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segunda-feira, 30 de abril de 2012

Carlos Lessa: O povo brasileiro, tal qual ele é


Alguém me disse que, "ao invés dos fogos de artifício de fim de ano, deveríamos exigir que esses recursos fossem utilizados para a educação". Afirmei que a renovação mágica da esperança é uma aula magna de civilidade que reitera a identidade nacional brasileira.

Por Carlos Lessa


Como criança, sempre cantei o Hino Nacional, com meus colegas, antes das aula diárias. Havia, em qualquer caderno escolar, a letra de um hino e, quase sempre, o mapa do Brasil. Aprendi que meu país tinha uma história impregnada de problemas e que o presente estava mergulhado em dificuldades, mas que o Brasil teria um futuro. Assimilei que ser brasileiro era ter esperança quanto ao futuro e perceber que eu fazia parte desse povo admirável. Vesti a camiseta verde-e-amarela de minha vida.

Todos os povos fazem festas, porém o Brasil é o povo da festa. Do Oiapoque ao Chuí tudo é pretexto para festa, seja reunindo multidão ou pouca gente. Datas religiosas ou profanas, patrióticas, de frutas, legumes, peixes, animais; tudo pode ser pretexto. É simbólico que diversos municípios disputem a titularidade da Festa do Jumento. O pretexto pode ser de uma festa relíquia do passado ou, então, a adaptação de um plágio importado. A festa também pode surgir de um fato particular ou, simplesmente, pela busca de convívio de um pequeno grupo.

Festejar o Ano Novo tem múltipla origem religiosa. Essa festa vem atravessando inovações tecnológica e sociais. Como carioca, quero sublinhar que, no Rio, se realiza a mais prodigiosa festa de Ano Novo.

A festa do Rio apresenta, sem qualquer arrogância, o povo brasileiro, tal qual ele é. Convivial, amistoso

Em todo o Brasil, tradicionalmente há a tendência a se aproximar da água na passagem do Ano Novo. Sem qualquer pretensão histórica quanto à festa do Rio, pode-se afirmar que é antiga, mas não custa relembrar que o salto tecnológico do festejo em Copacabana com a inclusão do festival de fogos de artifício foi iniciado há menos de 25 anos, por um hotel. A inovação foi rapidamente adotada pela rede turística e a praia foi sendo, sucessivamente, povoada por palcos musicais.

O prefeito de Nova York sublinhou que quase dois milhões de espectadores participaram com a maçã na Times Square; nesta mesma noite, no Rio, debaixo de uma forte chuva, mais de dois milhões de brasileiros reuniram-se na praia de Copacabana. É um prodígio de festa de multidão; a região metropolitana de Nova York é muitas vezes maior que a do Rio. Também houve festa nas praias atlânticas do Leme até Recreio, no Flamengo, Sepetiba, Guaratiba, Paquetá e no Piscinão de Ramos. Quem não chegou a uma praia ficou pela praça, como na Penha. Obviamente, em todas as cidades brasileiras houve festas intensas na passagem do ano.

O povo carioca ocupa, mansa e pacificamente, os quilômetros quadrados de areia. Todas as idades, gêneros, tribos, famílias "ampliadas", grupos de amigos e religiosos convivem com violência zero. Tudo isso mostra que é uma grosseira mentira dizer que o Rio é violento.

Esse ano, todas as comunidades debruçadas sobre o mar acolheram espectadores nas suas lajes (antes, as plateias se acumulavam nos apartamentos do colar art-deco que envolve Copacabana). É lindo ver a ampliação da plateia festeira para as lajes das habitações populares.

A festa do Rio apresenta, sem qualquer arrogância, o povo brasileiro, tal qual ele é. É a moldura de suas dimensões: sem preconceitos em qualquer dimensão, convivial, tranquilo com as diferenças, sem inibições, amistoso, cordial e acolhedor, e com repudio a qualquer violência. Quem participa da festa brasileira toma um banho de civilização.

Não necessitamos de arrogância, nem de auto-exaltação. Está fora de moda exaltar as características de nosso povo, que tem, dentro de si, uma linda promessa de civilização, mas precisamos, sim, perceber as potencialidades de nossa identidade.

A preliminar para um projeto nacional de desenvolvimento civilizado exige a integração de todos os brasileiros no estilo do Ano Novo. É necessário reconhecer que, no espírito festeiro está nosso futuro. É conveniente que, sem orgulho e mansamente, explicitemos as qualidades de nosso povo como o ingrediente-chave de nosso futuro.
A festa não é um ópio, que retira energia e produtividade de nossa gente; ao contrário, ela é reposição, reiteração e amplificação de nossa identidade. Foi, historicamente, o ritual de confirmação da pertinência do brasileiro às vizinhanças de seu lugar de moradia, no popular que diz "lá, todo mundo me conhece e eu conheço todo mundo". É com esta frase que o popular brasileiro apresenta sua identidade.

É um sonho, porém não é uma utopia, imaginar que o brasileiro, amante de seu lugar de moradia, faça do Brasil o espaço de sua identidade nacional. Quem organiza enormes festas, quem se arregimenta nas esfuziantes torcidas de futebol, quem (nas palavras de Nelson Rodrigues) se converte na "Pátria de chuteiras", tende a evoluir para o projeto civilizatório do futuro desenvolvimento nacional.

A festa é uma aula sobre a nação, e a juventude, dela participando, poderá ser a alavanca do amanhã.

* Carlos Lessa é professor emérito de economia brasileira e ex-reitor da UFRJ. Foi presidente do BNDES

sexta-feira, 27 de abril de 2012

Rui Facó: um intelectual da revolução brasileira

<i>Cangaceiros e fanáticos</i>, de Rui Facó

O jornalista comunista e escritor marxista brasileiro Rui Facó esmiuçou a história da luta de classes no Brasil e ajudou a construir uma compreensão avançada da trajetória do povo brasileiro


Por Milton Pinheiro (*)


Um clássico da história brasileira: Cangaceiros e Fanaticos, de Rui Facó
A história do Brasil sempre foi apresentada para outras gerações, através de leituras que davam protagonismo à burguesia. Não obstante a presença heróica e militante de homens e mulheres, que construíram com suas lutas o país, e que contradiziam a lógica dessa história oficial - a visibilidade das lutas sociais, e dos trabalhadores, não é do conhecimento da sociedade brasileira. 

