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sexta-feira, 27 de julho de 2012

Aprendendo com a arte

Variedade: Exposição conta com cerca de 20 quadros 
Cristiane Mendes
cristiane.mendes@diariodovale.com.br

Transformar os trabalhos desenvolvidos durante o curso de pintura em uma exposição de arte. É assim que os alunos do PAC (Ponto de Ação Cultural) de Barra Mansa criaram a I Mostra de Pintura do Atelier Escola. A exposição, que foi aberta ao público no dia 14 de julho, segue até o dia 30 (segunda-feira), com entrada gratuita a população.

Segundo o curador da mostra, Francis Marques, a exposição reúne trabalhos de oito alunos do Atelier.

- O curso começou em 2009 e esses pintores estão com a gente desde então, trabalhando e aprendendo técnicas de pintura - comenta, explicando que o projeto existe desde 2007.
- O projeto surgiu em 2007, mas a ideia de fazer a exposição veio agora, em 2012, com o final do curso e os trabalhos dos pintores - fala.

Francis diz que o curso prepara o aluno para ser um artista completo na área da pintura, já que ele passa por várias fases antes de começar a pintar um quadro.

- O curso prepara os alunos para ser um grande profissional da arte. Antes de começar a pintar, eles passam por todo um processo, estudando a arte, aprendendo técnicas até começar a pintar telas - explica.

A exposição conta com cerca de 20 quadros, divididos entre os trabalhos dos artistas plásticos.

- Dividimos os quadros de acordo com os trabalhos dos pintores. Em média temos cerca de 20 trabalhos expostos - salienta, acrescentando que a mostra foi inspirada em estudos europeus e brasileiros, retratos, natureza morta e paisagens.

- Como essa é a primeira exposição deles, deixamos os temas bem variados. Eles usaram a técnica de acrílico sobre papel e se inspiraram em estudos europeus e brasileiros, e recriaram reproduções de grandes pintores como Van Gogh, por exemplo - fala.

De acordo com Francis, a mostra é um sucesso com os visitantes e os comentários são os melhores possíveis.

- Todos que visitam a exposição saem encantados com os trabalhos dos artistas. O retorno está sendo bem positivo por parte de quem visita a mostra, já que ela permite ao público uma viagem ao tempo - diz, acrescentando que muitos pintores reproduziram quadros do século XIII até o século XX.

- Alguns alunos se inspiraram em grandes nomes da pintura e reproduziram quadros que variam entre os séculos XIII e XX, então essa exposição também permite ao visitante uma viagem cultural pelo passado, com grandes obras - acrescenta.

Os quadros também estão disponíveis para venda.
Exposição no Rio de Janeiro
Além de expor no PAC (Ponto de Ação Cultural) de Barra Mansa, os alunos e, agora artistas plásticos do Atelier Escola, receberam um convite muito especial. Segundo Francis Marques, em novembro, eles vão expor seus trabalhos juntos aos alunos da Universidade Rural, no Forte de Copacabana, no Rio de Janeiro.

- O convite surgiu através da Universidade Rural. Juntos vamos expor os trabalhos no Forte de Copacabana. A mostra tem a previsão de estrear em novembro deste ano - fala, acrescentando que ao todo serão dez profissionais que irão expor.

- Serão cerca de 10 artistas plásticos. A exposição ainda não tem um nome definido, mas deve seguir a mesma temática da I Mostra de Pintura - fala.
O PAC
O Ponto de Ação Cultural é uma casa de cultura localizada em Barra Mansa, que possui uma história de mais de 30 anos de resistência cultural no interior do estado do Rio de Janeiro. Ele foi criado para difundir as manifestações culturais locais/regionais e, ao longo desses anos, vem cumprindo às duras penas a missão para o qual foi criado e amealhou um expressivo acervo de quadros (pinacoteca) doados pelos artistas que expuseram as obras de arte em sua galeria, bem como possui uma pequena biblioteca/hemeroteca especializada e uma sala de oficina de arte.
Confira a relação de pintores
Eliana Neri
Gilcélio Damasceno
José Paulo Abreu
Orlando Feres
Silvana Pereira
Suzana Saad
Vinicius Saad
Wagner Dias

Serviço
A I Mostra de Pintura ‘Atelier Escola', dos alunos do Ponto de Ação Cultural, pode ser vista até o dia 30 de julho, no PAC, que fica na rua Professor Pedro Vaz, nº 1, Centro - Barra Mansa. Informações pelo telefone (24) 8146-8552; pelo site [www.pacrj.com] ou no blog [www.pacrj.blogspot.com].


Leia mais: http://diariodovale.uol.com.br/noticias/3,60604,Aprendendo-com-a-arte.html#ixzz21qGLPkCf

quarta-feira, 25 de julho de 2012

Samuel Pinheiro Guimarães: Os EUA no cenário latino-americano


Convidado pela Comissão Brasileira Justiça e Paz, CBJP, organismo da CNBB, para falar sobre a conjuntura política da América Latina, especialmente da América do Sul pós-golpe no Paraguai, o embaixador e alto representante geral do Mercosul até junho deste ano, Samuel Pinheiro Guimarães, expandiu o recorte territorial e histórico para introduzir sua análise. “Para compreender essa situação é preciso compreender a política dos EUA para região e para o mundo”.


Por Vinícius Mansur, em Carta Maior


Segundo o embaixador, o objetivo estratégico permanente dos EUA é integrar todos os países da região numa única área econômica e uma de suas primeiras manifestações neste sentido aconteceu em 1889 na I Conferência Internacional Americana, em Washington, quando propuseram um acordo de livre comércio nas Américas e a adoção do dólar por todos os países. “Um projeto perfeito: de um lado a maior potência industrial do mundo, do outro um grupo de países agrícolas, mineradores, muito pobres, com grandes concentrações de renda”, ironizou. 

Durante a conferência houve a proclamação da República no Brasil e a nova delegação brasileira aceitou a proposta estadunidense. “Isto porque uma das características da República era a ideia do panamericanismo e o Brasil queria afastar o estigma do Império, muito ligado à Europa, aos ingleses, uma ameaça aos países vizinhos independentes”, explicou, acrescentando que a área de livre comércio não foi criada por oposição da Argentina. “O antagonismo que existe nos EUA contra a Argentina já vem de longa data”, salientou.

É no pós-Segunda Guerra Mundial, entretanto, que as ações estadunidenses se intensificam rumo aos vizinhos do sul, ainda que antes disto os EUA já tivessem se apropriado de dois terços do território do México, se imiscuído na Nicarágua, República Dominicana, Haiti e Cuba e criado um país, ao separar o Panamá da Colômbia. “A América do Sul era mais distante”, brincou o diplomata, mas “aproximou-se” com as condições criadas após o triunfo em 1945: a Europa e os impérios coloniais destruídos abriram campo para a expansão de seu poderio e a União Soviética, o seu mais novo inimigo número 1, era o sinal de que a tarefa deveria ser cumprida rapidamente. Com a Revolução Cubana, em 1959, os EUA intensificaram a atuação em seu “quintal”. 

De um lado, programas de cooperação com a Aliança para o Progresso, de outro, o apoio às violentas ditaduras civis-militares. “Enfatizo o termo civil. Hoje fala-se só militares, mas elas foram apoiadas em grande medida por elites de diferentes setores e meios de comunicação”, destacou. Ao passo em que estes regimes perdiam força – e Guimarães aponta o fato da repressão ter chegado aos setores médios e altos da sociedade como determinantes nesse processo – os EUA passaram a defender a sua substituição, emplacando uma nova plataforma política em prol dos direitos humanos, da democracia e do apoio a partidos políticos no contexto de início do neoliberalismo e de queda da União Soviética.

Dominação pelo mercado
Com a redemocratização da América do Sul a partir da década de 1970 e 1980 e com a ascensão da China no mercado mundial, o objetivo histórico dos EUA aponta cada vez mais para a celebração de acordos econômicos bilaterais, estratégia desenvolvida também em nível multilateral na Organização Mundial do Comércio (OMC). 

Em 1994, os planos dos EUA dão um salto com a incorporação do México, por iniciativa de seu então presidente Salinas de Gortari, no Tratado Norte Americano de Livre Comércio (Nafta), que contava também com o Canadá. “Causou certa perplexidade porque o México era um tradicional defensor das teses dos países em desenvolvimento, do tratamento preferencial. Aquilo teria um impacto muito grande sobre toda a política dos EUA de relacionamento com os países em desenvolvimento, porque o México era um grande líder com uma mudança de posição tão radical. No mesmo ano os EUA topou a negociação da Alca [Área de Livre Comércio das Américas]”, resgata Guimarães.

O projeto da Alca foi definitivamente arquivado em 2005, na Cúpula de Mar del Plata, Argentina, por atitude coordenada dos presidentes argentino, Nestor Kirchner, e brasileiro, Luis Inácio Lula da Silva, segundo Guimarães. Mas os EUA lograram acordos bilaterais com Chile, Peru e Colômbia depois disto. As negociações com o Equador avançaram bastante, mas foram interrompidas com a vitória de Rafael Correia, assim como Hugo Chávez havia feito em 1999 na Venezuela.

O problema desses acordos, aponta o embaixador, é “estabelecer as mesmas normas econômicas sob uma pretensão de reciprocidade, como se houvessem grandes investimentos de um país menor em outro maior”, impedindo assim o desenvolvimento autônomo das economias mais fracas e levando, quase que automaticamente, a um alinhamento político com os EUA nas grandes questões internacionais. “O Uruguai, que celebrou um acordo desses com os EUA, está sendo processado por uma empresa de cigarros que alega que legislação de controle do fumo do país prejudica seus lucros”, exemplificou. 

O problema trágico para os estadunidenses, destaca Guimarães, é que com regimes democráticos na América do Sul, com liberdade de expressão e eleições razoáveis, os presidentes eleitos tendem a ter programas progressistas, ainda que alguns não pretendam executá-los, ressalta. Porém, as elites tradicionais seguem com muita força para eleger seus representantes aos poderes legislativos, formando uma forte barreira de contenção, ao lado de veículos de comunicação, às políticas sociais e de desenvolvimento alternativo. 

“No Paraguai o presidente progressista sem nenhum apoio no Congresso não conseguiu fazer a sua política, perdendo prestígio junto à população por não executar as promessas de campanha e o próprio Congresso montou um golpe”, elucidou. Quando há maioria legislativa pró-governos progressistas, como na Argentina, onde mesmo os partidos de oposição aprovaram a suspensão do Paraguai e a entrada da Venezuela no Mercosul, por exemplo, o discurso é de que 'não há democracia, eles controlam o Congresso'".

O golpe no Paraguai

Samuel Pinheiro Guimarães não hesita em qualificar a destituição de Fernando Lugo como golpe grosseiro. “Se fosse mais longo [o processo de impeachment] seria mais difícil contestá-lo e acabariam condenando do mesmo jeito. Eles foram receosos da reação dos vizinhos”.

