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sábado, 20 de agosto de 2011

Memória: os 122 anos da poeta Cora Coralina











O Senado comemora nesta segunda (22), a partir das 14h, os 122 anos de nascimento de Ana Lins dos Guimarães Peixoto Brêtas, a poeta e contista conhecida pelo pseudônimo de Cora Coralina. O requerimento solicitando a homenagem é de autoria do senador Rodrigo Rollemberg (PSB-DF).
Cora coralina nasceu na cidade de Goiás (GO), no dia 20 de agosto de 1889. Publicou seu primeiro livro - Poemas dos becos de Goiás e estórias mais - aos 76 anos de idade, embora tenha começado a escrever os primeiros textos aos 14 anos. Os escritos da adolescência e juventude eram publicados nos jornais da cidade de Goiás e também em outras cidades do estado. Naquele tempo, apesar de viver numa sociedade conservadora e machista, Cora era saudada como uma promessa literária.
A temática de seus escritos foi, desde os primeiros tempos, a história, os personagens e o cotidiano de sua região.
Depois da publicação dos Poemas dos becos de Goiás e estórias mais, em 1965, Coralina publicou, em 1976, Meu livro de cordel. Outras obras da autora são: Estórias da casa velha da ponte (contos); Meninos verdes (infantil); O tesouro da casa velha; A moeda de ouro que o pato engoliu (infantil); Vintém de cobre; e As cocadas (infantil).
Cora casou-se em 1910 com o advogado Cantídio Tolentino Bretas, com quem se mudou, no ano seguinte, para o interior de São Paulo. Passou 45 anos no estado, vivendo inicialmente no interior, em Avaré e Jaboticabal, e depois na capital, onde chegou em 1924. Nas primeiras semanas, teve que permanecer trancada num hotel em frente à Estação da Luz, uma vez que os revolucionários de 1924 pararam a cidade. Em 1930, presenciou a chegada de Getúlio Vargas à esquina da rua Direita com a praça do Patriarca. Um de seus três filhos participou da Revolução Constitucionalista de 1932, contrária a Getúlio.
Com a morte do marido, em 1934, Cora passou a vender livros como meio de sustentar os filhos. Em seguida, mudou-se novamente para o interior paulista. Na cidade de Penápolis, passou a vender linguiça caseira e banha de porco que ela mesma preparava. Transferiu-se em seguida para Andradina, até que, em 1956, retornou a Goiás, voltando a morar na casa velha da ponte, que habitaram em criança. Ali exerceu por muitos anos o ofício de doceira, pois pouco restara dos bens que sua família um dia havia possuído, até que uma queda limitou seus movimentos, obrigando-a a andar com o auxílio de uma muleta.

O mestre
Nessa casa, hoje um museu, Cora gostava de receber parentes, amigos e visitantes ansiosos por conhecê-la. Além da conversa amigável com a artista, os turistas se serviam sempre de algum doce ou quitute da casa, feitos sob a supervisão da própria doceira-escritora. Uma das frases que gostava de repetir a seus interlocutores: "Todos estamos matriculados na escola da vida, onde o mestre é o tempo".

Glauber Rocha: revolucionar a arte e a vida


Por José Carlos Ruy




O legado do genial criador de Terra em Transe e Deus e o Diabo na Terra do Sol foi o rompimento com a estética americanizada e o olhar agudo sobre as contradições nacionais
Faz 30 anos que o Brasil e o cinema perderam o baiano Glauber Rocha (Vitória da Conquista, 14 de março de 1939 – Rio de Janeiro, 22 de agosto de 1981), expoente e teórico do Cinema Novo, autor de filmes antolólgicos que revolucionaram a arte cinematográfica e marcaram a cultura brasileira desde a década de 1960.
Glauber começou a filmar no final da década de 1950, tendo realizado o filme Pátio (1959) ainda no tempo de estudante. No clima político e intelectual efervescente do início dos anos 60, produziu os titulos que fizeram sua fama e legado, como Barravento (1962) e Deus e o Diabo na Terra do Sol (1963), seguidos pelos clássicos Terra em Transe (1967), que foi o manifesto de uma geração, diz a crítica Ivana Bentes, e O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro(1968).
Glauber foi o porta-bandeiras de uma arte engajada e de uma estetética que, rompendo com a linguagem cinematográfica que copiava os modelos norte-americanos, fosse capaz de exprimir as contradições, complexidades e visões de mundo dos países pobres.
Depois de 1964, foi colocado, claro, na lista dos inimigos da ditadura militar (embora, no final dos anos 70, tenha reavaliado favoravelmente sua opinião sobre os militares). Com o endurecimento da ditadura a partir de 1968, as condições de trabalho ficaram cada vez piores.
Glauber, que havia sido preso em 1965, ficou novamente na mira da repressão. A prisão no final de 1970 da equipe de O Pasquim, do qual era colaborador, foi o estopim e, em 1971, partiu para um exílio quase permanente pelo resto de sua vida.
No exterior, seus filmes faziam um sucesso crescente. Barravendo foi premiado, em 1963, no Festival Internacional de Cinema da Tchecoslováquia; em 1964, Deus e o diabo na terra do sol recebeu o Grande Prêmio no Festival de Cinema Livre da Itália e o Prêmio da Crítica no Festival Internacional de Cinema de Acapulco.
Terra em Transe trouxe um reconhecimento internacional mais amplo, com várias conquistas: o Prêmio da Crítica do Festival de Cannes, o Prêmio Luis Buñuel, na Espanha, Prêmio de Melhor Filme do Festival Internacional do Cinema de Locarno (Itália), e o Golfinho de Ouro como melhor filme do ano no Rio de Janeiro. O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro também conquistou o prêmio de melhor direção no Festival de Cannes e também o Prêmio Luiz Buñuel.
Artista de vida intensa, dizia não temer a morte. Em Sintra, Portugal, onde morou nos últimos anos, chegou a dizer ao ator Patrick Bauchau, que lá estava com Wim Wenders para filmar O Estado das Coisas, que "para a média de idade de um latino-americano, aos 42 anos já vivi bastante".
O principal, para ele, era mudar o mundo, não só no plano da estética mas, também no plano da vida, da política, da sociedade. E, baiano do sertão mas criado em Salvador, conhecia a índole brasileira como poucos. "Nossa cultura é a Macumba e não a ópera. Somos um país sentimental, uma nação sem gravata", disse certa vez (esta frase, e as seguintes, foram coletadas por Ivana Bentes e publicadas no texto “Glauber Rocha”, em http://www.vidaslusofonas.pt/glauber_rocha.htm).
A mistura, em sua memória, das leituras da Bíblia na infância, das histórias sertanejas de matadores de cangaceiros e outras lendas do interior, foram férteis e, desde muito jovem, dizia que seria um escritor para escrever "sobre minha terra. Prefiro os escritores brasileiros aos europeus.” E, aliás, tinha uma identificação forte com os românticos brasileiros.
Certa vez pediu ao poeta e jornalista baiano João Carlos Teixeira Leite (o “Joca”, dono do Jornal da Bahia,, que foi colega de escola de Glauber no Colégio Central e se tornou seu amigo íntimo): "Quando eu morrer escreva no Jornal da Bahia que, como Álvares Azevedo, foi poeta/sonhou/amou na vida".
Menino ainda, aprendeu a amar a poesia de Castro Alves, que via como um “amante das antíteses e das hipérboles”, como ele, próprio. “Sofro da mesma exaltação poética! Ao longo da minha vida, a admiração pelo poeta abolicionista só foi superada pela identificação com o cineasta russo Sergei Eisentein, fui até Moscou em 1976, para ver seus arquivos, e tenho verdadeira reverência por Bertold Brecht. Mas "a poesia e a política são demais para um só homem!"
Fiel ao lema que inventou – uma ideia na cabeça e uma câmara na mão - Apoiou a revolução cubana, filmou a Revolução dos Cravos em Portugal, em 1975, rodou o mundo para filmar as esperanças e as perplexidades dos povos, aproximou-se, em Paris, da Aliança de Libertação Nacional (ALN),encontrou-se com Luís Carlos Prestes em Moscou, em 1976. Deixou a vida jovem, com 42 anos de idade, deixando um legado de engajamento estético e político intenso, poucas vezes superado.
Filmes
Ano Filme
1962 Barravento
1963 Deus e o Diabo na Terra do Sol
1967 Terra em Transe
1968 O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro
1970 Cabeças Cortadas
1971 O Leão de Sete Cabeças
1972 Câncer
1975 Claro
1980 A Idade da Terra




Documentários e curta-metragens
Ano Filme
1959 Pátio A
1959 A Cruz na Praça
1965 Amazonas, Amazonas
1966 Maranhão 66 B
1974 História do Brasil
1974 As Armas e o Povo C
1977 Di Cavalcanti
1979 Jorge Amado no cinema

Livros de Glauber Rocha:
Revolução do Cinema Novo. Alhambra/Embrafilme. Rio de Janeiro.1981.
O século do Cinema. Alhambra. Rio de Janeiro. 1985.
Roteiros do Terceyro Mundo. Org. Orlando Senna. Embrafilme e Alhambra. Rio de Janeiro. 1985.
Revisão Crítica do Cinema Brasileiro. Ed. Civilização Brasileira. Rio de Janeiro. 1963
Riverão Sussuarana (romance). Ed. Record. Rio de Janeiro. 1978
Cartas ao Mundo. Glauber Rocha. Organização e apresentação: Ivana Bentes. Companhia das Letras. 1997.

Livros sobre Glauber Rocha:
Bentes, Ivana. "Transe, Crença e Povo"; "Estéticas da Violência"; "Romantismo, Messianismo e Marxismo"; "Glauber e o fluxo audiovisual antropofágico" :in A Missão e o Grande Show: políticas culturais nos anos 60 e depois. Editora Tempo Brasileiro. 1999. Org. Angela Dias.
Gerber, Raquel. (org.) Glauber Rocha. Ed. Paz e Terra. Rio de Janeiro. 1977
Gomes, João Carlos Teixeira. Glauber Rocha: esse vulcão. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1997
Xavier, Ismail. Sertão Mar - Glauber Rocha e a Estética da Fome.Ed. Brasiliense. São Paulo. 1983.

Na internet
Bentes, Ivana. Glauber Rocha, in http://www.vidaslusofonas.pt/glauber_rocha.htm

A Menina das Nuvens

Alexandre Freitas





Villa-Lobos. Mencionar seu nome desperta a altivez do brasileiro. Ele está entre nossos grandes artistas. Ninguém duvida.

Porém, no centro da nossa esquizofrenia nacional, o orgulho é diretamente proporcional à ignorância que temos da obra do músico carioca. Nos gabamos do rótulo, mas desprezamos o conteúdo. Não me lembro de outro compositor brasileiro que seja tão reconhecido e tão desconhecido ao mesmo tempo. Cinquenta e dois anos depois de sua morte, boa parte da obra permanece obscura no cenário nacional. Muitas nem editadas foram. Grande parte circula nas escolas de música e universidades em forma de fotocópias de originais há décadas fora de circulação.