É necessário abrir uma nova frente na batalha das ideias, tornar público o papel desenvolvido pelos trabalhadores e as lutas que marcaram a história brasileira, seja no campo ou na cidade. Falar de nossos heróis, aprofundar as formulações dos intelectuais do campo marxista que estiveram ao lado da revolução brasileira. Trata-se, mais do que nunca, de lutar por uma contra-hegemonia que fomente nas consciências dos trabalhadores, e da juventude, o sentido de sua missão histórica, a construção do caminho na perspectiva do socialismo como horizonte para a emancipação humana.

É com base nessas ideias que ora apresento um importante intelectual orgânico, que sempre esteve ao lado dos trabalhadores, como ligação de classe: Rui Facó. Construiu formulações para entender o Brasil no século XX, utilizando-se do referencial marxista para explicar a ação dos trabalhadores, as lutas sociais e a sociedade brasileira. Assim, ele abriu trilhas para desvendar a realidade social. 

A obra de Rui Facó foi elaborada a partir do arcabouço e da tradição marxista, centrada nos estudos sobre a formação social brasileira, a partir das categorias povo, nação e lutas sociais. O seu cabedal interpretativo está centrado no rigor historiográfico e no aprofundamento da análise política. Para além das falsas premissas, que hoje são apresentadas pela lógica pós-moderna, encontramos nele uma interpretação da realidade pautada nos processos de lutas, cuja orientação era a procura por uma nova sociabilidade na história. Assim, resgatar para o debate o pensamento de Rui Facó é trazer para os estudos contemporâneos, do ponto de vista teórico e político, uma vertente analítica que é uma síntese explicativa do Brasil no século XX.

Das origens à interpretação do Brasil 
Rui Facó nasceu em Beberibe, no Ceará, em 4 de outubro de 1913 e a sua inserção na realidade nordestina permitiu que ele desenvolvesse, a partir desse lócus, um compromisso de pesquisa sobre o Brasil, e o processo de autoconstituição do povo. Essa preocupação tornou-se um programa de pesquisa, orientado pela análise da luta do povo contra a opressão; do conjunto das lutas sociais; das manifestações dos índios; dos escravos; do que ocorreu em Canudos; das manifestações e atos dos cangaceiros; dos movimentos dos beatos; dos movimentos republicanos; das lutas pela libertação do imperialismo; e da guerra engendrada pelo latifúndio. Tudo isso, a partir do princípio dialético da relação entre dominação e resistência, que formou o todo articulado que compreendemos como nação.

Rui Facó analisa as particularidades da realidade, histórica, do Brasil, orientado por duas questões: primeiro, na estrutura das forças produtivas e, no segundo momento, na questão do monopólio da terra. A partir daí, ele identifica como questões centrais que precisavam ser afrontadas: o latifúndio, a ação do colonialismo e a dominação cultural, que tinham um peso sobre a realidade nacional, em particular, pelo papel que as classes dominantes davam aos segregados desse processo societário. 

Como historiador do desenvolvimento do país, do desenvolvimento desigual do Nordeste, Rui Facó estudou o papel dos movimentos sociais, levando-se em consideração a questão nacional, a questão sindical, estudantil, camponesa, o papel da igreja, da imprensa, e o comportamento da chamada “burguesia nacional”.

No livro Brasil Século XX, um minucioso estudo sobre o país, Rui Facó faz um debate sobre as forças produtivas e o nível de desenvolvimento do capitalismo entre nós. Alertando sobre os descaminhos do processo político, sinalizando para o papel que deveria ser desempenhado pelos trabalhadores no cenário da luta de classes; sem abrir mão de avaliar que a presença do Partido Comunista, nesse contexto, era uma necessidade histórica. O livro Cangaceiros e Fanáticos: gênese e lutas tem um valor histórico extraordinário. Apresenta uma interpretação inédita das contradições brasileiras, pautada nas questões da terra, nas lutas dos despossuídos, e do poder político em curso no Brasil. E, tudo isso, analisado com o rigor da dialética marxista, pois apreende na história o processo das lutas de classe. 

Ao lado dessa análise, Rui Facó encontra no papel político das classes dominantes uma reação para impedir o ajuntamento de comunidades, entendido aí como ajuntamento de pessoas pobres em várias áreas do Nordeste. Na lógica do poder político, em vigor, essa situação era um perigo à continuidade da dominação de classe que perenizava o latifúndio. E, tinha ao mesmo tempo, uma preocupação dos reacionários com o princípio de solidariedade que se estabelecia nas diversas comunidades onde ocorriam as lutas pela terra.

Rui Facó questionou a leitura oficial sobre o papel que davam às lutas no campo, qualificadas de misticismo e, para alguns, dotada de passividade no processo de resistência. Para ele, podem-se até encontrar características de uma resistência passiva a partir do papel desempenhado por figuras como Antônio Conselheiro, beato Lourenço e Padre Cícero. No entanto, essa passividade como forma de luta, não era real e concreta no conjunto das manifestações de resistências que foram encontradas no campo no século XX, basta analisar Porecatú, as ligas camponesas e Trombas e Formoso.

Sua percepção sobre novos personagens e o papel do campo na formação social brasileira denota seu ineditismo. Ao se contrapor às formulações racistas de Euclides da Cunha, ele construiu uma critica original. Na compreensão sobre o grau de desenvolvimento do capitalismo, na leitura sobre a classe dominante e suas frações, na análise das lutas sociais como princípio pedagógico para a emancipação humana percebe-se a qualidade metodológica de seus instrumentos de pesquisa. Constata-se então, o refinamento conceitual para entender o seu tempo, comprovando ser Rui Facó, a partir da sua síntese explicativa, um intérprete do Brasil.

Lutas sociais e compromisso revolucionário
Rui Facó ficou na sua cidade natal até terminar o ensino básico, quando premido pela necessidade de trabalhar, mudou-se para Fortaleza. Procurou emprego na função em que já demonstrava alguma habilidade, o jornalismo. Nessa cidade, no início dos anos 30, passou a freqüentar o ambiente cultural e político que contestava a ordem em vigor e entrou para o Partido Comunista. 