O diplomata considerou a postura brasileira no episódio firme e prudente, discordando daqueles que qualificaram a posição do Brasil como “branda” em comparação com o ocorrido durante o golpe no presidente Manoel Zelaya em Honduras. “Lá em Honduras foi um golpe praticamente militar, tiraram o presidente do poder, colocaram em um avião e mandaram embora, morreram muitos jornalistas, a repressão foi muito forte. Por outro lado, a admissão da Venezuela era tudo que os paraguaios não queriam. Foi de certa forma uma punição. De outro lado, nossos interesses no Paraguai são muito reais. Há um número muito grande de descendentes brasileiros que moram no Paraguai, há a represa de Itaipu”, disse. 

Porém, Guimarães salienta que os interesses do Paraguai nos países do Mercosul é de tamanha magnitude que dificilmente serão compensados com qualquer outro acordo internacional, nem mesmo pelos EUA. E caso o regime paraguaio recrudesça, o diplomata sinaliza que uma série de medidas podem ser tomadas de maneira gradativa, como a não aprovações de projetos do Fundo de Convergência Estrutural do Mercosul (Focem) que estão em análise e, numa etapa seguinte, a suspensão de projetos que já estão em curso. “O Brasil é o principal contribuinte deste fundo com 70%, Argentina com 27%, Paraguai com 1% e Uruguai com 2%. E há importantes projetos para o sistema de transporte deles”, afirmou. 

Venezuela

Mais do que o Paraguai perdeu os EUA com a entrada da Venezuela no Mercosul. Por definição, um país membro do bloco está impedido de celebrar um acordo de livre comércio pretendidos por Washington. “Isso é grave pros EUA. Apesar de estarem mudando suas fontes de abastecimento, explorando suas reservas internas, continuam muito dependentes do petróleo importado, em grande parte, do Oriente, uma área delicada. E eles tem a Venezuela, a maior reserva do mundo, aqui pertinho deles”, detalha.

A entrada da Venezuela no bloco consolida um determinado tipo de visão econômica, também é importante por dificultar um golpe de Estado que não raro é sondado no país. 

Em um país relativamente rico, de grande mercado, com 20 milhões de habitantes, com recursos naturais preciosos, que está procurando construir sua infraestrutura e se industrializar e cujo comércio com o Mercosul cresceu volumosamente na última década. “Além de ser um país altamente consumidor de produtos agrícolas, o que é uma oportunidade para outros países do bloco”, acrescenta o embaixador.

Imperialismo à brasileira?
Questionado sobre um crescente sentimento contra o Brasil devido à atuação do capital nacional em países vizinhos, levando até mesmo a formação de uma articulação dos Atingidos pelo BNDES, Guimarães ratificou que é este o grande desafio da diplomacia e do governo de um país tão assimétrico como o Brasil é em relação aos seus vizinhos. “O Brasil é mais da metade do PIB da América do Sul, é quatro ou cinco vezes o PIB da Argentina, que é o segundo maior. Um PIB muito grande significa empresas muito grandes. Imagina se as empresas estrangeiras aqui fossem brasileiras, o que já teria acontecido?”, indaga para, em seguida, recordar que o problema da desnacionalização também afeta o Brasil, citando como emblemática a recente transferência do controle da maior rede varejista do país, o grupo Pão de Açúcar, ao capital estrangeiro.

Para o diplomata, o Brasil deveria ter uma política que em hipótese alguma financiasse a aquisição de empreendimentos estrangeiros por brasileiros e que estimulasse a associação dos capitais locais. Porém, ressaltou que há uma diferença entre a atuação independente das empresas e o financiamento do Estado. “O governo não pode impedir que as empresas façam investimento no exterior, a legislação não permite. Mas, a legislação daquele país pode, reservando setores para empresas nacionais”, esclareceu, acrescentando que o Brasil, em geral, financiou empreiteiras para participarem de licitações internacionais de obras de infraestrutura. “E essas empresas não ficam no país”. 

Um caso qualificado por ele como grave está na Argentina, onde empresas brasileiras compraram um grande número de frigoríficos, atividade tradicional e importante daquele país. “Isso ainda não leva a grandes dificuldades, mas levará. As empresas estrangeiras, em geral tendem a recorrer aos seus países para fazer pressão ao governo local, o que cria grandes atritos”, alertou. 

Exército no Haiti

No que tange à atuação militar brasileira no Haiti, Guimarães descarta que o Brasil tenha uma ação imperialista. “Se houvesse caso de morte, de agressão de brasileiros a haitianos sairia todo dia aqui no jornal”, retruca e completa: “Na questão dos refugiados haitianos a posição tem sido correta, apesar de não divulgada.” 

O diplomata recorda que foi o Conselho de Segurança da ONU quem criou a força de paz para o Haiti, sem a participação do Brasil, que posteriormente foi convidado a integrá-la, tal como já fez em países como Congo, Timor Leste e Angola. “Antes de aceitar, foram mandadas duas missões aos países do Caribe próximos para saber o que eles achavam e eles aprovaram. O Brasil comandou as forças nos dois primeiros anos e deveria ter rodízio, mas a própria ONU pediu que o Brasil continuasse e tem pedido até hoje. Se não fosse o Brasil seria outro país”, defendeu. 

Política externa alternativa
Se por um lado o papel crescente do Brasil no cenário internacional o leva a questionamentos quanto à reprodução de relações de tipo imperialista, Guimarães salienta que há iniciativas concretas visando um modelo de integração de novo tipo, para além dos posicionamentos políticos progressistas. Ele destaca os bancos de leite materno e os programas contra a febre aftosa impulsionados em vários países, o aumento da presença de entidades brasileiras no mundo visando a cooperação sul-sul, tais como a Embrapa - com unidades de pesquisa em Gana e na Venezuela, a Fiocruz – com uma unidade de produção de medicamentos retrovirais em Moçambique, a Caixa Econômica Federal – com projetos de habitação na Venezuela e o Ipea, que deverá abrir um escritório em cada país do Mercosul. 

Também entram na lista a criação da Universidade Federal Latino Americana (Unila), em Foz do Iguaçu (PR), e da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab), com dois câmpus no Ceará e a cooperação na área da educação com o Timor Leste. “É preciso de mais recursos para a Agência Brasileira de Cooperação (ABC), mas houve corte de dotação orçamentária”, cobrou o diplomata.

Saída do Mercosul
Por fim, Samuel Pinheiro Guimarães afirmou que renunciou à alta representação do Mercosul por uma limitação institucional do posto. O cargo foi criado no final do governo Lula com a ideia de iniciar uma gestão do Mercosul acima dos governos, uma vez que o bloco não possui uma estrutura supranacional, como a União Europeia, que dinamize seu funcionamento. Mas Guimarães não se sentiu respaldado, talvez por ser brasileiro, sugeriu: “O Brasil é um país tão assimétrico que gera sempre uma ideia de que o cargo não podia fazer propostas. Eu fiz um relatório com um diagnóstico do Mercosul e propostas. Mas não houve maior atenção, se não tem atenção não tem apoio, se não tem apoio não vale a pena”.

Fonte: Carta Maior

Estudantes pressionam para que manter PNE na pauta de 2012


O Plano Nacional de Educação (PNE) corre o risco de não ser aprovado neste ano. O governo já declarou, por meio de seu ministro da Fazenda, Guido Mantega, que não aceita a decisão da Comissão Especial da Câmara, que discute o Plano Nacional de Educação (PNE), de ampliar para a Educação 10% do Produto Interno Bruto (PIB). Para manter a conquista, a União Nacional dos Estudantes (UNE) articula com líderes partidários a não assinatura de um recurso de plenário, como vislumbra o governo.



A Comissão Especial que analisa o PNE votou, com unanimidade, no dia 26 de junho, a aprovação da meta que destina 10% do PIB para financiar o setor educacional no país. Trata-se de uma luta que unifica o movimento social pela Educação, onde estudantes, professores e demais trabalhadores têm se empenhado para isso.

Seguindo o caminho natural do texto do PNE, ele deve ir para o Senado. No entanto, interlocutores do governo tentarão no segundo semestre manter o projeto na Câmara para levá-lo à votação no Plenário.

“O governo está querendo ao invés de jogar para o Senado, que seria a movimentação natural, quer reverter essa decisão na própria Câmara, para desautorizar a decisão da comissão especial do PNE. E isso seria uma tragédia porque além dos 10% do PIB, outros pontos polêmicos serão reavivados. Então a chance do PNE não sair da câmara neste ano é enorme. Vão querer atrasar a tramitação, desrespeitando a comissão especial”, declarou ao Vermelho, Daniel Iliescu, presidente da UNE. 

Iliescu lembrou que o movimento estudantil conseguiu “derrotar o posicionamento do governo” e que agora é preciso garantir que ele vá ao Senado. “Se ir ao plenário da Câmara, o governo joga para o plenário a decisão da aprovação sobre o PNE, o que será um desrespeito a comissão, que é suprapartidária, que trabalhou durante um ano e cinco meses, e tomou uma decisão unânime sobre o PIB”, completou o presidente da UNE. 

Para impedir a manobra, os estudantes já iniciaram algumas conversas com lideranças partidárias para não assinarem o recurso. Até agora, segundo Iliescu, somente a liderança do PT assinou. “Achamos que isso (ir a plenário) não vai acontecer pelo que tiramos das conversas com as lideranças. A gente conversou com PCdoB, PDT, PSD, PR, PSC, além do que a oposição também não vai assinar mesmo. Estamos aguardando o retorno dos trabalhos para intensificar a articulação”, explicou o presidente da UNE.

Depois da aprovação na Comissão, Mantega afirmou que “passar para 10% de maneira intempestiva põe em risco as contas públicas. Isso vai quebrar o Estado brasileiro, então não vai beneficiar porque depois você vai ter que rever isso e não vai ter recursos para a educação." 

Compromisso com os estudantes
Os estudantes foram recebidos na terça-feira (17) pelo secretário de Ensino Superior do Ministério da Educação (MEC), Amaro Lins, para responder as mais de 100 reivindicações, feitas por estudantes de diversas universidades federais, entregues ao ministro Aloizio Mercadante (da Educação), depois da #Marchadosestudantes, no dia 26 de junho, em Brasília, que reuniu cerca de 3 mil pessoas. Uma comissão formada por cerca de 70 lideranças estudantis, de 44 universidades federais, foi recebida em audiência pública.

Na ocasião, o ministro assumiu uma série de compromissos se comprometendo, inclusive, a dar retorno em 15 dias. Iliescu reconhece que alguns pontos foram conquistados, mas outros ainda não há retorno. 

“Em especial de positivo, será consolidada uma comissão permanente, que deve ser oficializada em uma portaria, formada por estudantes, professores, funcionários, reitores e o MEC, para diagnóstico da infra-estrutura e da qualidade das universidades federais. Será fundamental para poder apontar rumos para a universidade brasileira, que viveu um processo de expansão importante, mas a gente acha que foi sub-financiada”, lembra o estudante.

Insatisfação
O que mais desapontou os estudantes foi a ausência de um anúncio do MEC sobre investimentos urgentes na construção de moradias e restaurantes.

“Amaro Lins se limitou a prometer que o orçamento do Plano Nacional de Assistência Estudantil (Pnaes) para 2013 vai aumentar, o que é uma de nossas reivindicações. Mas, além desse aumento ordinário, que só pela própria expansão ele deve aumentar, deve haver um aumento robusto, uma linha de crédito especifica para construir os bandejões e alojamentos, até para não desperdiçar essa expansão em curso”, justificou Iliescu.