Algumas faces de Villa-Lobos são particularmente estranhas ao público nacional. É o caso da sua inclinação lírica, de compositor de ópera. As oportunidades de conhece-la são raríssimas. Por isso, A Menina das Nuvens, em cartaz no Theatro Municipal de São Paulo, é preciosa ocasião para se aproximar do nosso principal compositor da chamada música clássica ou erudita. É com essa ópera que inaugura-se a temporada lírica do Municipal, reformado e novo em folha. Para se ter uma ideia da raridade da ocasião é preciso saber que a ópera foi apresentada somente em dois momentos: em 1960 no Rio de Janeiro e em 2009 em Belo Horizonte.

Para que a obra se concretizasse nessa bonita montagem com direção cênica de William Pereira, cenário de Rosa Magalhães e luz de Pedro Pederneiras, foi preciso que o maestro Roberto Duarte se debruçasse arduamente sobre o farto material musical, caoticamente organizado pelo ilustre compositor. O papel título é feito pela soprano Gabriella Pace, vencedora do Concurso Carlos Gomes do ano passado.

A unidade do aspecto cênico se encontrava com a heterogeneidade de uma música que, antes de ser brasileira, era autoral. “Não sou compositor brasileiro nem estrangeiro, sou Heitor Villa-Lobos”, disse um dia. A melancolia em tom de seresta de certas Bachianas Brasileiras iam de encontro ao requebrado de alguns de seus Choros que, por sua vez, se fundiam com um Debussy ou um Ravel completamente digeridos. Curioso que o lirismo parecia mais vinculado à parte orquestral. O canto era muitas vezes regido, sutil e intuitivamente, por uma lógica mais próxima à sintaxe da língua falada que da musical. No terceiro ato, tínhamos ao mesmo tempo esse canto meio falado, partes líricas orquestrais que se sobrepunham à configurações rítmicas dos sopros, um coro invisível fundido à massa orquestral e toda cor e luz de um cenário mágico e fantástico.

É verdade que algum incômodo pode surgir da trama, nem sempre muito bem amarrada, ou de certas frases e diálogos que despertam estranhamento em quem quer que seja. Um certo desequilíbrio entre o aspecto musical e o libreto não passa despercebido. É até mesmo gritante. De qualquer forma, é uma obra que vale ser feita, refeita, gravada, publicada e difundida. A harmonia e a graça da montagem, a vitalidade da música, a beleza das vozes e o equilíbrio do elenco compensam largamente.

RESGATANDO UM MESTRE ESQUECIDO DA PINTURA BRASILEIRA.




Em 1994 falecia aos setenta e cinco anos no Rio de janeiro, cidade em que sempre viveu, o pintor e gravador brasileiro Edgard Cognat. Tímido por temperamento e recluso por opção, construiu uma obra de grande qualidade na tradição da Escola Clássica.
Os conhecimentos necessários à formação do artista em épocas antigas eram passados de mestre para discípulos em pequenos grupos, onde, circunstancialmente alguns se destacavam e davam posteriormente prosseguimento à linhagem formando sua própria turma de alunos. Foi deste modo que Cognat aprendeu os segredos da arte da pintura com Carlos Chambelland, seu único professor, o qual havia estudado com Rodolfo Amoedo, um dos grandes pintores brasileiros da passagem do Século XIX para o XX, que por sua vez, após concluir seu curso na Escola de Belas Artes do Rio de Janeiro, aperfeiçoou-se em Paris com Alexandre Cabanel. Este modelo de relacionamento entre mestre e discípulo foi caindo em desuso por volta de meados do século passado, sendo mantido em pequenos grupos que sustentaram a tradição por mais umas poucas décadas estando hoje em dia praticamente extinto, pelo menos em nosso país.
Tive o privilégio de ter estudado com Edgard Cognat no início de minha formação como artista, freqüentando suas aulas particulares ao mesmo tempo em que cursava a Escola de belas Artes da UFRJ. Ao lembrar desta época de estudante, o que de imediato me vem à memória é a rigorosa disciplina com que as aulas eram conduzidas, e que pode causar espanto nos dias de hoje. Na verdade, não se começava a trabalhar diretamente sob a orientação do mestre; era necessário começar os estudos de desenho do natural no atelier de sua esposa, também ela pintora de grande qualidade; reproduzindo-se de início florões de gesso do natural, até se chegar a estátuas de formato bastante complexo. O material utilizado era bàsicamente o carvão e este período inicial poderia variar entre um ano e meio a dois anos com duas aulas de duas horas por semana. Concluída esta fase, o aluno passava às sessões de modelo vivo, então diretamente sob a orientação do professor, ainda fazendo apenas desenhos por mais um bom tempo até que fosse considerado apto a empunhar pincéis e tintas. O tempo estimado para essa fase inicial era por volta de um ano a ano e meio. Portanto somente após no mínimo três anos, somando-se o tempo total de estudos com o professor e sua esposa, começava-se realmente a pintar. De início apenas duas cores eram utilizadas: terra de sienna(um tipo de tom castanho) e branco, o que se chama monocromia., para mais tarde se trabalhar com a paleta de tintas completa. As aulas de pintura tinham como tema exclusivamente o Modelo Vivo, em trabalhos de longuíssima duração. Por exemplo, para a conclusão de uma tela de formato tipo A2(em torno de 48 x 65 cm) levava-se em média oito sessões de duas horas. E este estudo aprofundado se prolongava ao longo de todo o curso, sendo que de vez em quando voltávamos à execução de desenhos a carvão para manter sempre este fundamento em dia. A abordagem de outros gêneros como a Natureza Morta e Paisagem ficava por conta do interesse e pesquisa pessoal da pessoa, pois o professor acreditava, como todos os pintores de sua linhagem, que quem se saísse bem na pintura do modelo vivo enfrentaria qualquer tipo de desafio. A técnica utilizada nas pinturas era sempre o óleo, já que ele também afirmava que quem a dominasse, se sairia bem com qualquer outra, bastando pequenos ajustes. É importante lembrar que as aulas tinham caráter eminentemente técnico, jamais o mestre se envolvendo no processo de criação do aluno, pois dizia: “Eu ensino a pintar, não a fazer quadros”. Se o aprendiz levasse muito jeito para o ofício, ao cabo de uns seis anos, incluindo aí o período inicial de formação no atelier da esposa do professor, poderia se sair razoavelmente bem na execução de uma pintura de figura humana diretamente do natural.
Tempos atrás descobri que foi criado um site honorífico para o professor: http://www.edgardcognat.art.br/biografia.asp. Infelizmente as reproduções não possuem grande qualidade, a maioria das fotos é em P/B, há grande carência de imagens, entre outros problemas. Mas ainda assim vale a pena o acesso para se ter uma idéia, mesmo que pálida, da obra do pintor. Com toda certeza não foi um artista dado a inovações formais, ou grande criatividade em relação aos temas. Ao contrário, manteve-se fiel à representações de Naturezas Mortas, Paisagens, Marinhas, Retratos, Nus Artísticos, Cenas Bíblicas. Definitivamente não retratou a sua época, mas seus trabalhos têm uma composição elaborada com grande classe e estilo, aliada a um desenho extremamente preciso, e no que se refere à técnica da pintura propriamente dita, sabia tudo sobre cor, pincelada, texturas, empastamentos, veladuras, dentro da tradição dos grandes mestres da era clássica, produzindo trabalhos belíssimos, visualmente falando.
Atualmente esquecido, este artista merece ser resgatado, e por ter sido coerente com seus princípios e convicções criou trabalhos de grande valor dentro dos modelos em que sempre acreditou. Sua obra, por lidar com questões fundamentais da arte da pintura, acaba se tornando atemporal.

Ricardo Newton
www.ricardonewton.com

domingo, 14 de agosto de 2011

Expressões culturais brasileiras




Rosa Minine
Poetisa, compositora, cantora, instrumentista e produtora cultural, autora do projeto Memória Musical da Paraíba, Socorro Lira cresceu ouvindo aboios e as cantorias de viola, no meio de um povo simples da roça, na zona rural de Brejo do Cruz, sertão da Paraíba, onde nasceu, sem luz elétrica e outras regalias das cidades maiores, mas de intensa cultura popular. Hoje, morando em São Paulo, traz em seu trabalho a impressão de um povo, lembrança da infância e um lado urbano adquirido, e tem levado essa cultura para várias partes do mundo.


— A vida ali na roça acontecia de forma simples. As pessoas trabalham e procuravam se divertir dentro das suas possibilidades, e era uma comunidade bastante musical. Os aboios, que é o canto dos vaqueiros, eram o som mais comum por lá, mas também tinham os sanfoneiros e violeiros, os tocadores de baiões, xotes — lembra Socorro, com alegria.

— Em casa não era diferente, porque minha mãe gostava muito de aboiar, e tínhamos um rádio, no qual ouvia Luiz Gonzaga, Marinês, Jackson do Pandeiro, enfim, um rico ambiente sonoro. Trago isso na minha canção, porque não acredito numa música desenraizada. Minha arte reflete minha realidade, e a infância está dentro de mim — declara.

— Aos quatorze anos saí do meu lugar para estudar em Brejo do Cruz. Mais tarde mudei para Campina Grande, onde cursei psicologia na Universidade Federal da Paraíba. E nesse mesmo tempo trabalhava com famílias canavieiras, nos movimentos sociais, por conta dos meus trabalhos no grupo estudantil — continua.


sábado, 13 de agosto de 2011

Funk Nacional????????????????????

Do site do Deputado Marcelo Freixo:
Depois de ser reconhecido por lei como manifestação cultural legítima, o movimento funk alcança mais uma conquista e agora está em todo o país: o programa Funk Nacional estreou na tradicional Rádio Nacional, no dia 25/07.

Bom, tudo bem que o Deputado esteja preocupado com O Funk, mas por que não estaria com as outras verdadeiras e legítimas expressões da nossa cultura? É muito fácil ficar ao lado de quem já está sendo devidamente patrocinado (vide Jabá nas rádios oficiais para tocar o Funk), agora ficar ao lado de expressões da nossa cultura que estão sendo dizimadas por conta da não divulgação, como exemplo das cirandas em Paraty ou dos Calangos no interior do estado, aí quero ver coragem.
Há muito tempo, políticos vem embarcando na cultura de massa(cheio de armações para achatarem a cultura Nacional)visando o acolhimento eleitoral por parte dos grupos em questão. Como os pequenos grupos da verdadeira arte nacional são insignificantes eleitoralmente, mas importantíssimos para manutenção da identidade nacional, que tantos pseudos protetores da cultura e politiqueiros oportunistas gritam por aí, por que não fazerem alarde e preservarem com leis e ações a favor destes artistas que estão cada vez em menor grupo graças a nefasta política baseada nas grandes mídias. Contamos cada vez mais com guerreiros da cultura Nacional como seu Dito Cirandeiro em Paraty e outros que tem a arte no sangue e não deixam a peteca cair, pois se dependessem de políticos tanto os que estão no Governo como os que querem o governo, não teríamos uma nação REAL e sim essa eterna luta pelo poder (só visando o poder) e não a verdadeira guerra de uma construção de um País, de uma Cultura de um Povo.
Abraços a seu Dito e que Deus abençoe o grupo "7 Unidos" da cultura Caiçara, continue pondo o barco n'água com sua Maria sem esperar ajuda do poder oficial mas conte com todas as forças telúricas desta terra e do Povo que anda na realidade, sem a influência desta mídia predatória ainda admira a verdadeira Música e real expressão deste País!