Em 1935, o país passava por profundas agitações políticas, surgiu a Aliança Nacional Libertadora, um movimento de frente única que contestava o governo Getúlio Vargas; e os levantes armados de novembro em Natal, Recife e no Rio de Janeiro. Rui Facó participou das manifestações de massas que abalaram o ano vermelho de 1935. Logo, transferiu-se para Salvador, trabalhou nos Diários Associados e participou da fundação da revista Seiva, em 1938. Ainda na Bahia, durante a segunda metade dos anos 30, ele foi encarcerado pela polícia getulista em virtude de sua intensa atividade política e intelectual.

Com o fim da segunda guerra, Rui Facó se mudou para o Rio de Janeiro, começando a trabalhar na redação do jornal A Classe Operária. A partir daquele momento, quando passou a escrever para diversos jornais e revistas de todo o país, percebe-se que já estava construindo o alicerce das suas formulações sobre a formação social brasileira. 

A conjuntura no pós-guerra era de ascenso das massas. A imprensa comunista estava em crescimento, isso em virtude da legalidade conquistada pelo PCB e pela grande presença desse operador político no cenário das lutas sociais, no parlamento e na intelectualidade. No entanto, as suas formulações, pautado pelo fogo da conjuntura, contavam com dubiedades que poderiam desarmar o Partido para enfrentar as próximas batalhas. E, foi o que terminou acontecendo. A conjuntura brasileira foi tensionada pela ação bonapartista da classe dominante, que queria evitar qualquer risco à manutenção do poder nas mãos da burguesia, e as frações de classe do bloco no poder, agiram. Mesmo o PCB sendo um partido de massas (contava com 200 mil filiados), com uma importante representação parlamentar pelos estados e no congresso, com uma grande influência cultural, artística e intelectual, o partido foi posto na ilegalidade pelo general Dutra, o Le Petit de plantão. Seus parlamentares foram cassados, começando, outra vez, uma feroz perseguição aos comunistas: com prisões, torturas e assassinatos. É a partir desse cenário político que Rui Facó, em 1952, vai morar na URSS, trabalhando na Rádio Moscou, onde teve uma intensa “atividade literária e jornalística”. 

A última batalha de um intelectual orgânico
De volta ao Brasil em 1958, Rui Facó avançou para desenvolver as bases de suas formulações mais sistemáticas, e aprofundou uma intensa e qualificada intervenção no debate jornalístico em curso, até 1963. Todavia, também encontramos a sua enorme presença, para além desse período, como militante da pena, em muitos periódicos e jornais: Seiva, Flama, Continental, Problemas, Estudos Sociais, A Classe Operária, Tribuna Popular, Hoje, O Momento, O Democrata, Voz Operária, Novos Rumos e na agência de notícias, Interpress.

Como escritor e pensador comunista, Rui Facó nos brindou com alguns textos de imenso valor histórico. Encontramos ainda, uma grande quantidade de artigos e trabalhos sobre acontecimentos relevantes, como a eleição de Miguel Arraes em 1962, para o jornal Novos Rumos. O artigo sobre a fundação do Movimento Unificador dos Trabalhadores, O MUT, instrumento de unidade da classe operária, publicado no jornalTribuna Popular, em 1945. Temos um denso estudo sobre as lutas dos camponeses em 1963, mas, também uma incursão pela crítica teatral, quando da estréia de uma peça de Dias Gomes, em 1962.

Intelectual orgânico e militante político, o historiador Rui Facó dedicou os últimos cinco anos da sua vida (1958-1963) ao exercício da contra-hegemonia ideológica e política, exercendo o papel de jornalista. Foi nessa condição que fez a sua última viagem e lutou a sua última batalha. Morreu no dia 15 de março de 1963 em um desastre aéreo na Bolívia, antes mesmo de completar 50 anos, numa viagem pela América Latina como correspondente do jornal Novos Rumos

Não obstante o prematuro desaparecimento, ele nos legou uma obra que construiu pontes para explicar a realidade brasileira, a partir das lutas sociais e do papel do povo. Afinal, novos atores, trabalhadores do campo e da cidade tiveram em Rui Facó o pesquisador participante, o cientista social e historiador que não foi leviano com a verdade das lutas que marcaram, no Brasil, o breve século XX. 

(*) Milton Pinheiro é professor de Ciência Política da Universidade do Estado da Bahia (UNEB), colunista do jornal Brasil de Fato e autor/organizador, entre outros, dos livros 140 anos da Comuna de Paris (São Paulo, Expressão Popular, 2011) e Caio Prado Júnior: história e sociedade (Salvador, Quarteto, 2010).

Festa do Divino de Paraty 2012


A festa acontece nos dias 18 a 27 de maio de 2012.
A tradicional Festa do Divino Espírito Santo em Paraty já tem programação religiosa definida. Com grande fervor religioso, o evento costuma reunir fiéis de vários lugares da região da Costa Verde e do Vale Paraíba, além de visitantes de outros estados que frequentam periodicamente o município. A expectativa da Secretaria de Turismo é de que 10 mil turistas prestigiem a festa, ou seja, quase 80% de ocupação da rede hoteleira.
DIVINO ESPÍRITO SANTO 2012
A Festa do Espírito Santo, juntamente com a da Padroeira Nossa Senhora dos Remédios, eram as maiores de Paraty. De origem portuguesa em especial da Ilha dos Açores e Madeira, quando o gado vem para o Brasil, é comemorada no Domingo de Pentecostes ou Domingo do Espírito Santo. Esta festa por não existir Irmandade do Divino Espírito Santo em Paraty, praticamente é iniciada no Domingo da Ressurreição, (Páscoa) quando o mastro é erguido junto a Igreja e a folia do Divino, bando volante, com uma bandeira, e alguns instrumentos musicais, percorria o município angariando donativos para o Divino. Existem informações que estas visitas culminavam com jantares e bailes tocados a viola, na zona rural de Paraty nos locais onde pousavam.
Hoje as bandeiras do Divino são levadas pelos festeiros e sua equipe a todas as comunidades onde na abertura da festa todos as trazem novamente com suas doações e pedidos para a caixa de prece.
Aproximando-se o período da Festa, a cidade se prepara e vive intensamente esses dias, sob os comandos de um festeiro escolhido entre as pessoas de destaque da cidade, sob eleição da paróquia Nossa Senhora dos Remédios.
As ladainhas iniciam nove dias antes do Domingo de Pentecostes, com a igreja ornamentada nas cores vermelhas e brancas. Os fiéis partem todos os dias da casa do festeiro, local onde também é montado uma espécie de trono ou altar em que ficam expostas a salva, coroa e cetro do Imperador do Divino, para as orações e as bandeiras. Essa novena possui música própria, conforme atestam as partituras intituladas “Novena do Espírito Santo”.
No Sábado, há distribuição de carne e pão aos pobres, como costumavam fazer na Corte do Rio de Janeiro, e o bando precatório nas ruas.

