paulo, editor da revista literária Zunái (www.revistazunai.com) e militante do PCdoB.

sábado, 25 de agosto de 2012

Exposição do artista Segall


Obras produzidas entre 1910 e 1956 são expostas a partir desta quinta-feira. A mostra conta com 17 pinturas, 23 desenhos e 31 gravuras.


A Pinakotheke Cultural inaugura nesta quinta-feira a exposição Lasar Segall – Obras sobre papel: pinturas, desenhos e gravuras, com 71 trabalhos do grande artista, feitos sobre papel, pertencentes a sua família. Grande parte das obras é inédita ao público, em seleção feita pelo curador Max Perlingeiro. Foram meses de pesquisa até chegar a um ponto onde nada mais poderia ser incluído e, muito menos, retirado. A exposição abrange obras produzidas entre 1910 e 1956, na maior diversidade de técnicas e processos, e na maior variação temática já apresentada em uma única exposição sobre Lasar Segall.
São 17 pinturas, 23 desenhos e 31 gravuras, entre retratos e autorretratos, flores e naturezas-mortas, figuras e grupos de figuras, judaísmo, brasileiros e europeus, negros e brancos, guerra, paisagens, animais, e séries importantes como Emigrantes (1926-1930) e Mangue (1926-1929).
A Pinakotheke fica na Rua São Clemente, 300 - Botafogo - Rio de Janeiro. Até 20 de outubro. Seg a sex, das 10h às 20h. Sáb: das 10 às 16h.

Funarte lança vídeo que resgata a história do Projeto Pixinguinha






Divulgação
A história da criação e dos primeiros anos do Projeto Pixinguinha está contada em um videodocumento que a Fundação Nacional de Artes (Funarte) lançou na última terça-feira, dia 21. Com 56 minutos de duração, o vídeo já está disponível, no Portal das Artes [www.funarte.gov.br/brasilmemoriadasartes], para ser assistido em streaming, sem a possibilidade de download. As informações são da Agência Brasil.
São imagens, áudios e documentos digitalizados que permitirão aos internautas conhecer ou reviver momentos marcantes do projeto criado em 1977 para levar espetáculos de qualidade da música brasileira, a preços acessíveis, às camadas populares. O videodocumento é uma realização do Brasil Memória das Artes, projeto de preservação e difusão do acervo da Funarte que conta com o patrocínio da Petrobras, por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura.
- Nós reunimos essas imagens e áudios e incluímos quatro depoimentos exclusivos de pessoas fundamentais para a história do projeto, uma delas o Herminio Bello de Carvalho, poeta, produtor e um dos idealizadores do Projeto Pixinguinha, no final dos anos 70. Os outros três entrevistados são Alceu Valença, João Bosco e Dóris Monteiro, artistas de primeira linha que participaram do projeto em mais de uma edição - diz Pedro Paulo Malta, coordenador do Portal das Artes da Funarte.
O documentário também contém trechos do programa "Pixinguinha 10 Anos", que a Funarte produziu em 1987 em parceria com a então TVE, hoje TV Brasil, e que conta a história dos primeiros anos do projeto.
- O João do Vale aparece em um momento ótimo, cantando Coroné Antonio Bento - diz Malta. Foram selecionadas ainda imagens que mostram o primeiro show do projeto, em 1977, com a cantora Nana Caymmi anunciando para o público o início do Projeto Pixinguinha, e trechos de shows marcantes, como o de Marlene, uma das grandes cantoras do rádio.
O videodocumento do Projeto Pixinguinha é mais uma das realizações do Brasil Memória das Artes, que também está executando a digitalização das partituras das peças de Walter Pinto (1913-1994), produtor e autor teatral que durante décadas foi o grande nome do teatro de revista, gênero bastante popular nas artes cênicas brasileiras. Está sendo digitalizado ainda o acervo do ator e empresário João Angelo Labanca (1913-1988), grande nome do teatro brasileiro do século XX.
De acordo com Pedro Paulo Malta, a tarefa mais árdua é a que envolve a preservação do acervo de Walter Pinto.
- É um trabalho praticamente de arqueologia, pegar todo esse material de partituras, identificar a que peça pertence cada uma, é um verdadeiro quebra-cabeça - declara.
- Para isto, contamos com uma equipe especializada, muito dedicada, que está juntando as peças desse quebra-cabeça e digitalizando esse material maravilhoso - ressalta.
O trabalho, depois de pronto, ficará à disposição não só de companhias teatrais interessadas em recriar ou remontar espetáculos do gênero, mas também de pesquisadores e historiadores da música brasileira.
- O teatro de revista teve uma importância fundamental para a difusão da nossa música popular nas primeiras décadas do século XX, quando ainda não existiam os meios de comunicação de massa para fazer esse papel -  destaca o coordenador do Portal das Artes da Funarte.
- Pixinguinha, Lamartine Babo e Mario Lago, por exemplo, foram alguns dos compositores que criaram músicas especialmente para o teatro de revista - lembra Pedro Paulo Malta.