Bruno Fernandes: Os professores em greve e a Copa de 2014



Caras professoras e caros professores,

Gostaríamos que dispusessem de um pouco de seu tempo para refletir conosco sobre um processo que vem ocorrendo no Brasil e, no nosso entender, lhes diz respeito diretamente, enquanto profissionais, em, pelo menos, dois aspectos. Tal processo liga-se à realização da Copa do Mundo de Futebol, mas não começa e tampouco termina com ela. O caso é que, mesmo que se tenha festejado a escolha do nosso país para sediar um dos mais suntuosos eventos esportivos do mundo, é preciso ver o que ele de fato aponta como legado para nós brasileiros.

Com relação ao primeiro aspecto da Copa que lhes diz respeito, professoras e professores, vocês sabem, melhor do que nós, que a qualidade da educação não começa nem termina dentro da sala de aula. Não é esse um dos motivos para que se reivindique melhores salários aos profissionais da educação pública?

Entendemos que a Copa do Mundo de Futebol vem aprofundar o processo histórico de arrocho salarial do professorado, uma vez que se está gastando bilhões, isso mesmo, BILHÕES, para a construção das infraestruturas exigidas pela FIFA que, além do mais, servem para produzir um modelo de cidade — do qual falaremos mais adiante — pernicioso para a maioria da população.

Quantas moradias, parques, ciclovias, praças, ginásios poliesportivos, teatros, escolas poderiam ser construídos com este dinheiro? Quantas reformas e aparelhamentos de hospitais? Quantas obras de saneamento básico, contenção de encostas e redução e prevenção às enchentes? Pode-se até realizar a Copa, mas ao invés de se gastar inutilmente com ela, poder-se-ia investir em promoção social.

Quem vai dizer que o Mineirão ou o Maracanã, embora pudessem precisar de “ajustes”, não eram excelentes estádios? O caso é que quando se trata de atender aos interesses dos ricos, o dinheiro aparece, mas quando, por exemplo, professores empunham sua justa bandeira de melhores salários, os governantes de plantão alegam que o orçamento está apertado e que o salário pago é bom e é o máximo que se pode oferecer– além de acionarem a polícia para cumprir seu papel fundamental de reprimir as necessárias lutas do povo.

Tudo bem, a Copa pode não ser a responsável pelo arrocho salarial, mas lembremos que estamos falando de um processo que não começa e tampouco termina com ela. Quantos anos serão precisos para pagar estes volumosos gastos em aeroportos, sistemas de transporte, estádios (todos visando às demandas da Copa e não da população) e com isso manter o orçamento apertado de modo a não possibilitar aumentos salariais?

E tem mais: além do estado arcar com enormes gastos (repisemos: todos visando às demandas da Copa e não da população. Lembremos: com dinheiro dos impostos pagos por toda a população, sobretudo os trabalhadores), a FIFA e seus parceiros foram agraciados com a isenção de impostos e a reforma e construção de hotéis receberão “incentivos”. A propósito, o prédio onde funcionava o Ipsemg na Praça da Liberdade, em Belo Horizonte, foi alugado por 35 anos para um amigo do ex-governador mineiro Aécio Neves ao custo mensal de meros 15 mil reais. Pena que não há outra palavra, porque fica difícil chamar de custo quando se considera que são apenas 15 mil reais para explorar comercialmente um prédio daquele tamanho numa das áreas mais valorizadas da capital mineira.

O segundo aspecto, mais amplo, refere-se aos atingidos pelas transformações que as cidades-sede do mundial estão passando. Como principais atingidos, milhares de famílias estão perdendo suas casas para construção de sistemas de transporte para atender às demandas dos turistas do mundial.

Vejam bem: brasileiros estão perdendo suas casas para o divertimento de estrangeiros!

Dentre outros, há também os que trabalhavam no entorno dos estádios vendendo desde camisas de times até bebidas e comidas que não mais poderão exercer sua atividade de subsistência. Vocês podem estar se perguntando: e o que a educação tem a ver com isso?

Ora, quem são aqueles para os quais vocês dão aulas nas escolas públicas? Não são os filhos dos trabalhadores empobrecidos? Embora muitos de vocês possam não ter alunos vivendo este drama, lembremos, mais uma vez, que estamos falando de um processo que não começa e tampouco termina com a Copa do Mundo de Futebol e também não diz respeito apenas às cidades-sede do megaevento.

Por isso, vale corrigir: este megaevento tem servido, na verdade, para aprofundar um modelo de cidade que marca a urbanização em nosso país, isto é, modelo no qual o pobre não tem vez, a não ser, porque não tem outro jeito, para trabalhar — quando ele tem um trabalho, claro.

É um modelo de cidade cujo sentido não é o de atender às necessidades e direitos da população, tais como saúde, esporte, lazer, moradia, educação, e sim auferir lucros para uma parte da população historicamente privilegiada — porque não dizer, é um modelo de cidade produzido pela e para a elite dominante. Sendo assim, se observa que produzem a cidade demarcando espaços destinados exclusivamente aos ricos, com toda infraestrutura e conforto, enquanto os trabalhadores perdem seus lares e, por consequência, trabalho e laços sociais, ao serem mandados para longínquas periferias normalmente sem a menor infraestrutura.

Os alunos estão dando muito trabalho na sala de aula? Mais do que nós, vocês sabem quem são eles e o que passam enquanto filhos de trabalhadores empobrecidos.

Por estas considerações, e por entendermos que educação pública e de qualidade exige salários dignos, manifestamos nosso total apoio à luta das professoras e dos professores em greve para que o governo do estado de Minas Gerais cumpra a lei do Piso Salarial Profissional Nacional (Lei n° 11.738/08).

Enfim, procuramos aqui apontar dois aspectos que imaginamos estejam relacionados com as condições de trabalho na educação básica pública, dentre elas a condição salarial, mas cremos que a questão vai muito além. Nesse sentido, que tal se vocês vierem conversar conosco sobre a Copa afim de elaborarmos juntos um entendimento sobre este megaevento que dialogue com a realidade concreta dos alunos? Ao final deste texto, consta nosso calendário de reuniões até o final deste ano. Sejam muito bem vindos!

Saudações,

Comitê Popular dos Atingidos pela Copa 2014 BH

*Bruno Fernandes é professor de Geografia no ensino médio em Minas Gerais

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Escolas Municipais recebem formação de arte



Atendendo ao desafio de oferecer a disciplina de arte na proposta curricular das escolas municipais, a Secretaria Municipal de Educação oferece dentro do programa de formação continuada o tema arte para 160 coordenadores da rede urbana e rural de Rio Branco.
Desenvolvida para a educação infantil e ensino fundamental, a formação tem como desafio preparar os profissionais da educação para utilizarem a arte, em todas as suas dimensões, no processo de construção do pensamento e da capacidade cognitiva do aluno, entendendo esta disciplina como tão fundamental para o ensino-aprendizagem das crianças quanto o português e a matemática, por exemplo.
Como destaca a lei nº 9.394/96, em seu parágrafo primeiro, a educação envolve processos formativos que se desenvolvem na escola, na família, no trabalho e nas manifestações culturais. Em Rio Branco as propostas culturais estão cada vez mais ligadas aos currículos escolares “e isso aproxima a arte, o teatro, a pintura do cotidiano vivido pelo estudante, tendo bons reflexos na escola. A partir dessas práticas são estabelecidas novas leituras de mundo. A arte é, portanto, um importante instrumento para a formação do cidadão”, destacou a coordenadora do Centro de Multimeios da Seme, Marília Bomfim.
Ministrado pela Profa Dra. Tatiana Fecchio Gonçalves e Profa Ms. Adriana Dias, a formação tem como conteúdo:

- Entender:

* As diferentes formas de construção do saber humano com ênfase no saber artístico.
* Porque Arte na Escola? + Tema: Os elementos de construção do pensamento poético, a Arte como forma de conhecimento

- Explicitar

* a importância de atividades de registro: observações, desenhos, ideias, links, insights, poemas, imagens, noticias, reflexões, dúvidas, associações, lembranças, memórias, questionamentos.
* a atividade de apreciação (tato, olfato, visão).

Segundo a consultora Tatiana Fecchio, a formação permite aos coordenadores municipais a inserção “de referenciais curriculares que envolvam a arte e a cultura, permitindo que os estudantes desenvolvam outras habilidades cognitivas”, enfatizou.
“O nosso objetivo é promover efetivamente a integração das artes em nosso currículo educacional, garantindo o desenvolvimento interdisciplinar aliado às práticas culturais”, salientou o secretário Municipal de Educação, Márcio Batista.

Momento Manguaça Cultural - Você sabia?



Antigamente, no Brasil, para se ter melado, os escravos colocavam o caldo da cana-de-açúcar em um tacho e levavam ao fogo.
Não podiam parar de mexer até que uma consistência cremosa surgisse.
Porém um dia, cansados de tanto mexer e com serviços ainda por terminar, os escravos simplesmente pararam e o melado desandou.
O que fazer agora?
A saída que encontraram foi guardar o melado longe das vistas do feitor.
No dia seguinte, encontraram o melado azedo fermentado.
Não pensaram duas vezes e misturaram o tal melado azedo com o novo e levaram os dois ao fogo.
Resultado: o 'azedo' do melado antigo era álcool que aos poucos foi evaporando e formou no teto do engenho umas goteiras que pingavam constantemente.
Era a cachaça já formada que pingava. Daí o nome 'PINGA'.
Quando a pinga batia nas suas costas marcadas com as chibatadas dos feitores ardia muito, por isso deram o nome de 'ÁGUA-ARDENTE'
Caindo em seus rostos escorrendo até a boca, os escravos perceberam que, com a tal goteira, ficavam alegres e com vontade de dançar.
E sempre que queriam ficar alegres repetiam o processo.
(História contada no Museu do Homem do Nordeste).

Não basta beber, tem que conhecer!

Bebum bem informado
é outro departamento!



Postado por Fábio Rodrigues às Segunda-feira, Agosto 08, 2011
Marcadores: Momento Manguaça Cultural

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

'O fim do vestibular não é o fim do mérito'

Lisandra Paraguassu e Rui Nogueira - O Estado de S. Paulo

Admitindo que o ensino médio foi o que menos reagiu às políticas públicas, o ministro da Educação, Fernando Haddad, espera que o Enem promova a racionalização do currículo e os governo estaduais invistam com prioridade. "Sem ufanismo", ele avalia que há uma reação na qualidade do ensino, que deve ser alavancada pelo Plano Nacional de Educação (PNE). O ministro não teme a profusão de emendas feitas pelos deputados, muitas delas preocupadas apenas com reivindicações trabalhistas dos professores. A seguir a íntegra da entrevista ao Estado:
Ed Ferreira/AE
Ed Ferreira/AE
Para o ministro, o Plano Nacional de Educação tem virtudes importantes

O senhor diz que alguns temas da sua área precisam ser mais explorados e mais bem discutidos. Quais são eles?