Está em curso uma expansão feita por conta do novo formato do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e o Sistema de Seleção Unificada (Sisu), que amplia a mobilidade acadêmica.

“Tem muita gente estudando fora de seu estado de origem, e esse drama da moradia é muito grande, você tem aí a especulação imobiliária avançando principalmente no Nordeste e Sudeste. Então há uma ausência de moradias para estudantes, e o que existe não possui verba para reforma. Já os restaurantes, houve alguns avanços pontuais, mas é preciso abranger, pensar de forma macro”, insistiu Daniel Iliescu, que também comentou que não foi dito quanto de recurso será liberado para o Pnaes. A UNE reivindica R$ 1,5 bilhão para assistência estudantil anual. 

Deborah Moreira
Da redação do Vermelho

terça-feira, 24 de julho de 2012

Museu Oscar Niemeyer está entre os 20 mais bonitos do mundo




Projetado pelo importante arquiteto que leva seu nome, o Museu Oscar Niemeyer (MON) foi eleito um dos 20 museus mais bonitos do mundo pelo site norte-americano Flavorwire.


Carlos Renato Fernandes
Museu Carlos Niemeyer
Museu Carlos Niemeyer
Especializado em cultura e crítica de arte, o portal é responsável também pela edição, na internet, do guia cultural Flavorpill. O MON, que em 2012 completa dez anos, é a única instituição latino-americana a entrar nesse ranking. 

Projetado pelo importante arquiteto que leva seu nome, o Museu Oscar Niemeyer (MON) foi eleito um dos 20 museus mais bonitos do mundo pelo site norte-americano Flavorwire. Fazem parte da lista instituições de longa tradição no campo museológico, como o Museu do Louvre (França), o Museu d´Orsay (França), o Museu Hermitage (Rússia), o Museu Guggenheim de Bilbao (Espanha), o Museu de História Natural de Viena (Áustria). Os outros selecionados foram o Getty Center na Califórnia (EUA), o Museu Solomon R. Guggenheim, de Nova York (EUA), a Casa e Jardins Claude Monet, em Giverny (França), Museu de Arte Islâmica (Qatar), o Museu de Arte Nelson-Atkins (EUA), o Museu de Hanoi (Vietnã), o Museu de Arte Moderna de Fort Worth (EUA), o Museu Louisiana de Arte Moderna (Dinamarca), o Museu Royal Ontario (Canadá), o Museu MAS (Bélgica), o Museu Salvador Dali da Flórida (EUA), o Palácio Potala de Llasa (Tibet), o Museu Histórico do Estado de Moscou (Rússia) e o Museu Chora de Istambul (Turquia).

Com mais de 15 mil visitantes por mês, provenientes de diversas partes mundo, o Museu Oscar Niemeyer leva a Curitiba importantes mostras nacionais e internacionais. Em seus mais de 17 mil metros quadrados, o espaço já recebeu obras de Roy Lichtenstein, Candido Portinari, Frida Kahlo, Martin Chambi, Antanas Sutkus, Antoni Tàpies, Salvador Dalí, Marc Riboud, Brassaï, Fernando Botero, Tarsila do Amaral, Pablo Picasso, Di Cavalcanti, entre outros. No dia 26 de julho deste ano o museu abrirá a exposição “Modigliani, imagens de uma vida”, com 59 obras do artista italiano Amedeo Modigliani. 

O MON também realiza ações educativas, abriga a Reserva Técnica e o Laboratório de Conservação e Restauro, onde as obras são armazenadas seguindo critérios internacionais. Possui ainda o setor de Documentação e Referência com cerca de 5 mil publicações e 1.300 periódicos para pesquisa. 

domingo, 22 de julho de 2012

Exposição reúne fotos da obra de Aleijadinho em São Paulo


Desde 1927, Horacio Coppola se dedicou a registrar em fotografias as mudanças urbanísticas, sociais e culturais da capital argentina. Ao longo de seu trabalho, surgiu o gosto pela escultura pré-moderna e arcaica. No Brasil, buscou compreeder a poesia e o caráter religioso intrínseco à poética do escultor brasileiro Aleijadinho. Na exposição “Luz, Cedro e Pedra – Esculturas do Aleijadinho fotografadas por Horacio Coppola”o público confere, até outubro, seu olhar sobre o artista barroco.




foto: divulgação Instituto Moreira Sales
 
Entre o final do século 18 e o início do século 19, Aleijadinho produziu talhas, esculturas e projetos arquitetônicos, deixando um rico acervo cultural em Minas Gerais, estado de origem. Com um estilo relacionado ao barroco e rococó, é um dos expoentes da arte colonial brasileira. 
Horacio Coppola foi – e ainda é - figura central da fotografia latino-americana do século XX. Sua vocação artística surgiu no final da década de 20. Em seus anos de formação, surgiu o gosto pela escultura pré-moderna e arcaica. A partir desde momento, Coppola encontrou na arte de Aleijadinho um trabalho rico e exuberante, sob um ponto de vista “além” das esculturas.

Trazendo fotografias de 1945, feitas em Congonhas do Campo e Ouro Preto, a exposição exibe 80 imagens que registram as obras do barroco mineiro. Inéditas até 1955, foram publicadas pela editora do próprio fotógrafo, a La Llanura, sob o título El Aleijadinho, e pertencem hoje à coleção do Instituto Moreira Salles.

Onde: Instituto Moreira Salles – R. Piauí, 844, 1º andar – São Paulo (SP)
Quando: De 17/7 a 28/10
Quanto: gratuito
Info.: www.ims.com.br

sexta-feira, 20 de julho de 2012

CURSO PRÁTICO DE CANTO - Prof. Leonardo Rodrigues


   
 Proposta do curso: estimular o aluno a “descobrir” sua própria voz, desenvolvendo assim sua capacidade de cantar de maneira segura, consciente e satisfatória. Ao longo desse processo o participante aprenderá sobre  técnicas de canto, conceitos musicais diversos e questões relacionadas ao bom uso de sua voz, além de outros assuntos musicais de interesse.   Todas essas ideias deverão ser vivenciadas por meio da prática de canções, onde o aluno irá exercitar e aprimorar sua voz para o canto, em um trabalho interativo, dinâmico e motivador. 

Público alvo: pessoas interessadas em iniciarem-se na arte de cantar e/ou pessoas que já cantam e pretendem aprimorar-se em aspectos técnicos e musicais.






Duração do curso
3 meses

Sistema de aulas
1 aula semanal (1h e 30m.) 

Investimento: 
3 parcelas de  R$ 50,00 = R$ 150,00

Taxa de matrícula: 
R$ 15,00

Local
PAC - Ponto de Ação Cultural : Rua Prof. Pedro Vaz nº1, centro, Barra Mansa – RJ (em frente ao colégio Barão de Aiuruoca)

Telefones: (24) 9274-1931 / 9974-0934

Dias e Horários

- Turma A - Terça: 14:30 as 16:00 hs                        - Turma B - Sexta: 19:30 as 21:00 hs

Início:  2ª semana de agosto

Mini-currículo do professor

Leonardo Rodrigues - Licenciado em Música pela Universidade do Estado do Rio Grande do Norte e pós-graduando em Música Brasileira e Educação Musical  pela  UninCor. Atua como professor de música na Escola SESI de Barra Mansa (RJ), desenvolvendo trabalho de educação musical com alunos do Ensino Fundamental, e no PAC – Ponto de Ação Cultural, onde ensina Violão, Teoria Musical e Canto.  

Segurança de Acervos


Curso será ministrado no Museu Nacional de Belas Artes, a partir da terça-feira (24)

O Sistema Brasileiro de Museus, o Museu Nacional de Belas Artes e a Associação Pró Museu Nacional de Belas Artes estão recebendo inscrições para o curso deSegurança de Acervos – Preservação de Obras sobre Papel.
As atividades acontecem a partir desta terça-feira, 24 de julho, e vão até 23 de agosto no Museu Nacional de Belas Artes (MNBA), no Rio de Janeiro. O MNBA é administrado pelo Instituto Brasileiro de Museus (Ibram), que é vinculado ao Ministério da Cultura (MinC).
O curso é voltado a profissionais e interessados na conservação e difusão de bens móveis em suporte sobre o papel e visa a instrumentalizar os participantes sobre as questões relativas à produção, ao consumo, à circulação, ao acondicionamento e à preservação desse tipo de obra.
As atividades serão realizadas em quatro módulos, tendo como instrutores técnicos do MNBA e especialistas convidados. O primeiro acontece de 24 a 27 de julho com a restauradora Valéria Garcia Sellanes, que abordará o manuseio, preservação e acondicionamento de obras de arte
No módulo 2 será iniciada a prática à conservação e à restauração de acervos em suporte de papel. A aula será ministrada pelo professor Ivan Coelho de Sá e acontecerá de 30 de julho a 3 de agosto.
Climatização e iluminação serão abordadas pelos especialistas na terceira parte do curso, que será realizada de 7 a 10 de agosto. O último módulo, de 21 a 23 de agosto, terá como tema bibliotecas e arquivos. Visitas técnicas estão programadas nos módulos 1, 3 e 4.
As inscrições estão abertas para os dois primeiros módulos.
Mais informações sobre o curso podem ser obtidas pelo número (21) 2219-8474, ramal 23, ou pelo e-mail associacaoamigos@mnba.gov.br .
(Texto: Lara Aliano, Ascom/MinC)

Urariano Mota: Final de Copa do Mundo


Nelson Rodrigues já havia escrito, com todo seu gênio e cinismo, que a seleção brasileira de futebol era “a pátria em calções e chuteiras, a dar rútilas botinadas, em todas as direções, como um centauro truculento”. 


Por Urariano Mota*


Que cínico, nos dizíamos, que cínico e safado, praguejávamos, porque naquele ano de 1970 a distância e o distanciamento não eram possíveis. Estávamos em uma ditadura militar, o ditador Médici utilizava a seleção como uma arma da Pátria contra o comunismo, e dizia aos maus brasileiros, aos subversivos, aos terroristas, “Brasil, ame-o ou deixe-o”. Nas fotos, os olhos claros do ditador, os vincos a descer na sua carranca possuíam a expressão de um vampiro.

Em 21 de junho de 1970, portanto, o clima não era bom, não podia, não deveria ser bom. Para os que andavam de mal com a ditadura, o tempo não estava bom. Apesar de cair em um domingo.

Meus amigos Mário Sapo, Spinelli e Anael bem que procuraram ocupação mais digna que ver a final da Copa do Mundo. Missão, como o título de um seriado da televisão da época, missão impossível. Ainda que fossem a um convento, entre as orações e cânticos dos frades santos, não conseguiriam. Havia um clima, essa expressão que viemos a conhecer depois. Mas era mais que “um clima”. Havia uma final de copa do mundo escrita nas nuvens, no céu, no mar. O selecionado brasileiro de futebol estava em todas as coisas. Nos jornais, na televisão, no cinema, nas escolas, nas ruas, no amor, nas conversas. Aliás, outro assunto não era possível, a partir de todo e qualquer tema. – E a seleção?, perguntava-se a troco de nada, e o rumo na conversa mudava.