Filme sobre Lula presidente estreia em Brasília



O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva viaja para Brasília, nesta quarta-feira (25), para a estreia do filme “Pela Primeira Vez”, de Ricardo Stuckert. A sessão será às 20 horas, no Museu Nacional do Conjunto Cultural da República. O filme é um documentário em 3D feito no Brasil e acompanha os últimos momentos do governo Lula e a posse da presidenta Dilma Rousseff.


Filme sobre Lula presidente estreia em Brasília
O ex-presidente Lula viaja à Brasília para a estreia do filme, de Ricardo Stuckert.
 A viagem marca o retorno de Lula à capital federal após o fim do tratamento contra o câncer. Em março, o ex-presidente fez exames que constataram o desaparecimento do tumor que ele tinha na laringe.

Ricardo Stuckert foi fotógrafo da presidência durante os dois mandatos de Lula. Logo na abertura do filme, Lula aparece em visita ao então vice-presidente José Alencar. As imagens são do dia 1º de janeiro de 2011, e Lula fala: “Nunca antes na história do mundo um presidente teve um vice da qualidade que eu tive, companheiro, solidário, fiel ao presidente. Meu companheiro, você é mais que um companheiro, você é um irmão!”.

Dilma Rousseff também aparece em destaque. Stuckert registrou o momento em que a presidenta chora ao assumir a presidência. “E sei que meu mandato deve incluir a tradução mais generosa desta ousadia do voto popular, que após levar à presidência um homem do povo, um trabalhador, decide convocar uma mulher para dirigir os destinos do País. A partir deste momento, sou a presidenta de todos os brasileiros!”.

De Brasília
Com agências

Dalcídio Jurandir, um dos grandes autores da geração de 1930




Professor e estudantes de Letras se dedicaram a estudar um dos maiores autores paraenses em livro.


Um livro que vai agradar em cheio aos estudantes de Letras, aos professores de Literatura e, principalmente, a todo e qualquer bom leitor. Professor e coordenador do curso de Letras da Universidade do Estado do Pará (Uepa), Alonso Junior se dedicou a estudar e destrinchar as obras de um dos mais aclamados escritores paraenses e o resultado de sua análise está em “A Obra de Dalcídio Jurandir e o Romance Moderno”, livro que será lançado em maio próximo pela editora Pakatatu e posteriormente distribuído gratuitamente entre os alunos de Letras de todos os campi da instituição, já que foi redigido como parte do programa de incentivo à pesquisa da Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação (Propesp) da Uepa. “Neste momento, Dalcídio continua sendo o melhor romancista da Amazônia e sua obra precisa ser analisada a partir de um número maior de instrumentos de análise do que os até agora utilizados”, afirma o docente, justificando seu trabalho.

Durante a pesquisa que originou a publicação, Alonso contou com a ajuda de seus próprios alunos. “Em geral, a obra do escritor tem sido abordada de um ponto de vista mais sociológico do que estético. Estudá-lo a partir de um ângulo mais estético, portanto, foi o motivo central da série de artigos que compõem o livro. Um dos artigos é meu e os demais foram escritos pelos alunos do curso de Letras da Uepa. Antes de ser autor, sou um organizador que também escreveu um artigo”, explica.

Desconhecimento

Para ele, Dalcídio Jurandir é um escritor injustiçado. “Ele é pouco conhecido fora das fronteiras regionais quando se considera que seu talento pelo menos se iguala ao de José Lins do Rego, Raquel de Queiroz e Graciliano Ramos, para citar apenas alguns autores que são bastante conhecidos no cenário brasileiro”, detalha. “Penso que há uma questão muito relevante que a pesquisa detectou e que até agora foi pouco estudada: diferentemente dos romancistas brasileiros da geração de 30, na qual os romances de Dalcídio tem, pelo menos, um dos pés fincados, não existe na sua leitura do mundo uma perspectiva otimista da superação dos problemas humanos fundada no socialismo.

Ao contrário da leitura de Graciliano Ramos, por exemplo, a de Dalcídio não é solene, dramática, digamos, mas bem humorada, irônica até, ou se quisermos, desencantada”, destaca, enaltecendo a grandiosidade do paraense.

Comparação

Se o autor é pouco conhecido no cenário nacional, suas características o tornam comparável a mundialmente célebres romancistas. “Este pormenor o faz diferente dos outros romancistas desta geração, ao mesmo tempo em que o aproxima de vários autores europeus que, desde a segunda metade do século XIX e no início do XX, abordam o homem sob este ângulo. É o caso de Flaubert, Machado de Assis, Thomas Mann e Joyce, para citar apenas alguns deles.

Fonte: Diário do Pará

Samba fica mais triste; morre o malandro Dicró




“Fecharam!/ Fecharam o paletó do Ricardão (se a moda pega...)/ E no velório foi a maior confusão/ É, no enterro saiu xingamento e até palavrão/ Por causa de um monte de mulher amada querendo pegar na alça do caixão// Cento e cinquenta mulheres chorando acompanhando o caixão/ Com mais de setecentas velas iluminando o garanhão/ Na hora da despedida as mulheres queriam uma recordação/ Levaram a calça, a camisa e a cueca tiraram um pedaço do pau do caixão” (trecho de velório do Ricardão).