FERNANDO HADDAD - O debate sobre educação não tem sido pautado pelas coisas relevantes. Temos três projetos importantes no Congresso sobre os quais eu tive pouco espaço para falar. Primeiro, o Pronatec (Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego), que é pouco noticiado e é um programa da maior importância para o País porque completa as reformas que foram iniciadas. Segundo, a reorganização dos hospitais universitários, cujo projeto de lei foi reenviado com regime de urgência. E, terceiro, o PNE (Plano Nacional de Educação). São três programas da maior importância e eu entendo que temos que falar mais disso. Porque, na nossa opinião, é o mais relevante para o País, sem prejuízo de outras questões que despertam interesse do leitor.

O Plano Nacional de Educação (PNE), que está no Congresso, inclui uma série de ideias sugeridas pelas Conferências Nacionais de Educação, cheias de boas intenções. O PNE está hoje com quase 3 mil emendas e um forte viés corporativista. O que isso tem a ver com o desafio da qualidade da educação?

HADDAD - Em primeiro lugar, esse é o primeiro Plano de Educação que fala em qualidade na história do País. É o primeiro plano que tem metas de qualidade. Não há precedente em nenhum outro plano. Aliás, isso é inédito no mundo, não só no Brasil. Nenhum Ministério da Educação que eu conheça trabalha com metas de qualidade fixadas, divulgadas e aferidas de maneira centralizada. A primeira virtude desse Plano é ter incorporado a filosofia do Plano Nacional de Desenvolvimento da Educação (PNDE), de 2007. Ele incorpora metas de qualidade, não só metas quantitativas. A segunda virtude do Plano é que ele tem poucas metas, ao contrário do anterior, que tinha 276. Esse plano tem 20, da creche até a pós-graduação. Mas, apesar do número exíguo, são metas que podem ser acompanhadas pela sociedade. Nós não economizamos nas estratégias. Cada meta tem uma estratégia endereçada aos gestores públicos para que ele saiba exatamente o que se espera dele para que a meta nacional seja alcançada. A quarta virtude é a centralidade da figura do professor, tanto do ponto de vista da formação. A formação do professor se torna quase um direito subjetivo daquele jovem com vocação para o magistério. E, hoje, o jovem que deseja ser professor sabe que pode estudar gratuitamente, seja em instituição pública, seja em instituição particular, por aquele mecanismo do FIES (Financiamento Estudantil) em que ele tem sua dívida perdoada caso exerça sua profissão em escola pública. Em quinto lugar, é um Plano que foi acompanhado de uma Lei de Responsabilidade Educacional. Isso também é inédito, responsabilizar o gestor pelos resultados previstos no plano. Por fim, a fixação de um porcentual do PIB (Produto Interno Bruto) a ser investido em educação pública, o que também é uma novidade desse Plano, nenhum outro tem. São seis características desse Plano que o tornam uma peça nova, muito bem recebida pela sociedade em geral, pela própria imprensa.

E a profusão de emendas ao PNE?

HADDAD - Esse número de emendas na verdade não assusta, em função de várias razões. Primeiro, o mesmo assunto foi tratado em várias emendas. No caso do financiamento, em mais de 100, por exemplo. Então, se você depurar vai ver que se está tratando de poucos temas e que as emendas não alteram substancialmente as metas, não elevam o número de metas para os patamares dos planos anteriores e trabalham mais com a estratégia, aperfeiçoando as estratégias que o Plano prevê. O Plano está sendo discutido em um momento muito feliz. A OCDE (Organização para Cooperação e o Desenvolvimento Econômico) acaba de lançar um vídeo institucional sobre o Pisa em que o Brasil é destaque. É a primeira vez na história que o País se destaca positivamente. Todos os destaques eram negativos. Foi o terceiro país que mais evoluiu no Pisa, o que nos valeu um documentário de 20 minutos que está sendo divulgado no mundo todo.

O Brasil estava no fundo do poço e não está mais.

HADDAD - Não está mais. Esteve.

O sr. acha que os dados do Pisa são gloriosos para o Brasil? O vídeo destaca apenas um crescimento.

HADDAD - Não, nem a OCDE está dizendo isso, nem nós. É o terceiro maior crescimento.

Mas esse terceiro maior crescimento onde nos coloca?

HADDAD - Acima da Argentina, da Colômbia, do Peru...

Olhe a pujança econômica e institucional do Brasil e compare com os países que o sr. citou?

HADDAD - A renda per capita da Argentina é maior do que a nossa. A tradição educacional argentina é superior à nossa. A Argentina estava na nossa frente em 2000.

Somos um dos países que mais cresceram, mas os resultados do exame ainda são desastrosos.

HADDAD - Eu não disse isso. Veja bem. Você pode olhar o Brasil de duas maneiras: a partir de uma fotografia ou a partir de um filme. O que eu estou dizendo é que tivemos a melhor década da educação do ponto de vista da qualidade. Do avanço da qualidade. Nós revertemos uma tendência de queda de qualidade que se observou durante todos os anos 80 e 90. Você não vai achar uma frase ufanista minha a respeito de educação. Mas vai encontrar frases que dizem o seguinte: nós temos muito que caminhar, mas não é bom para o país deixar de reconhecer que, do ponto de vista da qualidade, nós sofremos uma inflexão positiva importante e que precisa ser registrada. Porque a questão motivacional, de compromisso com a educação, é parte de uma história de sucesso. Não bastam mais recursos, melhor gestão, se você não comprometer as pessoas com uma causa que precisa ser nacional. Isso se observou em países como a Irlanda e a Coreia, onde essa questão motivacional, o envolvimento das famílias, foi um ingrediente importante do sucesso. E quando você nega que na primeira década do século 21 houve uma reversão do quadro, do ponto de vista da qualidade, e o Brasil é o único país do mundo que fixou metas de qualidade e as cumpriu, você deixa de impulsionar esse movimento.

Na primeira década dos anos 90 não houve nada positivo?

HADDAD - Houve. Eu acho que a Constituinte de 88 foi um marco muito importante. Eu penso que tivemos ali um momento importante. Ainda no governo Collor foi feita a primeira tentativa de introduzir o conceito de avaliação no Brasil. Depois foi aprimorado pelo governo Fernando Henrique. O Fundef (Fundo de Desenvolvimento do Ensino Fundamental), embora não tenha tido dinheiro novo da União, dentro de cada estado ele equalizou minimamente o financiamento. As políticas virtuosas dos anos 90 nós procuramos aprofundar e radicalizar. A criação do Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica), que é um desdobramento do Saeb (Sistema de Avaliação da Educação Básica), o Fundeb (Fundo de Desenvolvimento da Educação Básica), que incluiu a creche e o ensino médio e colocou R$ 10 bilhões de recursos a mais na Educação Básica, para citar dois exemplos. O aprimoramento do sistema de avaliação, que é reconhecido por todos. Enfim. Mas nós também promovemos inflexões naquilo que julgávamos que merecia correção. Por exemplo, o papel estratégico da expansão da rede federal, tanto na educação profissional quanto superior, e o aumento exponencial do nosso orçamento. O orçamento do MEC triplicou. E ele vinha estagnado, sobretudo em função da DRU (Desvinculação das Receitas da União). Com esses recursos adicionais eu penso que nós alavancamos questões importantes.

O senhor diz que não bastam mais recursos. Mas no Congresso Nacional a discussão do Plano Nacional de Educação se concentra, em boa parte, no porcentual do PIB que será reservado. O debate não pode acabar muito preso nisso e não tratar de outras questões centrais?

HADDAD - Eu entendo que está havendo concentração de esforços em torno desse tema em prejuízo de outros tão importantes quanto esse. Eu acredito que é preciso investir mais em educação no Brasil. Nós temos, dos países do Pisa, a menor renda per capita. A maioria dos países nem faz a prova. Já é um ato de ousadia competir com países de renda per capita o dobro ou o triplo da nossa. Mas eu entendo que nossa dívida educacional exige um esforço maior do País na educação. Mas acho que os debates são muito concentrados num único aspecto do plano.

Os parlamentares discutem muito o uso do dinheiro do petróleo do pré-sal para a educação. Não é um desperdício de foco debater sobre algo que nem se sabe como será, quanto terá e quando terá?

HADDAD - Eu entendo que é importante demarcar posição desde já sobre o destino desse recurso porque muitos países produtores de petróleo desperdiçaram a oportunidade de fazer uma revolução na educação justamente porque, até por não contar com um ambiente democrático, não puderam fazer essa discussão com a sociedade. Então eu penso que essa é uma vantagem do Brasil. Se o país se tornar um grande produtor de petróleo, como eu entendo que vai acontecer, é importante discutir previamente o destino desse recurso. Evidentemente, eu penso que a educação é um bom destino para esses barris, para traduzir essa riqueza finita em uma riqueza que não é finita, que é o conhecimento.

A aprovação do Pronatec, para ampliação do acesso ao ensino médio, não está demorando? O governo da presidente Dilma já está entrando no oitavo mês?

HADDAD - Está trancando a pauta. E nós não retiramos a urgência justamente porque entendemos que é um projeto prioritário. Porque eu estou convencido que o Ensino Médio brasileiro, que é o que menos reagiu aos estímulos do Ministério da Educação, depende de medidas que estão sendo tomadas - como, por exemplo, o fim do vestibular, a inclusão do no Fundeb, a extensão dos programas de apoio que eram restritos ao fundamental (alimentação, transporte, livro didático) - mas também de ampliarmos o horizonte do jovem. Precisamos ter um segundo turno que permita ao jovem diferenciar seu currículo. Primeiro, ter um currículo mais inteligente no primeiro turno, menos sobrecarregado de conteúdos que ele jamais vai utilizar. É um enxugamento que o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) pretende promover e já está promovendo. O segundo movimento é um segundo turno que é direcionado para a cultura, o esporte e o trabalho. Se promovermos esse movimento a partir do Pronatec, com as medidas que já estão implantadas, vamos ressignificar essa etapa de ensino e permitir ao jovem que não deseja ou não está vocacionado para educação superior concluir a educação básica com condições de pleno exercício da cidadania.

Por que o ensino médio foi o que menos reagiu a essas políticas públicas?

HADDAD - Primeiro porque ele recebe menos atenção dos governos estaduais. Segundo, porque o Ensino Fundamental precisava reagir primeiro. Não havia como melhorar o Médio sem melhorar antes o Fundamental. Terceiro, por falta de um equivalente da Prova Brasil no Ensino Médio, que é um papel que o Enem vai cumprir. E quarto, porque precisamos, a partir do Ensino Médio, promover uma reforma que faça com que a escola responda às expectativas dos estudantes, e não só o estudante às expectativas da escola. Por isso essa diferenciação do currículo com um primeiro turno mais inteligente e um segundo turno mais abrangente do ponto de vista das possibilidades de desenvolvimento intelectual. Essa mudança é que vai completar a reforma dessa etapa.

Inicialmente, uma das fontes pensadas pelo MEC para o Pronatec era o dinheiro do "Sistema S". Como ficou o resultado dessa discussão?