Para complicar, havia um complicador, se nos permitem a complicação. Havia um complicador para o alheamento dos amigos àquela imensa alienação, àquela estupidez da alienação dos povos, àquele ópio dos ignorantes: a Copa do Mundo de 1970, assim mesmo, em maiúsculas, era a primeira Copa transmitida pela televisão. Ao vivo, como diziam. Do México, com imagens transportadas de um satélite. O que bem poderia ser dito por João Saldanha: “Meus amigos, toda realidade exterior ao futebol hoje está suspensa”.

Missão impossível para Mário, Spinelli, Anael, e todos militantes socialistas do Brasil. Em algum lugar deve haver uma lição da dialética que ensina: se as missões se tornam impossíveis, o melhor é conviver com a sua impossibilidade. Mas não sabíamos disso então. Esta página ainda nos era arrancada, ou devia estar escrita em sânscrito intraduzível. Ninguém nos disse. Mário, o mais velho de nós, teve um primeiro recuo tático.

– Olha, a massa está sendo manipulada. A ditadura está usando esse jogo para sair fortalecida…. – Primeira parte do discurso, indispensável, para não ser execrado. – …. Agora… – Segunda e problemática parte, a mais importante. – … Agora, a gente não pode ser contra a massa. A gente não pode ser contra o povo. Se o povo está assistindo…

– Populismo, caralho. Se o povo está assistindo, nós também vamos assistir? É isso?! – cortava Spinelli. – A vanguarda repete a massa, é isso?

– Sim, Lenin – voltava Mário. – Sim, Lenin…

Ao que o magro Anael, sabedor por intuição e experiência aonde levavam os argumentos de Mário (libação, álcool, que ninguém é de ferro), intervinha, como um votante, porque democrático era o processo:

– Eu estou com Mário. O povo é quem sabe o rumo. – E adaptava um refrão: – Ruim com o povo, pior sem ele.

– Sim, mas – Sentia-se encurralado Spineli. – Sim, mas…

Mas antes que entrassem em discussão as categorias do conhecimento, o que é o povo, o que é a massa, o que é a vanguarda, e o tempo histórico, e sua urgência e emergência, Mário, o mais velho, propunha:

– Vamos discutir isso no Savoy.

O Bar Savoy era uma festa, sempre. Foi para ele que Carlos Pena escreveu “são trinta copos de chope / são trinta homens sentados / trezentos desejos presos / trinta mil sonhos frustrados”. Foi lá que a Jomard Muniz de Brito ocorreu que “o Recife é um chope”. Foi para ele que os personagens de Os Corações Futuristas estenderam os olhos mendigos de cerveja, porque ali se podia beber a felicidade em mesinhas de ferro. O Savoy era uma festa.

Os nossos amigos, os nossos, naquelas circunstâncias, heróis, sentaram-se a um canto, um pouco à margem do aglomerado, que rodeava um dos televisores no Savoy. Diabo de copa do mundo, vieram ali para conversar os próximos rumos do movimento e do Brasil. De costas para a alienação. Acintosamente alienados da alienação. No entanto, Mário, sempre o mais precavido dentre nós, sentou-se de frente para a televisão. Porque ver, o simples ver, não atrapalha, ou não devia atrapalhar toda e qualquer desenvolvimento da argumentação, da mais reles matéria à metafísica.

– A gente aqui pode falar à vontade. Ninguém nos escuta – Spinelli dizia. E por isso retomava: – A Revista da Civilização é a melhor frente de esquerda hoje no Brasil. Vocês viram a deste mês?

– Eu prefiro a fonte. Eu prefiro o original – Anael argumentava, um tanto incômodo e angustiado, pelo rumor às costas.

– É, é….. Mário ia respondendo, enquanto movia os olhos, pensativo, mui pensativo, a todo e qualquer encaminhamento da dialética que ouvisse.

– Não, rapaz, em relação a muita coisa, Nelson Werneck Sodré não é reformista, entende?

– Claro… É… – Mário ia respondendo.

Havia uma tensão no ar, uma carga explosiva que se ia acumulando, sem alarde. Um movimento surdo passando, que ninguém percebia, ainda que todos dele participassem. Um coletivo de gozo ou desespero a irromper. Então de repente, como se por força de um comum desejo, no décimo e oitavo minuto da exposição do destino dos povos, o povo mais próximo, no Savoy, explode:

– Gooool! Gol, gol, gol! Goool!

Mário, por estar mais integrado à massa, por esse motivo também se levantou:

– Gool! É gol, é gol…

Spinelli e Anael, como bons subversivos, escolados (“a primeira tarefa do revolucionário é não se denunciar”), por isso também se ergueram:

– Gol! Foi gol, cara…. De quem, de quem?

E Mário, o flexível, o flexível atento, anunciou:

– De Pelé. De Pelé, porra!

– Ah, tinha que ser – reconheceu o mais sábio.

Os garçons do Savoy, mais atentos que todos os atentos, comemoravam, e em igual movimento de comemoração enchiam as mesas de cervejas, e entre as mesas a dos nosso heróis. Que se achavam, na altura dos 20 minutos de jogo, os próprios terroristas disfarçados. Fantasiados de povo, a beber no Savoy, em jogo de copa do mundo. Mas não demoraram muito no disfarce, ainda que isto lhes parecesse uma eternidade. A máscara caiu aos 38, ainda no primeiro tempo da fantasia e da defesa.

– Gol…..foi gol… Porra, que merda! Presta atenção, seu porra! Manda essa bola pra tua mãe… – ouviu-se, foi-se ouvindo, aqui e ali, às costas, à frente, de lado, do teto e das paredes, do chão e da Avenida Guararapes.

– Gol, foi gol….

Um carrasco de nome Boninsegna havia driblado o nosso goleiro, o verdadeiro herói lá na televisão, e sem piscar enfiou o empate da seleção da Itália. Mário, o tático, assumiu então as suas características de sapo, porque inflou as bochechas e mal olhava agora para a pequena tela, como se estivesse na iminência de coaxar. Anael lhe seguia, com movimentos na bochecha, à sua imagem e semelhança. Na verdade, à direita, à esquerda, acima e abaixo da ditadura, todos no Savoy ficaram meio sapo, de papo inchado, carrancudos, raivosos. Spineli, ao ver a geografia humana ao redor, susteve a frase na garganta, “futebol é alienação”, e achou mais prudente, e natural, ficar em terra de sapo de cócoras com ele. Em silêncio, todos danaram-se a beber, que os garçons de Savoy serviam bem na alegria e na desgraça. Mercenários, tiravam partido da pátria em qualquer circunstância.

Acabado o primeiro tempo, quase todos no Savoy tiveram a mesma idéia, porque se aglomeram no banheiro. Ambiente para lá de carregado, elétrico. Spinelli, magro e desengonçado, entra no círculo ácido do mijo. E até hoje ele não sabe por que razão, e até hoje ele oculta dos seus o momento raro do perigo que passou, e que soubemos depois do abismo. Na volta do banheiro, em um corredor estreito e infernal, ele esbarra em um popular irado, nervoso e tenso. Esbarrou por acaso, por maldito azar, mas o popular, essa categoria ótima para uma tese, mas bem arisco ao vivo, assim não entendeu.

– Tá cego ? – E empurrou o nosso amigo contra a parede.

Spinelli, alto para os padrões do Recife, lutador de judô em aulas clandestinas, porque assim faria a segurança nas passeatas, reagiu ao empurrão. Ou seja, empurrou o popular de volta, como quem cumprimenta e vai embora. (Não era sua intenção saber o valor prático das aulas orientais que recebera, naquela hora e em outras.) Que faz, que fez? O popular lhe responde com um mais vigoroso empurrão. Spinelli volta, como se a parede do estreito corredor fosse um elástico, que lhe desse um exemplo da terceira lei de Newton. E volta com o impulso da sua pequena massa inercial, somente para dar um instante breve de resposta ao segundo empurrão. Nisto, e como prova insofismável de que a toda desgraça corresponde outra maior, surge um indivíduo tão alto quanto o nosso amigo, porém mais volumoso em carnes, vontade de brigar e músculos. Que vinha a ser o amigo do popular irritado. E lhe diz, a Spinelli:

– Ei, magro, é briga, é?

Spinelli olhou de cima a baixo, e da direita para a esquerda o homem-guarda-roupa. Sabemos nós, a distância, que os manuais de filosofia ensinam que só se deve correr quando houver possibilidades de espaço e circunstância. Mas o que não se encontra em nenhum manual, nem nos melhores livros, foi a resposta de gênio que achou o nosso amigo, naquela hora de angústia, agonia, desespero e aflição. Acreditem e creiam, porque em pleno intervalo do jogo final da copa do mundo, o nosso amigo gritou, com os braços erguidos e levantados:

– Viva o Brasil!

O amigo do popular, espantado com aquele golpe baixo, de gênio, reagiu como bom patriota. Abraçou Spinelli como se abraça um companheiro de torcida.

– Viva! Viva o Brasil!

Com as costas ainda a estalar nos ossos, o nosso amigo voltou ao abrigo de nossa mesa. E todos assistimos ao final de Brasil e Itália. De frente para a pequena tela, para melhor integração. E comemoramos, e pulamos, e gritamos gol. Sem remorso e sem dor na consciência. E saímos de lá abraçados e bêbados rumo ao Zumbi, onde morava Mário Sapo. Felizes a cantar. Afinal, estávamos todos metidos em nossa face legal. A de patriotas, no país de calções e chuteiras.

* Urariano Mota é escritor e jornalista, autor de Soledad no Recife (Boitempo, 2009), e Os corações futuristas (Recife, Bagaço, 1997). 

Fonte: Boitempo

Paraty comemora título de Patrimônio Histórico Cultural da cachaça Leia mais: http://diariodovale.uol.com.br/noticias/4,60376,Paraty-comemora-titulo-de-Patrimonio-Historico-Cultural-da-cachaca.html#ixzz21Bb1Q500


