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segunda-feira, 11 de julho de 2011

Luciano Perrone 100 anos (08/01/1908 – 13/02/2001)




Oscar Bolão


Um dos expoentes da percussão no Brasil, com um estilo de tocar inconfundível, Luciano Perrone é considerado por muitos o pai da bateria brasileira. Uma frase dele define bem o que deveria ser o pensamento de todo músico no Brasil: “Eu nunca me preocupei em imitar o Gene Krupa porque o que me interessava era o batuque do samba”.



Nascido no Rio, em 08 de janeiro de 1908, aos 14 anos começou a tocar profissionalmente no antigo cinema Odeon. Nessa época a bateria resumia-se a uma caixa colocada sobre uma cadeira, um prato pendurado na grade que separava os músicos da platéia e um bumbo sem pedal. Somente por volta de 1923, com a moda das jazz-bands, é que começam a chegar ao Brasil as primeiras baterias. Utilizadas a princípio na execução dos gêneros americanos como o charleston e o ragtime, aos poucos os bateristas daqui, como Valfrido Silva e o próprio Luciano, passaram a usá-la na execução dos nossos ritmos. Em 1927, grava em discos Odeon com a Orquestra Pan Americana, regida por Simon Bountman. É quando registra, pela primeira vez no Brasil, batidas de samba em caixa surda (sem esteiras) – sons considerados, até então, como impossíveis de serem gravados. Em 1929, atuando no Cassino Éden, em Lambari, MG, Perrone conhece Radamés Gnattali, de quem se tornou amigo e com quem tocaria por toda a vida. Neste mesmo ano começa a tocar no Teatro Recreio, participando da revista em dois atos “Banco do Brasil”, de Marques Porto e Luis Peixoto. Funda, em 1930, com Ary Barroso, a High Life Band formada por grandes músicos como Jonas (sax-alto), Braga (sax-tenor), Wanderley (trompete), Cavalo Marinho (trombone), Furinha (banjo), Eleazar de Carvalho (tuba) e Ary Barroso (piano). Em 1931, no Teatro Recreio, participa da revista “Brasil do amor”, de Marques Porto e Ary Barroso. Nesse espetáculo acompanha o cantor Sílvio Caldas no conhecido samba Faceira, de Ary, gravado posteriormente, em que, pela primeira vez, a bateria aparece como solista. Em 1933, realiza na Rádio Cajuti um pioneiro e memorável recital de bateria. Com Radamés Gnattali ao piano, expõe, durante quinze minutos, quase todos os ritmos brasileiros na bateria. No dia 12 de setembro de 1936, Luciano participou do programa inaugural da Rádio Nacional e passou a integrar as diversas orquestras e conjuntos da emissora. No ano de 1939, participou da histórica gravação de Aquarela do Brasil, na voz de Francisco Alves e arranjo de Radamés Gnattali. A esta altura Luciano Perrone se tornara o dono da bateria no Brasil. Uma legenda de fotografia publicada em uma revista da época diz: ”Luciano Perrone é, sem favor, o mais completo bateria do nosso broadcasting. Homem dos sete instrumentos, dispondo de uma agilidade extraordinária, as suas atuações constituem um verdadeiro espetáculo”. Luciano era mesmo um percussionista eclético, pois, se era o virtuose insuperável de todos os gêneros populares, a começar pelo samba, era também o timpanista da Orquestra Sinfônica da Rádio Nacional.



Quinteto Radamés Gnattali


Em agosto de 1941, depois de uma temporada bem-sucedida na Argentina, a revista Fon-Fon publica uma foto de Luciano revelando que “o notável baterista da Rádio Nacional conseguiu invulgar sucesso em Buenos Aires, onde o cognominaram o ritmo em pessoa. É nesse mesmo ano de 1941 que o maestro Carioca (Ivan Paulo da Silva) escreve o célebre prefixo do “Repórter Esso” tendo como introdução um longo rulo de caixa executado por Perrone. Em 1949 é formado, na gravadora Continental, o Quarteto Continental, integrado por Radamés Gnattali (piano e arranjos), José Menezes (guitarra), Vidal (contrabaixo) e Luciano (bateria). Mais tarde este grupo transforma-se em quinteto com a entrada de Chiquinho do Acordeon.

No início dos anos 50 o programa “Cinemúsica”, apresentado por Paulo Santos na Rádio Ministério da Educação, e a revista de música Sintonia conferem por três vezes consecutivas o título de “Melhor Baterista” a Luciano Perrone. A 23 de junho de 1958, Perrone é homenageado no programa “Noite de Gala”, de Flávio Cavalcanti, na TV Rio, quando foi apresentado, em primeira audição, o Samba com Luciano, de Luis Bandeira, escrito especialmente para o programa. Este samba seria gravado depois em discos Continental, e nele Perrone faz breques sensacionais na bateria.