Leia mais: http://diariodovale.uol.com.br/noticias/3,61989,Funarte-lanca-video-que-resgata-a-historia-do-Projeto-Pixinguinha.html#ixzz24ZAEuTzn

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Frente Parlamentar elabora carta-compromisso com a cultura


A Frente Parlamentar Mista em Defesa da Cultura, presidida pela deputada Jandira Feghali, elaborou uma carta-compromisso contendo princípios e metas para as políticas públicas da área, com o objetivo de subsidiar a plataforma dos candidatos às eleições deste ano. As propostas e diretrizes devem servir ao debate entre candidatos e movimentos sociais.


A carta está disponibilizada para download no site http://frenteparlamentardacultura.org, e pode ser adequada segundo as especificidades de cada localidade, sendo utilizada de forma parcial ou em sua totalidade pelos seus signatários.

"Desta forma, a Frente Parlamentar Mista em Defesa da Cultura no Congresso Nacional acredita contribuir de forma propositiva, ampla e democrática, para elevar a Cultura como elemento central no desenvolvimento do Brasil e dos brasileiros", diz a frente.

Os signatários do documento se comprometerão a tratar a cultura como prioridade estratégica, através de mecanismos permanentes que visem sua consolidação como política de Estado. "A cultura deve ser valorizada em seus múltiplos aspectos, considerando a diversidade cultural do nosso povo. As políticas públicas de cultura devem ser pensadas como elementos de aproximação entre o Estado e a sociedade. Neste sentido, as administrações municipais devem compreender a cultura como elemento de democratização desta relação. Políticas culturais emancipatórias contribuem para a criação de uma nova cultura política", diz a carta.

Depois de falar dos princípios que devem nortear as políticas para a cultura, o documento enumera diversas metas, relacionadas a gestão e estrutura, financiamento, educação e cultura, protagonismo social e cultura e cidade. As sugestões vão desde o apoio à aprovação da proposta de emenda constitucional que estabelece que 1% dos recursos do orçamento do município devem ser aplicados na cultura, até a crianção de mecanismos para democratizar a gestão cultural.

O documento também é mais espeífico em alguns casos, propondo, por exemplo, a criação de um segundo turno cultural nas escolas em tempo integral, através de ações voltadas para a cultura e o esporte, ou mesmo a implantação de rádios e TVs comunitárias.

A Frente Parlamentar Mista da Cultura, presidida pela deputada fluminense Jandira Feghali (PCdoB), foi lançada em 6 de abril de 2011. É uma dos mais importantes colegiados do Congresso Nacional e reúne mais de 300 congressistas, que pretendem debater temas estruturantes para a consolidação das políticas públicas culturais no país. 

Um dos principais objetivos do grupo, segundo determina seu próprio regimento, é acompanhar a política governamental, os projetos e programas direcionados à promoção da cultura e à preservação do patrimônio histórico (material e imaterial), arquitetônico, além de incentivar e fomentar mecanismos de preservação e difusão da cultura popular brasileira.

Leia a íntegra da carta no documento anexo.

Download Carta-compromisso com a Cultura

Aos estudantes, Dilma diz que 100% do Petróleo irá para educação


Representantes dos estudantes universitários, pós-graduandos e secundaristas participaram, nesta quarta-feira (22), de uma audiência com a presidenta Dilma Rousseff e o ministro da Educação, Aloísio Mercadante, para discutir a destinação dos 10% do PIB para a educação, conforme o Plano Nacional de Educação, aprovado por uma comissão especial da Câmara em junho.


Estiveram presentes na reunião os presidentes da UNE, Daniel Iliescu; da ANPG, Luana Bonone e da Ubes, Manuela Braga, além da vice-presidenta da UNE, Clarissa Cunha.