Felipe de Souza
Paraty
A menos de um mês para o Festival da Cachaça 2012, Paraty está na contagem regressiva para o evento que se tornou um dos maiores do calendário oficial da cidade. No ano em que o festival completa 30 anos, produtores e amantes da cachaça receberam um presente que dará "gostinho" especial à festa: a pinga se tornou Patrimônio Histórico Cultural do Estado, através de uma lei sancionada pelo governador Sérgio Cabral há pouco mais de uma semana. As informações são da Secretaria de Comunicação do Estado.
A notícia foi comemorada pelos produtores de aguardente de Paraty, que esperam que o mercado da cachaça artesanal cresça ainda mais e conquiste terras estrangeiras em larga escala. 
- Nós queremos mostrar que a cachaça não é um simples destilado, mas um produto nacional carregado de história e cultura e, por isso, precisa ser valorizado - afirmou Eduardo Mello, herdeiro da família de alambiqueiros mais tradicionais da cidade, produzindo, desde 1803, a cachaça Coqueiro. 
Qualidade reconhecida
A cachaça fabricada em Paraty - maior produtor do estado - é a única do país com Indicação Geográfica, desde 2007, concedida pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI). Trata-se de uma espécie de selo contendo o seguinte texto: Indicação de Procedência - Paraty. Isso impede que o nome do município seja usado em embalagens de aguardentes fabricadas em outras localidades, o que era comum já que, no passado, a palavra "Paraty" chegou a ser usada como sinônimo para cachaça, assim como pinga e branquinha.
Produção
A cidade - que chegou a abrigar, no final do século XVII, 160 engenhos de aguardente - tem apenas sete alambiques em funcionamento atualmente. E a diferença entre eles não está apenas no rótulo da marca, mas no produto final. De acordo com o dono da cachaça Pedra Branca, Lúcio Freire, embora o processo produtivo de fermentação e destilação do caldo da cana seja o mesmo, instalações diferentes e "segredos" próprios influenciam na bebida que chega aos copos do consumidor. A cachaça ouro da marca recebeu dois prêmios - um nacional e outro estadual - graças à utilização de toneis de carvalho francês no envelhecimento da bebida.
- Cada alambique tem sua receita de levedura e a diferença na forma de produzir resulta em aroma e sabores peculiares - explica Lúcio, que produz cachaça há apenas três anos. 
A curiosidade sobre o processo produtivo de uma das cachaças mais famosas do Brasil leva milhares de turistas por ano a visitarem os alambiques da região. Foi o caso da família de Antonio Carlos Monteiro que, pela segunda vez na cidade, decidiu fazer um tour para conhecer os engenhos. 
- Eu não sabia como a cachaça era feita, por isso, estamos percorrendo alambiques. Minha família gosta muito de cachaça artesanal. Acho que é a bebida que tem mais a cara do brasileiro - afirmou o analista de suporte, que não perdeu a degustação de aguardentes.
Boa para o paladar feminino
Hoje em dia, ainda há quem afirme que cachaça é bebida para homem, mas basta andar pelas ruas de Paraty para ver mulheres degustando e comprando aguardentes em cachaçarias especializadas. Para atingir esse crescente público, além da tradicional branquinha, das cachaças envelhecidas e da azulada típica de Paraty (destilada com folha de tangerina), os alambiques produzem outras versões com sabores: caramelado, cravo e canela e frutas. Essas misturas tornam a bebida mais agradável ao sensível paladar feminino.
E tem mulher também colocando a "mão na massa" nos alambiques. É o caso de Maria Izabel Gibrail Costa, de 62 anos, que produz uma cachaça que leva o seu nome há 16 anos. Pertencente a uma família tradicional de produtores de aguardente de Paraty, que chegaram a exportar o produto para Portugal em meados do século XVII, ela retomou o ofício familiar fabricando em um sítio à beira-mar cachaças brancas e envelhecidas. Maria Izabel conquistou consumidores fiéis, mas conta que chegou a sofrer preconceito.
- No início, as pessoas achavam estranho, diziam que mulher não sabia fazer cachaça e que meu produto era fraco. Mas, na verdade, a minha cachaça é uma das mais fortes com 44% de teor alcoólico. A diferença é que ela não arde tanto porque é menos ácida e isso tem a ver com o meu processo de produção que é diferente. Eu sempre digo que minha cachaça é como a mulher: forte, mas suave - explicou Maria Izabel.
Em Paraty, o ciclo da cachaça já dura quatro séculos, contribuindo para o fortalecimento da economia, estimulando o turismo e incrementando a gastronomia típica da região. A bebida não está apenas nas garrafas e nos drinks, como a famosa caipirinha, mas também nas panelas de casas e restaurantes de Paraty. Alimentos flambados em cachaça e doces produzidos com aguardente conquistam o paladar de moradores e turistas.
Do popular ao refinado
Considerada uma bebida destinada a pessoas de classes inferiores, a cachaça foi historicamente marginalizada. Documentos mostram que a fabricação de aguardente no Rio de Janeiro chegou a ser proibida pelo Reino Português no século XVII.
No entanto, nos últimos anos, a cachaça tem conquistado, cada vez mais, apreciadores de classes mais altas da sociedade. Até o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, se rendeu ao charme da "branquinha" e reconheceu, em abril deste ano, a cachaça como um produto tipicamente brasileiro. Para o historiador e vice-presidente da Casa de Cultura de Paraty, Diuner Mello, a cachaça está passando a ser vista como uma bebida de qualidade.
- No momento em que se reconhece a cachaça como Patrimônio Histórico Cultural do Estado, está se reconhecendo uma técnica de produção, um conhecimento ancestral que tem que ser valorizado porque é a própria razão de formação cultural do povo do estado - disse o historiador.
No ano passado, o Festival da Cachaça, em Paraty, atraiu cerca de 30 mil pessoas e as expectativas para edição deste ano, de 16 a 19 de agosto, são as melhores. 
- O Rio de Janeiro está na moda, tanto que nós vamos ter Copa do Mundo e Olimpíadas. E, para a nossa alegria, a cachaça também está na moda. Não só os brasileiros, mas os turistas adoram - disse o produtor de aguardente Lúcio Freire.



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terça-feira, 17 de julho de 2012

Bruno Peron: Fundo para a integração cultural no Mercosul


O Conselho do Mercado Comum – órgão deliberativo do Mercado Comum do Sul (Mercosul) – criou o Fundo Mercosul Cultural (Mercosul/CMC/DEC. N° 38/10) em dezembro de 2010. O Fundo visa a financiar projetos culturais de instituições não-governamentais que facilitem a integração de ou somente o país de onde se os propõe ou um conjunto de países pertencentes ao bloco.


Por Bruno Peron*


O Fundo terá valor inicial de US$ 1 milhão e cada país membro contribuirá proporcionalmente de acordo com seu Produto Interno Bruto (PIB). Assim, o documento que instituiu o Fundo estima que os países aportarão recursos financeiros, a princípio, nas proporções de: Argentina (27%), Brasil (70%), Paraguai (1%) e Uruguai (2%). 

As reuniões de Ministros de Cultura definem as variações das contribuições e outros aspectos do Fundo. A última reunião foi a 34ª e ocorreu em Buenos Aires em junho de 2012 e a penúltima ocorreu em novembro de 2011 em Montevidéu. As negociações para a realização do Fundo, no entanto, não contavam com a suspensão temporária do Paraguai do Mercosul, devido à sua democracia fajuta e à admissão pronta da Venezuela ao bloco. Este será um dos temas principais da próxima reunião entre os Ministros de Cultura pelo Mercosul.

O Brasil substitui a Argentina na presidência temporária do Mercosul Cultural – instituição criada em dedicação à cultura dentro do bloco – nos próximos seis meses (julho a dezembro de 2012). Um dos objetivos da gestão brasileira, nesta ocasião, é efetivar a implantação do Fundo. Vale recordar que o Fundo foi proposto enquanto o Brasil também estava na presidência desta instituição em 2010.

No entendimento de Vítor Ortiz – secretário executivo do Ministério da Cultura (MinC) no Brasil –, o objetivo do Fundo é financiar propostas que visem à integração cultural de seus países. Pergunta que remanesce sem resposta é sobre que integraremos primeiro por meio dos recursos deste Fundo: a cultura ou a indústria? As categorias seguintes costumam ser recordadas quando gestores se referem à integração cultural: artesanato, cinema, dança, literatura, museu, música, teatro, etc. O Mercosul começou como um acordo econômico e seu objetivo final é formar um Mercado Comum de união aduaneira.

A reivindicação de recursos financeiros para a cultura é a luta mais recente das instituições especializadas, que são jovens. O argumento que frequentemente usam para que o dinheiro apareça é o dos benefícios para as indústrias culturais, embora estas representem o caminho ortodoxo de constrição dos usos da cultura. Teríamos, então, um Fundo que garante o funcionamento da economia criativa e, se houver matizes, algo mais que as políticas de cultura poderiam fomentar entre os quatro países do bloco.

As discussões em torno do Fundo realizam-se no momento em que se propõe o estreitamento do vínculo entre cultura e sustentabilidade, e reflexões em torno do patrimônio cultural, a economia criativa (onde a cultura entra no circuito industrial), e a diversidade cultural. Os elementos de economia, patrimônio e diversidade são os carros-chefe de quase toda política cultural de governo. Esperamos pelo Fundo uma troca de experiências entre os quatro países no que se refere às convergências e divergências de suas concepções de cultura. A integração passa necessariamente por estas modulações na América do Sul.

Ainda, o aporte desigual de recursos para o Fundo implica que os quatro países comprometem-se reciprocamente a que uns tenham retornos mais vantajosos que outros de acordo com a aprovação dos projetos. Um país que está em melhores condições que outro num tema determinado, por exemplo cinema, tende a fomentar o desenvolvimento das capacidades daquele que não está, mas que poderá, em contrapartida, contribuir com a experiência de seu artesanato ou sua dança. A equidade na repartição dos recursos do Fundo dependerá da qualidade, proveniência e tema dos projetos.

Um comentário que não quero postergar é o de que a organização burocrática do Estado brasileiro ilude a aplicação de propostas alternativas ao deixar ao próximo governante a situação previamente desenhada devido à morosidade no processo de formulação, proposição, aprovação e aplicação das leis. Portanto, as políticas governamentais dificilmente sofrem mudanças consideráveis onde as deliberações tomam muito tempo para materializar-se na sociedade. O âmbito da cultura não foge deste diagnóstico.

A semântica da cultura deve ser reelaborada para que ela não se confunda, ainda que se trate de projetos com as melhores das intenções, com a mera troca de objetos artísticos nas fronteiras entre estes países após a efetivação do Fundo. Estas são expressões tangíveis da cultura. A intangibilidade da cultura é o que nos desperta atenção como cultivo da cidadania. A cultura, por fim, é fundamental no processo de integração dos nossos povos e não só no êxito de suas instituições econômicas ou economias criativas.

*Bacharel em Relações Internacionais (Unesp) e mestre em Estudos Latino-americanos (Unam-México). Colaborador do Vermelho.

Garanhuns: artistas homenageiam Gonzagão no Festival de Inverno


O Festival de Inverno de Garanhuns chega à 22ª edição prometendo dez dias de arte e cultura em homenagem ao eterno Rei do Baião, Luiz Gonzaga. A abertura do festival aconteceu no dia 12 de julho, com shows de Elba Ramalho, Dominguinhos, Família Gonzaga, Mourinha do Forró e o projeto Viva Gonzagão, com 12 artistas.


Gonzagão
Luiz Gonzaga é homenageado / Foto: Reprodução
A programação segue até o dia 21 de julho, com uma extensa programação. Serão 300 shows, com nomes como Milton Nascimento, Lulu Santos, Zélia Duncan, Ney Matogrosso, Zizi Possi, Erasmo Carlos, Alcione, Jorge Vercilo, Renato Teixeira, Xangai, Lenine, entre muitos outros artistas. Além disso, 67 oficinas e 34 espetáculos de artes cênicas fazem parte da programação.

Ao todo, o festival vai contar com 12 polos, espalhados por toda a cidade de Garanhuns. Cinema, fotografia, literatura e todos os tipos de artes devem estar representados no festival. “É um festival de cultura, não só de música. É um festival da ordem de R$ 15 milhões, que já marca o calendário do estado. Neste ano, não podíamos ter outro homenageado que não Luiz Gonzaga", afirma o presidente da Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco, Severino Pessoa.

O secretário de Cultura de Pernambuco, Fernando Dutra, ressalta a importância de se homenagear o 'pernambucano do século'. "Todas as homenagens a Gonzaga neste ano vão ser poucas, dada a importância dele para a música brasileira. É como se Luiz Gonzaga fosse um ritmo que tem seguidores. Se pudéssemos dizer que ele é um gênero musical, diria que ele é o que tem mais seguidores", acredita.