Dicró era conhecido por suas letras irreverentes e com duplo sentido
 
Com 66 anos, o compositor sofria de diabetes e de insuficiência renal. Passou mal após uma sessão de hemodiálise e foi levado para o hospital, onde sofreu um infarto e não resistiu. Morreu na noite desta quarta-feira (25), em Magé, no Rio de Janeiro.

O apelido "Dicró" veio da assinatura que ele utilizava com as suas iniciais "De C.R.O." quando fazia parte dos compositores de um bloco de Nilópolis.

“O carisma do cantor e compositor Dicró é um fenômeno mais restrito ao humor carioca, algo que os paulistas, por exemplo, não entendem bem. Apesar dele também ser razoalvemente conhecido em Sampa, Dicró é mais querido no Rio de Janeiro”, escreveu o jornalista Sidney Rezende.

Dicró era conhecido por compor sambas bem-humorados, recheados de sátira e brincadeiras, principalmente, com as sogras. 

“Ninguém aguenta mais a vaca da minha sogra/ Vaca da minha sogra/ A família da minha mulher/ Vejam que situação/ Todo mundo da família/ Tem um animal de estimação// Mas a vaca da minha sogra/ Virou um problema para o povo/ Assustando as criancinhas/ E correndo atrás dos outros”. (Trecho de A Vaca da Minha Sogra).

Na década de 1990, Dicró formou parceria com os sambistas Moreira da Silva e Bezerra da Silva, encontro que resultou no álbum “Os 3 malandros in concert”.

O enterro de Dicró está marcado para a tarde desta quinta-feira (26), no cemitério Jardim da Saudade em Mesquita, cidade natal de Dicró, na Região Metropolitana do Rio.

Da Redação, com agências

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terça-feira, 24 de abril de 2012

Sergipe lança cartilha sobre religiões de matriz africana


Com o objetivo de valorizar a cultura afro e sua história, foram lançados o catálogo "Religiões de Matriz Africana em Sergipe e a "Cartilha Pedagógica das Religiosidades de Matriz Africana e da Promoção da Igualdade Racial". Material será distribuído gratuitamente nas escolas públicas e privadas do estado.




Foto: Agência Sergipe de Notícias

O primeiro é pré-mapeamento dos terreiros de candomblé e de umbanda de Sergipe, e ajudará a identificar onde estão esses terreiros, para que a história e a identidade das religiões de Matriz Africana fiquem na memória do povo sergipano.

Já o segundo, a cartilha, tem uma função pedagógica e ajuda a reforça a Lei Federal 10.639 de 2003, que obriga as escolas públicas a implementar a disciplina ‘História da África e da Cultura Afro-Brasileira’. Ou seja, servirá de instrumento pedagógico nas escolas para ser trabalhada no contexto da igualdade racial e respeito às diversidades. O material será distribuído nas escolas públicas e privadas, ainda este ano.

O evento de lançamento aconteceu no auditório da Associação dos Engenheiros Agrônomos de Sergipe (Aease), na sexta-feira (20), e contou com a participação do governador de Sergipe Marcelo Déda (PT), da ministra de Estado Chefe da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, Luiza Helena de Bairros, e o secretário de Estado dos Direitos Humanos e da Cidadania, Luiz Eduardo Oliva. Também estiveram presentes yaloxirás, babalorixás, filhos e mães de santo, entre outros.

“Há preconceitos raciais e ao direito das pessoas de exercerem a sua liberdade de religião, especialmente as religiões afrodescendentes. Portanto, discutir a discriminação racial, os direitos fundamentais das pessoas e grupos humanos, construir normas, atitudes e legislações que possam romper os últimos grilhões é uma obrigação do Estado e é um dever da sociedade. Então, Sergipe colabora quando, em parceria com o Governo Federal, lança uma cartilha e catálogo que enaltece as religiões de matizes africanas”, ressaltou o governador Marcelo Déda em seu discurso.

A ministra Luiza Helena de Bairros lembrou que atualmente existem condições de promover, através de ações governamentais, a inclusão das pessoas negras. “O Brasil vive hoje sobre a égide do Estatuto da Igualdade Racial, que prevê como obrigação para o setor público a adoção de várias medidas afirmativas em todas as áreas da vida social. Temos instrumentos, o que falta é a escolha política dos governantes”.

Sobre a cartilha, ela enfatizou que o material contribui com uma nova mentalidade da sociedade. “Esse é um aspecto do nosso trabalho, que é a formação de novas mentalidades, a partir de conhecimento que são gerados levando em conta e valorizando a experiência negra no Brasil”.

O secretário de Estado Luiz Eduardo Oliva frisou que trata-se de um momento importante para a política estadual de promoção da igualdade racial: “São políticas afirmativas que levam a uma maior conscientização da necessidade de permanente combate ao racismo, à discriminação, avançando sempre na promoção da igualdade racial”.

Exposição

Na área externa da Aease, o público presente conferiu a exposição de quadros 'Orixás', da ialorixá Lígia Borges e assistir a apresentação de dança de filhos de santo, que com seus atabaques entoavam cânticos nagô. Foi oferecido também um coquetel de comidas típicas africanas.

Com Agência Sergipe de Notícias

Rio de Janeiro: concertos comemoram o Dia Nacional do Choro




O feriado estadual de desta segunda-feira (23) no Rio, dedicado a São Jorge, também é uma oportunidade para os cariocas comemorarem o Dia Nacional do Choro. A data foi instituída no ano 2000, em homenagem ao aniversário de Alfredo da Rocha Viana, o Pixinguinha, compositor, instrumentista, maestro e um dos grandes nomes da música brasileira.


Autor de clássicos como Carinhoso, Lamentos e Um a Zero, Pixinguinha foi um dos responsáveis, na primeira metade do século 20, pela consolidação do choro como gênero musical, brasileiríssimo e carioca.

Para comemorar a data, três concertos gratuitos estão sendo apresentados desde as 11h no Parque Garota de Ipanema, no Arpoador, zona sul do Rio, com diferentes formas de interpretação do choro. “Reunimos uma forma mais contemporânea de interpretação do gênero, um dos mais tradicionais grupos de choro e um duo com dois dos maiores virtuosos em seus instrumentos na música brasileira, que são Jorge Simas, no violão de sete cordas, e Dirceu Leite, nos sopros”, explica o diretor do espetáculo, Didu Nogueira.