HADDAD - Está prevista em lei a bolsa formação para estudantes do Ensino Médio que vão poder ou fazer o segundo turno em uma escola pública ou nas escolas do Senai e Senac. São duas questões. A do acordo, que vai até 2014, que prevê que 2/3 das verbas de contribuição compulsória sobre a folha de pagamentos seja destinada à gratuidade.

Esse acordo vem sendo monitorado e está sendo cumprido. Paralelamente, há uma espécie de duplicação do "Sistema S", que tem outro foco, não exclusivo no trabalhador, mas nos estudantes de Ensino Médio, que nós pretendemos integrar ao Pronatec.

Mas, além disso, havia a questão de uma dívida do "Sistema S" com o governo federal por conta do recolhimento de recursos do salário-educação que foram repassados indevidamente ao Sistema. O MEC falava em usar esses recursos para o Pronatec, transformados em bolsas além do que já deveria ser gratuito por lei.

HADDAD - Isso não está dentro do Pronatec porque está sendo cuidado pelo Tesouro Nacional e pelo Tribunal de Contas da União (TCU). Isso não é da nossa alçada.

Mas o ministério não estava contando com os recursos?

HADDAD - O Pronatec independe da resolução desse problema.

Em que pé está essa negociação?

HADDAD - O que o ministério fez foi apurar um problema e encaminhamos para a autoridade competente, que é o Tesouro e o Tribunal de Contas da União Esse encontro de contas está sendo feito. Há discrepância de entendimento, mas uma hora terá que se resolver.

Um dos pontos que o sr. destaca para a melhoria do ensino médio é o fim do vestibular. O que há de meritório no fim ao vestibular?

HADDAD - As pessoas às vezes misturam dois debates diferentes. O fim do vestibular não significa o fim do processo seletivo ou o fim da meritocracia para o acesso à educação superior. Ao contrário, reforça a meritocracia. Segundo, nós estamos sintonizando o Brasil com os melhores sistemas do mundo. Os sistemas universitários chinês, americano, francês, alemão, não têm esse expediente de cada instituição fazer o seu processo seletivo, porque isso causa disfuncionalidades de toda ordem no sistema, com a sobreposição de conteúdos cobrados que acabam se transformando num mega currículo intransponível para a escola em três anos. É uma questão de racionalização e reorganização curricular. Se formos considerar um modelo que me parece o mais adequado eu penso que é o do SAT americano, porque permite que o estudante faça o teste mais de uma vez por ano e se valha da melhor nota em um período de tempo para oferecer à instituição na aplicação para uma vaga. Eu entendo que estamos, com essa reforma, dando uma chance real para o Ensino Médio se reorganizar em bases racionais e lógicas. E, na verdade, haverá um reforço da questão do mérito. Porque você morando em qualquer estado americano, se obtém um bom resultado no SAT, disputa uma vaga em Harvard. E ninguém lembra de Harvard como uma instituição do estado onde ela se encontra. É uma instituição, aliás, aberta para o mundo. Boa parte dos seus estudantes não são americanos.Então, na perspectiva de dar mais robustez para o nosso sistema universitário, eu penso que a seleção em bases nacionais é o que vai promover a convergência de talentos, inclusive por área. Determinadas universidades vão se desenvolver e atrair alunos para determinadas áreas, outras vão se desenvolver em outras. No fim, vai consolidar um sistema que está em expansão, mas precisa se qualificar.

O novo Enem já teve duas edições. O ministério já conseguiu verificar alguma diferença no currículo do Ensino Médio? Já houve alguma mudança significativa nesse enxugamento que o senhor diz ser necessário?

HADDAD - Eu tenho conversado com professores do Ensino Médio. A última conversa que tive foi com um professor de Cocal dos Alves (PI), que foi destaque este ano e é recordista de premiação na olimpíada de matemática. Nas palavras dele, o Enem mudou a escola. Eu tenho ouvido muito isso, especialmente daqueles professores muito comprometidos. Os cursinhos estão mudando, está todo mundo se mexendo. É sempre uma questão de ritmo. Em um universo de quase 200 mil escolas a adaptação a um novo regime não é simples.

O que os Estados deveriam fazer pra acelerar a evolução do ensino médio?

HADDAD - Há exceções, mas, de fato, na média, a atenção dos governos estaduais... Temos que registrar que há governos que estão promovendo mudanças interessantes. Um caso concreto, que falei para a equipe da OCDE que me perguntou, é o Ceará. E se me perguntarem uma cidade, Sobral.

Apenas esse?

HADDAD - Depende da área. Tem muita coisa acontecendo. Por exemplo, educação profissional no Paraná teve uma evolução importante. Agora, recentemente, o governo de São Paulo vem aliando as políticas públicas com o governo federal e assina segunda-feira (aconteceu no dia 11 de julho) um termo de parceria do governo do Estado com o Instituto Federal para promoção do Ensino Médio integrado. Então eu penso que está havendo um despertar para a situação do Ensino Médio no País. Foi tema de campanha no ano passado em vários Estados. O Acre tem procurado fazer um trabalho muito sério.

O Programa Universidade para Todos (ProUni) cresceu muito nos últimos anos, mas nem todos os cursos podem ser considerados de boa qualidade ou mesmo de qualidade razoável. Não há aí um risco de financiamento da mediocridade?

HADDAD - A faculdade ruim não serve nem para o bolsista muito menos ainda para o pagante, que faz um esforço enorme para se formar. Então nós estamos procurando suspender processos seletivos, diminuir vagas de ingresso. Começamos por áreas muito estratégicas - medicina, direito e pedagogia - e já fechamos muitos cursos. Só de medicina já cortamos 800 vagas, mais de 8% das disponíveis. Isso em um País que precisa de mais médicos. A questão da qualidade precisa ser enfrentada. Mas não há como negar que, a partir do momento que se contempla 1 milhão de jovens - vamos fechar esse ano com 1 milhão de beneficiários no ProUni -, na média a vantagem para o jovem de escola pública de baixa renda é inquestionável. Nós estamos mudando a vida de muitas pessoas que não teriam outra oportunidade. É uma rede mais capilarizada que as universidades públicas e até por essa razão...

Mas não tem um pouco de populismo nisso? Não era melhor investir mais em cursos noturnos das universidades públicas federais, que têm, reconhecidamente, mais capacidade? As universidades públicas não têm ainda uma produtividade muito baixa?

HADDAD - É que nós podemos fazer isso também. E estamos fazendo isso também. Não há uma contradição com o ProUni. As Federais se interiorizaram como nunca. Estão em 126 novos municípios. A maioria dos cursos abertos foi no período noturno e muitas adotam políticas afirmativas. Você fala da produtividade. Nós não podemos negar que elas viveram um processo de subfinanciamento. Você conversa com qualquer reitor para ver o que foram os anos 90 para as universidades com a DRU.

Viveram 10 anos de subfinanciamento. Dez anos de subfinanciamento e você liquida qualquer instituição.

Mas, ministro, subfinanciamento não tem nada a ver com reorganização de carga horária. Isso não significa, por exemplo, que um professor possa concordar em dar aula apenas em um período do dia, não queira lecionar à noite, por exemplo.

HADDAD - Aí tem toda a questão do papel indutor do MEC para que as instituições adotem boas práticas nesse sentido. E, por exemplo, eu acho que a fixação da meta de 18 alunos por professor também foi um ato importante do Plano Nacional de Educação (PNE). A universidade tem autonomia, mas ela responde à sociedade. Isso do ponto de vista do ensino e do atendimento. Mas há também metas de qualidade no que diz respeito à pesquisa como, por exemplo, a titulação dos professores, as metas de formação de mestres e doutores. Nós não podemos confundir autonomia com soberania e temos que entender que essa autonomia não exime as instituições federais de prestar contas à sociedade. E o plano incorpora essa perspectiva.

O senhor, então, não concorda com aquele projeto que está na Comissão de Educação do Senado e que libera as instituições de ter maioria de mestres e doutores?

HADDAD - Discordo completamente. Vai na contramão do que nós estamos fazendo. Hoje o professor de escola básica quer o mestrado. E o universitário não vai ter? Em alguns casos até se justifica. Existem cursos superiores de tecnologia em que um profissional com experiência resolve muito bem o problema. Mas, na média, temos que buscar a excelência.

Isso parece uma simplificação para abastecer de professores as universidades privadas.

HADDAD - É, foi uma má ideia.

Mas, em relação à expansão das universidades federais, a situação melhorou? Muitas instituições novas e muitos novos campus começaram a trabalhar com estrutura precária.

HADDAD - Nós estamos construindo 3,5 milhões de metros quadrados nas universidades federais. É o dobro do que a maior incorporadora brasileira usina por ano. Desses, entregamos quase 2 milhões em salas de aula, laboratório, moradia estudantil. Agora, temos um problema no Brasil que precisamos registrar. O mau empresário que ganha uma licitação tem penas muito pequenas no Brasil. O mau empresário ganha uma licitação e não se incomoda de abandonar um canteiro, de atrasar uma obra e colocar a faca no pescoço do reitor em busca de um aditivo.

Se o reitor firmar posição, sofre as consequências de menos mão de obra no canteiro. Nós temos um problema no Brasil, que é das obras públicas em geral, que é legislação.

Os empresários são os mesmos que constroem para o setor privado. E isso não acontece.

HADDAD - Eu penso que a legislação deve ser aperfeiçoada no sentido de punir os empreiteiros que realmente não tem compromisso com a causa pública. Ganham licitações depois não entregam. Eu falei de maus empresários. Eu vou te dar um exemplo que aconteceu no sul: a empresa ganhou uma licitação, não conseguiu mão de obra para as duas obras, foi para a mais lucrativa e abandonou o canteiro. Para você fazer o destrato, pactuar, relicitar todos os procedimentos... No setor privado, abandonou o canteiro eu contrato outro. No setor público não há essa liberdade. Se houvesse mais rigor da lei contra esse tipo de prática, que é muito mais comum que a gente imagina, nós aperfeiçoaríamos o regime de licitação no país.

Por que, então, não se coloca esse mau empresário em uma lista que o proíba de trabalhar para o governo federal?

HADDAD - Porque toda iniciativa de restringir a concorrência é vista como uma coisa negativa para o sistema. Mas excluir os maus concorrentes não é ruim, depura.

O sr. acha que é um bom princípio alunos, professores e funcionários terem o mesmo peso na escolha do reitor de uma universidade?

HADDAD - Eu, pessoalmente, defendo a prevalência do docente. É uma opinião minha, embora eu respeite os colegiados superiores que decidiram em sentido contrário. Outra coisa é que o Brasil vem um pouco nessa tradição por causa da ditadura. Ela foi construída a partir daí e vem sendo respeitada desde então. Mas vai chegar o dia em que a comunidade acadêmica, sem abrir mão do direito de escolher seu dirigente, vai rediscutir a forma de seleção. Por exemplo, o Ministério da Ciência e Tecnologia, nos institutos, faz comitê de busca. E não é menos legítimo porque o próprio instituto está de acordo. Isso não é abrir mão da prerrogativa de escolher o dirigente. É só repensar o processo de seleção. Eu acho que estamos um pouco amarrados ainda a essa tradição em virtude da nossa história. Mas, se você garantir autonomia universitária, se a universidade não se sentir ameaçada pelo Estado, se sentir que tem liberdade de repensar esses modelos, ela vai encontrar no futuro outros caminhos e aprimorar esses processos.