Como parte das homenagens, a programação vai ter também uma exposição sobre o Rei do Baião, além de uma aula concerto sobre sua obra com mestre Camarão, que esteve presente na coletiva e deu uma prévia do que vai fazer no festival. "É um orgulho poder dizer que somos discípulos de Luiz Gonzaga", afirma Camarão, que foi acompanhado do filho, Salatiel D'Camarão.

Além de homenagear Gonzaga, o festival tem neste ano o foco em sustentabilidade, acessibilidade e empreendedorismo. "As lonas que produzirmos no festival, como testeiras [identificadores dos palcos], por exemplo, vamos recolher e produzir arte com eles, como bolsas, carteiras", avisa o coordenador geral do evento, André Frank.

Outra novidade é o Ambiente Criativo, no Polo Euclides Cunha. "É o nosso espaço voltado para o empreendedorismo, nesse ano, estamos mais do que nunca focados em sustentabilidade", ressalta André.

Sucesso nas outras edições, a programação circense deste ano terá duas sessões para cada espetáculo. "Assim, esperamos atender mais as famílias. Vimos ano passado muita fila para conferir as apresentações, inclusive com pessoas que acabaram não conseguindo assistir", justifica o coordenador.

O secretário de Cultura ressalta ainda a presença de grandes nomes não só da música, como da dança. "O Balé de Londrina vem pela primeira vez ao Nordeste e vai estar no FIG, esse é um ponto muito importante, mostra como estamos nos consolidando ano após ano", defende Fernando.

Um portal sobre o cinema pernambucano também será lançado durante o festival deste ano. “O cinema já é parte obrigatória do FIG, tendo uma programação muito especial, que foi feita em parceria com a Secretaria de Cultura”, explica André Frank.

Entre as novidades deste ano está também a Praça da Palavra, na Praça Souto Filho, em memória ao escritor Luiz Jardim, de Garanhuns, com um mini auditório e um café. "Vamos ter recitais, oficinas, é um espaço realmente dedicado à palavra", explica o coordenador do festival.

Infraestrutura

Para receber melhor os visitantes, a estrutura do festival vai realizar algumas mudanças, como a ampliação da praça de alimentação, projeto de sinalização, ampliação de alguns espaços e criação de espaços de convivência, como o café. “Vamos ter também um mapa do FIG, para facilitar o turista que vier para se guiar pelos polos”, explica André.

Além disso, como um dos focos do festival é a acessibilidade, os espetáculos de artes cênicas vão contar com tradução em libras e áudio-descrição, além de legendas nos filmes para surdos e programação do festival em braile. Nos palcos Guadalajara e Forró/Pop, rampas e camarotes adaptados para cadeirantes e com dificuldade motora serão montados.

Alguns polos só terão a programação divulgada a partir do dia 2 de julho, no site do festival. Confira a programação musical já divulgada pela organização do FIG:

Para mais informações, clique aqui.

Textos do Professor Nelson Macedo II - Professor UFRJ - EBA



A TEORIA ARTÍSTICA DA FORMA E O PROCESSO CRIADOR
                           “Em nosso domínio, só conta a experiência vivida, visto que não pode haver definição sem experiência prévia”  Kandinsky