A contemporaneidade ficou para o Choro Elétrico, de Alceu Maia. Nas sequência da programação, o Galo Preto, conjunto formado em 1975, é o segundo do gênero em tempo de atividade, só superado pelo tradicional Época de Ouro. No repertório, clássicos de Pixinguinha, Ernesto Nazareth, Jacob do Bandolim e Waldir Azevedo, entre outros compositores.

Depois da apresentação de Jorge Simas e Dirceu Leite, o evento será encerrado pela Companhia Dançando para Não Dançar, formada por bailarinos vindos de comunidades populares do Rio de Janeiro. Eles vão dançar uma coreografia criada pela diretora do grupo, Thereza Aguilar, para o choro Urubu Malandro, de Pixinguinha.

Apesar do tempo meio encoberto, centenas de cariocas e turistas acompanham os concertos, em suas próprias cadeiras de praia e nas 120 cadeiras disponibilizadas pela produção do evento, que tem patrocínio da Secretaria Estadual de Cultura.

Fonte: Agência Brasil

sábado, 21 de abril de 2012

Nos ombros do Visconde de Sabugosa



Eu me criei na Ilha de Marajó, vai contando Zezinho... Conhecido pela participação na Guerrilha do Araguaia, o ex-mateiro excepcionalmente não toca agora nesse assunto, devaneia e busca a arca da infância, de onde surge um Monteiro Lobato muito mais heroi da pátria do que autor de literatura infanto-juvenil.

Por Christiane Marcondes, do Vermelho



Zezinho do Araguaia Zezinho do Araguaia
“Monteiro Lobato era ídolo do meu pai, que sabia tudo sobre ele e contava pra nós”. Nós -- entenda-se -- eram ele e seus irmãos, crescendo em uma Belém do começo do século 20, muito distante no tempo e no espaço do insondável sítio do Picapau Amarelo.

Aqui Zezinho sorri, se desarma do militante e fica com olhar perdido de moleque, nostálgico. Diz que o pai nasceu em 1901, foi praticamente contemporâneo de Lobato e acompanhava cada nova façanha do paulista: “Lobato era o Julio Verne brasileiro”, afirma, repetindo o pai, que igualava o visionarismo do francês ao do brasileiro.

Se Julio Verne viajou ao centro da terra na imaginação, Monteiro Lobato prospectou verdadeiramente as camadas do subsolo brasileiro em busca de petróleo: "O solo, a superfície, apenas permite a subsistência. O enriquecimento vem de baixo. Vem do subsolo", afirma o autor em uma de tantas cartas que escreveu defendendo o nacionalismo e a soberania do país por meio da exploração e apropriação de suas riquezas, como petroleo e ferro.

“Os americanos mentiam, diziam que aqui não havia petróleo, mas o Lobato fez fortuna e gastou toda fortuna cavando poços pelo país”, garante o comunista. A partir daqui não importa o que são armadilhas da memória ou retalhos de vida, o fato é que Zezinho, batizado Micheas Gomes de Almeida pelo pai, cresceu, como tantos e tantos de nós, ouvindo as histórias de Narizinho, Pedrinho, Tia Sinhá e Dona Benta.

Penso em como a fantasia de Lobato foi longe, criando ponte entre mundos, como o da floresta amazônica de Zezinho e o do cinema mudo americano onde o Gato Félix originalmente vivia  até vir tomar parte das aventuras de Narizinho.

Félix reuniu-se à multidão de personagens saída da imaginação do escritor e a outros, da mitologia ou história mundial, que Lobato incorporou à sua prosa. Ela "engordou" a bagagem cultural não só de Zezinho como do pai, que confessava, sempre com muito orgulho: “Entrei na escola pela porta da frente nos ombros do Visconde de Sabugosa”.

Sabugosa, a espiga de milho com título de nobreza e sabedoria de mestre, torna-se, assim, “professor” não só da boneca Emília e dos outros meninos do Sítio, mas de milhares de brasileirinhos, como o pai de Zezinho, como o próprio Zezinho. Que termina a entrevista com seu assunto preferido, de volta ao petróleo de Monteiro Lobato, certamente um tema que apreciava tanto por conta da sua incipiente, naqueles tempos, vocação política.

Lobato faria 130 anos no dia 18 de abril, Zezinho fará 78 no dia 21, também em abril. Lobato deixou uma herança na terra que o torna eterno na história dos homens. Zezinho, que morou na rua Sonho dos Sonhos, no bairro paulistano da Conquista, que bravamente conseguiu tirar Angelo Arroyo das matas no Araguaia, roubando até cavalo na missão, que misteriosamente perdeu a memória desse passado durante 20 anos até recuperar cenas vívidas dos tempos da militância, também se eterniza nas veredas do comunismo, que ainda trilha. Tem muitos planos para o futuro, um deles, inaugurar um monumento à Guerrilha do Araguaia, capítulo da nossa história que finalmente está entrando pelos portões escolares, quem sabe chega aos livros didáticos, outra empreitada a que se lançou Lobato, também editor, diplomata, empresário.

sexta-feira, 20 de abril de 2012

Estilo, tradição e alegria de Jorginho do Pandeiro



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Rosa Minine   

Filho de uma família de músicos profissionais, irmão de um dos maiores violonistas do Brasil, o Dino 7 Cordas, e do importante cavaquinista Lino, Jorginho do Pandeiro participou das famosas orquestras do rádio brasileiro e gravou com Canhoto e Jacob do Bandolim. Hoje, aos 77 anos de idade, ele é o diretor do tradicional conjunto Época de Ouro e professor na Escola Portátil de Música, ao lado do filho Celsinho.