O MEC está construindo 3 milhões de metros quadrados de novas instalações em universidades. Tem pessoal para todas essas universidades? E orçamento? Os funcionários das universidades federais e dos institutos tecnológicos estão ameaçando greves por reajustes que o Ministério do Planejamento já disse que não tem recursos para pagar.

HADDAD - Eu assumi o MEC em 2005. Desde então não tive greve. Nós estamos com o calendário em dia. Tivemos condições de sentar e discutir com as categorias e estabelecer acordos que fizeram com que a universidade voltasse à normalidade. Estamos vivendo agora um repique inflacionário que precisa ser atendido, não podemos desconsiderar, e as categorias são capazes de entender que você tem um ano em que as coisas ficam mais difíceis, mas que você pode prever alterações e melhorias nas carreiras de Estado. Nós estamos formando o dobro de mestres e doutores que formávamos no ano 2000. Estamos formando 45 mil mestres e doutores em um ano. Temos uma meta ainda mais ambiciosa para o PNE. Mas para a expansão que está acontecendo há quadros em número suficiente para dar sustentabilidade ao processo.

Qual é a chave da solução para os hospitais universitários?

HADDAD - Eu penso que há dois modelos sendo discutidos no País. Eu realmente gostaria de ver essa situação apresentada para a sociedade de maneira mais clara. Existe um modelo das Organizações Sociais com um ingrediente adicional, que é a dupla entrada, as duas portas (para usuários do Sistema Único de Saúde e outro para convênios particulares), e existe o modelo que o MEC propôs em 2004 e finalmente teve seu pleito atendido, que é uma empresa 100% pública com 100% dos seus leitos vinculados ao SUS. Eu entendo que a maneira adequada de fazer a leitura dos princípios do SUS, que eu considero um projeto avançadíssimo, é esse segundo modelo. Eu penso que o primeiro modelo, que está vicejando no País hoje, vai desvirtuar o SUS. Eu entendo que essa discussão está pouco aprofundada, e é um assunto que envolve 5% do PIB, a saúde da população. Esses modelos de gestão precisam ser mais bem discutidos. Nós chegamos a uma compreensão do problema, outras pessoas chegaram a outros resultados e esses modelos não estão sendo devidamente discutidos para algo que vai moldar o que será o SUS daqui a 10, 20, 30 anos.

Há muita resistência a esse projeto da empresa de gestão no Congresso, não?

HADDAD - Porque os parlamentares não estão vendo, na minha opinião, o risco do primeiro modelo, que é o que está emergindo com muita força no plano federativo. O modelo que vai vigorar, se esse projeto não for aprovado, é o das Organizações Sociais com duas portas. Essa é a minha opinião. Nós estamos propondo um modelo que queremos discutir. Que, na minha opinião, é diferente deste que está prevalecendo sem discussão. O desejo do MEC é aprofundar esse debate, pautar essa discussão. Essa perspectiva do ministro Padilha (Alexandre Padilha, da Saúde) de fixar metas, à maneira do que foi feito no MEC, mesmo que em outro registro, é uma iniciativa que vai ao encontro de uma perspectiva de uma gestão pública transparente e eficiente.

O senhor está sentindo resistência?

HADDAD - Não, nós aprovamos com uma folga razoável na Câmara. E no Senado teríamos aprovado se tivesse chegado um dia antes. Agora, ele volta para a Câmara como um PL. Eu entendo que está amadurecido para ser aprovado sem dificuldade. No Senado nós tínhamos maioria para aprovar. Não foi possível votar, mas tínhamos maioria.

O MEC tem enfrentado problemas recorrentes de administração. Foi o furto das provas do Enem, os problemas do cabeçalho nas provas seguintes. Agora, recentemente, a cartilha em que o resultado de 10 menos 7 é igual a 4. Como esses erros passam?

HADDAD - É sempre lamentável quando acontece um erro de revisão. Mas o MEC trabalha com quase dois mil títulos. Então, do mesmo jeito que no governo Fernando Henrique Cardoso o Ceará sumiu do mapa, no governo Serra, em São Paulo, outro Paraguai apareceu no mapa. Acontece. Não estou com isso querendo justificar o erro. Tanto é que talvez essa tenha sido a primeira vez que um ministro tenha pedido apoio da CGU (Controladoria Geral da União) para avaliar o que aconteceu exatamente nesse processo. Nós tomamos as providências cabíveis, reunimos as pessoas que estão usando o livro para fazer as correções devidas. É uma coisa que, infelizmente, acontece, e nós temos que tomar providências para aperfeiçoar o processo. Veja que estamos com o triplo de orçamento com a mesma estrutura. É um ministério que hoje responde pelo quarto ou quinto orçamento do País com a mesma estrutura. O volume de trabalho é muito grande. Isso não justifica, tem que ser apurado, mas em um grande volume de livros e títulos isso pode acontecer. Não deve, mas pode. E eu poderia citar aqui dezenas de falhas de revisão que, infelizmente, às vezes passam. O importante de responsabilizar e apurar é passar uma mensagem para o serviço público em geral que estamos lidando com coisas muito importantes e que esses descuidos não são aceitáveis. Não tive notícia de ninguém ter tomado providências tão duras quanto eu tomei nesses outros episódios que eu citei. As coisas não foram apuradas até fim.

O Enem era um exame de avaliação e passou a ser, na prática, um vestibular nacional. Isso não explica os erros (na impressão e logística) que tumultuaram os últimos exames?

HADDAD - Em relação ao Enem, ele se tornou o que é com o ProUni. Não foi com a reformulação da prova. Com o advento do ProUni nós tínhamos 1 milhão de inscritos e passamos a 3 milhões de inscritos. O grande salto aconteceu em 2005. O que entendemos naquela ocasião: o Enem está preparado para vir a ser o que é o SAT (prova americana). Desde 2005 esse debate vem sendo feito no Brasil. Ocorre que o Enem - e com isso não vai nenhum demérito da proposta original, que teve a melhor das intenções - simplesmente não era aceito pelas universidades de ponta. Porque era considerada uma prova muito fraca. Uma prova completamente insuficiente para o propósito de substituir o vestibular. Em segundo lugar, ele não estava ajustado à Teoria da Resposta ao Item (TRI, que permite comparar provas de anos diferentes). Então, quando o Inep (Instituto Nacional de Estatísticas e Pesquisas Educacionais) traz a proposta de reformular o exame para que ele atenda a esses propósitos a questão da logística já estava equacionada desde 2005, aos olhos do Inep. O Inep não colocou essa questão logística como um ponto importante na hora da tomada de decisão. Colocou a questão pedagógica.

E essa eu penso que o tempo provou que estava correta a mudança. É óbvio que o abalo que o Inep sofreu com a questão do furto teve repercussão no tempo. A logística já vinha sendo tratada desde 2005. O Enem já tinha 3 milhões de inscritos naquela ocasião. Fomos para 4 milhões. De 1 milhão para 3 milhões é uma mudança de patamar. De 3 para quatro milhões é uma evolução quase que natural. Agora, na minha opinião, o equívoco foram as ameaças constantes que o Inep sofria, e sofreu mesmo depois desse episódio, de ser obrigado a licitar o exame. Nenhum vestibular que é uma fração diminuta do Enem faz isso. O maior vestibular do Brasil, que é a Fuvest, representa 2 a 3% do tamanho do Enem. E o grande ponto ali é que, a cada momento que o Inep dizia que não tinha condições de contratar por menor preço por tudo que a operação envolvia, o Inep era ameaçado, inclusive através dos jornais. Esse nó que foi desatado. Naquela ocasião, como nunca apareceu um novo player na licitação, o Inep preferiu não enfrentar o debate com os órgãos de controle e, antes da edição de 2009, promover a mesma licitação que havia sido realizada nos anteriores 13 anos, na confiança de que aconteceria o mesmo que aconteceu. Então, se houve um erro, foi o de não ter, às vésperas daquele exame, ido ao encontro dos tribunais e órgãos de controle e ter explicitado: "Olha, não é possível fazer dessa maneira, nós estamos fazendo dessa maneira porque só tem um concorrente". Mas já é um faz de conta essa licitação porque não há pessoas habilitadas a promover um exame dessa escala. Então nós estamos aqui correndo um risco desnecessário. Vamos dar toda transparência à contratação, mas vamos fazer o que a USP faz. Tem uma fundação que cuida do seu vestibular e ela acumula conhecimento. Eu entendo que é esse ponto. E é óbvio o impacto que o furto teve. Não foi contratada nenhuma gráfica de fundo de quintal. Foi contratado o maior parque gráfico do País. Que no dia do roubo soltou uma nota dizendo que não havia sido ali, porque eles tinham todas as condições de segurança.

Então a própria gráfica tinha segurança de que as suas condições de segurança estavam observadas. E isso foi o que o Inep viu.

O Enem só era usado por algumas universidades particulares, para 300 e poucas mil vagas do ProUni. De repente, ele passa a ser usado pelas universidades federais, que sempre tiveram a maior concorrência, o maior interesse. A importância do Enem passou a ser maior. Tanto que houve um furto. Ninguém tinha se interessado em furtar a prova do Enem antes.

HADDAD - Até hoje está um pouco mal explicado esse episódio do ponto de vista do que pretendia de fato aquele cidadão (que furtou a prova).

Porque não era ganhar dinheiro, aparentemente. Alguém que se expõe tanto...

Por que a cartilha e o kit anti homofobia deu tanta polêmica? O senhor não acha que terceirizaram excessivamente a produção desse material ao repassar algo tão delicado para a mão de organizações não governamentais?

HADDAD - Foi uma emenda com representação do Ministério Público para que providências fossem tomadas no sentido de combater a homofobia nas escolas. Ela (a cartilha) sequer havia passado ainda pelo comitê de publicações do Ministério. Sobre isso, eu queria fazer uma consideração. Nós estamos vivendo um momento que considero um pouco delicado. O Brasil, do ponto de vista institucional, avançou. Ninguém discute democracia, estabilidade institucional. Eu penso que do ponto de vista sócioeconômico o Brasil avançou, não há espaços para retrocessos. Mas do ponto de vista da cultura, no sentido amplo, nós verificamos uma situação que exige algum cuidado. Nós tivemos uma campanha contra a inclusão das pessoas com deficiência na escola pública, uma campanha de rede social, meio subterrânea, contra políticas de inclusão garantindo a dupla matrícula - porque na legislação brasileira para incluir você não precisa tirar da escola especial, a legislação garante o duplo financiamento - mas a campanha ocorreu. Tivemos outra campanha que se valeu de inverdades. Tomou-se ali uma cartilha para profissionais do sexo do programa DST-Aids e se propagou no Parlamento que aquilo fazia parte da campanha contra homofobia. Tivemos um debate, na minha opinião, completamente torto, sobre o livro de uma educadora que dedicou 40 anos da sua vida ao magistério e que o Ministério Público arquivou a reclamação, inclusive criticando a abordagem temerária que se fez sobre esse assunto. Então são temas que precisamos cuidar. A campanha (presidencial) do ano passado não foi uma campanha... Foi a pior que foi feita porque tratou desses assuntos não só superficialmente mas com um viés obscurantista. E nós estamos um pouco nesse caldo do qual temos que sair com racionalidade. Fazer a discussão desses temas, que são delicados, que envolvem valores, mas nós temos que fazer a agenda avançar.