Sexteto Radamés Gnattali com Aída Gnattali e Edu da Gaita


Em 1960, com Radamés e Aída Gnattali, Edu da Gaita, Chiquinho do Acordeon, José Menezes, Vidal e Luis Bandeira, integrou a “3ª Caravana Oficial da Música Popular Brasileira” que excursionou pela Europa, apresentando-se em Portugal, França, Inglaterra e Itália. Nessa excursão, segundo Ary Vasconcellos, “o baterista brasileiro recebe as melhores referências da imprensa e da crítica do Velho Mundo, às quais a vibração das platéias diante dos nossos ritmos parece se ter comunicado”. Em 1961, quando completou 25 anos de atuação na Rádio Nacional do Rio de Janeiro, transferiu-se para a Rádio Ministério da Educação e Cultura, inaugurando a Orquestra Sinfônica Nacional.



Em 1963 é lançado pela Musidisc o LP “Batucada Fantástica”, álbum que, editado na França três anos depois, foi contemplado com o “Grande Prêmio Internacional do Disco”, concedido pela Academia Charles Cros, deParis. Em 1972, ano em que comemorou 50 anos de atuação profissional, grava novo LP “Batucada Fantástica, Volume 3”. Em 1975 é convocado por Radamés Gnattali para integrar o Sexteto deste, que grava, na Odeon, um histórico LP da série “Depoimento”. Luciano continuou atuando com alguma freqüência até 1994, quando foi homenageado, em outubro, pelos seus 72 anos de atividade, resolvendo, então, aposentar as baquetas.

(Texto baseado na biografia de Luciano Perrone, ainda não publicada, escrita por Ary Vasconcelos)


Cinco perguntas para Oscar Bolão

Quando você conheceu o Perrone pessoalmente, e em que circunstâncias?
Foi em 1982, numa apresentação memorável do Quinteto Radamés Gnattali na antiga Sala Funarte. Eu andava fazendo uns trabalhos com o Chiquinho do Acordeon e pedi, após o show, que ele me apresentasse o Luciano. Eu tremi igual vara verde quando apertei a mão do homem.

Como ele influiu na sua maneira de tocar e de pensar a bateria e a percussão brasileira?
Antes de conhecer o Perrone eu já ouvia tudo o que tinha ao meu alcance em que ele estivesse tocando. Ouvia muito mesmo e depois sentava na bateria e tentava imitá-lo. Em uma homenagem que fizemos a ele no Espaço Cultural Sérgio Porto, em 1994, Luciano disse publicamente que eu tocava igualzinho a ele. Imagina a ressaca no dia seguinte! Desde que o conheci na Funarte em 1982 passei a freqüentar sua casa na Rua São Januário, em São Cristóvão, quase que semanalmente, até ele falecer. Nestas visitas conversávamos bastante sobre música brasileira e tocávamos muita bateria. Beleza, eu ali só de olho! Foi bacharelado, mestrado e doutorado. Mas ele não queria que eu o imitasse, e sim que usasse o que apreendia dele para desenvolver meu estilo. Nós falávamos muito sobre um estilo de bateria genuinamente brasileiro. Foi ele quem me alertou para o que acontece até hoje: o sujeito vem tocando samba na bateria e quando tem que fazer um solo ou uma preparação, vira jazz. É como falar português e inglês ao mesmo tempo. A partir destas observações e ensinamentos comecei a adaptar frases dos instrumentos de percussão à bateria - como, por exemplo, repique de mão, repique de anel e repique de baqueta; introduzi o pedal duplo no bumbo para tocar o samba e desenvolvi uma técnica de bumbo, com toques presos e soltos, como se tocasse um surdo comum. Nenhuma escola de música no Brasil me daria tantos subsídios nem me proporcionaria tamanho ensinamento. O meu diploma é a bateria que ele me deu de presente.

Nos instrumentistas de hoje, onde se percebe o legado do Perrone?
Nem cabe modéstia, é uma constatação: só em mim e nos meus alunos. Tadeuzinho, da Escola Portátil de Música, está no caminho. O Lucas do “Quatro a Zero”, de Campinas, estudou comigo também e pegou o jeito. André Boxexa do “Água de Moringa” não estudou comigo, mas sabe do que estou falando. Nós chegamos a ir à casa do Perrone juntos. Os caras se enganam, vivem imitando músico americano e não percebem que ninguém é universal fora do seu quintal. Tem baterista que menospreza essa forma de tocar, mas é porque não sabe fazer o negócio e passa a vida tocando Bossa Nova. Samba, choro, maxixe, dobrado e etc. não é pra qualquer um, não! Graças a Deus!

Quais foram, em sua opinião, as influências que o Perrone sofreu?
Vou responder começando com uma frase dele: “eu nunca me preocupei em imitar o Gene Krupa (baterista americano contemporâneo de Perrone) porque o que me interessava era o batuque do samba”. Alô, bateria! O Perrone tinha uma admiração profunda pelos percussionistas que trabalhavam com ele no rádio. João da Baiana, Heitor dos Prazeres, Bide e tantos mais. Estas pessoas é que influenciaram enormemente o Luciano.

Há relação entre a técnica que ele criou e os percussionistas com quem ele convivia na época?
Provavelmente, mas a grande virtude do Perrone era tocar com a música. Ele não fazia ritmo de base simplesmente. Ele interferia na melodia. Ora tocava a caixa com esteiras, ora sem elas, tocava no pratinho, no surdo, na caixeta, enfim, ele era muito doido. Era um espetáculo.

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