http://anovademocracia.com.br/41/20b.jpgCom seis anos de idade Jorginho já tocava o seu pandeiro, instrumento de que gostou a primeira vista. O menino 'levava tanto jeito para a coisa' que acompanhava os músicos do conjunto amador de seu pai, que era violonista. Eram cinco irmãos: Lino, Dino, Nilda, Jorginho e Antônio; somente o caçula não quis saber de música.
— Aos sábados acontecia em minha casa o que chamávamos de baile, algo bem comum naquela época. Era uma espécie de festa de música, onde se tocava e dançava a noite toda— conta Jorginho.
Os muitos parentes músicos, entre eles: Dino e Lino, o primo Tico-tico do Cavaquinho e os seus irmãos violonistas, o primo Carlinhos do pandeiro, e outros, dividiam espaço com famosos nomes das orquestras do rádio.
— Nossa casa era freqüentada por Benedito Lacerda, Jacob do Bandolim, Canhoto, Meira. Morávamos em Santo Cristo, onde nasci, no centro do Rio. A rádio Tupi era ali perto e o pessoal de lá estava sempre nos nossos bailes. O Gilberto, que foi um dos fundadores do Época de Ouro, de tanto frequentar a minha casa acabou casando com a minha prima Arlete (risos) — diz.
Jorginho é considerado pelos amigos professores da Escola Portátil de Música, como alguém que tem um jeito diferente de tocar, um estilo marcante e sensacional.
— Sempre convivi com grandes pandeiristas e observei a maneira de cada um tocar, inclusive aprendi desta forma, e fui criando o meu estilo. Acho que é por isso que dizem que eu tenho um jeito diferente. Mas, creio que cada pessoa tem isso também, por mais que tenha aprendido com alguém. Por exemplo, eu ensinei meu filho Celsinho e ele tem o jeito dele. Ele ensinou meu neto Eduardo que também tem seu estilo próprio — defende.
— Há pouco tempo fui fazer um show com o Paulinho da Viola, e no ensaio ele comentou: 'engraçado o Celso toca igual ao Jorginho, mas tem uma diferença' (risos). Também na Escola Portátil, os garotos que tocam pandeiro aprenderam comigo e com o Celso e tocam bem, mas diferente — acrescenta.
Jorginho começou a tocar profissionalmente aos quatorze anos de idade.
— O Ademar Nunes, violonista do regional do Rogério Guimarães, ligou para meu irmão Lino, em um sábado à noite, procurando ajuda para montar um regional para um programa que começaria no dia seguinte, na rádio Tamoio. Só estava faltando o pandeiro. O Lino disse: 'Essa hora será difícil arranjar alguém, mas tenho um irmão que toca pandeiro com a gente em casa. Posso levá-lo e no outro domingo você consegue alguém'. Ele concordou. Eu fui e fiquei — lembra.
— Depois o Rogério Guimarães me convidou para ir para a rádio Tupi, já como contratado. Oito meses depois o Lino foi para a Nacional e me levou com ele. Nesta época eu estava com 18 anos de idade, lá trabalhei por 29 anos — continua.
Mais tarde, Canhoto assumiu o comando do regional do Benedito Lacerda, e o regional foi tocar na rádio Mayrink Veiga. Jorginho, que já fazia parte do conjunto, passou a trabalhar nessas duas rádios, e por coincidência do lado de seus irmãos, na Nacional com Lino, e na Mayrink com Dino.

O PODER E O FIM DAS RÁDIOS

Jorginho conta que as rádios tinha uma força e popularidade muito grande nas décadas de 30, 40 e 50. Só a rádio Nacional contava com uma quantidade de músicos que daria para formar umas quatro orquestras.
— Fazíamos programas musicais diversos, acompanhando os cantores, tudo ao vivo. Quatro da madrugada já tinha gente formando fila para comprar ingresso e participar dos programas, que ficavam superlotados — diz.
Segundo Jorginho isso tudo acabou quando aconteceu o golpe militar em 1964.
— Praticamente todas as rádios fecharam suas portas e outras sofreram intervenção. A Mayrink Veiga e outras do mesmo porte nunca mais reabriram. A Nacional, que era do governo, ficou funcionando, mas acabou a sua programação. Eu continuei indo lá todos os dias para assinar o ponto — conta.
— O rádio tinha um grande poder, uma grande força junto ao povo e por isso mesmo foi duramente atacado. Tínhamos várias antenas de ondas curtas, algumas especiais para o exterior, e uma programação que além da boa música, falava bastante da política — acrescenta.
Jorginho diz que a televisão não chegou a prejudicar o rádio, ou ser a responsável pela sua queda.
— Creio que haveria uma grande interação entre os dois veículos. Posso dizer que fomos nós da rádio Nacional que inauguramos a televisão no Brasil, porque em 1950 filmaram um dia inteiro de programação da rádio e essas imagens foram exibidas em aparelhos colocados em casas de pessoas importantes, no centro do Rio. Uma espécie de teste — diz.
— Depois a rádio Nacional ganhou de Juscelino Kubitschek, então presidente, uma estação de televisão. Toda a aparelhagem estava no cais do porto quando houve o golpe e ficou presa por lá por muitos anos. Há algum tempo foi para Brasília e hoje a nossa aparelhagem se transformou na TV Nacional de Brasília — continua.
— Acredito que a Nacional tinha tudo para fazer uma televisão sensacional, tanto que quando a Globo começou, justamente na época do golpe, pegou artistas e músicos da Nacional para sua programação. Cheguei a tocar na Globo, mas sem contrato. Também toquei na Tupi e Excelsior. Mas as televisões não mantiveram o estilo do rádio, com orquestras ao vivo — acrescenta.
Depois que o rádio acabou e os regionais começaram a não encontrar espaço na televisão, Jorginho passou a se dedicar a tocar em shows no tradicional conjunto Época de Ouro, fundado por Jacob do Bandolim em 1964.
— Com a morte de Jacob em 1969 o conjunto parou suas atividades e voltou novamente em 1972, quando entrei. De lá para cá temos nos apresentado pelo Brasil e exterior, e gravado discos. Outros também estão para sair. Um já está prontinho esperando somente acertarmos uma distribuidora. É um disco ainda com a participação do Dino e do César Faria, pai do Paulinho da Vila, que fizeram parte do conjunto e já faleceram — conta.
A formação atual do Época é: Jorginho, o diretor, seu filho Jorge Filho, no cavaquinho, André no violão, Toni no violão de 7 cordas, Ronaldo no Bandolim e Antônio Rocha na flauta.
— Tínhamos três violões, com a saída do César Faria ficamos somente com dois. Então resolvi substituir o terceiro por uma flauta. Com isso mudou um pouco o som do conjunto, mas para melhor — declara Jorginho do Pandeiro.
No momento o Época está fazendo um show em homenagem a Jacob do Bandolim. O grupo já fez apresentações em Curitiba, agora em março fará em Brasília e Salvador, e em Abril se apresentará em São Paulo e Rio de Janeiro.