Em um país democrático, tudo que é discutido abertamente, que não clandestino, contribui para o debate. A gente pode discordar daquela opinião extremada para um lado ou outro. Onde está exatamente a preocupação sobre isso?

HADDAD - Nesses temas nós temos que entender que há posições extremadas na sociedade, mas que há uma conduta que o poder público tem que seguir, até por força da lei.

Uma coisa que é importante, que o MEC tem empenho de discutir, por que têm de ser as ONGs a formular o conteúdo? Por que uma ONG tem que fazer isso, uma coisa que está estritamente dentro da responsabilidade do MEC?

HADDAD - O MEC tem parcerias com ONGs em atividades-meio. Em atividade-fim, não. Em atividades de formação, não. Mas em atividades-meio temos que buscar. Nós temos parcerias com o Instituto Ayrton Senna, com o Itaú Social, com o Cenpec (Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária), com ONGs que se especializaram em determinadas temáticas. Trazer o conhecimento dessas ONGs para dentro do MEC é importante. Agora, aqui esse material é metabolizado. O que sai não é o que chega. Aqui tem um comitê de publicação que faz a triagem, que faz curso de formação, faz teste, faz grupos focais para fazer análise qualitativa. Qualquer material do MEC, sobretudo novo, passa por aí. Esse processo estava em curso e foi a partir de um grupo de capacitação de professores que esse material vazou para Internet e causou o rebuliço que causou. Agora, a determinação da Presidência de criar na Secom (Secretaria de Comunicação) uma comissão que vai avaliar questões de valores é uma preocupação adicional que o MEC, a bem dizer, já teve ao constituir seu próprio comitê, que é intersecretarial. Mas ela agora está fazendo um interministerial com a preocupação de criar filtros para o que sai do poder público, seja para públicos específicos, seja para uma distribuição universal, passe por um crivo mais rigoroso. Mas eu não vejo porque não, em atividades-meio, não considerar a hipótese de firmar parcerias para trazer para dentro do ministério experiências que até podem ter um determinado viés, mas que são importantes. Mas é para isso que serve o ministério, para metabolizar esse material.

Não consigo ver onde está a gravidade desse debate, mesmo que seja com pessoas que podem não ser as mais corretas. Mas o debate é público. A gente também tem uma tendência a achar que tudo aquilo que nos parece politicamente correto não deve ser questionado. Mas se há pessoas que querem discutir isso, então é positivo.

HADDAD - Eu também acho. O que eu assinalei é um cuidado adicional que o Ministério da Educação tem que ter porque existe um ambiente hoje no plano da cultura que pode levar o País a...

De onde apareceu esse ambiente novo?

HADDAD - Olha, é uma resposta difícil de ser dada. Se eu fosse arriscar uma hipótese, eu entendo que a comunicação ganhou com a tecnologia e posições que estavam muito... Do mesmo jeito que existe na internet um manancial de conhecimento novo, de acesso, de abertura, corre ali de tudo. A tecnologia moderna destampou para o bem, não vejo como problema, a minha preocupação é com o resultado, não com o debate.

O MEC quer que o País avance nessas temáticas mais delicadas. Vai ter que passar pelo debate. O que eu estou sugerindo é: nós, que temos responsabilidade com os resultados, com que tipo de sociedade nós queremos construir - tolerante, livre, que respeite a diversidade -, nós temos que ter um cuidado a mais. Sobretudo porque entrou no debate, em função dessa panela destampada, uma temática que não estava na arena política.

Será que isso pode ter acontecido porque a direita, mais tradicional, mais conservadora, finalmente aprendeu a mexer na Internet?

HADDAD - Não acho que a esquerda aprendeu a mexer primeiro. Mas talvez você tenha que, com essas ferramentas novas, uma parcela da população que não conseguia ser ouvida, passou a ser ouvida. Isso tensiona o debate. E ao tensionar o debate, o papel daqueles que querem conduzir o processo no sentido de uma sociedade livre e tolerante, tem que ser redobrado. Sobretudo do gestor público.

Então o que incomoda hoje é que às vezes há, no debate, laivos de intolerância?

HADDAD - É, a preocupação é essa. É que estão emergindo - e aí não estou fazendo recortes ideológicos - posições extremadas. É essa a preocupação.

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Mestres da gravura na coleção da Fundação Biblioteca Nacional Descrição

Até 18 de setembro, Centro Cultural dos Correios exibe raridades da BN, em comemoração aos seus 200 anos

Do século XV até 1830. Esse é o período em que Dürer, da Alemanha; Rembrandt, da Holanda; Piranesi, da Itália; Hogarth, da Inglaterra; Goya, da Espanha; e muitos outros artistas fizeram da gravura o jeito de eternizar o passado. Agora, toda essa história esculpida em madeira (xilogravura) e metal (talho-doce) poderá ser observada, a partir desta quinta-feira (28/07), na exposição Mestres da Gravura na Coleção da Biblioteca Nacional, realizada pelo Centro Cultural Correios. Com a mais importante coleção de gravuras do país, um acervo de 30 mil itens, a Fundação Biblioteca Nacional empresta 171 delas, de 82 artistas diferentes, para a mostra.

Com a curadoria de Fernanda Terra, as gravuras são apresentadas por ordem cronológica de nascimento dos gravadores. Além disso, também é divida por coleções: são 30 obras na alemã, 27 na holandesa, 35 na italiana, 26 na francesa, 14 na flamenga, oito na inglesa, 18 na espanhola e 13 na portuguesa. Entre os destaques, Albrecht Dürer (Alemanha), Harmenszoon van Rijn Rembrandt (Holanda), Giovanni Battista Piranesi (Itália), Jacques Callot (França), William Hogarth (Inglaterra) e Francisco José de Goya y Lucientes (Espanha).

Composta por originais – ou seja, composições inéditas, criadas, gravadas e impressas por um mesmo artista, ou sob sua supervisão – e gravuras de reprodução – em que um gravador parte de uma composição de outro artista, seja pintura, escultura, afresco, iluminuras, com o objetivo de divulgar a obra daquele criador e fazer circular a imagem –, a mostra exibe a originalidade, a dramaticidade, a sátira, a polêmica e tantas outras emoções expressas pelo detalhismo, o burlesco, o obsceno e o obscuro.

A exposição Mestres da Gravura na Coleção da Biblioteca Nacional será realizada no Centro Cultural Correios (Rua Visconde de Itaboraí, 20 – Centro do Rio de Janeiro-RJ) de 28 de julho a 18 de setembro de 2011. Aberta de terça a domingo, das 12h às 19h. A entrada é franca.

Alemanha: Albrecht Durër, Martin Schongauer, Israel van Meckenen, Lucas Cranach, Hans Sebald Beham, Martin Treu, Georg Pencz, Heinrich Aldegrever e Virgil Solis;

Holanda: Harmenszoon van Rijn Rembrandt, Luca van Leyden, Cornelis Cort, Hendrik Goltzius, Zacharias Dolendo, Jan Müller, Jacob Matham, Jan Saenredam, Nicolas Ennes Visscher e Willem Jacobsz Delff;

Itália: Giambattista Piranesi, Andrea Mantegna, Benedetto Montagna, Agostino dei Musi - O Veneziano, Marco Antonio Raimondi, Giovanni Battista Ghisi - O Mantuano, Marcos Dente, Jacopo de Barbari, dito Mestre do Caduceu, Mestre do Dado, Adamo Ghisi, Enea Vico, Lodovico Carracci, Agostino Carracci, Annibale Carracci, Francesco Brizzi, Guido Reni, Stefano della Bella, Giovanni Benedetto Castiglioni, Salvatore Rosa, Francesco Bartolozzi e Giovanni Volpato;

França: Jacques Callot, Noel Garnier, François Perrier, Claude Mellan, Egidio Rousselet, Gérard Audran, Étienne Picart, dito o Romano, Gerard Edelinck, Petrus Devret, Charles Dupuis e Henri Simon Thomassin;

Flandres: Jacob Van Den Bos, Jan Sadeler Senior, Raphael Sadeler Senior, Cornelis Galle Senior, gidius Sadeler, Raphael Sadeler, o Jovem, Cornelis Schut Senior - o Velho, Anton van Dyck,Peeter de Jode Junior e Paulus Pontius;

Inglaterra: William Hogarth, Benjamin Smith, Peter Simon, Charles Gauthier Playter, John Ogborne, Samuel Middiman e Robert Thew;

Espanha: Goya, José de Ribera, Juan Barnabé Palomino, Manuel Salvador Carmona, Fernando Selma, Francisco Muntaner, Joaquín Ballester e Joaquin

Portugal: Vieira Lusitano [Francisco Vieira de Matos], Joaquim Manuel da Rocha, Antonio Joaquim Padrão, Manuel da Silva Godinho, Gregorio Francisco de Queiroz e João Caetano Rivara.

A segunda morte de Castro Alves

Escrito por Mário Maestri

Antônio de Castro Alves não vai bem de saúde. Sobre ele, em forma lenta, estendeu-se uma cortina de silêncio, uma espécie de véu do esquecimento. Atualmente, afirma-se que a poesia do nosso mais conhecido vate ressente a usura dos tempos, tornando-se, na forma e no conteúdo, um discurso estranho aos nossos dias. Avança-se que ela registra apenas sentimentos de uma época que, de tão distante de nós, torna-se uma desconhecida. Diz-se que a sua leitura da escravidão teria expressado o olhar temeroso dos escravizadores, e não dos escravizados.

Em 1997, quando do sesquicentenário de seu nascimento, pouco se fez, pouco se falou, pouco se discutiu sobre o mais dileto filho da Bahia. O insosso transcurso da celebração não deixaria lugar a dúvidas. Castro Alves ¾ junto com o espartilho, o rapé e a polca ¾ faria parte das antigualhas de um passado longínquo que nos causam apenas difusos sentimentos de nostalgia por uma época definitivamente superada. O transcurso dos 140 anos de sua morte, em 6 de julho de 2011, passou também praticamente sem registro.

Transcendendo ao seu tempo, quando arte, a poesia registra experiências e sentimentos profundos do mundo que a produziu. O poeta, ao apreender poderosamente facetas de sua época, enriquece o conhecimento dos coevos da experiência humana passada, iluminando igualmente o presente. Um vate morre realmente quando pouco ou quase nada diz de essencial aos seus novos leitores.
Nos últimos trinta anos, dedicamo-nos à pesquisa da escravidão colonial brasileira, com ênfase no trabalho e na resistência dos trabalhadores escravizados, pois cremos que foi assim que pejaram e determinaram profundamente nossa história. Tal empenho levou-nos a estudar a literatura brasileira do século 19, sobretudo em busca de subsídios para a compreensão das estruturas sociais daquelas épocas, em geral, e das estruturas ideológicas das classes proprietárias, em especial.