De acordo com Bonone, da Associação Nacional de Pós-Graduandos, a reunião “surpreendeu de maneira positiva. O governo aceitou a reivindicação dos 10% do PIB para a educação, com a ressalva de que é preciso ter como certa a fonte garantidora”. Dessa forma, “não se comprometeu com a vinculação dos 10% do PIB sem antes definir a fonte de recursos”. Para resolver a questão, o governo concordou em destinar os recursos do Pré-Sal para a educação, esclareceu a pós-graduanda. 

Petróleo X PNE

O compromisso do governo foi reafirmado pelo ministro Mercadante que, em coletiva de imprensa, assegurou que o governo vai defender junto ao Congresso Nacional que 100% dos recursos arrecadados com o pagamento de royalties do petróleo sejam destinados a políticas de educação e que 50% do dinheiro que irá compor o fundo social formado com recursos da venda do petróleo do pré-sal também vá para a área, durante dez anos.

Mercadante afirmou ainda ter "convicção" de que o governo tem argumentos para convencer o Congresso Nacional desta proposta que, para o Planalto, é mais interessante do que a apresentada pela Câmara, que não define a origem dos recursos: 

"É muito melhor que a gente coloque os royalties do petróleo na sala de aula e prepare uma futura geração cada vez mais qualificada para que a gente tenha um Brasil capaz de se desenvolver depois que o pré-sal passar, porque ele vai acabar, (...) do que desperdiçar esse recurso na máquina pública sem nenhum controle", declarou o ministro.

Outras bandeiras

Com relação à questão da assistência estudantil, outra pauta defendida pelos estudantes, o governo criou um grupo de trabalho para tratar o tema, tal como proposto por Iliescu.

Pauta dos pós-graduandos, a diminuição dos recursos do Ministério de Ciência e Tecnologia também foi abordada na reunião. De acordo com o governo, a partir do momento em que aumentar a verba da educação, os recursos do ministério também serão ampliados. De qualquer forma, para Luana, o governo está sensível às demandas apresentadas pelos estudantes.

Da Redação do Vermelho,
Vanessa Silva, com agências

sábado, 18 de agosto de 2012

Um jornalista chamado Olavo Bilac


Marta Scherer
Marta Scherer, autora de Imprensa e Belle Époque: Olavo Bilac, o jornalismo e suas histórias

Um dos principais nomes do parnasianismo no Brasil, Olavo Bilac (1865-1918) teve também ativa carreira de jornalista. O livro Imprensa e Belle Époque: Olavo Bilac, o jornalismo e suas histórias ajuda a revelar esse lado menos conhecido do poeta.


Por Célio Yano


A obra, de autoria da jornalista Marta Scherer, foi lançada em Florianópolis dia 16 de agosto pela editora da Universidade do Sul de Santa Catarina (Unisul). A pesquisa que deu origem ao trabalho foi feita para a dissertação de mestrado de Scherer, defendida em 2008 na Universidade Federal de Santa Catarina. A partir da análise de crônicas publicadas por Bilac entre 1892 e 1908, a jornalista revela pontos de vista do autor sobre o jornalismo praticado no período.


           
Olavo Bilac

Parte das crônicas havia sido resgatada pelo professor Antônio Dimas, da Universidade de São Paulo, na coletânea Bilac, o jornalista. Nem por isso Scherer teve pouco trabalho: dos 96 textos que utiliza como fonte em seu livro, a jornalista transcreveu 48 de jornais do acervo da Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro. Desses, 14 ainda não haviam sido publicados em livro.

Bilac atuou como jornalista no período da chamada Belle Époque brasileira (1889-1922), quando o jornalismo passou por grandes transformações, abandonando o modelo panfletário para se profissionalizar, em moldes empresariais.

Em seu levantamento, a pesquisadora reuniu crônicas publicadas em A Bruxa, A Cigarra, Kosmos, O Combate, Correio Paulistano, Gazeta de Notícias O Estado de S. Paulo. Mas, segundo ela, há colaborações de Bilac em outros jornais e revistas da época. “Ele publicou em dezenas de veículos; quase todos de São Paulo e do Rio.”

Segundo Scherer, as discussões sobre o futuro do jornalismo na época de Bilac eram parecidas com as de hoje. “Ele dizia, por exemplo, que o surgimento do cinema poria fim à imprensa escrita”, conta. Algo parecido com o atual debate em torno do fim do jornal impresso, que seria substituído por plataformas digitais. Outra discussão comum na época dizia respeito ao uso da fotografia nos veículos de comunicação. Bilac acreditava que seu emprego acabaria com a necessidade de texto.