Arte cubana: além das grades imperialistas



Dois dos patriotas cubanos, Antonio Guerrero e Gerardo Hernández, exibem sua arte no Reino Unido – apesar de estarem encarcerados nos Estados Unidos – em uma mostra que extrapola a estética contemporânea e levanta questões políticas ainda insolúveis 

Por Christiane Marcondes*


Por quien merece amor, de Antonio Guerrero - detalhe
Por quien merece amor, de Antonio Guerrero - detalhe
Antonio Guerrero e Gerardo Hernández, dois dos artistas que participam da mostra Além da imagem (“Beyond the frame”, em inglês), não poderão estar presentes à noite de abertura da exposição, em maio. Eles integram o grupo dos “Cinco Patriotas” e estarão em suas celas de alta segurança em um presídio estadunidense quando a mostra londrina for inaugurada.

Presos injustamente em abril de 2001, em Miami, eles estavam infiltrados em grupos terroristas anticastristas da Flórida, tentando impedir atos de sabotagem política em Cuba. Em um deles, hotéis de Havana foram incendiados nos anos 1990, prejudicando a indústria turística que experimentava um momento de alta.

Os cubanos foram condenados a penas que vão desde 15 anos a prisão perpétua sob a acusação de que estavam atuando nos Estados Unidos a serviço de uma potência estrangeira. 
Os advogados dos cinco patriotas argumentaram, sem êxito, que um julgamento justo seria impossível no ambiente tóxico e anticastrista que predomina em Miami. Em 2011, um dos cinco, René González, saiu da prisão, mas está sendo mantido em liberdade condicional na Flórida.

Experimentalismo


A exposição de arte Além da imagem, que será inaugurada em Glasgow em maio, mostrará o trabalho de 26 dos mais conhecidos artistas cubanos e de outros 20 nomes estrangeiros que doaram suas obras para chamar atenção sobre o caso. É a maior coleção de artistas cubanos já apresentada no Reino Unido. 

“A arte de Cuba é muito surpreendente”, disse Dodie Weppler, especialista em arte cubana e coordenadora da exposição: “A cultura sempre foi um fator essencial na tradição cubana de origem e, com a Revolução, tornou-se possível levar a arte a um grau de experimentação em escala nunca vista nas Américas”. 

Entre os artistas expositores cubanos - como “Kcho”, Manuel Mendive, “Choco”, José Fuster, Juan Roberto Diago – alguns são mundialmente reconhecidos.

Outros artistas, a maioria do Reino Unido, doaram seus trabalhos para apoiar a mostra, entre eles estão John Keane, Mona Hatoum, Alasdair Gray, Derek Boshier, John Byrne, David Harding, o coletivo kennardphillipps o cartunista do The Guardian, Steve Bell.

Arte e liberdade

Antonio Guerrero aprendeu a desenhar e pintar na prisão emFlorence, Colorado, com ajuda de um companheiro de cela, um artista afro-americano. Guerrero trabalha com aquarela e pastel, explorando temas como aves exóticas e borboletas. Escreveu que por meio da arte “tem vencido a prisão”. Hernández já era cartunista amador antes de ser preso e fazer caricaturas se tornou a sua especialidade no campo artístico.

A arte era originalmente vista como elemento chave da revolução cubana. Existem ainda 14 escolas de arte na ilha e uma universidade de artes plásticas em Havana. De acordo com René Duquesne, do Conselho de artes Visuais de Cuba, há 13 mil artistas registrados na instituição. “Com este número, não há número suficiente de galerias para atender à demanda e a maioria dos materiais precisa ser importada”, declara.

“O bloqueio estadunidense provoca enormes dificuldades para as pessoas que querem viver da arte, porque elas não recebem salário, a não ser que consigam se colocar no mercado como designers, professores ou em áreas relacionadas. Do contrário, só lhes resta vender a obra e, para isso, são forçados a buscar saídas fora de Cuba”.

Arte e investimento

Weppler garante que a reputação da arte cubana vem crescendo de modo constante, conforme demonstrou um artigo do the Wall Street Journal, de quatro anos atrás. Apesar de o veículo não estar entre os que admiram o governo da ilha, o texto identificou “Cuba como o centro mais atrativo da arte” para investidores.
Os Estados Unidos, no entanto, mantêm o bloqueio contra Cuba e a proibição quase total de que os estadunidenses visitem a ilha, mesmo com o ligeiro afrouxamento das restrições durante o governo Obama. 

“Batizamos a exposição de Além da imagem porque propomos uma ruptura com a tradição da estrutura como um limite e reconhecemos que os cinco patriotas foram enquadrados, como num frame, pelo governo dos Estados Unidos, estão presos nesse instantâneo do tempo”, disse Weppler, que organizou esta mostra em parceria com a Campanha de Solidariedade a Cuba, na esperança de atrair a atenção mundial para o caso dos cinco cubanos – uma causa urgente na ilha – bem como para a arte dessa população caribenha.

“Eu não sabia muito sobre os cinco patriotas”, declarou Keane, artista que denunciou a guerra do Golfo em 1991. “porém acredito no uso da arte para acelerar o curso da justiça. Se a arte pode proporcionar algum tipo de consciência, esse papel lhe cai melhor do que se transformar simplesmente em moeda de valor para pessoas muito ricas”.

Boshier, artista britânico que vive em Los Angeles, disse que a primeira obra que assinou estava vinculada à ilha”. Foi realizada em 1961 e tinha como título “A situação em Cuba”: “Foi uma reação à Baía dos Porcos (uma fracassada invasão de exilados cubanos comandada pelos Estados Unidos). Sua contribuição com a exposição atual é uma reconstrução desse trabalho, porém sob a perspectiva de 2011.

*Para o Vermelho, com informações do The Guardian

Serviço:Além da imagem - Arte Cubana Contemporânea 
Galllery El Faro, Glasgow, de 7 a 13 de maio.