No contexto dessas investigações, relemos Castro Alves, poeta que nos encantara quando ainda adolescente, nos anos 1960. Com surpresa, encontramos registrados, nas poesias do baiano genial, os grandes temas da resistência servil ¾ justiçamento dos proprietários; autocídio dos cativos; infanticídio; quilombos etc. ¾ que a historiografia especializada da escravidão colonial brasileira apenas começou a abordar, em forma sistemática, a partir dos anos 1970, sobretudo, para, muito logo, tornarem-se, nos anos 1990, temas marginais da investigação.

Impressionou-nos igualmente a virulência com que o poeta anatematizara a ordem negreira e o despudor e verdadeiro prazer com que cantara a revolta e o ato de sangue do cativo sublevado contra seu escravizador, e isso em uma época em que a escravidão dominava poderosa o país. Para nós, sua poesia apresentou-se como um singular paradoxo, ao destoar de praticamente toda a produção literária ficcional em prosa e em verso conhecida da época. Procuramos explicação para o fenômeno nos estudos sobre a literatura brasileira do século 19.

Não foi menor nossa surpresa ao constatar que, em forma geral, a crítica especializada abordava essa poesia sem contextualizá-la historicamente e, comumente, ignorando olimpicamente os avanços da historiografia que tendiam a valorizar e iluminar, sob novos enfoques, a leitura poética de Castro Alves da sociedade negreira. Maior foi ainda nossa perplexidade ao constatarmos que, frequentemente, esses estudos retiravam em forma arbitrária toda e qualquer radicalismo à poesia castroalvina, apresentando-a não raro como uma visão de membro da classe pudente. Chegavam, assim, a leituras radicalmente opostas as nossas, sobre a mesma produção.

A indiferença e a ignorância da crítica literária para com a historiografia da escravidão colonial brasileira não bastam para explicar tais avaliações. Atualmente, são também importantes as tendências revisionistas que, nos estudos do passado, procuram reabilitar a sociedade escravista, apresentando-a como um mundo em que os cativos viveram condições de existência quase aprazíveis: comiam bem, trabalhavam pouco, acumulavam bens, impunham suas razões aos escravizadores, como apresentado exaustivamente, em 1990, por Jacob Gorender, em A escravidão reabilitada! (São Paulo: Ática, 1990. 271 pp.). Não é difícil estabelecer os paralelos e as correspondências entre esses dois movimentos, pois ambos tendem a desconhecer, nos seus respectivos domínios, a resistência dos escravizados como elemento essencial da história do Brasil pré-Abolição.

Consultamos colegas e amigos profissionais da literatura, igualmente admiradores da poesia de Castro Alves. Também perplexos, assinalaram a crescente desvalorização do poeta baiano nos cursos de literatura de nossas universidades e a quase hegemonia de uma crítica acerba ao poeta, da qual não conseguiam explicar as raízes mais profundas.

Em fins de 1996, fomos convidados a participar de um pequeno seminário a ser realizado, no segundo semestre de 1997, em uma universidade sul-rio-grandense. Salvo engano, era o único encontro mais ambicioso sobre o poeta que registraria, no Rio Grande do Sul, o transcurso do sesquicentenário de seu nascimento.

Aproveitamos o mote. A fim de preparar nossa participação no evento e compreender um pouco sobre as raízes desse quase mistério, lemos e relemos a documentação que havíamos reunido sobre Castro Alves. Quando o encontro foi, sintomaticamente, suspenso, pensamos ampliar e transformar nossa intervenção em um artigo. Devido à dinâmica do próprio trabalho, o que seria um artigo assumiu a dimensão de um ensaio.

Foi assim que nasceu A segunda morte de Castro Alves: genealogia crítica de um revisionismo, que pretendeu ser apenas a contribuição de um historiador da escravidão à retomada do debate e das pesquisas sobre a obra de Castro Alves. Não desenvolvemos no livro, lançado em 2000, análise estética da poesia castroalvina, para a qual não estamos preparados. Apenas tentamos estabelecer genealogia crítica do revisionismo empreendido sobre o sentido social da poesia de Castro Alves e sobre seus principais pressupostos e determinações ideológicos e metodológicos.

Retomando o objetivo de também prestar homenagem a intelectual brasileiro que pautou sua breve vida sob o signo da integridade intelectual e moral, estamos relançando esse estudo, há muito esgotado, como 19º título da Coleção Malungo, da UPF Editora, em versão corrigida e ampliada.

Mário Maestri é historiador e professor do Programa de Pós-Graduação em História da UPF-RS.

E-mail: maestri(0)via-rs.net

A educação em estado de greve

Greves de profissionais da educação surgem em diversos pontos do país. Avanços no setor seriam de natureza apenas quantitativa

Leandro Uchoas
do Rio de Janeiro (RJ)



É consenso entre todas as pessoas, nos mais variados campos ideológicos. Não se constrói um país, com economia sólida, nem se conquista a emancipação das grandes massas, sem um padrão educacional de qualidade. Está no discurso de qualquer pessoa pública. Embora existam diferentes concepções do que seria “educação de qualidade”, ninguém questiona a sua centralidade em qualquer programa de governo. Torna-se, portanto, vergonhoso que o Brasil ainda apresente desempenho tão ruim no setor, e ainda ocupe, frequentemente, as piores posições em rankings. Há de se considerar alguns avanços nos últimos anos, especialmente a partir de 2008. Entretanto, muito aquém do que se supõe num setor que, por quase unanimidade, é considerado o mais estratégico de qualquer país.



Nas últimas semanas, a educação brasileira tem chamado especial atenção dos movimentos sociais. Em um momento de sutil ressurgimento de mobilizações populares, aparece uma série de greves no setor. Os servidores das universidades federais foram um dos primeiros a decretar a paralisação. Pelo menos três estados também vivem situações de greve: Rio de Janeiro, Santa Catarina e Rio Grande do Norte. O Espírito Santo acaba de sair de uma. Por que surgiram agora? O cenário teria mudado nos novos governos, federal ou estaduais? Seria fruto do natural reordenamento político que um novo quadro eleitoral gera?



Para o educador da UERJ, Gaudêncio Frigotto, as causas das recentes greves seriam: “a situação salarial que obriga (alguns) professores a três jornadas de trabalho; as condições das escolas onde atuam, que têm se agravado nas duas últimas décadas com o avassalador avanço do pensamento mercantil na organização dos conteúdos; e métodos de ensino, avaliação e de férreo controle sobre os professores”. Segundo ele, a declaração recente à imprensa de Wilson Risolia, secretário estadual de Educação do Rio, ajuda a explicar o problema. “Penso na educação como um negócio. A vida é assim, premia quem é melhor. Vamos fazer avaliações periódicas, que servirão de base para um sistema de bonificação”, disse Risolia.



A mobilização no Rio Grande do Norte talvez seja a mais expressiva, atualmente. Há dois meses, o país conheceu Amanda Gurgel. Em audiência pública na Assembleia Legislativa, as corajosas denúncias da professora potiguar alcançaram mais de dois milhões de acessos no youtube. Tomando por base seu exemplo pessoal, denunciou o caos na educação do Estado. “Em nenhum momento, em nenhum governo, a educação foi uma prioridade aqui. Estamos aceitando o caos educacional como uma fatalidade?”, perguntou.



Avanço quantitativo

Josivan Barbosa Menezes, reitor da Universidade Federal Rural do Semi-árido (Ufersa), de Mossoró (RN), considera as greves pontuais. Para ele, o governo federal mantém a política da gestão anterior, que seria de estímulo às educações superior e tecnológica. “Durante o governo Lula, o Ministério da Educação (MEC) passou a ter uma visão mais sistêmica. Lula criou 14 universidades, fez concursos. Mas os ensinos básico e médio são, em geral, atribuições de municípios e estados. Essa greve dos servidores teve adesão de menos de 10% aqui no Rio Grande do Norte”, defendeu.



Para Frigotto, realmente houve avanços nos últimos anos. O problema, no entanto, seria a concepção de Educação. Como exemplo, ele cita o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb). “O Fundeb tem o mérito de ampliar o universo do atendimento, atendendo a educação infantil e o ensino médio. Mas o aumento de recursos não é suficiente para que tenham impacto efetivo sobre as condições de trabalho, salário e infraestrutura necessárias. Aumentou-se os recursos, mas o número de alunos atendidos aumentou mais, proporcionalmente”, diz.



Para ele, os avanços recentes são apenas quantitativos. Desde a década de 1990, a concepção pedagógica que orienta a política educacional teria piorado de forma crescente. “O ideário produtivista e mercantil dominou o pensamento educacional contrapondo-se à concepção histórica crítica de educação”, afirma. No Congresso Nacional, uma série de projetos com forte apoio de certas bancadas preocupam os movimentos sociais. O PL 549, por exemplo, congelaria salários por dez anos. Também há o PL 248, que estabelece regras de demissão de servidores, e o PL 1749, que regulamenta a privatização dos hospitais.

Frente Parlamentar da Cultura luta por aprovação de projetos

(Portal Vermelho)
A Frente Parlamentar Mista em Defesa da Cultura vai promover, no próximo dia 17, um ato no Congresso Nacional para pedir a votação de projetos de lei relacionados ao setor cultural. No dia 16, haverá um seminário para debater as mudanças no financiamento da cultura, incluindo alterações da atual Lei Rouanet.





A coordenadora da Frente Parlamentar Mista da Cultura, deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ), afirma que a manifestação também tem como objetivo pressionar o governo federal para atender a demandas da área, como a atualização da Lei do Direito Autoral e a destinação de verbas orçamentárias.

Os integrantes da frente defendem a aprovação de quatro propostas, três delas prontas para serem votadas pelo Plenário da Câmara: a que institui o Vale Cultura, a que estabelece um gasto mínimo no setor cultural pelos governos municipais, estaduais e federal e a que cria o Sistema Nacional de Cultura, com a definição de obrigações que prefeitos, governadores e o presidente da República terão com o desenvolvimento do setor.

O quarto projeto, que aguarda votação na Comissão de Finanças, é o que cria o Programa Nacional de Fomento e Incentivo à Cultura (Procultura) e altera as regras de financiamento da área.

“Vamos ao governo reivindicar que venha para Câmara o projeto de revisão da Lei do Direito Autoral”, disse ainda Jandira Feghali, lembrando que “estamos ainda com a lei de 1998, quando a comunicação digital não tinha a demanda, a acessibilidade e as implicações que tem hoje na democratização da arte”.

Em relação ao Orçamento, a deputada afirmou que é preciso evitar cortes nos recursos da cultura. “Esse é um drama vivido por várias áreas, mas particularmente nesse segmento. Qualquer corte tem uma repercussão muito grande na ponta do sistema.”

O seminário que acontece no dia 16, que vai tratar do financiamento para o setor cultural, terá representantes do Ministério da Cultura entre os palestrantes. O evento, aberto ao público, está marcado para as 14 horas, no auditório do Interlegis, no Senado.