    Existe, da parte daqueles que buscam o estudo da arte do desenho, uma expectativa natural acerca de conhecimentos ou mesmo “segredos” dessa arte que presumidamente lhes dariam o poder de representar qualquer coisa visível ou imaginada. Quase sempre querem saber “como” se representa isto ou aquilo, este ou aquele objeto. Logicamente, a frustração vai sempre acompanhar essa expectativa, pois o conhecimento teórico da arte não é constituído por regras ou normas que, aplicadas, produziriam representações dos objetos do mundo visível. Se assim fosse, existiriam regras para desenhar animais, árvores, crianças, etc., que seriam utilizadas pelos artistas quando desejassem representar tais objetos. É isso o que prometem os livros didáticos de desenho que ostentam em suas capas os títulos: “como desenhar a figura humana”, “como desenhar paisagens”, “como desenhar retratos”, etc. Esses títulos refletem o senso comum, que entende o ato de desenhar como sendo o de desenho “de” alguma coisa e não como algo que é objeto por si mesmo e que tem um fim em si mesmo. Seguindo esse modo de considerar a produção artística, nas escolas de arte usa-se nomear algumas disciplinas de desenho segundo o objeto-modelo da aula. Assim, a aula em que a figura humana é objeto da representação, é chamada de “aula de modelo vivo”, como se o objetivo da aula fosse estudar a própria figura humana e não o entendimento do ato de desenhar com todas as suas implicações. O desenho é entendido como uma consequência do modelo apenas. Daí os estudos de anatomia, proporções, etc., que geralmente acompanham essas aulas. Deveríamos afirmar, entretanto, que essas aulas são “aulas de desenho com modelo vivo” e não “aulas de modelo vivo”, e o mesmo ocorre quando falamos em “aulas de paisagem” ou “aulas de anatomia”. É obvio que um nome tem que ser dado às disciplinas para diferenciá-las umas das outras, mas não se pode confundir o objeto representado com o conteúdo da aula. O modelo é apenas um pretexto, ele não é o compromisso final da aula nem o seu objetivo. Uma aula de desenho deve privilegiar, antes de tudo, a compreensão dos fundamentos do desenho e esses fundamentos ultrapassam o plano de realidade do objeto-modelo utilizado na aula. Por outras palavras, existe um conhecimento específico da disciplina do desenho que não pode ser confundido com o conhecimento acerca da realidade do objeto utilizado como modelo.
    É necessário ter em mente que não se aprende a desenhar “coisas”, mas se aprende o desenho como realidade em si, os conteúdos da aula são os elementos constitutivos da forma visual e suas possibilidades de construção formal. Na verdade, desenha-se o próprio desenho e não os objetos representados: o objeto do desenho é, pois, ele mesmo, o desenho. Do contrário, quando usarmos garrafas como modelo, p. ex., teremos que afirmar que o conteúdo da aula é a própria garrafa, ou seja, ao mudar o objeto estaríamos mudando também os conteúdos programáticos da aula. Segundo essa interpretação do ato de desenhar, se um professor convidar seus alunos para uma aula de desenho no jardim zoológico, ele estará se propondo a dar aulas de “onça”, de “tamanduá”, de “elefante”, etc., e, logicamente, todos teriam que estudar a anatomia desses animais para poder desenhá-los, assim como se estuda a do corpo humano para desenhar a figura humana. Lamentavelmente é essa visão equivocada que predomina no ensino do desenho.
    Qual a origem dessa concepção? Ela está constituída por noções disseminadas na sociedade que têm origem em abordagens e teorias extra-artísticas, ou seja, aquelas teorias não comprometidas com a produção da arte e que são de natureza interpretativa, concepções que falam sobre a arte mas não pensam o objeto artístico segundo aquilo que o define enquanto tal: sua forma.
    Nas suas “Cartas a um Jovem Poeta”, Rilke escreveu este conselho: “leia o menos possível trabalhos de estética e crítica” (1997, p. 31). Uma das razões desta afirmativa reside no fato de que existem dois modos de aproximação teórica à realidade da arte. A natureza dos textos a que Rilke se refere vem motivada e se caracteriza pela intenção de definir o sentido ou mesmo “decifrar” a obra, de encontrar nela “significados” que estariam ocultos ao olhar do leigo. O outro modo de abordagem teórica é aquele que tem como motivação o entendimento dos fundamentos que informam e legitimam a produção da arte. São duas, pois, as teorias: uma de natureza interpretativa e outra dos pressupostos da produção. O problema começa quando a primeira é colocada no lugar da segunda. E é o que normalmente acontece: quando temos acesso a alguma teoria sobre arte é quase sempre com a primeira e quase nunca com a segunda. Praticamente nunca o público em geral e mesmo o que visita exposições tem contato com a teoria da forma artística. Daí que, ironicamente, são justamente as variações sobre aquela primeira concepção que são aceitas como abordagens válidas para a compreensão da arte, as quais, substituindo a experiência do fazer pelas interpretações e análises puramente intelectuais, pretendem até mesmo indicar caminhos para a sua produção. É nesse âmbito que tiveram origem as noções de “belo”, “originalidade”, “expressão”, etc., e a consequência é que, nas opiniões generalizadas no senso comum, predominam essas concepções, como, p. ex., quando alguém, interpretando as intenções do artista, afirma que ele “busca o belo” ou que ele “busca se expressar”: quem assim fala não tem consciência de que está fazendo afirmações que são apenas interpretações equivocadas com relação à natureza do processo criador.
           Tradicionalmente, o ensino do desenho é pensado sobre uma relação que coloca, de um lado, o estudo da estrutura dos corpos no espaço e, do outro, os procedimentos de natureza técnica. Essa abordagem implica em considerar que existe uma forma e existe um sentido como dois fatos separados e, consequentemente, o desenho teria sua razão de ser justamente no fato de veicular significados externos à forma. Mesmo quando se substitui a preocupação com a estrutura dos corpos pelas noções de “expressão”, “mensagem”, etc., o problema continua o mesmo: pois implica em considerar a forma como veículo de um conteúdo independente dela mesma. Esta interpretação parece natural porque estamos habituados com a noção de significação tal como ocorre nas formas da linguagem. Lemos um texto e compreendemos o seu sentido e esse sentido torna-se algo que pode ser comunicado a outra pessoa, e que, além disso, pode também ser traduzido para outras formas de linguagem como, p. ex., a dos surdos-mudos. Isso significa que o sentido apreendido na linguagem existe como um fato separado da forma que o veicula e esta, por sua vez, como mero veículo do sentido. Entretanto, não podemos comunicar a outros o sentido que apreendemos no contato com uma obra de arte: o sentido experimentado não pode ser comunicado, o sentido corresponde à experiência particular de cada um diante da obra e, por mais que se fale da experiência, que se tente comunicá-la, continuará a pertencer ao indivíduo que a experimentou. Assim é porque uma imagem artística não cumpre uma função comunicativa, a arte não é uma forma de linguagem, não é uma forma que existe para comunicar alguma “mensagem”, onde os significados possam ser identificados como algo independente e separados da forma que os apresenta. Na raiz de toda abordagem interpretativa existe esta separação entre sentido e forma.
   Simplificadamente, toda linguagem se define pela presença de um significante e de um significado: a palavra “casa”, p. ex., remete para um objeto genérico que todos conhecemos e que carregamos como referência em nossa mente. É a essa referência mental que a palavra nomeia. A palavra não nomeia o objeto real anterior às representações mentais que temos dele, ou seja, a linguagem sequer remete para o objeto em si. O sentido na linguagem é, pois, não só independente da forma que o veicula como também da referência que ela designa ou descreve.  Como essa independência e separação entre sentido e forma não existe na forma artística, daí advém uma interdição radical à ação do pensamento sobre ela, pois este atua por comparação entre pelo menos dois termos e seu instrumento é justamente a linguagem. Quando essa separação não existe o pensamento fica inoperante. Por esse motivo, ou seja, devido à coincidência entre forma e sentido na arte, a realidade artística é inacessível ao pensamento e, consequentemente, toda tentativa de definição ou nomeação nesse campo corresponderá sempre a um falseamento do fato original. Nesse sentido, não se pode falar das “significações” de uma obra de arte porque ela não “significa” nada, não “diz” nada, mas instaura um campo próprio de sentido ao qual só se tem acesso pela experiência direta com a própria obra. As nomeações do pensamento são um modo de apropriação daquilo que está sendo nomeado. Quando nomeamos, perdemos a coisa nomeada e caímos na “armadilha” do pensamento, “esquecemos” o nomeado e ficamos com o nome, substituímos a experiência real pela palavra e o conceito que ela carrega. É assim que nomes como “Impressionismo”, “Fauvismo”, etc., correspondem apenas a apelidos que oferecem pistas falsas a quem quer compreender algo sobre aquilo que eles nomeiam. Sob este aspecto, o exemplo da música é emblemático: o que “entendemos” quando ouvimos música? Resposta: entendemos a própria música, entendemos um sentido musical. E o mesmo para a poesia e para a pintura: o sentido artístico é a própria experiência pessoal da obra de arte. Nenhuma descrição ou explicação intelectual vai substituir a experiência do contato direto com a forma. Para saber o que é música, poesia e pintura, temos que ouvir a música, ler (ou ouvir) o poema, ver a pintura.  Não há outra opção: ou ficamos com a interpretação ou com a experiência real.
    O sentido artístico não é, pois, algo que possa ser separado da forma em que o apreendemos, como um elemento à parte, pois ele está identificado à forma, é imanente a ela, falar de um é falar do outro. É por essa razão que se diz que o sentido é a forma e a forma é o sentido. Ambos existem simultâneos no ato de observar um quadro, ouvir uma música, ler um poema. O sentido é essa experiência e não uma idéia ou conceito, não é, em absoluto, uma mensagem a ser decifrada. Afirmar que uma obra é “bela” não é um juízo real de valor mas uma declaração de natureza subjetiva, ou seja, quem a formula está falando de si próprio, da sua relação pessoal com a obra, e não da obra em si mesma. Essa opinião diz respeito apenas ao universo pessoal daquele que fala. Reconhecê-la como uma referência objetiva à realidade da obra é reconhecer o autor da afirmação como uma autoridade no assunto.
    Ainda dentro das concepções que habitam a ótica do senso comum e que separam forma e sentido, o processo criador estaria dividido em duas fases: concepção e realização. Segundo essa interpretação, o artista primeiro conceberia a obra e depois a realizaria materialmente por meio de uma técnica específica. Daí a preocupação com o “como?”, o qual abre um problema de natureza puramente técnica. O “como se faz?” pressupõe e existência preconcebida de algo que será realizado num segundo momento. Isso significa que esse “algo” já está dado, não vai acontecer durante o processo, não vai ser criado no decorrer da sua produção. Aquela pergunta, portanto, deve então ser seguida de outra: “como se faz... o quê?”, pois se há algo a ser feito esse algo deve estar definido de antemão. Esse modo de considerar o processo leva em conta apenas o aspecto técnico da produção artística, só consegue ver a técnica, como se tudo na esfera do fazer se reduzisse a problemas técnicos e, nesse sentido, a diferença que existiria entre um artista e outro seria uma diferença de competência técnica. Assim, o leigo verá na Gioconda de Leonardo da Vinci uma obra de arte “respeitável” mas, diante de uma obra de Picasso, p. ex., poderá dizer: “isso eu também faço!”. Mas ninguém pode culpá-lo, pois é só o que ele consegue racionalizar diante do quadro, ele não percebe que está sendo impressionado por outros dados que escapam à sua racionalização. Por outras palavras, é o grau de sofisticação técnica que o impressiona. Ele não considera a obra pelo que ela realmente é, mas pela competência técnica que identifica nela.     
    O ponto de vista da criação, entretanto, tem outro foco: a obra a ser produzida não existe nem mesmo idealmente, ela não habita uma hipotética esfera transcendental de realidade à qual o artista teria eventualmente o acesso e da qual ela seria retirada para o nosso plano atual de realidade. Quando se considera a criação nestes termos, o que encontramos são as projeções e estereótipos do pensamento. Uma mesa comum, puramente utilitária, p. ex., pode ser racionalmente projetada por inteiro, sua forma pode ser antecipada e os passos da sua produção podem ser orientados pelo pensamento, pois ela já existe idealmente antes de ser construída ou até mesmo concebida. Podemos considerar que, se no caso de um objeto dessa natureza a sua produção pode ser racionalmente conduzida, a obra artística, por sua vez, tem outra fonte: na produção da arte o pensamento fica de fora. A obra de arte não é um subproduto da atividade do pensamento e a sua intromissão no processo de criação corresponderá a um impedimento, nunca a uma abertura de possibilidades. Pretender realizar uma obra de arte segundo a lógica e os paradigmas do pensamento é o mesmo que pretender flutuar num lago abraçado a uma pedra. O processo de criação é ação pura, ação em si mesma, sem ser “contaminada” por uma intenção, seja ela de natureza subjetiva ou conceitual. Uma obra de arte está além daquilo que um olhar desinteressado é capaz de abarcar, daí que a natureza do trabalho do artista passará sempre despercebida ao leigo. O “em si” da obra fica oculto à primeira vista e o que particularmente não fica evidente de imediato na observação de uma pintura é justamente aquilo que é o fator determinante da existência da obra e, consequentemente, da natureza da teoria da produção: o processo pelo qual a obra veio à luz.  
    As concepções teóricas sobre a arte que guardam compromissos alheios à produção da própria arte deveriam, por esses motivos e na melhor das hipóteses, ser consideradas com desconfiança por parte daqueles que estão interessados na sua produção. Essas noções, em lugar de instrumentalizar e nortear o artista, são um fator de alienação. Não há relação entre o sentido artístico da forma e aquilo que essas teorias definem como sentido na arte. Conceber a criação como sinônimo de, p. ex., “originalidade” ou “expressão pessoal”, ou seja, assumir essas noções como fundamento da ação criadora, significa assumir compromissos falsos, alheios à natureza da forma, e perder de vista os problemas reais da formação da imagem, significa se atirar no mundo vazio da especulação gratuita e inconsequente sobre, p. ex., o que é ou não é a natureza do “belo”, da “expressão”, do “moderno”, do “contemporâneo”, etc. Daí o obscurantismo das tendências atuais de se voltar as costas a toda a milenar tradição da pintura que nos precedeu através dos tempos, daí também a noção arbitrária e corrente de “ruptura” com o passado, que cinicamente pretende desautorizar todos os milênios de produção artística que nos antecedem e legitimar todas as arbitrariedades dos discursos da crítica através de uma obscura e simplória oposição à arte do passado.