A revista Kosmos

“As palavras são traidoras, e a fotografia é fiel”, escreveu na Gazeta de Notícias a 13 de janeiro de 1901. Para Scherer, o trabalho do Bilac cronista foi caindo no esquecimento a partir do movimento da Semana de Arte Moderna de 1922, que renegava autores tradicionalistas. “O Bilac poeta resistiu a essa revolução porque sua obra tinha se consolidado de modo muito forte”, diz a jornalista. “Mas não houve grande preocupação em preservar seu trabalho de cronista.”

Garoto-propaganda
Além de jornalismo, Bilac fez publicidade. Uma das campanhas que ficaram famosas é a do xarope Bromil, que veiculava propagandas com frases do poeta. Ele ainda escreveu reclames em forma de verso para fábricas de vela e fósforo, loja de tecidos e até para um fotógrafo. Certa vez, ao receber o pedido para redigir um anúncio, apresentou dois preços pelo serviço: 30 mil réis pelo texto e 200 mil por sua assinatura. “Era como um garoto-propaganda de hoje; cobrava para vincular sua imagem a uma marca”, compara Scherer.

Bilac foi também assessor de imprensa do governo, na gestão do presidente Afonso Pena (1906-1909), embora não usasse esse termo para designar o trabalho. Como jornalista oficial da Exposição Nacional de 1908, realizada no Rio para comemorar o centenário da abertura dos portos, teve uma ideia que até hoje soaria inovadora. Em um pavilhão com paredes de vidro montou a redação de um jornal institucional.

A ideia era que as pessoas que visitavam a exposição soubessem como era o trabalho dos profissionais de imprensa. A edição do Correio da Exposição produzida diante do público foi posteriormente distribuída de forma gratuita e esgotou-se rapidamente.

Jornalismo era ganha-pão
“No Rio de Janeiro é raro um homem de letras que não é jornalista; isso explica-se pelo fato de ser a literatura de jornal muito mais rendosa que a literatura de livros”, escreveu Bilac em crônica publicada na revista carioca A Cigarra, em 23 de maio de 1895. Não faltam casos de escritores da época que trabalhavam como jornalistas. O exemplo de Euclides da Cunha (1866-1909) é, talvez, o mais famoso. Sua obra-prima, o romance Os sertões, é fruto de uma série de reportagens sobre a Guerra de Canudos que fez para o jornal O Estado de S. Paulo.

Mas também trabalhavam como jornalistas quase todos os grandes escritores da época – José de Alencar (1829-1877), Lima Barreto (1881-1922) e Coelho Neto (1864-1934) são alguns deles. Para se ter uma ideia, Bilac entrou para o quadro de funcionários da Gazeta de Notícias no lugar de Machado de Assis (1839-1908) e, quando saiu, foi substituído por João do Rio (1881-1921).Muitos cronistas assinavam seus textos com pseudônimo. Bilac, por exemplo, era Fantásio, Puck, Flamínio, Belial, Tartarin-Le Songeur ou Otávio Vilar. Algumas crônicas traziam as iniciais O.B.; outras, apenas B.


Fonte: Ciência Hoje On-line / Observatório da Imprensa

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Teatro popular que não se vende



Rosa Minine   
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Cena de A Palhaçada do plebiscito
Grupo paulista de teatro e cultura popular, a Confraria da Paixão, trabalha em prol de um teatro que alcance a população excluída desse bem cultural. Trabalhando com bonecos, máscaras, palhaços, e tendo uma especial afeição pela literatura de cordel, o coletivo chega aos 11 anos de existência com vários espetáculos, intervenções de rua, oficinas, e uma pesquisa permanente sobre teatro e cultura brasileira, buscando a construção de uma poética popular.
— A Confraria surgiu em março de 2001, em São Paulo, como resultado de anos de reflexão sobre a questão do teatro popular, que eu vinha tendo, voltado para a ideia de trabalhar para pessoas que nunca tiveram acesso ao teatro. Inicialmente criamos uma coisa chamada 'Manifesto pela brasilidade', onde colocávamos os objetivos do grupo, e convocamos publicamente pessoas que estivessem interessadas em trabalhar nesta linha — Conta Luiz Monteiro, coordenador do grupo.
— Das que apareceram, 18 pessoas acabaram ficando e participando da nossa primeira reunião no campus aberto da USP, ao ar livre. Por oito meses trabalhamos por lá e também na rua Buenos Aires, no centro de São Paulo, fazendo treinamento com os atores, dentro do grande objetivo do grupo que era encontrar uma poética popular .