   Em contraposição a essa postura temos as declarações e atitudes dos artistas através dos séculos, as quais se situam em franca oposição às concepções estranhas aos problemas da produção. Desde sempre os artistas tomaram como referência os que os antecederam, e muitos exemplos poderiam ser lembrados, como os de Cézanne, Degas, Picasso, Matisse, etc. Nesse contexto, não podemos esquecer a advertência de Constable, de que “o pintor autodidata é alguém que aprendeu com um professor muito ignorante” e também Goya, nascido no século XVIII, que afirmou só ter tido dois mestres: Rembrandt e Velázquez, ambos do século XVII, pintores com os quais ele nunca teve contato direto, pois faleceram muitas décadas antes dele mesmo ter nascido. Sua relação com eles, seu “aprendizado” com ambos, se deu, portanto, pela observação e estudo das suas obras. E ainda Kandinsky, que explicitamente escreveu: “os ensinamentos ‘mortos’ jazem hoje nas obras vivas tão profundamente que só com grande esforço podem ser trazidas à luz” (1974, p.15). O exemplo de Goya e a afirmação de Kandinsky demonstram que mesmo não tendo acesso a textos teóricos referentes à produção, um artista vai sempre encontrar os fundamentos da sua arte no estudo das obras dos pintores que o antecederam. Outro exemplo é o de Degas, solicitando permissão a Delacroix para fazer uma cópia do seu quadro “A Barca de Dante e Virgílio no Inferno”, o qual foi também copiado por Cézanne. Esses exemplos ilustram a importância do estudo das obras de arte da tradição ou mesmo dos seus contemporâneos (quando eles existem), pois uma teoria da produção vai emergir essencialmente do contato com as obras realizadas, é nelas que vamos encontrar os fundamentos da produção. São esses ensinamentos presentes nas obras, com absoluta independência do século em que elas foram produzidas, que vão fornecer fundamento à produção e a uma teoria artística da forma, pois a arte surge da própria arte e nunca da simples relação com a natureza. Esta última só tem interesse para o artista quando ele sabe o que nela está buscando. Esta afirmação fica mais clara quando consideramos o interesse intrínseco e diversificado das diversas atividades humanas diante da própria natureza: observando uma árvore, p. ex., um botânico buscará nela os elementos de sua disciplina, um industrial aqueles dados necessários à sua indústria e um pintor, por sua vez, buscará a configuração, a dinâmica linear, o claro-escuro, as relações cromáticas, os conjuntos visuais, etc.
   A primeira evidência que emana da observação das obras desde o Paleolítico e através de todos os séculos que nos antecedem, é que uma imitação pura e simples das aparências dos objetos, ou seja, a tão propalada “cópia”, nunca foi objeto nem fundamento da produção artística, mas sim que, pelo contrário, “a arte é, antes de tudo, um conjunto de problemas de forma” (P.Klee, 1978, p.25), e que “são as forças vivas nas formas que materializam o conteúdo da obra artística” (Kandinsky, 1974, p.31). Então, tanto para os fins da produção como para os de uma pedagogia da arte, a teoria artística da forma deverá se ocupar primordialmente da natureza desses “problemas de forma” e dessas “forças vivas”, visando estabelecer os fundamentos da criação através da definição das possibilidades de construção formal:
“O mundo da obra de arte está na feliz utilização das forças obstinadas dos recursos artísticos...não se podem ensinar os ímpetos da inspiração. Porém o que em grande parte pode ser ensinado e dirigido são as possibilidades de elaboração. Temos que saber que, no fundo, são as forças dinâmicas dos recursos que podem dar alma e vida à obra de arte” (Hoelzel, ap.Hess, 1970, p.137).
     A composição da imagem artística corresponde a um conjunto simultâneo de eventos formais e esse fato faz com que o processo da sua produção encerre uma complexidade que não é aparente à primeira vista. É natural, pois, que os fatos da forma passem despercebidos, é natural que o observador só conscientize aquilo que consegue racionalizar e identificar. Assim é porque “ainda que o ato de percepção da pintura seja um ato total, único, mal poderíamos qualificar de igual modo o ato (teríamos que dizer: os atos) de criação” (D’Allones, 1977,p. 93). A sequência dos eventos no tempo, os “atos de criação”, estão presentes em superposição na forma final mas esta é quase sempre mascarada pela visão unitária que se tem do conjunto realizado.
    Devido a essa complexidade formal, torna-se impossível abranger a forma no seu conjunto em um só ato teórico e, consequentemente, a teoria só pode pensar a forma como possibilidade, pode apenas abrir o campo dos possíveis para a produção. A teoria não é constitutiva de nada, não dá “soluções”, nem é uma resposta à pergunta “como se faz...?”, ou seja, a teoria não tem natureza técnica. Todo conhecimento técnico participa da produção, mas não define o processo de criação, não é, por si mesmo, teoria. A teoria existe para dar suporte e fundamento ao processo de produção.  Esta é, em resumo, a função da teoria artística da forma, tal como escreveu Juan Gris, “para fazer pintura é necessário conhecer as possibilidades da pintura” (1957, p.54). Esta é, também, a necessidade primordial, a condição necessária da produção: se não se sabe das possibilidades, como iniciar um movimento? As “intenções”, sejam elas de caráter subjetivo ou as projeções do pensamento, apenas nos dão a ilusão de que algo está sendo criado, de que um caminho está sendo percorrido, quando, na verdade, ficamos no mesmo lugar, giramos em torno de nós mesmos e não vamos a parte alguma.
   Essa ênfase na obra como identificada à sua realidade formal caracteriza o ponto de vista da produção, pois o que chamamos de “obra de arte” é essencialmente e antes de tudo, uma forma. Considerar objetivamente a imagem artística implica também, por sua vez, um necessário “contato interior com os meios artísticos” (Kandinsky, ap. Wick, 1989, p. 269), ou seja, implica na experiência da produção como base para as definições teóricas. Daí a importância da palavra do artista, de seus textos e declarações, pois só a vivência do processo de produção pode esclarecer a dinâmica dos fatos da forma e fundamentar uma teoria dessa mesma produção. Nesse sentido, se quisermos encontrar os pressupostos da criação, teremos que, além do estudo das obras, nos debruçar principalmente sobre os escritos e testemunhos dos artistas, pois uma teoria da arte só pode existir a partir da vivência dos problemas da criação, da qual os artistas são, obviamente, os únicos que possuem as necessárias e indispensáveis referências para a sua definição. Daí mais esta advertência de Kandinsky: “quem não seja capaz de observar deve deixar em paz a arte teórica” (1974, p.23).
    Todavia, devido à hegemonia do pensamento lógico racional na tradição ocidental, a teoria interpretativa predomina sobre a palavra do artista, ficando esta relegada a um segundo plano de importância e, até hoje, apesar da grande quantidade de seus escritos e declarações, nas escolas de arte em geral eles permanecem praticamente ignorados. No plano teórico, as aulas giram em torno da estética e da história. A estética, entretanto, nunca foi nem nunca será uma teoria da arte e, por esse motivo, as escolas de arte são conceitualmente vazias com relação a uma teoria real da arte. Este problema - que remonta ao nascimento do discurso filosófico - vem atravessando os séculos e se mantém até hoje. Essa relação opositiva da arte com o pensamento na história ocidental foi assim definida por O. Paz:
“Desde Parmênides nosso mundo tem sido o da distinção nítida e incisiva entre o que é e o que não é. O ser não é o não ser. ... Sobre essa concepção construiu-se o edifício das ‘idéias claras e distintas’ que, se tornou possível a história do Ocidente, também condenou a uma espécie de ilegalidade todas as tentativas de apreender o ser por caminhos que não fossem os desses princípios. Mística e poesia viveram assim uma vida subsidiária, clandestina e diminuída” (1982, p.123).
Ou, como escreveu um autor, “a estética veio depois, ainda que seja para dizer que já estava antes” (D’Allones, 1977, p.31). No séc. XIX encontramos o desabafo de Delacroix que, no Prefácio do seu “Dicionário das Belas-Artes”, escreveu:
“Ainda que o autor seja do ofício e dele conheça o que pode ensinar uma longa prática acrescida de inúmeras reflexões particulares, não insistirá tanto quanto se poderia supor sobre essa parte da arte que parece ser toda a arte para muitos artistas medíocres, mas sem a qual a arte também não existiria. Em matéria de estética ele invadirá assim o domínio dos críticos, que pensam, sem dúvida, que para alguém se elevar às considerações especulativas acerca das artes não é necessária a prática. / O autor tratará mais da parte filosófica do que da parte técnica. O que pode parecer estranho num pintor que escreve sobre artes – já que muitos sábios de meia tijela abordaram a filosofia da arte. Tudo leva a crer que a sua profunda ignorância da parte técnica lhes pareceu até uma vantagem, convencidos que estavam que a atenção prestada pelo artista de ofício a esta parte vital de qualquer arte devia constituir para ele um obstáculo às especulações estéticas. /  Tudo leva a crer que eles jugaram que o seu profundo desconhecimento da parte técnica era afinal uma razão a mais para de erguerem a considerações puramente metafísicas já que, no seu entender, as preocupações técnicas tornavam os artistas profissionais pouco capazes de se elevarem aos píncaros proibidos aos profanos da estética e da especulação pura” (1979, p.39-40).   
    Mesmo assim, já no século XX (que ofereceu ao artista uma pseudo-valorização controlada, pois a hegemonia continua a ser a da palavra dos críticos, culminando com os “artistas” atuais que são verdadeiros “reféns” da crítica e os mais “domesticados” de toda a história), encontramos em Pierre Francastel essa “advertência”: “Foi a época romântica que deu origem a uma espécie perigosa de homens: os artistas-escritores” (FRANCASTEL, 1982, p.58).
    Ao artista, entretanto, independentemente de qualquer reconhecimento social, basta a consciência da realidade do seu próprio ofício, a qual, para além das considerações de natureza estritamente técnica, existe na consciência das condicionantes e possibilidades da produção.  É a ele que interessa saber que a obra não pode ser pensada de antemão, que ela existe apenas como possibilidade, e que todo o interesse da produção vai então convergir naturalmente para o próprio processo de produção, isso pela simples razão de que não há outra alternativa. Toda a responsabilidade de realização incide, então, sobre o movimento produtor, sobre a dinâmica operativa da formação da imagem artística. Assim sendo, é a qualidade do processo que engendra a qualidade da obra.
   São esses três fatores, a imagem como fato e sentido identificado e imanente à forma, sua autonomia com relação ao pensamento e o primado do processo formador, que definem a natureza da criação artística. Nesse contexto, se aquilo que é um produto do pensamento terá necessariamente a mesma natureza do pensamento, terá um sentido intelectual e será, portanto, intelectualmente inteligível, assim também o sentido formal da imagem artística, sendo ele mesmo uma qualidade de “inteligível” (do contrário ela não teria nenhum sentido para nós), será, tal como no exemplo da música acima (p. 2), inteligível em seu plano particular de significação e realidade, corresponderá a um “inteligível mas não traduzível" (Cohen, 1982, p.116). Por extensão, se aquilo que é inteligível deve necessariamente possuir uma causa “inteligente”, então, tal como existe uma qualidade de inteligência da ordem do pensamento racional, do mesmo modo, no plano da produção, vai existir uma outra qualidade de inteligência que é da ordem exclusiva do fazer. Assim, se o projeto de uma mesa é uma construção da esfera da inteligência racional, uma obra de arte será o produto de outro tipo de inteligência: uma inteligência agregada ao próprio ato construtor da forma, que está presente no processo mesmo de sua produção. Existe, pois, uma inteligência anônima presente no movimento formador da imagem artística que corresponde à inteligência da criação e, como tal, não pertence ao artista individualmente. Nesse sentido, por mais que se fale no famigerado conceito de “estilo”, a obra de arte continuará a não ser uma “fabricação pessoal” do artista. É como disse certa vez Picasso: “quando eu pinto, todos os pintores pintam junto comigo”, ilustrando essa expansão para além de si mesmo, essa descentralização do artista, que é inerente e necessária ao ato criador. Logicamente, se o sentido e a forma são inseparáveis, assim também o fazer e o conceber estão identificados. Aquela inteligência atua no momento mesmo da produção: “a obra cresce e é executada ao mesmo tempo” (Arnheim, 1976, p.248). A obra é então uma consequência direta do processo pelo qual vem à luz, é o produto de uma estratégia formadora e, como a ela não pode ser prevista como resultado final, este será sempre uma surpresa para o próprio artista. A consciência do artista é uma consciência “em ato”, não tem natureza reflexiva, mas é uma forma de lucidez operativa com relação àquilo que é um quadro, um poema, etc. Não existe o artista, existe o percurso da produção. Esta natureza anônima do ato criador foi exemplificada por Paul Klee, com a sua “parábola da árvore”, na qual o artista ocupa o lugar do tronco, a meio caminho entre as raízes e a ramagem. Nessa condição, ele
não faz outra coisa, no sítio que lhe foi assinalado no tronco, que recolher o que sobe das profundezas e transmiti-lo para mais além. / Nem submisso servidor, nem amo absoluto: simplesmente intermediário. / Desta maneira, pois, o artista ocupa um lugar muito modesto. Não reivindica a beleza da ramagem: esta apenas passou por ele” (1978, p. 36).
     Não podemos, pois, confundir questões filosóficas com problemas artísticos, pretender falar da arte discutindo questões de natureza metafísica, relacionando-a a conceitos como a natureza do “belo”, etc., não é falar das possibilidades construtivas da pintura, é deslocar o problema da esfera da arte para a esfera filosófica, é perder de vista e negar aquela objetividade construtiva da forma que é talvez a maior conquista do artista. Todo discurso dessa natureza vai inevitavelmente cair no vazio quando relacionado aos problemas da produção, pois na criação não há a separação conceitual entre o pensar e o fazer, se há um “pensamento” é o pensamento da produção e, para além de toda elucidação teórica, a lucidez do artista continuará a ser uma lucidez do fazer. A teoria da produção somente situa o artista na ante-sala da criação, ela não pode antecipar o sentido plástico, o produto final, pode apenas estabelecer as bases da sua produção: em lugar de definir a arte em si mesma ela apenas esclarece os problemas da sua produção,
“...problemas importantes e decisivos para a ciência das formas, porém não arte ainda, no mais estrito sentido. Em sentido mais alto, o mistério último da arte subsiste mais além de nossos mais pormenorizados conhecimentos, e nesse nível as luzes do intelecto se desvanecem lastimosamente” (Klee, 1978,p. 64).
 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1.      ARNHEIM, R. El “Guernica” de Picasso – Génesis de uma Pintura. Barcelona: Gustavo Gili, 1976.
2.      COHEN, J. El Lenguage de la Poesia. Madrid: Gredos, 1982.
3.      D’ALLONES, O. Creación artística y Promessas de Libertad. Barcelona: Gustavo Gili, 1977.
4.      DELACROIX, E. Diário (Extratos). Lisboa: Estampa, 1979.
5.      FRANCASTEL, P. A Realidade Figurativa. São Paulo: Perspectiva, 1982.
6.      GRIS, J. Possibilidades de la Pintura y Otros Escritos. Córdoba: Assandri, 1957.
7.      HESS, W.  Documentos para la Comprensión del Arte Moderno. Barcelona: Seix Barral, 1970.
8.      KANDINSKY, W. Punto y Linea Sobre el Plano. Barcelona: Barral, 1974.
9.      KLEE, P. Teoria del Arte Moderno. Buenos Aires: Caldén, 1978.
10.  PAZ, O. O Arco e a Lira. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1982.
11.  RILKE, Rainer Maria. Cartas a um Jovem Poeta. A Canção de Amor e de Morte do Porta-Estandarte Cristóvão Rilke. São Paulo: Globo,1997.
12.  WICK, R. Pedagogia da Bauhaus. São Paulo: Martins Fontes, 1989.